Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

- Por onde quer que eu comece, chefe?

Anahi tirou a mão dele de seu ombro.

- Já lhe disse para não me chamar assim.

- Desculpe-me. Por onde começo?

Ela pensou por um instante. Eles dois já tinham tirado o pouco que poderia ser salvo das duas casas. Anahi completara o inventário do que aquele lugar tinha a oferecer, o que não era muito. O que tinham a fazer era remover alguns itens e carregá-los.

- Oh, não! - Anahi levou a mão à testa.

Esquecera-se de deixar as últimas prateleiras para Julius. Como pudera se esquecer daquilo, jamais saberia.

O belo rosto de Poncho invadiu-lhe a mente. Bem, seria um milagre lembrar-se de qualquer coisa depois do que acontecera entre eles. Mas Julius se certificaria de que ela se desse conta do próprio erro. O homem trabalhara até a madrugada para tirar todas as prateleiras e deixá-las prontas para ela. Quando acabara o serviço, a chamara para avisá-la... às duas da manhã. Julius não ficaria nada satisfeito em ter de esperar pelas peças remanescentes aquela manhã.

- Lance, esqueci-me de deixar as últimas tábuas na casa do sr. Faraday. Poderia levá-las enquanto começo as coisas por aqui?

- Por que não?

- Ótimo. - Anahi pegou a sacola de ferramentas da mão dele. - Volte logo. Não serei capaz de fazer muita coisa sem você.

- Sim, sim - murmurou ele, indo na direção da picape.

Anahi apressou-se para dentro da residência. Largou a sacola no hall de entrada e agachou-se para pegar dentro dela seu caderno de inventários.

O telefonema de Julius não a perturbara, na verdade. Anahi mal tinha dormido na noite anterior. A ligação fora até mesmo um alívio, uma vez que passara horas e horas arrependendo-se de sua visita a Poncho. Como pudera ser tão tola? Ele a beijara e ela permitira! Pior, participara... com entusiasmo!

Fechando os olhos, reprimiu as recordações. Poncho Herrera era tudo o que ela julgava ser errado em um homem. As únicas preocupações dele eram sua próxima conquista e ganhar mais e mais dinheiro. O sujeito não tinha alma. Nenhuma ligação com nada, exceto com seu trabalho. Razão pela qual ele quase tivera um ataque cardíaco na véspera só por causa de alguns papéis.

Entretanto, Anahi tinha de admitir que havia algo naquele homem. Toda vez que estavam juntos, aquela sensação a invadia e...

Uma mão tocou-lhe o ombro e ela virou-se num sobressalto, o medo correndo por suas veias. Um grito aterrorizante ficou preso na garganta quando uma mão com luva de couro tapou-lhe a boca.

- Calma, menina, sou eu - disse uma voz rouca, mas bastante familiar.

Ela virou-se, aliviada, e fitou o homem idoso.

- Sarge, você quase me mata de susto!

- Desculpe-me, Anahi. - Baixou o olhar para suas botas surradas. - Não tive intenção.

Ela franziu o cenho quando se lembrou das palavras de Phil.

- Não deveria estar aqui, Sarge. Três destas casas serão derrubadas na segunda-feira. E Phil disse que há denúncias de... desocupados por aqui.

Independente do que todos diziam, ela nunca seria capaz de chamá-lo assim. Sarge passara seis anos servindo seu país. E isso arrasara com a vida dele.

Sarge coçou a barba comprida e ajeitou a camisa rasgada.

- Venho dormindo aqui há muitos anos, Anahi. Gosto deste lugar.

O coração dela doeu pelo velho soldado. De acordo com o que lhe contaram, como muitos outros soldados que serviram no Vietnã, o homem já não era o mesmo desde a guerra. Mas tratava-se de uma boa pessoa, e Anahi detestava vê-lo viver do jeito como vivia. Porém, Sarge se recusava a ser tratado pelos hospitais da Virginia, assim como a ir para os abrigos do governo.

- Quando foi a última vez que você comeu?

Sarge deu de ombros.

- Tenho comido.

Ela tentou outra tática:

- Sarge, minha picape está meio estranha. Poderia vir esta tarde dar uma olhada no motor?

- Sim, claro!

Anahi tirou uma nota de vinte dólares do bolso do macacão e a colocou no bolso da camisa dele.

- Então vou lhe pagar já. Assim não esqueço.

Ele assentiu sem encará-la e murmurou:

- Certo.

- Na esquina da rua Chenille, há uma casa que está em bom estado. E só será demolida daqui a seis semanas.

Então, ele a fitou, o olhar cheio de gratidão.

- Eu sei qual é.

- Se você começasse a fazer um inventário preliminar para mim, eu apreciaria muito.

Sarge assentiu, o brilho voltando a seus olhos.

- Ficarei feliz em fazê-lo, Anahi.

Ela sorriu e bateu no braço dele.

- Ótimo. E se Phil ou alguém mais o questionar, diga para me ligarem.

- Combinado. Vou começar o levantamento agora mesmo. - Sarge girou nos calcanhares, mas antes de sair, parou. - Quase me esqueço. A vira-lata de McGillicutty teve filhotes no mês passado.

- De novo?

Olívia, a labrador do sr. McGillicutty, era a mãe de Oscar. O que fazia os novos recém-nascidos serem irmãos de seu cachorro.

- Terei de ir lá para vê-los.

Sarge assentiu e desapareceu.

O sorriso de Anahi se esvaiu, e ela pestanejou para afugentar as lágrimas. Era difícil para Sarge aceitar sua ajuda, mas, de alguma maneira, ela sempre conseguia fazer parecer que ele fazia jus ao dinheiro, e aquilo fazia toda a diferença.