Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Anahi ouviu Maite atender à campainha. Não queria ver ninguém, e preferia não abrir aquela porta nunca mais, porém, Maite não tinha nada a ver com aquilo.

Respirando fundo, tirou o saquinho de chá da xícara. Precisava relaxar, esquecer-se de tudo o que acontecera nas últimas semanas, inclusive os momentos que passara com Poncho.

Sobretudo os momentos que passara com Poncho.

Ele iria detestá-la agora. Ela o ludibriara. Mas fizera a coisa certa, não fizera?

Incapaz de lidar com qualquer coisa mais, fora direto para casa depois do episódio no escritório de Poncho. Descera do ônibus, uma vez que não conseguira acompanhar Dulce e alguns investidores confusos pelo tour que iriam fazer pela rua Chenille. E estar no mesmo local onde ela e Poncho tinham feito amor...

Não, não seria capaz. Fechou os olhos e estremeceu.

Vozes altas na varanda tiraram-na dos devaneios. A xícara quase caiu de sua mão quando reconheceu uma das vozes: era de Poncho.

Sabendo que seria injusto deixar Maite encarar a ira de Poncho sozinha, pôs a xícara no pires e foi para a varanda.

Poncho e Maite pararam no meio da conversa quando ela entrou no ambiente.

- Tudo bem, Maite , eu cuido disso - disse Anahi, o mais forte que conseguiu.

Maite ajeitou os óculos. As faces estavam coradas de raiva.

- Não acho que você deva. - Encarou Poncho, indignada. - O homem é um grosso!

Poncho olhou primeiro para Maite e então para Anahi. Ela quase caiu de costas diante da insolência que brilhava nos olhos dele.

Anahi forçou um sorriso para a amiga.

- Deixe comigo, Maite , vá tomar um chá. Eu irei daqui a pouco.

- Certo. - Ela olhou para Poncho. - Mas se eu ouvir alguém gritando, voltarei.

Anahi voltou a atenção ao visitante, que ainda a encarava com uma ira impressionante.

- Creio que veio até aqui para me contar o que pensa de mim. - Ela cruzou os braços. - Vá em frente e acabe logo com isso.

Poncho parecia pronto para a batalha, os pés separados, os punhos cerrados ao lado do corpo.

- Você tem uma bela casa - começou ele, olhando ao redor e voltando-se para fitá-la. - Levaria muito tempo para que uma pessoa, trabalhando duro, conseguisse comprar algo parecido.

Anahi sentiu a cor sumindo de seu rosto. O que Poncho estava insinuando? Não, ele não sabia nada de seu passado!

Poncho se aproximou, o olhar mais feroz que nunca.

- É claro que há diversas formas de se conseguir coisas materiais.

- É esse o ponto da conversa? - perguntou ela, sentindo um nó na garganta.

Poncho deu mais um passo em sua direção. Ela não estava com medo dele, mas a intuição avisou-a de que deveria ter cuidado com o que ele diria. Não sabia se seu coração agüentaria a ferida que se abriria na seqüência.

- Não, de modo algum. Só quero esclarecer algumas coisas - murmurou ele, com desdém. - Afinal, compartilhamos muitas coisas nos últimos dias. Eu lhe falei sobre meu passado, você me contou sobre o seu...

Poncho chegou tão perto que ela sentiu o perfume que ainda estava na camisa branca.

- Você, por acaso, não se esqueceu de nenhum detalhe?

Anahi deu um passo atrás. Poncho tornou a se aproximar.

- Não sei sobre o que você está falando.

- Como ganhava a vida antes de começar seu negócio de restauração, meu bem?

Ele sabe! Sim, ele sabia. A humilhação e a mágoa invadiram a alma de Anahi. Será que nunca seria capaz de viver sem ser lembrada daquele passado?

- Trabalhei em muitas coisas diferentes. Mas sempre trabalhos honestos.

Ele sorriu. E o sorriso não era de satisfação.

- Verdade? Você alguma vez foi presa?

Ela respirou fundo.

- Isso não é de sua conta.

Poncho ergueu as mãos e riu com zombaria.

- Está certa, Anahi. Não tenho mesmo nada a ver com isso. - Poncho se dirigiu à saída.

O coração de Anahi se apertou. Seu mundo parecia ter se partido ao meio. Cometera um erro. Magoara Poncho . Sua paixão por casarões era assim tão importante? Fizera a coisa certa ajudando o grupo de preservação da rua Chenille?

- Sinto muito - sussurrou. - Não tive intenção de que as coisas acontecessem dessa forma.

Poncho esperou alguns instantes antes de voltar-se para ela:

- Eu sou o proprietário do casarão da rua Chenille. Os investidores que você seqüestrou de minha empresa hoje assinaram contratos sobre esse projeto há semanas. A casa irá abaixo na segunda-feira. Não há nada que você possa fazer para evitar. - Fez uma pausa antes de acrescentar: - O que não entendo é por que mentiu para mim sobre seu passado. O que esperava ganhar com isso?

Ela piscou para afugentar as lágrimas. Não choraria.

- Não menti, Poncho. Tudo o que lhe contei é verdade.

- Sim, claro. - Sorriu com ironia. - E, sabe, o mais patético de tudo é que acreditei em você. Juro. Você até mesmo me fez ver as coisas de seu jeito... apenas um pouco.

Apesar dos melhores esforços dela, uma lágrima desceu por sua face.

- Fico feliz por isso, de qualquer forma - balbuciou.

- O que lucrou com tudo isso, Anahi? - A dor cintilou nos olhos de Poncho antes que ele recobrasse o controle. - Eu representava algum tipo de perigo?

Ela meneou a cabeça, mas não respondeu. Outra lágrima rolou.

Poncho a fitou por apenas um segundo.

- Bem, qualquer que tenha sido o motivo, espero que não tenha valido a pena.

Então ele partiu.

Anahi cerrou as pálpebras e permitiu que o pranto rolasse, livre. Ele nunca mais acreditaria em nada do que ela dissesse. Poncho a detestava.

E ela o amava mais do que a si mesma.