Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Sua casa na cidade não mais parecia seu lar. As linhas modernas da arquitetura que tanto admirara agora pareciam-lhe frias e duras. Quando considerara ir até o escritório, não sentira o menor entusiasmo. Não podia dormir ou comer. Enfim, incapaz de agüentar mais tempo, acordara às duas da manhã da segunda-feira para dirigir de volta para Huntsville.

Parou o carro em frente ao local da demolição. Suspirou quando viu o grupo que protestava nos arredores do casarão da rua Chenille. Sete da manhã e eles já estavam lá. Roy Nelson, o supervisor local, chamara a polícia, uma vez que diversas viaturas também se achavam presentes.

Poncho desceu do veículo e caminhou em direção à multidão, que sem dúvida o esperava para dar a ordem decisiva. Respirando fundo, atravessou a rua. Ucker e Roy o encontraram na entrada da propriedade.

- O pessoal da demolição está a postos, mas achei melhor esperar até que você chegasse - disse Roy.

Poncho entendia por quê. Roy Nelson queria que ele pedisse à polícia para afastar os manifestantes dali. Ele desviou o olhar para a líder do grupo e encontrou os olhos desafiadores de Anahi. Os longos cachos dourados pendiam sobre os ombros e flutuavam ao vento. A saia longa de tecido esvoaçante o fez recordar-se do dia em que ela dançara na chuva.

A memória de fazer amor com Anahi, de apenas estar a seu lado, preenchera cada um dos minutos em que ele estivera longe. Não podia mais imaginar sua vida sem ela. Mas também não podia conceber o fato de compartilhar a vida com outro ser humano. Uma vida que era tão fácil antes de ter ido morar em Huntsville... Ele se concentrava apenas no trabalho, deixando todo o resto em segundo plano.

Agora nada fazia sentido. Nem mesmo o trabalho dava-lhe o mesmo prazer de antes. Aquela obsessão desaparecera, substituída por uma chama tão forte e ardente que ameaçava consumi-lo, fazendo-o desejar coisas que nunca planejara para si.

De alguma forma, Poncho decidiu, tinha de colocar as coisas em ordem outra vez. Precisava recobrar o controle sobre o próprio destino. E aquele era o momento perfeito para começar.

Caminhando até Anahi, olhou-a com a maior indiferença que conseguiu fingir.

- Se você e seus amigos não saírem por bem, terei de pedir à polícia que os escoltem para longe daqui. Aqueles que resistirem serão levados para a delegacia.

- Não faça isso, Poncho- pediu ela, e a súplica o fez desejar abraçá-la.

Poncho engoliu em seco.

- É meu trabalho, Anahi.

- Você é arquiteto. Deveria se concentrar em como as coisas são construídas. Cuidar delas.

Poncho desviou o olhar, incapaz de suportar o desapontamento que via nas feições de Anahi. Virou-se para Roy:

- Faça o que tem de fazer - ordenou.

A expressão decepcionada do velho arquiteto, Towery, chamou a atenção de Poncho. Naquele breve contato, algo se passou entre os dois homens. Algo muitíssimo triste.

O momento passou, mas a sensação evocada, não. Pela primeira vez na vida, Poncho não tinha vontade de assistir ao que estava prestes a acontecer. Não queria ver os manifestantes sendo afastados. Não queria ver a casa antiga indo ao chão.

Tinha de sair dali.

Pôs-se a caminhar para seu carro sem intenção de olhar para trás. O burburinho da multidão o informou de que a polícia havia se movimentado. Gritos indignados soaram atrás dele, mas Poncho se forçou a ignorá-los. Por que preservar uma coisa velha daquelas era tão importante para aquela gente?

Uma forte onda de arrependimento o envolveu. Poncho hesitou quando algo que Anahi dissera ecoou em sua mente. Essa casa é nossa história. Ela nos conta de onde viemos e nos conecta com o passado. O passado nunca significara nada para Poncho. Por que deveria agora? Não precisava dele.

- Está muito apertado!

O som da voz de Anahi o fez virar-se. Ele viu a expressão amargurada dela, e então o orgulho empinar-lhe o queixo quando o policial fechou as algemas ao redor dos pulsos delicados.