Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Poncho recuou, envergonhado de si mesmo. Imaginá-la na cadeia, por sua causa, comprimiu-lhe o peito. O coração bateu descompassado quando o oficial abriu a porta da viatura para colocá-la dentro.

- Espere! - gritou. Em quatro passos, viu-se ao lado dela. - Solte-a.

Confuso, o oficial deu de ombros e obedeceu. Sem os braceletes de metal, Anahi esfregou os punhos e olhou, furiosa, para Poncho.

- Venha-comigo - ordenou ele, sério.

Tomando-lhe a mão, arrastou-a para dentro da casa. No meio da varanda, liberou-a, plantou as mãos nos quadris e a fitou com incerteza.

- Faça-me enxergar o que é tão importante para você e seus amigos.

Anahi respirou fundo.

- Feche os olhos, Poncho.

Impaciente, irritado e muitíssimo confuso, ele assim o fez. Esforçou-se para afastar todos os pensamentos. Se refletisse naquele momento, entenderia que perdera a cabeça. Nunca hesitava ou mudava de idéia. Por que então vou começar agora?

- Imagine este ambiente lindamente restaurado. O piso de madeira brilhando, adornado com tapetes coloridos. A mobília bonita e confortável para os pacientes esperarem por suas consultas. Lenha crepitando na lareira durante o inverno. E um ambiente convidativo, fazendo os pacientes sentirem-se em casa. Imagine a sala de jantar transformada em um escritório de bom gosto. Um laboratório superbem equipado montado na área da cozinha. No andar de cima poderia haver um estoque de suprimentos, escritórios particulares e uma sala de lazer para os funcionários. Tudo isso mantendo o aspecto e a sensação de história. E lar.

Anahi explicou como Towery descobrira que a estrutura era perfeita para a instalação de uma clínica. O custo seria comparável, senão menor, ao de uma nova construção.

Poncho ouviu em silêncio absoluto. Quando ela terminou, ele abriu os olhos e saiu da varanda. Passou pelo imenso hall de entrada, desceu os degraus que levavam ao pátio de entrada e virou-se, observando o imóvel. Só então notou, com total relutância, a maravilhosa arquitetura. Pôde imaginar a suntuosa escadaria restaurada para sua gloriosa forma. O bom senso lhe disse que Anahi estava certa. A casa daria uma linda clínica.

Mas restauração não era seu estilo. A Projetos Herrera não fazia restaurações. Ele e seu pai haviam construído a empresa, transformando-a numa corporação multimilionária voltada para o futuro, não perdendo tempo com o passado.

- Dessa forma, o estilo anterior à Primeira Guerra seria mantido tido nesta região - completou Anahi quando o silêncio continuou.

Poncho virou-se para encará-la, e ela levantou aqueles incríveis olhos azuis para ele.

- É isso o que todos nós queremos, Poncho.

Ele não conseguia falar. Anahi era tão linda... E ele a queria tanto! Todavia, a relação deles não tinha futuro, pois pertenciam a mundos diferentes.

Poncho desviou o olhar.

Como poderia magoá-la?

Pela primeira vez na vida, titubeou para tomar uma decisão. E a vívida imagem de Anahi carregando seu filho nos braços invadiu-lhe a mente. Fechando os olhos, tentou bloquear a fantasia. Não poderia ter aquilo. Jamais conseguiria fazê-la feliz. Ela se doava demais e esperaria o mesmo em troca. E ele nunca teria a generosidade de Anahi. Porém, uma coisa poderia fazer por ela. Poderia deixá-la trilhar seu caminho naquela casa.

- Tudo bem. - Poncho encontrou-lhe o olhar esperançoso. - Você venceu.

Dando-lhe as costas, saiu andando. Sentiu que ela o seguia, mas não olhou para trás. Se o fizesse, poderia nunca mais ser capaz de afastar-se.

- A casa fica - anunciou Poncho ao supervisor local quando passou por ele e continuou em frente, ignorando as questões de Roy. - Faça tudo o que tiver de fazer para rescindir os contratos.

Ele não queria pensar em nenhum detalhe. Naquele momento, seu único desejo era sumir dali.

Entrando no carro, ouviu os gritos de vitória dos manifestantes. Bem, pensou, pelo menos alguém conseguira o que queria.