Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Anahi esfregou o resíduo pegajoso do consolo da lareira do século XIX. O mogno que surgia debaixo das camadas de tinta serviria perfeitamente para restaurar o consolo danificado da casa LeMont.

A sra. LeMont ficara contentíssima quando Anahi conseguiu encontrar uma combinação exata com as outras quatro lareiras da espaçosa residência em estilo vitoriano.

Restaurar aquelas peças antigas dava a Anahi quase o mesmo prazer que sentia ao encontrá-las. Thomas a ensinara a ter gosto pela busca e saborear a restauração. Suspirando, pôs a palha de aço de lado. Então tirou as luvas de trabalho e guardou tudo em sua gaveta de ferramentas.

Thomas... Sentia tanta saudade de seu velho amigo.

Virou-se na imensa garagem que transformara em estúdio de trabalho. Um espaço que tomava um quarto da área de seu jardim dos fundos. Thomas Styles fizera da antiga garagem um porto para tesouros arquitetônicos esquecidos. A Resgate e Restauração tinha sido idéia dele. Anahi era amante de antiguidades, e a necessidade de um meio de se sustentar concretizara tal conceito.

Embora Thomas a tivesse recolhido quando ela não tinha nenhum lugar para ir, Anahi se recusara a permitir que ele continuasse a sustentá-la, uma vez que pretendia trilhar seu próprio caminho. Amara-o como a filha que Thomas nunca teve, e ele a amara como o pai que ela nunca conhecera. No fim, Thomas deixara-lhe tudo o que tinha. Comentários maldosos surgiram por um tempo, mas então foram morrendo aos poucos. Anahi sobrevivera, e a Resgate e Restauração tinha florescido.

Todos os negociantes de antiguidades da região respeitavam seu olhar crítico e a habilidade em restauração. E a maioria dos proprietários das casas históricas de Huntsville conhecia-a pelo nome.

Anahi trabalhava duro, embora nunca fosse ficar rica. Mas isso não importava, porque amava seu ofício. Lance, o filho de um negociante de antiguidades local, trabalhava para Anahi meio período, e os dois se davam muito bem.

- Sonhando acordada?

Ao se virar, deparou com Dulce caminhando em sua direção pisando no piso de concreto manchado. Sorriu-lhe.

- Você chegou cedo.

- Ucker não saiu do escritório o dia inteiro, e cansei de agüentá-lo por hoje.

Anahi estudou a amiga.

- Não tinha me contado que Ucker era tão bonito, Dulce.

- Aparência não é tudo.

- Ah! - Anahi lhe lançou um olhar incrédulo. - E isso vem de uma mulher devoradora de homens!

- Ele não é meu tipo. Por falar em homem bonito, viu a reportagem sobre nosso novo vizinho?

Anahi tornou a calçar as luvas. Não queria nunca mais pensar nele. Nem naquela pequena viagem até a delegacia. A simples lembrança lhe causava calafrios.

- Não, não vi nenhum artigo. - Tentou soar casual. - Não que eu me importe, mas por que Poncho está no jornal?

Dulce estendeu-lhe o periódico.

- Alfonso Herrera é o diretor-presidente da Projetos Herrera, uma empreiteira multimilionária com sede em Atlanta.

Anahi estudou a foto dele.

- Se é assim, o que faz em Huntsville?

- A companhia foi contratada para diversos projetos em nossa região pelos próximos três anos. - Dulce apontou para uma lista no centro do artigo. - Começando por esse aqui.

Torre Médica da Rua Bower. Anahi engoliu em seco. A Resgate e Restauração ganhara a concorrência na reforma daquela propriedade. Nas esquinas da rua Bower com a L&N, três casas datadas de 1800 iam ser derrubadas e substituídas por um gigantesco edifício comercial de aparência futurista para consultórios médicos.

Deu uma lida rápida no restante da lista de projetos. Detestava ver aquelas belíssimas casas antigas sendo demolidas. Duas delas não tinham nem mesmo condição de restauro, mas uma tinha potencial. Qualquer coisa que pudesse ser salva era trabalho de Anahi. Dos pisos e das molduras das janelas até as telhas perfuradas, ela resgataria o máximo possível antes da demolição.

- Se Herrera for como a maioria dos construtores, irá manter os olhos abertos em seus projetos para assegurar que tudo seja executado no prazo estipulado, ainda mais que ele é o chefe. Assim, imagino que você irá encontrá-lo de vez em quando no local de trabalho.

- Suponho que sim.

A possibilidade não a agradava em absoluto. Bem, quase em absoluto, emendou quando um calor a aqueceu por dentro ao lembrar-se daquele rosto bonito.

Dulce dobrou o jornal e colocou-o embaixo do braço.

- Apenas tome cuidado. Não confio em nenhum homem lindo desse jeito.

Anahi levantou a palha de aço e fitou a amiga.

- Não se preocupe. Eu jamais confiaria em um inimigo de magnólias.

Dulce deu uma parada antes de se virar para sair e sorriu, os olhos verdes brilhantes de afeto.

- Vou jantar com meu pai esta noite.

- Diga-lhe que mandei um abraço.

Dulce tinha sorte de ter um pai que a amava tanto. Era uma pena o problema de saúde dele.

Anahi tomou a se concentrar na sua tarefa.

Nunca conhecera seu pai. Sua mãe fora uma espécie de cigana, mudando de um lugar para outro com uma freqüência inacreditável. Após sua morte, quando Anahi estava com catorze anos, vivera dois anos em orfanatos antes de passar a cuidar de si mesma. A vida, algumas vezes, fora bastante dura com ela.

- Pare de sentir autocompaixão, Anahi- disse a si mesma. - Você teve Thomas... por um tempo.

E Thomas a salvara.

Esfregou o mogno com renovado propósito. Tinha de finalizar aquele passo de remoção da tinta, de modo a poder começar um outro serviço. Teria de entregar algumas prateleiras para Julius Faraday aquela noite. E Julius não gostava de esperar.