Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Anahi puxou a cortina de renda e espiou pela janela da cozinha. As luzes da casa dele ainda estavam acesas, mas eram quase dez da noite. Não seria muito amigável incomodar Poncho numa hora daquela.

Deu uma olhada para a torta de maçã que fizera, sobre o balcão da cozinha. Deveria levá-la para ele. Ainda mais depois do que lhe fez naquele fim de tarde.

Cerrando os dentes, lembrou-se da cena na garagem.

Não costumava ser tão desastrada, mas estar perto daquele homem a deixava atordoada. E pior: nunca mordera ou chutara alguém antes. Ainda achava difícil acreditar que fizera aquilo. Dulce e Maite haviam tido vários ataques de riso nas últimas vinte e quatro horas.

Deveria ser a influência de escorpião. Como libriana, Anahi detestava brigas. A personalidade naturalmente agressiva de Poncho e a tendência para conflitos perturbavam-lhe a paz interior.

Mas eram vizinhos, afinal, e, de alguma forma, ela teria de aprender a lidar com a natureza forte dele. Manteria Oscar longe do jardim de Poncho e se lembraria de recolher as folhas secas da magnólia. Qualquer coisa que o mantivesse calmo e feliz.

Respirou fundo e ajeitou os cabelos rebeldes. Era agora ou nunca, decidiu. Pegando a torta, colocou-a numa sacola e se dirigiu para a porta dos fundos.

Oscar levantou-se, os olhos doces suplicando permissão para acompanhar a dona.

- Fique, garoto - ela comandou.

O grande cão baixou a cabeça e voltou a deitar-se em seu lugar predileto sob a mesa da cozinha.

A noite estava agradável, e o aroma de magnólia se espalhava pelo ar.

Anahi olhou para o céu, a fim de admirar as estrelas brilhando no imenso veludo azul-marinho. A grama estava úmida de sereno e fez cócegas em seus pés nus.

Ela adorava as noites de verão do Sul. O cantar dos grilos pedindo por chuva era música para seus ouvidos. Anahi pensou em deixar a torta de lado e admirar aquele jardim por uma ou duas horas. Adorava dançar. As pessoas sempre lhe diziam que o ritmo estava em seu sangue. E noites como aquela eram feitas para se dançar ao ar livre.

Outro tipo de dança de repente lhe ocorreu, preenchendo sua mente com visões de dois corpos juntos em uma dança como nos velhos tempos. O desejo cintilou, e ela de imediato descartou os pensamentos. Alfonso Herrera era seu vizinho, e estava fora de alcance, independente do que Dulce pensasse.

Além do mais, não era o tipo de sujeito com que uma mulher igual a ela devesse se envolver. Controlador, intenso e... bonito demais. Ter alguém para a vida inteira decerto nunca passara pela mente analítica de Poncho . Segundo o zodíaco, Alfonso Herrera era um homem do elemento água, enquanto Anahi Portilla era ar. Opostos em todos os sentidos. Mas talvez pudessem pelo menos conviver em certa harmonia.

À porta dos fundos da residência dele, Anahi parou antes de bater e respirou fundo para acalmar-se. Um momento depois, a porta se abriu.

Ela o olhou desde os pés bem-feitos e as longas pernas, subindo pelo jeans justo nas coxas e o peito nu, até os ombros tão amplos que pareciam preencher a porta de entrada. Os cabelos pendiam até os ombros, do jeito que ela gostava. Quando decidira que gostava dos cabelos dele soltos?, perguntou-se, com súbita frustração.

- Se veio para tentar acabar comigo, pelo menos dê-me uma chance de defesa - ele murmurou, sorrindo.

A frustração de Anahi se dissipou, e então ela sorriu. Poncho parecia estar de bom humor, considerando o jeito como o atacara, por acidente. Ergueu a sacola.

- Uma oferta de paz.

Poncho olhou a sobremesa, desconfiado.

- Não foi feito com nada letal, foi? -O sorriso ganhou ânimo, desenhando uma bonita curva nos lábios dele.

Anahi meneou a cabeça, sem fôlego diante de tanta beleza.

- Apenas o normal. Açúcar, manteiga, maçãs e canela.

Ele esfregou a mão na barriga rígida.

- Torta de maçã é minha favorita. Como sabia?

- Devo ser vidente - provocou-o, embora a energia que Poncho irradiava fosse mais preocupante do que nunca.

- Aposto que é. - E deu um passo para o lado, para que ela entrasse. - Ciganas sempre têm um sexto sentido.

- Quem disse que sou cigana?

A descrição dele até que se aproximava um pouco da realidade. Anahi sempre tivera um espírito aventureiro, porém, seu corpo nunca fora a lugar algum.

Passando pelo batente, entrou na cozinha, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Visitara sua vizinha idosa muitas vezes no passado... mas aquele não era a pequenina sra. Lassiter.

Viu Poncho observá-la fechar a porta. Aquele era um homem que exalava sensualidade. Que a atraía de algum modo que Anahi ainda não conseguia entender direito.

Poncho pôs as mãos nos bolsos da calça jeans, inclinou a cabeça e fez um círculo vagaroso em torno de Anahi , avaliando cada centímetro. Ela umedeceu os lábios e mordiscou o inferior, enquanto ele continuava aquele estudo.

Quando Poncho, por fim, parou, sorriu, ainda mais sexy.

- Vejamos. Pés descalços, longa saia flutuante, uma blusa de camponesa... - Tirando as mãos dos bolsos, tocou numa pulseira de ouro no pulso dela.

Anahi tremeu quando as pontas dos dedos tocaram sua pele.

- Enfeites. Brincos grandes e muitos cachinhos compridos. - Poncho cruzou os braços sobre o tórax amplo e assentiu. - Uma cigana. Você não trouxe um feitiço nessa sacola, trouxe?

Anahi tomou a sorrir, adorando aquele lado descontraído dele.

- Talvez... Quão boa é uma cigana sem alguns feitiços e poções?

Caminhou até a grande mesa de madeira. Juntando alguns papéis de trabalho que estavam espalhados sobre o tampo, colocou-os de lado, depositando a torta sobre o espaço que liberara.

- O que é tudo isso? - Indagou, apontando os papéis e desenhos.

- Lição de casa. - Poncho suspirou. - Isso me tomou muito tempo, mas consegui dar os toques finais nessas plantas e nos contratos. Mais uma hora e o planejamento do projeto será história.

- Você trabalha desse jeito toda noite? - Ela o fitou, e pela primeira vez notou as linhas de fadiga estampada no lindo rosto.

Ignorando a pergunta, Poncho vasculhou dentro da sacola.

- Algum sorvete por aqui? Adoro torta de maçã com sorvete de creme.

- Não, sem sorvete. - Retirou da sacola uma vela com aroma de framboesa, castiçal e caixa de fósforo.

Ciente de que ele a observava, e nervosa por isso, encaixou a vela no castiçal e a acendeu. Após colocar a caixa de fósforo na sacola, apanhou uma caixinha de chá de camomila.

- Isto o ajudará a relaxar.

Franzindo o cenho, ele estudou a caixinha.

- Muitas pessoas bebem isso, Poncho. E a essência de fruta da vela também é relaxante.

- Acha que preciso disso? - Ele a encarou com intensidade.

Anahi movimentou-se, sem graça, e procurou por uma desculpa que não fosse completamente mentirosa.

- O estresse atinge a todos nós, uma vez ou outra. Depois do que aconteceu ontem e na garagem hoje, creio que deveria usar alguns produtos tranqüilizantes.

Poncho sorriu de leve e não disse nada.

Amanhã tem mais posts meninas continuem acompanhando.