Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Anahi contornou a mesa e foi até o antigo fogão a gás. Vendo que a chaleira continha água, ligou a chama. Com passos vagarosos, Poncho juntou-se a ela no fogão.

- Se um sujeito trabalha duro o dia inteiro, deveria ser capaz de relaxar à noite - ela acrescentou, o coração disparado no peito.

- Será que uma dose de conhaque não produziria o mesmo efeito, sem toda essa confusão?

Nervosa pela proximidade dele, Anahi foi até o balcão oposto e alcançou o armário acima da pia, onde a sra. Lassiter sempre guardara xícaras e copos.

- Não, um conhaque não seria a mesma coisa, Poncho. O álcool agride nosso corpo.

Ela segurou o velho puxador do armário. Sabendo da tendência das velhas portas emperrarem, puxou com força no mesmo instante que Poncho  escolheu para se inclinar sobre o balcão a seu lado. A ponta dura o atingiu direto na face. Ele conteve um palavrão.

Anahi retrocedeu, segurando a xícara que pegara. Em seguida, fechou a porta e olhou para o homem que acabara de acertar. Mais uma vez.

Os olhos dele estavam fechados, e as duas mãos cobriam o nariz. Como poderia tê-lo acertado de novo?!

- Sinto muito!

- Tudo bem... - disse ele, a voz abafada pelas mãos.

Mac não abriu os olhos, e Anahi teve a impressão de que o machucara de verdade daquela vez. Talvez tivesse quebrado o nariz do vizinho.

Ela tocou-lhe a mão, com delicadeza.

- Gostaria que eu...

- Não! - Poncho a interrompeu. Erguendo as pálpebras, impediu qualquer movimento de ajuda. - Não, estou bem.

Anahi se magoou com o tom ríspido.

- Já pedi desculpas. Não precisa fazer todo esse drama. Não tive a intenção de quebrar seu nariz ou algo assim.

Ele traçou a ponta do nariz com o polegar e o indicador.

- Começo a achar que meu concorrente contratou você para acabar comigo.

- O que posso fazer se você está sempre no meu caminho? Poncho a encarou, incrédulo.

- No futuro, lembre-me de manter distância.

O olhar de Anahi de súbito pousou na xícara que segurava com força total. Porcelana chinesa branca com estampa de rosas... a porcelana da sra. Lassiter. Franziu o cenho, então avaliou a cozinha como um todo pela primeira vez. Tudo continuava igual a como era antes.

- Eles não tiraram nada daqui?

- O quê?

Anahi depositou a xícara sobre o balcão e foi até o corredor. Mal acreditando no que via, inclinou a cabeça em direção à sala de jantar, então olhou para a varanda.

Tudo estava idêntico ao dia em que a sra. Lassiter morreu. Caminhando até a porta que ia para a varanda, fitou a lareira. Tudo, exceto a adorável fotografia antiga sobre o console, se achava lá. Os parentes levaram apenas a foto?

Poncho parou à soleira e ficou vendo Anahi Portilla vagar pela varanda. A casa era repleta de enfeites. Sem dúvida, a antiga dona estivera sentimentalmente ligada a tudo que comprara durante a vida inteira.

- Não acredito nisso. - Anahi  meneou a cabeça e continuou andando. - Eles não quiseram nada do que era dela? Não se importaram que todas essas coisas significassem algo para a sra. Lassiter?

Respirando fundo, Poncho aproximou-se de Anahi. Ela parecia muito triste, e ele não sabia o que dizer.

- Só sei que quando Christian comprou este lugar, tudo isso estava incluído.

- Pelo menos eles levaram o retrato. A sra. Lassiter tinha dezoito anos naquela fotografia. E era muito bonita. - Sorriu, como se relembrando algo prazeroso. - Loretta Lassiter em Paris.

Ela virou-se para Poncho, os olhos arregalados de excitação.

- A sra. Lassiter foi criada na Europa, sabia? O pai era um político militar. Ela costumava me contar histórias sobre as festas e as viagens.

- Você nunca esteve na Europa?

Anahi fez que não. Então pegou um globo de vidro, virou-o de ponta-cabeça e observou a purpurina branca cair sobre a cena parisiense.

- Algum dia irei a Paris. A sra. Lassiter me contou diversas histórias sobre aquela cidade, e sinto como se já tivesse estado lá.

- Paris não é tão incrível assim.

- Já esteve lá?

- Diversas vezes.

Ela pôs o globo de volta na mesa.

- Bem, conte-me. Conte-me tudo.

Poncho abriu a boca para falar, mas o apito da chaleira o interrompeu.

- Só um minuto. - Anahi correu em direção ao som.

Pegando o globo de vidro, ele a seguiu de volta à cozinha.

O que havia naquela mulher excêntrica que o fazia querer jogá-la sobre a mobilia mais próxima e possuí-la? Suspirou. Envolver-se com Anahi Portilla beirava a insanidade. Apenas conhecê-la por um tempo tão curto já o jogara numa cela, e seu corpo ostentava mais arranhões do que na época em que jogara futebol na escola.

De modo algum iria envolver-se com ela, independente de quão linda fosse. Naquele preciso momento, seus olhos pousaram sobre Anahi, que acabara de colocar uma caneca de chá fervente próxima à torta, sobre a mesa. O aroma de framboesas fez cócegas em seu nariz. Velas de framboesa? Chá de camomila? Torta de maçã? Fosse aquilo o que fosse, era irresistível.

Anahi se virou para fitá-lo, os cabelos balançando sobre os ombros, o dourado captando a luz. Ela sorriu, e o coração de Poncho disparou. Ele chacoalhou o globo e observou os pequenos flocos de purpurina em volta da torre Eiffel. Qualquer coisa para manter os olhos longe dela.

- Seu chá está pronto, mas primeiro você tem de me contar sobre Paris. - A alegria no rosto de Anahi o fez avançar mais do que pretendia em sua direção.

- O que exatamente quer saber?

- Visitou Montmartre? Andou nos corredores do Louvre? Fez um passeio de barco no Sena?

Ele pensou por um momento.

- Sim, sim e sim.

- Poncho!

- O quê? - Riu.

- Quero detalhes! Levou alguém para lá consigo ou conheceu uma mulher enquanto estava em Paris?

-Ah... Agora você foi direto ao ponto. Quer ouvir uma história romântica?

Anahi colocou as mãos nos quadris e o encarou.

- Responda, Poncho. Seu chá está esfriando.

- Tudo bem.

Poncho se aproximou ainda mais, mas ela não pareceu se importar.

Ora, se Anahi queria ouvir uma história romântica, ele podia muito bem assumir certa intimidade.

- Na verdade, encontrei uma garota em uma viagem específica. - Fez uma pausa, então baixou a voz num tom mais sedutor: - Ela era francesa, claro, e bonita. Fizemos um passeio longo e demorado pelo Sena. Era um dia perfeito, quente e ensolarado.

Anahi o olhava fixo, e nem mesmo piscava. Se estava respirando, ele não poderia afirmar. Poncho também sentia dificuldade de respirar, e seu corpo enrijecera de tensão.

- Como era ela?

- Tinha... - Ele perdeu a linha do pensamento quando admirou, mais uma vez, os cabelos de Anahi.

Aqueles eram os cabelos mais bonitos que ele já vira. Pareciam tão macios, e o modo que acariciavam a pele dela e se curvavam em volta da face e pescoço... Respirou fundo.

- Posso... Preciso tocar seus cabelos.

Ela não protestou, por isso Poncho afagou os fios sedosos. Então engoliu em seco e estremeceu. Sem se conter, aproximou-se até seu rosto ficar perigosamente perto do dela.

Anahi tocou-lhe o peito com uma mão tentadora e tudo começou. Poncho largou o globo sobre a mesa, envolveu-lhe a cintura, puxou-a para si e cobriu-lhe os lábios com os seus.

O gosto dela era de canela. Canela quente, doce. E ele desejava mais.

Quando traçou-lhe os lábios com a ponta da língua, ela os entreabriu. Entrelaçando os dedos nos lindos cabelos, Poncho  segurou-a pela nuca, aprofundando o beijo. Anahi gemeu, e Poncho a abraçou mais forte.