Fanfic: Estranhas Conhecidas (Portiñon) | Tema: Portiñon, AyD
Fiquei olhando para o aparelho mudo em minha mão com as pernas e braços tremendo. O que eu havia feito? Agi em um momento de pura raiva, querendo provocar a Amanda, mas quem ficara realmente abalada fora eu. A Dul era... era... Deus! Que mulher de olhar dominador... instigante... envolvente... Deitei na cama pensando em seus belos olhos castanhos, mas o sono foi algo que não me visitou aquela noite. Vi o dia clarear pensando no que a noite passada significara pra mim.
Sai de manhã para o trabalho, mas pedi para sair mais cedo. Marquei uma consulta de emergência em um hospital em São Caetano e depois de aguardar quinze minutos fui encaminhada para a sala do medico. Repeti o que havia dito para o “doutor” que diagnosticara um tumor, mas não disse a posição do outro. Fiz alguns exames e depois de duas horas sai com o diagnostico de que eu estava deprimida. Só faltei rir na cara dele. Não havia uma pessoa mais feliz no mundo do que eu. Talvez o ganhador da mega sena, mas eu não tinha motivos para ficar deprimida. Comprei o remédio que iria controlar meu animo e parar com as convulsões. Pelos menos aquela besteira ia passar.
Tentei ligar para Amanda durante o dia inteiro, mas ela não queria saber de mim. Eu sinceramente não sei o que acontece com aquela garota. Eu a amo, mais do que imagino, mas parece que ela não se importa comigo e não está nem ai para o que estou sentindo. Sabe, essa sensação é muito ruim. Queria que ela fosse mais compreensiva, queria contar pra alguém o que estava acontecendo com minha saúde, mas não via muitas alternativas. Pra minha família não dá por que eles vão me encher o saco e provavelmente vão até autorizar a cirurgia sem meu consentimento. Meus amigos não levam nada a serio. Acho que é por isso que gosto tanto deles: todos os problemas da vida se resolvem em uma mesa de buteco. Não me sobram muitas opções a não ser Amanda, que quero do meu lado apesar da cachorrada que fiz com ela, mas afinal, quem mandou ela pedir não é mesmo? A Dul... Bom, uma estranha conhecida não tem o porquê saber da minha vida. “Ninguém vai saber o que tenho” Pensei satisfeita com minha decisão.
A semana se prolongou por cinco intermináveis dias. Tomei o medicamento religiosamente, mas a dor de cabeça se recusava a ir embora. Ele tinha que fazer algum efeito, mas depois de dias tomando regularmente a preocupação tomou conta da minha mente. E se eu tivesse mesmo um tumor? Até agora tinha levado na esportiva sem me importar, mas poderia ser uma possibilidade. Acordei no sábado determinada a descobrir o que era. Desta vez o hospital escolhido foi um de São Paulo. Estava terminando de me arrumar quando o meu celular tocou.
- Oi linda – falei reconhecendo o numero da Amanda.
- Oi Any. Estou com saudades...
- Não está mais brava comigo? – perguntei desconfiada.
- Eu estava nervosa... Falei o que não devia... - “E eu fiz o que não devia” pensei. Em voz alta disse.
- Não gosto das suas desconfianças.
- Não quero que se sinta assim, mas essa distancia está me matando... Quero ficar perto de você. Vem me ver hoje?
- Eu até ia, mas como você ficou de TPM, marquei outra coisa.
- O que é mais importante que eu? – perguntou Amanda mudando o tom de voz.
- Um provável tumor na cabeça. Lembra que eu te falei das convulsões e dores...
- Você sempre arruma uma desculpa não é Any? Sempre acha uma desculpa para cair na farra com seus amigos!
- Putz, Amanda... Que perola! – falei com a voz transparecendo toda a minha decepção – Você sempre julga sem saber... Eu queria sim que fosse uma desculpa. Daria tudo para ser uma desculpa, mas quer saber da verdade? To pouco me importando se você acha que é verdade ou mentira. Eu sei o que eu estou passando com isso...
- Any não mente pra mim... Não me importo se você for sair com seus amigos... Queria que viesse pra cá, mas se é mais importante ficar com eles...
- Cala a boca Amanda! Pra que você me liga se não acredita em mim? Por que você está comigo se acha que tudo o que eu digo são desculpas...
- Se você tivesse falado para a Dul parar...
- Não coloca a Dul no meio dessa conversa... Uma coisa não tem nada a ver com a outra...
- Tem tudo a ver...
- Vamos fazer uma coisa? Só me liga se você tiver certeza que quer ficar comigo e que confia na minha palavra. Se não for desse modo, te desejo toda a sorte.
- Você está terminando comigo?
- Não, mas deixo essa decisão na sua mão. Você confia o suficiente em mim para continuar comigo?
- Claro...
- Não me responde agora, pensa na pergunta e depois você me fala. To atrasada. Beijo.
- Any! Não desli...
Não ouvi o resto. Não queria ouvir. A única pessoa com que eu podia contar não estava do meu lado. Sai de casa vasculhando a agenda do meu celular para saber se tinha alguém ali com quem eu podia contar. O numero de Dul saltou aos meus olhos. Como que puxada por uma força desconhecida liguei pra ela. Precisava conversar com alguém sobre coisas banais e ela era a pessoa certa. O coração batia um pouquinho mais acelerado enquanto esperava a ligação completar. Malditas operadoras de telefonia móvel. Por isso que é quase de graça falar com o Brasil inteiro. Não funciona. Na segunda tentativa cai na caixa postal. Melhor assim. Um sinal do destino.
Quarenta minutos depois estava na sala do medico que pedia os mesmos exames que estava me habituando a fazer. Quase na hora do almoço, depois de três copos de café e meio maço de cigarros, fui chamada novamente.
- Sente-se Anahi. – Falou o medico com cara de preocupação – O resultados dos seus exames chegaram e analisei cada um com cuidado... Você tem um tumor no cérebro.
Continuei olhando para a frente, mas não via o medico. Enxergava um relógio que marcava as horas... Horas que eu ainda tinha de vida. Horas que eu havia desperdiçado pensando que eu não precisava ter pressa para nada por que eu ainda teria uma vida pela frente. A vida que agora perdia todo o significado sentada naquele consultório. O que eu havia feito da minha vida? Nada que alguém se lembraria algum dia. Nada do que me orgulhasse. Naquele momento percebi que todos os planos que eu havia feito foram em vão. Vinte e dois anos e não sabia se chegaria aos vinte e cinco... Não sabia ao menos se dali a um ano eu estaria viva. Não saberia o que era casar com alguém e receber os amigos para um bate papo no domingo à tarde... Não saberia o que é carregar um filho nos braços, não veria seu primeiro sorriso... Seus primeiros passinhos... O primeiro dia na escola... O maior sonho da minha vida era ter filhos e eu jamais saberia o que é isso. Não tinha me permitido viver intensamente e aquilo agora era como um golpe baixo. Um tiro pelas costas. Por que diabos eu estava na terra? Por que nasci se ia terminar tão cedo? Por que não tive tempo de ver tudo o que eu queria ver? Por que comigo? O que eu havia feito de errado para merecer aquilo? Só percebi que chorava em soluços quando o medico se sentou ao meu lado e segurou meu braço.
- Não é o fim, Anahi. Ele está localizado em uma região operável. Ele pode ser benigno e espero que seja. Não chore desse jeito criança... Não se torture antes do tempo...
Eu não tinha mais tempo e era isso que repercutia na minha mente. O medico continuava a me confortar falando em termos técnicos que eu não entendia nada. O cortei dizendo que iria pedir pra minha mãe ligar pra ele e saí do hospital. Ele tinha me receitado um calmante, mas eu não precisava daquilo. A dor que eu sentia no peito era demasiada e eu queria chorar toda as minhas angustias e minhas frustrações. Andei sem rumo pela tarde observando as pessoas que passavam por mim. Cada uma com sua felicidade e amargura. A vida é realmente uma caixinha de surpresa. Quando você pensa que está tudo bem, vem o destino e te derruba com uma rasteira. Precisava conversar com alguém sobre qualquer coisa que não fosse minha breve vida. Liguei para a Dul e desta vez o telefone tocou.
- Alô? – ouvi sua voz do outro lado. Outra pessoa que jamais conheceria pessoalmente – Alô Any! Fala comigo.
- Oi Dul – falei enxugando uma lagrima solitária em meu rosto – Tudo bem?
- Tudo e você? – não era uma boa pergunta – Achei que não ia me ligar...
- Eu estou bem... Queria conversar com você mais uma vez...
- Nossa! Você falou como alguém que vai morrer – falou rindo. Que voz melodiosa!
- Nunca se sabe não é? – respondi deixando um sorriso de pesar enfeitar meu rosto – O que você está fazendo de bom?
- Conversando com você.
- Engraçadinha... Você mora perto da praia?
- Mais ou menos... Costumo ir com frequencia.
- Qual delas?
Dul começou a me falar das praias e belezas cariocas. Eu nunca conheceria o Rio de Janeiro e suas paisagens de cartões postais. Balancei a cabeça tentando afastar o pensamento. Tenho certeza que ela estava achando estranho eu ligar para saber sobre praia, mas eu precisava ouvir a voz dela... Independente do que ela me falava, queria ouvi-la.
- Você namora? – perguntei puxando outro assunto.
- Não. Estava esperando a mulher da minha vida.
- Se você estava não está mais... Encontrou?
- Encontrei no lugar mais improvável que eu acreditava encontrar alguém.
- Onde?
- Na Internet. Graças a Carol e a Jana. – Não segurei o riso com aquele comentário.
- Você devia ganhar um premio de xavequeira. Meu deus você não dá brecha!
- O caminho está livre pra mim Any?
- Eu tenho que desligar Dul – falei querendo parar com aquele papo sem futuro.
- Não foge de mim...
- Talvez eu esteja fugindo de mim mesma...
- Eu vou te ligar.
Pensei no que ela disse por um momento.
- Pode ligar a hora que quiser. Vou adorar conversar com você novamente.
Me despedi da Dul com o coração apertado. Ela parecia ser tão bacana! Por que deus prega essas peças com a gente? Eu não podia me permitir sentir algo por ela. Por mais que a respiração ficasse ofegante ao falar com ela... Ao ouvir sua voz, eu jamais poderia prometer amanhã pra alguém... Não mais.
Amanda me ligou no final da noite dizendo que ia viajar com os pais para a casa de um tio em Curitiba que estava entre a vida e a morte. Me daria a resposta da minha pergunta quando voltasse de viagem. Eu tinha que terminar com ela, mas não poderia fazê-lo por telefone. Coloquei um pijama qualquer e sentei na frente do pc. Dul estava on e depois de mudar meu nick, mudei meu status para visível. Não demorou dez segundos para subir uma caixa de diálogo.
Dul diz:
Oi...
A vida é curta diz:
Oi...
Dul diz:
Porque mudou seu nick?
A vida é curta diz:
Porque a vida é curta...
Dul diz:
Então porque você não vive ela?
A vida é curta diz:
Daqui a duas semanas vai ter a para gay de São Paulo. Vou ter a honra da sua visita?
***
De fato a vida era curta... Eu iria começar a vivê-la.
Autor(a): MahSmith
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 11
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tryciarg89 Postado em 07/09/2023 - 19:47:25
Fofa demais,ameiii esse final
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angelr Postado em 19/08/2015 - 15:02:05
Que web linda 😍😍
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lunaticas Postado em 16/05/2015 - 22:16:20
Linda web <333
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justin_rbd Postado em 20/01/2015 - 13:13:01
MAIS UMA VEZ EU AQ KK,RELI SUA FIC E ME AMOCIONEI MAIS UMA VEZ ,
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justin_rbd Postado em 27/11/2014 - 13:55:10
sua fic foi perfeita !! parabéns
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vverg Postado em 22/02/2014 - 10:56:21
Linda história do começo ao fim =)
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vverg Postado em 17/02/2014 - 21:35:38
Nossa!!!! A historia é muito triste, mas não deixa de ser bonita pela entrega das duas... =)
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laryssales Postado em 16/02/2014 - 14:05:57
omg a fic ta cada vez mais envolvente *-*
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juhdul7 Postado em 16/02/2014 - 10:22:29
Amei a fic!! Posta mais!!
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isabela_araujo Postado em 10/02/2014 - 17:24:37
adorei a fanfic, posta maais (: