Fanfic: Estranhas Conhecidas (Portiñon) | Tema: Portiñon, AyD

Como eu podia ter uma sorte tão grande de encontrar uma mulher como aquela, e ao mesmo tempo um pesar em meu coração por essa sorte? Os olhos de Dul analisavam meu rosto e eu perscrutava o dela com a mente ligada em tudo e em nada. O beijo havia tirado toda a minha razão. Minha sorte era estar sentada, senão ela perceberia minhas pernas tremendo. Minha vontade era de ir para o hotel naquele momento, mas não podia e devia agir com impulso. Não queria parecer desesperada ou ansiosa. Não podia ser a pessoa que a Dul esperava que eu fosse, afinal não podia dar nenhuma esperança a ela que não fosse apenas uma noite. Pedi para o motorista parar em frente a um café assim que o táxi alcançou a Paulista.

- Já não era pra isso aqui tá fechado? – me perguntou Dul.

- Isso aqui o que?

- Essa é a Paulista não é? A parada não é aqui?

- Amanhã fecha. Hoje ainda é sábado. Aquelas drags estão se aquecendo. São Paulo está em clima de Parada Gay desde quinta feira.

- Então temos uma noite para nos conhecermos melhor? – me perguntou com um risinho nos lábios.

- Temos. Vamos beber um suco ou um café enquanto conversamos. – respondi com uma pitada de ironia retribuindo o riso.

- Você não alivia mesmo não é?

- Não. Hoje tem uma mega festa na The Week e é uma ótima oportunidade de você conhecer a noite gls paulistana.

- Pensei que fossemos nos ocupar desse tempo para nos conhecermos... – sua voz soou quase decepcionada – Você me disse que...

- Que queria sua presença na maior festa Gay do mundo. Não disse que ia pra cama com você – respondi tentando ocultar meus verdadeiros sentimentos – Espero que você não tenha vindo do Rio pensando que vai ter uma noite de sexo gratuito.

- Não foi o que pensei... – respondeu me dando um sorriso maroto.

Mantenha a linha Any... Mantenha a linha. Pensava repetidamente. A verdade é que eu fiz um esforço sobre-humano para me concentrar no seu rosto, já que meus olhos teimavam em descer para o decote que ela descaradamente insinuava ultrapassando o limite da mesinha que nos separavam. Eu havia decidido chutar o balde quando soube da doença, mas naquele momento eu estava com medo do que viria a seguir. Como era maravilhoso ouvir os “esses” puxados que ela dizia. Ela era maravilhosa. Linda, inteligente, ousada. Eu me sentia como uma criança que olhava o doce através de uma vitrine: Ele estava ali, na minha frente, mas eu não podia enfiar a mão porque ia sofrer consequencias. Eu estava me sentindo como uma criança. Dul era um brinquedo com a qual eu não poderia me divertir pelo resto da minha vida.

O nosso pedido chegou e eu quis voar no pescoço do garçom pelo olhar que ele lançou para o decote da Dul Tadinho. Ele não tinha culpa. Não tinha como não olhar para uma mulher daquela. Balancei a cabeça e tomei um gole do meu suco de maracujá, que era a única coisa que poderia acalmar meus ânimos naquele momento, e tentei desviar os olhos daquele maldito-divino decote.

- Você já namorou alguém serio? – perguntei desviando minha atenção.

- Já. Namorei uma garota durante quatro anos. Não deu certo.

- Quanto tempo faz que terminaram?

- Sei lá... Seis, sete meses... Isso não tem importância agora Any. Me fala de você.

- Não tem muito pra falar de mim.

- Por que você gosta de ler aqueles contos da Internet?

- Sei lá... Me faz fugir da realidade.

- De que realidade você quer fugir?

- Nada que tenha importância agora.

- Ok. Uma conversa de meias palavras...

- Acho que é isso que acontece quando não conhecemos a pessoa direito. Nenhuma frase sai inteira.

- Então vamos nos conhecer melhor. Eu quero te conhecer Any. Sem reservas. Foi por isso que vim do Rio até aqui. Só por você..

Me limitei a mexer meu suco com o canudinho. Que merda eu estava fazendo? O que eu estava fazendo comigo mesma? A minha vontade naquele momento era sair daquele café e me jogar nos seus braços como se não houvesse amanhã, mas pra Dul existiria um amanhã, diferente de mim. Eu estava sendo insana e incoerente, e por mais que eu forçasse minha mente para não se importar, ela se importava. Eu não queria e nem podia ter a Dul apaixonada por mim. Não é do meu estilo machucar outras pessoas.  Eu não iria machucá-la.

- Fala alguma coisa Any – me pediu. Parecia oprimida com o meu silencio.

- Dul tudo o que vamos ter, quero dizer, se chegarmos a ter alguma coisa, vai ser apenas uma noite. Eu quero deixar tudo muito claro para que não haja enganos. Eu tenho a Amanda, minha namorada, e por mais que estejamos abaladas agora, eu amo ela e não há espaço para outra pessoa no meu coração.

- Eu sei esperar o tempo que for necessário.

- Não há tempo... – respondi com um nó na garganta – não há tempo necessário.

- Não entendi.

- Não importa – respondi mudando de assunto – seguinte: Vamos passar em um barzinho antes para fazer um esquenta e depois vamos para a balada. Alguns amigos vão nos encontrar nesse buteco. Tudo gente boa.

- Tudo bem – a decepção era evidente na sua voz. Tentaria recompensá-la depois.

Saímos do café e  fomos em direção ao hotel. O caminho era curto e durante o trajeto fomos conversando amenidades. Dul era rápida com as palavras e sempre me pegava em alguma situação querendo que me arrancar alguma coisa.  Era tão fácil rir do lado dela. Era tão fácil se apaixonar por ela. Mas o que me pegou de verdade foi o sotaque. Que delicia ouvir sua voz suave e doce com tantos esses. O sorriso dela parecia iluminar por onde passávamos. Seus modos variando entre sutis e delicados com uma pitada de moleca. Eu confesso que estava boba do lado dela. Prestava atenção em cada detalhe de cada gesto que ela fazia. Era uma previa de um sonho que eu teria que acordar. Talvez na melhor parte como sempre acontece de um infeliz vir te acordar na melhor parte do sonho e eu sei que meu bom senso me acordaria.  Queria aproveitar, queria tirar aquela decepção que havia plantado nela, mas nada do que fizesse mudaria o meu destino e, com toda certeza, ir para o alem com uma pitada de raiva por ter me apaixonado por uma mulher como a Dul não era o que eu queria. Eu não precisava de mais motivos para sentir raiva de Deus.

Aguardei no saguão enquanto Dul fazia o registro, para depois subirmos para o quarto. Dul abriu a porta me dando passagem e depois de depositar minha bolsa na poltrona em um canto, ouvi o barulho da mochila caindo no piso e duas mãos se apossarem da minha cintura. Virei o pescoço e encontrei os olhos que me encaravam com intensidade, pareciam que viam através de mim. Os lábios entreabertos eram convidativos. O ingresso para uma noite no paraíso.

- Vamos deixar acontecer... – balbuciei não sentindo força em minha voz – naturalmente...

- Deixaremos... – me respondeu tomando conta dos meus lábios em um beijo ardente. Mais uma vez senti sua língua se enroscando com a minha e as mãos passearem pelo meu corpo com ousadia. Me entreguei aquele momento apertando-a contra meu corpo, sentindo seu coração bater no mesmo compasso do meu, apressado, faminto por tudo o que nos esperava. Enfiei minhas mãos por baixo da sua blusa acariciando a pele onde os pelinhos estavam arrepiados. Todo o meu corpo reagiu aos beijos que recebia no pescoço e os dedos que iam desabotoando minha calça. Automaticamente tirei minha blusa com pressa e comecei a tirar a dela também. Tinha anseio por sentir a pele quente contra a minha. Me abaixei o suficiente para jogar a bolsa da poltrona no chão e fiz Dul se sentar para depois se sentar em seu colo.

- Que tal uma mudança de planos? – perguntei ofegante em seu ouvido.

- Uma mudança?

- Vamos ouvir a parada aqui do quarto?