Eu tinha me preparado psicologicamente para o pior. Na minha atual circunstancia, tudo o que se imagina é sempre o pior, mas o que eu não esperava era que Dul me confortasse daquela maneira e me passasse tanta força com apenas uma palavra, um gesto de carinho. Não sei bem ao certo porque as coisas acontecem na vida, mas embaixo da água quente do chuveiro, com o corpo deliciosamente dolorido do ato sexual a pouco consumado, ouvindo a voz doce de Dul cantarolar Ana Carolina, tive a epifania de que aquele tumor na minha cabeça havia me trazido uma mulher que em outras circunstâncias não teria levado a serio. Eu tinha que ter desenvolvido uma doença para conhecê-la. Dul... Eu iria viver, iria lutar com todas as minhas forças, não só por mim, mas por ela. A porta do banheiro se abriu e o corpo moreno se juntou ao meu em uma deliciosa ducha. Quarenta minutos depois saímos, com a pele enrugada, e sorrisos de duas apaixonadas para a cama. Por mais que fizéssemos amor, nunca parecia ser suficiente. Era como uma droga: provei a primeira vez e não queria mais parar. Não podia parar. Nos desgrudamos quando Dul saiu da cama para atender o celular.
- Oi Ly... Tá tudo bem porque?... Sem problemas. Depois eu ligo pra ela. Vou levar a Any pra almoçar com a gente... Não é não... – Dul exibia um riso enquanto eu como uma desesperada fazia gestos de não ia sair daquele quarto – Tá bom. Daqui a pouco estamos ai. Beijo.
Dul desligou o celular enquanto o travesseiro que eu havia jogado a acertava na cabeça.
- Não precisa ficar com medo... Só vai ta minha irmã lá – falou me abraçando.
- Tá né?! Agora que você já falou pra ela, eu vou. Mas já vou avisando: Sou super tímida.
- Ham... Com coisa que eu acredito...
- Você vai ter um castigo por conta disso.
- E qual é o meu castigo?
- Quero te sentir outra vez antes de irmos...
Dul apenas sorriu arrancando a toalha que eu havia colocado sobre meu corpo. Que mulher meu deus! Que mulher!
Saímos do hotel e seguimos em direção a casa de Alex. Fomos conversando sobre tudo e sobre nada. Adoro a destreza que ela possui com as palavras, me fazendo rir a todo o momento. Momentos depois o carro entrou em um prédio de apartamentos. Confesso que fiquei gélida; e se a irmã da Dul não gostasse de mim? Acho que ela percebeu minha insegurança, pois segurou forte minha mão assim que o elevador parou o andar que ela apertou. Respirei fundo enquanto ela abria a porta e me dava espaço para passar. Entrei devagar passando os olhos pelo lugar, tentando enxergar alguém.
- Lygia! – gritou Dul jogando as chaves encima de um móvel – chegamos!
- To na cozinha! – respondeu uma voz vinda do além.
- Vem. Vou te apresentar minha maninha.
Apenas assenti com a cabeça, suando frio, acompanhando Dul. Não era para eu estar me sentindo daquela forma, eu nem sei explicar porque estava suando frio. A verdade é que eu queria que ela gostasse de mim. O cheiro que estava vindo da cozinha indicava que ela estava fazendo um almoço que me deixou com água na boca. Entrei no lugar ainda de mãos dadas com Dul me deparando com uma morena que em nada se parecia com a mulher ao meu lado.
- Ly, essa é a Anahi. Any essa é minha irmã Lygia.
- Prazer – falei desconcertada, pensando em qual das duas fora trocada na maternidade.
- O prazer é meu – me respondeu dando dois beijinhos na face. Eu, claro, me atrapalhei com isso de novo. Um dia eu aprendo o cumprimento carioca – então você que é o amor impossível?
- É... – respondi sem graça – você também lê o site?
- É... – Lygia respondeu olhando para Dul – eu também leio.
- Eu vou trocar de roupa. Vem comigo Any.
- Ah... Fica aqui comigo para conversarmos – falou Lygia segurando meu braço – quero conhecer a garota que opera milagres.
- Não entendi a do milagre... – falei rindo.
- Nem é pra entender – respondeu Dul seria – Não vai contar mentiras para ela a meu respeito hein?!
Dul saiu por um corredor e eu me sentei na cadeira que Lygia me oferecia. A irmã de Dul era uma fofa! Toda menininha delicada. Me bombardeou de perguntas, mas resolvi não falar sobre o tumor. Não era um assunto para aquela tarde. Dul voltou minutos depois e reunidas almoçamos o que Lygia havia preparado. A garota tinha o dom da coisa, pois estava delicioso! A tarde passou preguiçosa e eu ri e me diverti horrores. Me pareceu estranho, mas era como se Dul pela primeira vez apresentasse uma mulher para a irmã. Com certeza era coisa da minha imaginação, mas me soou como uma novidade para a morena.
Lygia pediu licença e saiu da sala para atender o telefone que tocava.
- O que você achou dela? – perguntou Dul abraçada comigo no sofá.
- Ela é uma fofa! Adorei.
- Dul – chamou Lygia – telefone pra você.
- Já volto.
Fiquei sentada olhando para um porta retratos onde aparecia uma mulher que aparentava seus quarenta e poucos anos junto com Dul e Lygia. Dul fora trocada porque a mulher da foto era a “fuça” de Lygia. Fiquei curiosa com ausência das duas mulheres. Com toda a certeza estavam falando de mim.
- Desculpa Any. – falou Dul voltando para a sala – Lembra que eu te falei de uma amiga que teve um tumor? – me perguntou sem esperar a resposta – ela me ligou para me chamar para um barzinho. Acho que seria legal vocês se encontrarem para conversar.
- Não sei se é uma boa ideia a conversa, mas o barzinho eu topo! Adoro uma cerveja e uma boa companhia.
- Então fechado.
- Cadê a sua irmã?
- Foi falar com a namorada. Eu vou me arrumar e passamos no hotel para você trocar de roupa.
- Fechado.
Me despedi de Lygia tendo que prometer que nos veríamos novamente. Passamos no hotel e depois de pronta fomos em direção ao barzinho. O lugar era agradável e Dul parecia ser uma frequentadora regular daquele lugar, cumprimentando a maioria das pessoas que encontrava. Minutos depois um casal apareceu nos cumprimentando. Jessica era uma pessoa simpática e alegre. O olhar de incredulidade que ela lançou sobre Dul era um enigma. Havia verdades sobre a ruiva que eu ainda desconhecia.