Fanfic: Estranhas Conhecidas (Portiñon) | Tema: Portiñon, AyD

            Finalmente Any estava em casa. Eu só lamentava não ser a minha, sim porque, desde que eu coloquei os pés na casa daquela mulher – minha sogra -, ela deixou claro de que dificultaria a minha vida ao máximo e mais: iria me fazer ir embora e largar a filha dela em pouco tempo.

            Essa conversa nós tivemos logo que chegamos, depois que  estava acomodada em seu quarto, adormecida, após ter sentido um pouco de dor pelo desconforto do trajeto entre o hospital e sua casa. Eu havia ido tomar um copo de água na cozinha, e infelizmente teria de pedi-lo a ela.

            -  Poderia me dar um copo de água? – pedi tentando ser no mínimo educada, afinal de contas, era a casa dela.    

            A mulher abriu a geladeira, apanhou uma garrafa, um copo no armário e bruscamente os colocou sobre a pia. Eu mesma me servi.

            -  Obrigada. – disse antes de sair.

            -  Ei, garota! – chamou antes que eu passasse pela porta. Eu me virei, já de saco cheio, com imensa vontade de mandá-la à merda.

            -  Pois não.

            -  Você sabe que não é bem vinda nesta casa...

            -  Olha... – interrompi-a – Se vai começar com toda a ladainha de que a sua filha vai recobrar a consciência e me esquecer, pode parando, tá?

            -  Não, eu não vou recomeçar com todo esse discurso. Só quero avisá-la que sua estadia em minha casa será a pior possível – guardou a garrafa com a água na geladeira – Minha filha não pode se aborrecer, portanto, as decisões que eu e o pai dessa desmiolada tomamos, não devem chegar aos ouvidos dela.

            -  Certo, e que decisões são essas?

            -  Para começar, eu não sou sua empregada, portanto, trate de arrumar um lugar para fazer suas refeições – falou calma, degustando de uma perversidade esquisita de se ver – Any dorme a maior parte do tempo, portanto você poderá ir até a sua casa para tomar banho e se quiser fazer as suas refeições por lá, e se quiser ficar por lá mesmo, não tem problema, porque Any tem pai e mãe que podem tomar conta dela muito bem.

            -  É só isso? Posso voltar ao quarto de Any?

            -  Só isso. Espero sinceramente que a minha filha não tome partido dessas decisões.

            - Acha que desta forma vai conseguir me afastar dela? – falei um pouco rude – Tá perdendo o seu tempo.

            -  Veremos. – disse e me deu as costas.

            Respirei fundo e voltei ao quarto de Any. Sentei-me na beira da cama. “Ela dorme como um anjo”.  Seria uma semana difícil a qual eu teria de me organizar ao máximo, primeiro para não enlouquecer, segundo para conseguir escapar de vez em quando daquela prisão sem que ela soubesse o que estava acontecendo. O doutor havia sido claro quando informou que nesses primeiros dias Any não poderia se aborrecer de maneira alguma. Ela precisava de repouso e a megera da minha sogra era um problema que eu teria de resolver. Eu só tinha certeza de uma coisa: quando tudo acabasse, eu iria levar a filha dela embora para o Rio de Janeiro. “Vingança é um prato que se come frio”.

            A semana estava no fim e cada minuto que passei naquela casa fora literalmente um inferno. O pai de Any não olhava para mim, mudava de cômodo quando me encontrava, mas não sem antes resmungar um bocado. Perdi as contas dos nomes os quais fui xingada.  

            O fardo era pesado. Todas as vezes que Any adormecia, eu aproveitava para ir à rua comer alguma coisa, já tinha me tornado amiga de um atendente da padaria da esquina. Mas, alguma coisa tinha que melhorar naqueles dias, e foi o fato de que Any passara a ficar um pouco mais acordada, principalmente durante o dia, com isso eu passei a tomar banho na casa dela para o desgosto da mãe que queria complicar a minha vida de todos os jeitos.

            Na quinta-feira eu estava exausta, dormindo sentada ao lado da cama de Any. O telefone tocou e eu fui até o quintal da casa para falar.

            -  Oi, Ly.

            -  As coisas melhoram?

            -  Não muito – suspirei – Mana, eu tô ficando sem grana. Tenho que arrumar um emprego, mas não posso deixar a Any sozinha. Não sei mais o que faço.

            -  Dul, eu liguei porque preciso saber onde você está.

            -  Na casa da Any, oras!

            -  Sim, mas fica em que lugar?

            -  Vai me emprestar um dinheiro? Juro que te pago com juros se for preciso, e...

            -  Pára Dul! Eu nunca pensei que te veria tão empenhada em fazer alguém feliz. É o melhor pagamento saber que você tá quietinha vivendo realmente uma história de amor, sim porque, era um perigo a vida que você levava.

-  Sem exagero, Ly!

-  Você saia até com mulher casada sua doida! Mas graças a Deus as coisas mudaram. Minha irmã, você tem ideia do bem que está fazendo a Any?

            -  Eu a amo. É a única certeza que tenho.

            Depois que eu passei o endereço de onde eu estava, desliguei com a certeza de que eu sentia muita saudade de casa, da minha mãe, de Lygia, até do meu antigo trabalho. Tudo seria perfeito se eu pudesse ter Any comigo lá, no meu mundo.

            Entrei novamente na casa que me causava arrepios. Any estava acordada.

            -  Onde você foi amor?

            -  Lygia ligou, você estava dormindo e eu não quis que o barulho te acordasse. – beijei-a nos lábios, logo a megera, digo sogra entrou trazendo uma bandeja com o almoço – Pode deixar que eu dou a ela – eu disse.

            -  Quero ficar um pouco com a minha filha, posso? – perguntou irônica.

            -  Claro, fique a vontade – eu respondi enquanto ajudava Any a se sentar na cama – Está melhor?

            -  Cada dia melhor. Acho que já da até para pedir uma pizza – disse alegre.

            -  Vamos comer quantas pizzas você quiser depois que ficar boa.

            -  Vai continuar me dando a sopa na boquinha, Dul?

            -  Por enquanto só a sopa – pisquei para ela, nós sorrimos. Ignorada a mãe de Any saiu do quarto, bateu forte a porta – Acho que ela não gostou nadinha do meu comentário.

            -  Não vejo a hora de poder levantar dessa cama, sair contigo por ai sem medo de que aconteça alguma coisa – suspirou – Ai Dul! Eu nunca me senti tão viva.

            -  E eu nunca fui tão feliz! – voltei a me concentrar na sopa que ela precisava tomar – Vamos, não me enrola, tá? Tem que comer tudinho.

            -  Ah, é? Tenho? – enlaçou o meu pescoço com as mãos – Acho que estou me sentindo muito bem, sabia? – falou maliciosa.

            -  Não faz assim, amor... você tem que se manter de repouso absoluto, lembra?

            -  Já não aguento mais você ter que dormir longe de mim pra gente não cair em tentação. Ai, Dul! Eu te quero tanto!

            Beijei-a nos lábios e logo me levantei.

            -  A gente não pode amor.

            Ela riu.

            -  Tá bom, então me dá essa sopinha horrível na boca.