Fanfic: Estranhas Conhecidas (Portiñon) | Tema: Portiñon, AyD

            Sai da casa de Fernanda no domingo à noite. Passei no supermercado para comprar uma lasanha congelada. Lygia tinha dito que não dormiria em casa, pois faria uma prova na segunda-feira, por esse motivo se hospedaria na casa de uma amiga que morava na Tijuca. Minha mãe ainda não estava em casa e eu detestava cozinhar.

            Quando entrei no elevador do prédio, o porteiro me viu e interfonou, me assustei com aquela voz grossa vinda do além. Ele me avisou que uma amiga estava na portaria a minha espera. Olhei o relógio, já passava das dez da noite. Bufei, perguntei o nome da visita imprópria e descobri que era Deby. O elevador parou no meu andar, desci e disse a ele que a minha amiga podia subir.

            Abri a porta de casa e Deby praticamente se jogou nos meus braços. Senti os seus lábios queimarem a minha boca. Tentei afastá-la de mim, e ela começou a chorar em seguida. Confesso que eu não entendi o motivo do beijo.

            -  Estou me sentindo péssima, Dul. – disse.

            Conduzi-a até o sofá da sala. Deby estava mesmo abatida, me senti culpada pela distância que eu estabeleci entre nós, mas desde que ela me falou da doença de Jess, eu não conseguia mais pensar em sexo com Deby. Era excitante quando estávamos nas “festinhas”, mas assim, de repente, eu não queria, mesmo porque, ela estava muito vulnerável e tudo o que eu menos precisava na vida eram de cobranças.

            -  Se sente péssima e me ataca, é? – falei passando as mãos nos meus lábios para retirar o resíduo do batom dela – Que “deprê” é essa? Quer uma bebida?

            -  Tem uísque?

            -  Vou ver se ainda tem alguma coisa e já volto.

            Retornei a sala com dois copos cheios de uísque e gelo. Entreguei um copo a ela, sentei-me ao seu lado...

            -  Jess não atende as minhas ligações; bate a porta na minha cara... – tomou um gole da bebida – Eu estou me sentindo péssima! Não como, nem durmo, nem aquelas piranhas que ficavam no meu pé aparecem mais. O que há de errado comigo? – segurou minha mão – Até você se afastou, Dul! A gente não transa desde aquele dia no motel... eu sinto falta!

            -  Uma coisa de cada vez – disse num suspiro – Jess já voltou?

            -  Já, está na casa dos pais... Luciana disse que todos os exames deram negativo.

            -  E por isso você a procurou, não é? – tomei um pouco da minha bebida, no fundo eu tava com vontade de mandar a Deby se fuder. “Que mulher doida!” pensei. 

            -  Você não vai entender, Dul! – tirou alguns fios de cabelo da face suada, era uma noite quente. Deby estava com uma aparência horrível – Não tem ideia do que é saber que a mulher da sua vida está doente. Eu perdi o chão. Não sabia como agir - concluiu.

            Fiquei quieta e por um instante eu tentei me colocar no lugar dela. Não sei o porquê, mas me lembrei de Amor impossível dizendo algo sobre ter tido uma convulsão. “Que bobagem! Ela só estava curtindo com a minha cara”.

            -  Então quer dizer que foi alarme falso?

            -  Tudo indica que sim.

            -  Que bom, você não perderá a mulher da sua vida. – falei entediada.

            -  Ela não me quer mais! – disse aos gritos – Eu já perdi.

            -  Mas, ela não vai morrer, droga! – falei brava, logo esvaziei o copo.

            Ela ficou quieta e em seguida caiu num choro compulsivo. Senti um misto de pena e... “Bem feito!” Naquela noite Deby dormiu na minha casa. Saí cedo para o trabalho e deixei minha amiga dormindo.

            A semana seguiu... Eu peguei pesado no trabalho, tinha planos de juntar uma grana e largar aquele escritório chato. Não aguentava mais aquele velho querendo mandar nos meus horários, reclamar de tudo, se chove tá ruim, se faz sol tá péssimo, ele queria mandar na minha vida, e se eu não saísse logo de lá, daqui a pouco controlaria até as mulheres com quem eu fico.

            No fim de semana levei trabalho para casa. Meu sábado foi regado a sanduiches e papéis. Quanto mais eu trabalhava, mas eu sentia o cheiro de dinheiro, e pensava, ou melhor: sonhava com as minhas férias sem data programada para terminar.

            Depois de tomar um banho, eu sentei na frente do computador na esperança... “Credo! Esperança, é?” Sorri. Confesso! Eu tava com vontade de teclar com Amor impossível.

            Liguei o computador e fui buscar um refrigerante na cozinha. Sentei no sofá da sala, mas ela continuava offline. Liguei a TV e por quase vinte minutos fiquei “zapeando” sem conseguir encontrar um programa interessante, mas para a minha fuga do tédio, eu vi Amor impossível ficar online para mim.

            Teclamos por alguns minutos, eu investi mais um pouco na bobagem de destino, até que consegui convencê-la a ligar a  webcam para mim – não sem antes fazer um charminho.  Ela pediu um minuto.  Aposto que foi arrumar o cabelo, trocar de blusa, passar batom, essas coisas... Sorri imaginando-a de frente ao espelho. Apoiei a lata do refrigerante ao lado da tevê. Mexi no cabelo impaciente, e ... curiosíssima!Olhei o horário no computador. “Droga! Que demora!”

            Ela enfim, voltou, mas a imagem estava desfocada, escura... percebi que um vulto tentava ajeitar a cam. Me inclinei, ficando com o rosto quase colado na tela, e foi então que eu consegui vê-la. Engoli em seco... embasbacada, porque ela era... era... “Linda!” falei enquanto a garota do outro lado da tela acenava para mim. Como uma boba acenei de volta, mas ela não podia me ver, minha cam estava desconectada.

Dul diz:

E que prazer... Digo... Muito bom te conhecer...

Amor impossível diz:

Vou desligar agora.

Dul diz:

Não... Deixa mais um pouco...

***

Toquei o rosto dela na tela...

***

Amor impossível diz:

Me dá só um minuto...

Dul diz:

Até dois...

            Any se levantou e eu continuei vidrada na tela vendo os seus cabelos balançarem enquanto ela se afastava do computador. A imagem estava nítida, tive a impressão de que a qualquer momento eu poderia passar para o outro lado e conhecê-la de verdade. Não pude deixar de notar as curvas do seu corpo. “Que safada!” Sorri boba e excitada com o que vi, a garota estava com uma camiseta curta e de calcinha. Não identifiquei muito bem a cor, mas me parecia rosa. “Sim! Era uma calcinha rosa!” Ela desapareceu atrás de uma parede, e mesmo assim eu não consegui tirar os olhos da tela, queria vê-la de frente... Os seios, a barriguinha, a renda da calcinha... Se eu soubesse que essas garotas da net eram tão saidinhas eu teria teclado com várias antes. “Será que ela voltará nua?” Pensei enquanto ansiosa, esfregava as minhas mãos. “Por isso Lygia gosta tanto desse negócio. Quantas garotas minha irmã deve ter visto nua?” Sorri.

            “Volta, volta, volta!”

            Ela não voltou... a janela de Any se fechou repentinamente, eu até fiquei off para saber se ela estava me evitando depois de ter me mostrado a sua calcinha, mas nem assim tornei a vê-la, e então, eu fui dormir pensando naquele rostinho de menina, na sua calcinha rosa, na camiseta branca com um Snoop desenhado na frente.

            Domingo... fiz plantão na net durante todo o dia. Não atendi ligação da Fernanda, nem da Deby... Eram quase onze da noite quando Lygia entrou no meu quarto e me surpreendeu no MSN.

            -  Tô preocupada com você, Dul!

            - Por quê? – perguntei sem desviar os olhos da tela do PC. Ela se aproximou de mim, cruzou os braços e leu os meus recados.

            -  Você encheu a caixa de e-mails da menina, está a mais de doze horas seguidas vidrada nesta tela, é a terceira vez que eu passo no quarto e os seus dedinhos estão dando f5 para atualizar a página de recados de Maldito Platão... – pôs as mãos nos meus ombros – Você tá obcecada por essa garota!

            -  Lygia... – desviei os olhos da tela do computador pela primeira vez – Ela apareceu na cam pra mim. Tem ideia de como aquela pilantra é bonita? Só entrego os pontos quando eu comer ela.

            -  Para de querer levar tudo quanto é mulher para cama, Dul!

            -  Eu tive um sonho erótico com ela... hummmm... – mordi os lábios – tirei aquela calcinha rosa e nós trepamos a noite inteira.

            -  Você é doente! – fez cara de nojo.

            -  Fala como se não gostasse de mulher.

            -  Gosto, mas quero apenas fazer sexo com a minha namorada.

            -  Sua namorada mora em Alagoas, caia na real! Vocês não vão transar nunca!

            -  Nós vamos nos ver no fim do ano. – falou magoada.

            -  Você disse isso ano passado.

            -  Dul... olha! – apontou a tela do computador, era uma mensagem no site livre Arbítrio, de uma tal... de Amanda. O recado era para mim.

            De: Amanda

            Para: Amor possível

            Mensagem: Sou a namorada de Amor impossível, e gostaria muito que você parasse de mandar essas mensagens românticas para ela.

Atenciosamente,

Amanda

            -  Que... que... – bati na mesa do computador – Idiota!

            -  É a namorada dela, oras! Você passou do limite, sabia? Tá enchendo a paciência da garota com esses recados no site, no e-mail, sabe Deus onde mais. Isso é perseguição, Dul!

            -  Olha aqui, Lygia! – falei séria – Se ela não quisesse nada comigo, não teria se mostrado na cam de camiseta e calcinha, tá legal? Essa namoradinha dela deve ser uma corna!

            Indignada, Lygia arrancou a tomada do meu computador.