Fanfic: Procura-se um Marido - Finalizada | Tema: Vondy [Adaptada]
Assim que adentramos o salão de festas, no térreo do majestoso Paradise, Christopher e eu fomos saudados por muitos conhecidos, a maioria presidentes das dezenas de companhias que vovô comprara ao longo dos anos. Ele os cumprimentou ainda de cara fechada, mas foi educado e atencioso, sem puxar o saco de ninguém.
No salão de festas, luxuosamente decorado com flores brancas de vários tipos em enormes vasos de cristal, vimos Hector e sua esposa, Suzana, com outros presidentes e diretores. Tentei parecer relaxada e sorridente, mas não funcionou. O mau humor de Christopher parecia uma força física, saindo em ondas de seu corpo, me deixando instável.
- Ah, a herdeira do império e seu marido! – exclamou Hector. – Como seu avô estaria orgulhoso se visse
você agora! Se tornou uma mulher, Dulce. Uma linda mulher. Não concorda Suzana?
- Tão linda quanto a mãe – ela sorriu.
- Assim vocês me deixam sem jeito – murmurei, ciente de que os olhos de Hector estavam colados aos
olhos pouco amistoso de Christopher.
- Você é um rapaz de sorte Christopher – o presidente disse a ele.
- Você nem imagina o quanto – Christopher murmurou acidamente, desviando os olhos dos meus. Reprimi um gemido. Eu tinha que falar com Christopher. Tinha que explicar que, ao menos naquela noite, precisávamos parecer um casal apaixonado.
No entanto, não houve tempo. O salão foi ficando abarrotado de gente, e muitos exigiam a atenção de
Christopher. Vi Juan, parecendo mais atarracado do que nunca em seu terno cinza mal cortado, e reprimi um suspiro. Os grandes hematomas sob seus olhos e em torno do nariz não ajudavam a melhorar sua aparência. A culpa me consumiu quando ele sorriu hesitante. Telma estava ao seu lado e acenou com a cabeça quando me viu.
Christopher conversava descontraído com alguns colegas que haviam sido remanejados para outras empresas e me deixou de lado. Obriguei-me a andar pelo salão até estar em frente à mesa do casal.
- Como você está radiante esta noite, amada! Essa cor favoreceu seu tom de pele. Parece brilhar! – Telma falou, sorrindo.
- Obrigada, Telma. Como foi a viagem?
- Ah, amada – ela revirou os olhos – Foi uma agonia ficar tantos dias longe do meu Juan. Mas consegui
me divertir um pouco. Já esteve nos Andes? – ela não esperou que eu respondesse. Fez um aceno de mão e continuou. – Ah, você precisa conhecer. Aquele lugar é mágico.
- Quem sabe um dia – sorri.
- Como vai, Dulce? Você parece triste esta noite – Juan comentou.
- É, eu estou. É a primeira vez que vovô não... você sabe.
Ele assentiu, com o rosto grave.
- Sim, eu sei.
- Minha nossa! Olha o colar da Suzana!- exclamou Telma. – Meu Deus! Posso ver o brilho daquelas
pedras a quilômetros! Preciso saber onde ela conseguiu aquela joia. Me deem licença, por favor.
Assim que ela se levantou ocupei a cadeira ao lado de Juan.
Me desculpa, Juan. Eu não tinha a intenção de te agredir. Só... perdi a cabeça
Ele assentiu brevemente.
- Já se decidiu?
- Humm... – Será que essa mancha roxa em torno de seus olhos não deixou claro?, pensei. Vou ter que ser mais explícita que isso? – Não tem o que decidir.
Seus olhos se estreitaram.
- Tem certeza? - ele grunhiu. – Eu não estava brincando, Dulce.
- Você não vai querer me ameaçar, Juan. Eu reajo muito mal. Acho que você já notou isso.
Ele sorriu um pouco. E, dessa vez, um arrepio gélido percorreu minha coluna.
- Você já tomou sua decisão. Não vai voltar atrás. Que pena. Gostaria que tudo se resolvesse de maneira amigável, sem mágoas ou palavras duras.
Levantei-me, observando as manchas roxas em seu rosto causadas por meu punho, e mordi o lábio.
- Acho que é um pouco tarde para isso.
Voltei para perto de Christopher. E percebi que seus olhos questionadores estiveram em mim o tempo todo.
- Por que você foi procurar o Juan?
- Só fui me desculpar – e tomei um gole de champanhe.
Ele me olhou intrigado por um momento, antes de voltar à fachada fria e distante, o que só me deixou pior. Eu me sentia fria naquela noite; a necessidade de ver vô Narciso circulando por aquele salão me deixava nauseada. E, sem o calor dos olhos de Chris, estava ficando impossível suportar a sensação de abandono, solidão e perda. Era estranho ver todos os diretores, presidentes e vice-presidentes, quando o anfitrião não estava ali. Tentei ignorar a dor o melhor que pude, tentei focar os pensamentos em outra direção, mas as luzes do salão se apagaram e imagens de vovô em diversas fases da vida surgiram no telão branco. Vi uma foto dele com papai e mamãe, eu – ainda bebê – em seu colo. Depois eu e vovô com orelhas de coelho, ambos com a cara suja de chocolate. Eu tinha seis anos naquela foto. Vovô e eu na praia, enterrados até o pescoço. Abraçados, com a Torre Eiffel ao fundo; ele sorria abobalhado para mim, como fizera a vida toda. Com orelhas pretas na Disney, de braços dados embaixo da Estatua da Liberdade, fingido escorar a Torre de Pisa, para que não caísse. A música de um piano insuportavelmente triste que acompanhava o vídeo me obrigou a me levantar da cadeira e fugir do salão o mais rápido que pude. Enfiei-me numa das sacadas laterais, trêmula e trôpega, sem enxergar nada à minha frente. A balaústra que separava a sacada e seu pequeno jardim da piscina do hotel me fez parar. Apoiei as mãos sobre ela, tentando respirar, tentando me livrar da dor.
Então senti novamente aquele toque, aquela carícia em minha cabeça, e o aroma de flores, que permeava meus sonhos toda vez que vovô aparecia neles, me atingiu como uma rajada de vento.
- Você está aqui vovô? – murmurei, tentando conter as lágrimas. – Por favor, me mande um sinal.
Qualquer coisa que me faça crer que você ainda está perto de mim.
Esperei inutilmente. Tudo o que aconteceu foi uma borboleta voar ali perto. Engoli em seco quando ela
pousou no topo da balaústra cor de creme. Observei o inseto, que se manteve imóvel, como se me
observasse também.
As vozes, o tintilar de taças, aquela música insuportável vindo de dentro do salão aumentaram, depois
voltaram a ficar abafados.
Virei-me e lá estava Christopher, imóvel como uma estátua, me observando com olhos escuros. Recuei até bater o quadril na balaústra. Ele soltou um longo suspiro e se aproximou rapidamente, sem se deter até me tomar em seus braços.
- Sinto muito – murmurou, acariciando meus cabelos. – Sinto muito. Me desculpa.
Com o rosto enterrado em seu peito, seu abraço férreo impedindo que eu me livrasse daquele doce
cativeiro, as lágrimas assumiram o controle e caíram livremente. Ele enterrou o rosto em meus cabelos, e o aperto ao redor do meu corpo se intensificou, como se quisesse me fundir ao seu, como se ele quisesse se apossar da minha dor e toma-la para si. Aos poucos, consegui me controlar o bastante para que os soluços cessassem
- Desculpa – sussurrei, secando os olhos e torcendo para que não estivesse com a cara toda borrada, à la Alice Cooper. – Não consegui evitar... Foi... – engoli em seco.
- Horrível – ele completou.
Apenas assenti.
- Às vezes acho que eu realmente falo com ele, Chris. Que sinto a presença dele, o toque. – Eu me
desvencilhei de seus braços e me virei, ficando de frente para a água cristalina, para que ele não visse
minha tristeza.
Silenciosamente, ele se aproximou, até ficar bem ao meu lado. Tentei imaginar o que Max estaria
pensando. Ele achava que eu era doida? Tinha medo de que eu saísse por aí dizendo que falava com gente morta? Temia que eu surtasse enquanto ele dormia e o atacasse com uma faca? Certamente não devia ser nada agradável saber que a garota com quem divide o apartamento acredita que fala com gente morta. Fiquei entre ele pensar que eu simplesmente mentia ou que havia perdido o juízo, como tia Celine.
Tia Celine era a irmã mais velha de vô Narciso. Ninguém notou suas esquesitices até que ela começou a
dormir dentro do closet, porque dizia que havia nazistas dançando em seu quarto e que a cantoria alemã
não a deixava repousar. Levou anos para que vovô conseguisse fazê-la tomar os medicamentos, mas era
tarde demais, ela já vivia em seu mundinho e raramente aparentava lucidez. Eu gostava de tia Celine. Ela sempre me entupia de chocolate quando meu avô dava as costas. Eu era pequena quando ela decidiu me dar alguns conselhos, antes de morrer. “Nem pense em se casar com o príncipe encantado”, ela me disse certa vez. “Case-se com o lobo mau. Ele sim saberá tratar você bem”. Na época, eu tinha oito anos e não entendi muito bem o que ela quis dizer. Foi na adolescência que descobri o que sua metáfora queria dizer. Talvez por isso nunca quis me ligar a ninguém.
Até conhecer Chris, que era parte lobo mau, parte príncipe encantado. E que estava calado há tanto tempo que tive que olhar para ele. Seus olhos me examinavam atentamente.
- Ele é tão real, Chris. Quer dizer, nos meus sonhos. É ele! É o mesmo homem que sempre foi. Ele é real! E me aconselha como antes, e às vezes eu sinto algo, uma força... Não sei como explicar, parece que algo está me protegendo, como se vovô ainda estivesse por perto.
- Isso é um pouco apavorante – ele disse, mas sorriu de leve.
Não era bem o tipo de resposta que eu esperava.
- Você... acredita em mim? – perguntei, insegura.
- E por que não acreditaria? Você teve uma ligação muito especial com o seu avô. Se existe mesmo vida após a morte, e o seu Narciso está vendo tudo o que você está passando, não duvido que esteja perto de você, tentando te proteger – ele disse, muito seguro. – Claro que acredito em você.
Suspirei, aliviada.
- Ele está tentando me ajudar, eu sei que está. Eu é que sou cabeça-dura e não dei ouvidos ao que ele disse. E tudo acabou ficando mais complicado.
Um pouco hesitante, Chris deslizou a mão pela balaustrada até alcançar a minha. Um calor denso e
abrasador percorreu meu braço e alcançou meu peito quando ele fechou os dedos ao redor de minha mão.
- Quer falar sobre isso? – perguntou.
- Eu... eu preciso. Não aguento mais isso. - Respirei fundo antes de começar. – Tudo bem, a verdade é que... bom... o Juan desconfia que o nosso casamento é uma farsa.
- Ainda? – ele perguntou em voz baixa.
- Na verdade, ele tem quase certeza. E me procurou, primeiro me alertando dos riscos que a sua carreira corre se a historia vier à tona. Fiquei tão confusa quando ele disse que você ia se prejudicar que eu quis te contar da primeira vez, eu juro, só não tive coragem.
- Então foi isso – ele me encarou, abaixando um pouco a cabeça para que nossos rostos ficassem na mesma altura. Sua voz era como veludo em minha pele. – A conversa no carro. Foi isso que te deixou tão assustada.
Assenti.
- Mas não foi só isso.
- Não? – sua esta vincou.
- Não. O Juan comprou o meu cupê do cara pra quem eu vendi. Naquela tarde na mansão, quando eu
bati nele, ele pediu para anular o casamento. E me ofereceu o carro como moeda de troca.
Ele ficou em silencio por alguns minutos. O rosto era uma máscara sem expressão.
- Você aceitou? – inquiriu. A voz não tinha entonação alguma.
- Você viu o rosto dele? – ri, nervosa.
- Ah, - ele disse, um meio sorriso no rosto.
- Tem mais – sussurrei.
- Tem? – ele me encarou inquisitivamente. A força de seus olhos era tanta que tive que desviar os meus
para continuar.
- Eu ainda não contei o pior. No jantar da L&L para decidir quem seria o novo diretor do Comex, o Juan
me contou que foi o Hector quem sugeriu ao meu avô me excluir do testamento até que eu estivesse
casada. Na época, não entendi o que aquilo significava, mas agora está tudo muito claro. Eu assumo o
meu patrimônio, o Hector perde o cargo de presidente do conglomerado. Ele não quer que isso aconteça. A Belinda contou pra ele que nosso casamento é uma farsa, e agora o Hector está tentando encontrar provas. Então, se ele conseguir, seu bom nome, Chris, seu esforço, seu talento, seus sonhos, vai tudo por água abaixo. Me desculpa.
Comprimi os lábios, desejando não ter dito aquelas palavras, mas eu dissera e Christopher as ouvira. Levou meio minuto para que ele perguntasse:
- Quem te contou isso?
- O Juan. O Hector procurou ele. O Juan tem feito pressão para que eu anule o casamento, porque se o
nosso acordo for descoberto eu perco o direito à herança pra sempre. Mas ele acha que o Hector é esperto o bastante para desmascarar a gente e tem me torrado a paciência por causa disso. Ele quer que eu anule o nosso casamento antes que a coisa toda exploda.
Christopher assentiu, sério, muito sério.
- E Chris... – Seus olhos estavam presos aos meus, brilhantes, cheios de luz, mas não me devolviam nada. – O Juan escolheu o Jefferson simplesmente porque você confrontou ele aquele dia no refeitório. E ele não gosta de você porque você é meu marido. Ele acha que você é um homem perverso, que me usa como escrava sexual ou algo do tipo. Sinto muito – baixei a cabeça.
Houve uma longa pausa, e sua mão deixou a minha.
- Por que você não me contou isso antes?
- Eu tentei algumas vezes, mas acabava recuando porque... eu fiquei medo. Me perdoa, Chris. Eu não pude fazer nada a tempo. Sei como sua carreira é importante para você. Se o Juan tivesse me dito antes que ia estragar a sua promoção, eu teria tentado alguma coisa, argumentado ou apelado... qualquer coisa, mas não deu. Você não sabe como eu lamento. Foi por isso que procurei o Boris. Pra tentar fazer alguma coisa antes que o Juan te prejudique de novo, porque ele disse, naquela tarde em que quebrei o nariz dele, que vai afastar você de mim se for preciso, para me livrar de problemas. E não foi um encontro aquele jantar com o Boris. Eu juro!
- Dulce, olha pra mim – pediu ele, colocando uma mão em cada lado do meu rosto e o levantando até que eu olhasse para ele. – Por que isso te entristece tanto?
- Por quê? – indaguei, tentando engolir as lágrimas e falhando vergonhosamente. – Porque eu sou a
garota-problema que destrói a vida e os sonhos de todos que se aproximam. Você tem razão, Chris. Eu sou a pedra no seu sapato. Você devia ficar longe de mim. Bem longe. Eu estraguei tudo.
Uma mecha de cabelo caiu na lateral de seu rosto, atraindo minha atenção imediatamente. Eu queria tanto acariciar aqueles cabelos...
- Você não respondeu minha pergunta – disse ele, e a voz profunda reverberou por todo o meu corpo,
deixando minha pele quente.
- Eu sinto muito. Eu devia ter imaginado que esse plano maluco de casamento de aluguel não ia dar certo. Eu estraguei os seus sonhos. Eu daria tudo pra poder consertar as coisas. – Chris ainda me encarava, tornando impossível organizar meus pensamentos e responder com clareza. – Tá, eu sei que não tenho nada agora, mas eu daria até as roupas do corpo e pegaria ônibus sem reclamar se isso fizesse o tempo voltar.
Seus olhos brilharam como na noite em que nos beijamos no sofá. Havia neles calor e desejo e fúria e medo.
- Dulce, por que você se importa com o que vai acontecer comigo? – ele ainda segurava meu rosto entre as mãos.
- Porque... – prendi uma das mãos em seu pulso – não quero que você seja infeliz.
Ele sorriu, aquele sorriso tímido que me fazia perder o fôlego.
- Eu também não quero te ver infeliz, Dulce. – Não era bem o tipo de reação que eu esperava. Na verdade eu não esperava nada daquilo. Onde estavam os gritos: “NÃO ACREDITO QUE PERDI MINHA
CHANCE POR SUA CAUSA, GAROTA!”?
- Não quer? – perguntei, confusa.
Ele sacudiu a cabeça lentamente.
- Nesse momento, estou fazendo um esforço enorme para não entrar nesse salão e quebrar o que sobrou do nariz do Juan por te atormentar quando você já está tão fragilizada e enfrentando problemas demais. Mas você é mais importante neste momento. Posso lidar com ele depois. Você está triste e não quero te ver assim. Me dói a alma, Dulce. Sinto como se eu estivesse morrendo. Será que você poderia sorrir pra mim e me livrar dessa agonia? – ele pediu - Eu adoro o seu sorriso.
Eu engoli em seco. Seu rosto estava tão próximo do meu, as mãos tão quentes em minha pele fria. Suas palavras aveludadas eram como carícias em meu corpo. Senti meus joelhos falharem.
- Por que você está sendo gentil comigo? Não entendeu que eu estraguei tudo?
- Só para que você saiba – ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha -, eu já desconfiava que o Juan tinha escolhido o Jeferson porque confrontei as atitudes dele em relação a você. E, se quer saber, fiquei aliviado por ele não ter me escolhido. Eu não ia suportar pensar que devo ao Juan qualquer coisa que seja.
- Você desconfiava? – perguntei, atônita. – por que não me disse nada?
Ele comprimiu os lábios, impaciente.
- Porque sabia que você ia assumir a responsabilidade. E o único responsável sou eu. Não! – ele segurou mais firme meu rosto quando tentei negar. – Não é culpa sua. Eu agi por conta própria e não me arrependo, faria tudo de novo se fosse preciso. Agora sorria para mim, por favor. Essa tristeza toda em seus olhos está me matando.
- Não dá pra sorrir num momento desses.
- Dá sim - ele disse, secando com os polegares as teimosas lágrimas que escorriam por meu rosto. – Aposto que você vai sorrir se lembrar de como nos embolamos naquela escada, logo depois que nos conhecemos. Você estava tão pedida, tão confusa, como se o fim do mundo estivesse chegando.
Suspirei.
- Era pior que o fim do mundo. A Maite ia me exilar na copiadora.
- Isso com certeza é o fim dos tempos... – ele sorriu um pouco. – Ou você pode lembrar de como fiquei
constrangido quando trombamos no corredor e me deparei coma cópia da sua... hã... – ele arqueou uma
sobrancelha. – Você sabe do que estou falando. Não me obrigue a dizer.
Eu sorri um pouco, e seus olhos se iluminaram.
- Agora sim. Um sorriso tímido, mas ainda é um sorriso. Já vi um desses antes. Quando você está lendo, sorri dessa forma. – Sua mão continuava encaixada em meu maxilar, os dedos longos alcançando minha nuca.
- Eu não sorrio enquanto leio- contrapus.
- Sorri sim, o tempo todo. Eu prestei atenção – e o polegar deslizou por meu lábio inferior.
O toque me fez estremecer, e uma avalanche de sensações me sufocou. Chris parecia alterado também, sua voz estava rouca, as pupilas dilatadas e escurecidas, a respiração curta. Meu coração voava.
Não faço outra coisa a não ser prestar atenção em você, Dulce.
Sob a luz da imensa lua, Chris se inclinou, sem hesitar dessa vez, e colou os lábios macios aos meus. Era a primeira vez que ele me beijava, realmente me beijava, sem persuasões ou artimanhas. Aproveitei a chance e me agarrei a ele, grudando meu corpo inteiro ao seu. Ele não pareceu se importar, já que um braço laçou minha cintura, me espremendo contra seu corpo forte. Seus lábios foram ainda mais agressivos que em nosso último beijo, e eu já não conseguia respirar, mas não permiti que se afastassem dos meus. Eu poderia sufocar se isso significasse estar ali, presa a ele para sempre.
Christopher tentou eliminar a distância entre nós – o que era impossível, já que não havia uma única parte de mim que não estivesse colada a ele -, de modo que acabei pressionada entre a balaustrada e seu corpo quente, quase febril. Suspirei sob seus lábios, e o braço em minha cintura se moveu preguiçosamente por minha silhueta e contornou meu quadril, até o puxar para si. Instantaneamente obtive a resposta à pergunta que havia tanto me atormentava. Talvez fosse apenas uma reação ao beijo inconsequente, despido de pudor, ao qual ambos estávamos entregues, mas seu corpo dizia, de forma muito clara, que me desejava.
Seus lábios deslizaram para meu pescoço, os dentes provando minha pele e me deixando em chamas. Sua boca alcançou minha orelha e mordiscou o lóbulo já sensível, me fazendo tremer.
- Os sonhos mudam, Dulce – ele sussurrou.
Estremeci de prazer. Ele continuou brincando com os lábios por minha clavícula, os dedos fluindo por
meu braço, suaves como plumas.
- O meu mudou – disse, numa voz gutural repleta de ternura e desejo.
Enrosquei os dedos em seus cabelos macios, trazendo-o para minha boca outra vez. O Beijo, que a cada segundo se tornava mais voraz, mais íntimo, despudorado, me deixou em êxtase. Chris ainda me segurava firme e decidido, contra seu corpo quando alguém abriu a porta, deixando o mundo perfurar nossa bolha de paixão, trazendo o barulho de vozes e música para aquele momento mágico.
- Ah! Perdoem, eu não pretendia interrompê-los... – resmungou Hector com um cigarro na mão, o rosto
surpreso. Naquele instante, parte de mim acreditou em intervenção divina. Hector não tinha ido até
aquela sacada pro acaso, não é mesmo? A outra parte de mim estava puta da vida pela interrupção.
Fiquei imóvel, esperando pelo momento em que a consciência atingiria Chris e ele colocaria o abismo entre nós novamente, nos delatando. No entanto, ele sorriu e não me soltou. Apenas me girou, me abraçando pela cintura, minhas costas grudadas em seu peito. Não me atrevi a respirar.
- Não interrompeu - ele disse a Hector. Como Chris não se afastou, mas continuou ali, com os braços
protetores ao meu redor, fiquei mais confiante e me permiti respirar com cautela.
- Eu não sabia que estavam aqui – justificou-se Hector, analisando os braços ao redor da minha cintura
com a testa franzida. – Não queria ter interrompido um casal tão apaixonado.
- Nós é que fomos descuidados. Desculpa, Hector. Acho que a culpa foi minha, mas ninguém pode me
condenar. Olhe bem para a minha mulher! – Havia tanta euforia em sua voz, tanta... verdade que meu
coração parou de bater por um segundo ou dois. – Eu seria louco se não quisesse beijar a Dul a todo
momento.
Oh, Deus! Que seja real! Que isso tudo seja real!
- Certamente. A Dulce se tornou uma linda mulher – Hector sorriu. – Vou deixa-los à vontade – e voltou
a abrir a porta.
- Não é necessário. Dulce e eu temos a noite toda – Christopher disse e beijou meu pescoço.
Estremeci com a promessa. Chris nunca quebrava uma promessa. Bom... quebrou a de nunca me beijar, mas essa não contava. “Temos a noite toda”, ele dissera. Sorri e fiz força para lembrar que lingerie estava usando, e quase tive um colapso nervoso quando percebi que vestia minha calcinha preferida, do tipo boneca - larga e imensa! -, para que não marcasse sob a roupa, e com a cara enorme do Mickey Mouse estampada na bu/nda. Droga!
- Se não for atrapalhar... estou louco por um destes – Hector acendeu o cigarro e deu uma longa tragada, seu rosto demonstrando prazer e dor ao mesmo tempo. – Seu avô vivia dizendo que isso ainda ia me matar.
Não respondi. Eu tinha um problema mais iminente que a possível morte de Hector pelo terrível hábito do tabagismo.
- Seu avô sempre falava de você Dulce. Eu nunca conheci um avô, nem mesmo um pai, que se preocupasse tanto com alguém como ele se preocupava com você. Era bonito de ver quanto ele te amava.
- Eu sei, Hector. Era mútuo.
Ele assentiu.
- Vou ter que fazer o discurso no lugar dele. – Deu uma longa tragada. – Mas preferia que alguém da
família fizesse, se não se importar.
-Ah, não. Eu não posso. Não consigo falar em público. E você é o grande presidente. Vá em frente. Colha os louros – zombei.
- Não se trata disso. Nunca se tratou disso – jogou o cigarro no chão. –Se me derem licença... – e entrou pisando duro.
Esperei, um pouco insegura, até que a porta se fechasse. Chris me girou em seus braços e sorriu enquanto deslizava dois dedos por meus cabelos.
- Chris, você foi perfeito! Ele jamais esperava ver uma cena como essa. Você me abraçando assim... – apoiei as mãos em seus bíceps rijos e fortes. Arrepios subiram e desceram por minha coluna.
- Não estou encenando, Dul... você... estava?
- Eu? De jeito nenhum. É que eu pensei...esquece isso – sacudi a cabeça e sorri.
Ele também, mas de uma forma um pouco hesitante
- Tudo bem te tocar dessa forma? – perguntou, acariciando minhas costas.
Um sorriso enorme se espalhou por meu rosto.
- Mais que bem.
Ele suspirou, aliviado.
NENAS, NO PRÓXIMO CAP. VOCÊS VÃO MORRER LITERALMENTE... MUITO MAIS QUE MORRERAM NESSE. SE PREPAREM.
Autor(a): Gabi
Este autor(a) escreve mais 5 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
- Faz muito tempo que desejo te tocar, Dulce. Você não faz ideia! Temos um acordo e eu... não sei o que fazer. Não quero que pense que estou me aproveitando da situação. Eu não estou! Mas, às vezes, eu acho... eu sinto que você quer que eu te toque. - Às vezes? – sacudi a cabeça, desamparada. & ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 283
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wisley_da_silva_pereira Postado em 22/01/2021 - 13:10:53
depois de muito tempo olha eu aqui de novo relendo a fic eu gostei muito e amei demais mais só que falto mesmo foi só o epilogo para termina a historia de amor dos dois
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lukinhasmathers Postado em 15/07/2020 - 09:58:05
E eu aqui novamente... Acabei debler de novo e como eu amo esse casal mano
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lukinhasmathers Postado em 16/06/2019 - 12:20:47
Que bom que a Dulce amadureceu nesta história... Só queria que tivessem um filho com o Christopher, porque eles ficaram sem camisinha né rsrsrs
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lukinhasmathers Postado em 15/06/2019 - 15:14:26
Gostei demais da história... espero volta a lê ela algum dia..
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marimari17 Postado em 04/01/2016 - 12:00:03
Se chorei? Ah como chorei, essa fanfic é tão linda. Gostei dela muito, mas especialmente por um motivo, tudo o que eu temia, tudo o que eu achava que ia acontecer, na hora do aperto, não aconteceu. Quer dizer, aconteceu sim mas não fazendo umbestrago tão grande como o esperado. E eu tava jun momento tão difícil que essa fanfic me mostrou um lado bom da vida. Desde sempre eu sabia que borboletas são pessoas que já se foram e sente nossa saudade. Mas eu sei que a fanfic é adaptada, porem mesmo assim eu quero agradecer tanto a quem criou, como a você. Essa fanfic me ensinou muito. Obrigada, por me fazer chorar as quatro da manhã! Beijo grande!
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stellabarcelos Postado em 28/12/2015 - 20:36:18
Muito linda! Amei
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Livia Postado em 07/05/2015 - 19:51:25
dê uma passadinha la http://fanfics.com.br/fanfic/44140/the-bad-boy-vondy-hot
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gabysavinon Postado em 27/01/2015 - 00:29:33
amei essa adaptação!!!
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sher_vondy Postado em 31/03/2014 - 15:49:49
AMORES, AQUI É A AUTORA DESSA WEB, SÓ TÔ PASSANDO PRA AVISAR QUE A NOVA WEB ''Soul Love'' foi cancelada!!! Mas entrem no meu perfil que encontrarão outras. Bsos. <33
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anapvondy Postado em 22/03/2014 - 14:22:23
Oi Gabi, passando aqui so para avisar que sua web foi divulgada na página do facebook Estórias de Gente Vondy!! Se a divulgação for indesejada nos avise e retiraremos o post.