Fanfic: O Cão da Sala 1-3.
Ainda não entendi o porquê do "Cão".
Sei lá, eu pareço um cachorro? Acho que não, ia ser muito óbvio.
Acho que essa nem a Lilith, a voz de consciência sarcástica pode responder essa pergunta. Não tenho a mínima ideia de onde ela surgiu. Sei que no meu aniversário de 13 anos eu simplesmente senti uma voz feminina, aguda, irritante, sarcástica e bem esperta, que por algum motivo eu sabia que o nome era Lilith. Desde então ela faz comentários sobre tudo que eu faço, e eu levo as opiniões dela em consideração. E não, eu não sou esquizofrênico.
Até gostaria que fosse. Pelo menos assim eu poderia explicar a existência da Lilith.
Bom, o que eu seria sem ela?
— Verdade, você me ama John, e sabe disso.
—Cala a boca, Lilith.
Passo pelo mesmo caminho sempre, chegando no colégio às exatas 6:45 da manhã. Por sair cedo, é frio, e tem uma névoa densa também. É bem bonito até, poucas pessoas podem ver, mas é legal ter todo esse clima meio tenebroso só pra mim.
Já saindo da área residencial, já dá pra ver o complexo enorme do nosso colégio. Quase todo mundo estuda lá, então é o ponto de encontro da galera da nossa idade.
Tinha algo me incomodando nos meus dentes, então eu fui no banheiro. Tava vazio. Ótimo.
Dei um tempo pra me olhar no espelho. Rapaz, a minha jaqueta tá ficando MUITO estourada.
Eu também precisava cortar o cabelo. Eu até gosto, tem uma cara bem "grunge", mas não é prático.
No final meus dentes estavam normais, então eu fui pro corredor sentar que nem um mendigo, como eu sempre faço. Ninguém nota, mas eu faço mesmo assim.
— Seus tímpanos vão estourar se continuar com o volume alto, John. Você fica com essas coisas no ouvido o dia todo. — Disse Lilith num tom autoritário. Era a única que eu conhecia que não me chamava de Cão.
—Porque "Cão", Lilith? Eu não fico ofendido, nem nada, mas sei lá, porque "Cão"?
—Primeiro porque "Cachorro" ia ser muito ofensivo. Segundo, porque você realmente age como um cão. Você está sempre de prontidão, se move com muita agilidade, curte relaxar um pouco e ser apreciado pelos outros. Que nem um cachorrinho de madame. — Disse ela, rindo.
—Você não consegue me levar a sério, não é?
—Não — Ela sussurrou, com uma voz brincalhona, mas me dando calafrios mesmo assim.
As três salas do ensino médio ficavam no terceiro andar. Logo, quando as turmas de ensino médio subiam, incluindo a minha, a 1-3, eu levantava, esperava elas chegarem e ia mais rápido pra sala pra chegar primeiro. Era hábito. Mas hoje eu tinha me atrasado um pouco, a tempo de ver as turmas chegarem.
Aquela garota que ia embora comigo, Laurie Winter, acho, estava na frente de todos, rindo e conversando com todos. Previsível. Era a garota mais desejada do colégio, mas ainda assim tinha um bom coração. Apesar de ser orgulhosa pra caralho.
— Hey Lilith, olha só.
— Que foi? — Ela parecia ter acordado de um sono profundo, apesar de ter ficado em silêncio por só uns 10 minutos.
— "Winter" é inverno, não? E os cabelo da Laurie Winter parecem chamas. Ironia. — Dei umas risadinhas bobas quando percebi isso.
— Dane-se, John, ninguém liga. Você gosta dela, não é? — Ela ainda não estava completamente acordada.
— Você sabe que eu não gosto, daquele jeito, de ninguém, né?
— Claro, claro...
Por algum motvo, todo o amontado de gente que era a minha sala parou. Eu parei junto. A sala olhava pra Laurie, que por sua vez, olhava pra mim. Com vergonha.
Eu olhava pra eles como se quisesse que todos queimassem nas chamas do inferno, menos a Laurie.
Deu pra notar de cara. Queriam que ela desse um Oi para seu possível futuro par romântico.
— Isso vai ser divertido, não é, Lilith?
— Não faça nada que eu não gostaria...
A Laurie começou a andar na minha direção. E os retardados da minha sala rindo como uns débeis mentais. Normal, nessas circunstâncias eu também ia rir.
Mas eu não sou eles, sou o Cão.
Então ela foi chegando mais perto, beeeeeem devagar, com as mãos juntas, como uma verdadeira dama. Tinha uma expressão de dama mesmo, daquelas do século 50 ou sei lá o quê.
E aí eu percebi algo. Ela era BEM mais sagaz do que eu pensava.
Ela estava usando uma camiseta que mostrava um dos ombros, e mesmo com o cabelo ruivo por cima, eu consegui notar.
A têmpora esquerda dela estava pulsando, bem de leve, mas pulsando. Se eu notei, não é normal.
Ela estava se preparando pra fazer algo muito rápido, ou com muita força. Com certeza não era só um "Oi", como eles queriam.
Meu sorriso de divertimento virou uma expressão de terror. Eu ia ter que reagir de um jeito que não comprometesse a situação atual da Laurie, mas também não ferrasse com a minha.
E antes que eu percebesse, ela começou seu plano.
Agarrou no meu antebraço, e começou a andar decidida até o próximo corredor, me puxando como se eu fosse um...cão. Ela era bem menor do que eu, então a cena foi meio cômica. Me jogou na parede, os olhos de esmeralda mirando diretamente nos meus, os braços me segurando rente a parede, não com força, mas com uma mensagem de "fique aí"
Eu olhava para os lados, procurando algum significado pra tudo aquilo. Até que me veio uma luz quando ela se inclinou, na ponta dos pés, FINGINDO me beijar. Nessa hora, ela cochichou no meu ouvido:
— A partir de agora, nós nos beijamos, e só. Não vai demorar pra você ser pentelhado também, então seja convincente.
— Você atua muito bem.
— Obrigada.
— Não ficou vermelha em nenhum segundo, parabéns. — Eu disse, rindo.
— Obrigada de novo, Cão. — Ela disse com um brilho lindo nos olhos.
— NOSSA, John, como você é lerdo! — Lilith gritou na minha cabeça, chegou a me assustar até.
— Cala a boca, Lilith. — Eu falei pra ela na minha cabeça.
—Como é? — Disse Laurie, que ainda me mantinha preso à parede.
Pelo jeito eu tinha falado alto demais.
— Nada, Laurie, nada. Vamos nos atrasar se a gente continuar aqui nessa posição suspeita.
— NADA A VER, NADA A VER, NADA A VER, SEU VIRA-LATA IMUNDO! PARA DE FALAR BESTEIRA!
EU NUNCA ME ATRASO, E NÃO VAI SER PORQUE EU TIVE QUE FINGIR FICAR COM VOCÊ! — Ela disse, muito, muito nervosa MESMO. Chegou a me assustar. Mas achei engraçado. Porque ela não conseguia fingir que estava falando sério.
E ela me puxou que nem um cachorro de novo.
Nós entramos na sala, e o professor estava olhando feio pra nós, enquanto todos os outros sorriem pra nós. No momento que nós abrimos a porta, Laurie me deu um sorrisinho, e recuperou toda a pose de garota popular.
— Professor, eu tinha que resolver uns assuntos com ele, será que dá pra nos deixar entrar?
— Ah, claro, pode entrar, senhorita Winter!
Eu segui atrás dela, sempre confiante, com um sorriso no rosto. Ela radiava o orgulho. Ela queria ser vista, enquanto eu queria ser visto o mínimo possível.
Voltamos juntos naquele dia, outra vez.
Rimos um pouco sobre o quanto foi convincente o nosso fingimento.
Quando chegamos na frente da casa dela, nós paramos, e aí ela virou a cara de lado.
— Tchau!
E ela ficou parada nessa posição olhando feio pra mim.
— O que era pra eu fazer agora? — Eu disse, completamente perplexo.
— Isso é comum entre pessoas da nossa idade, beijinho na bochecha, é bem gay, mas fazer o quê?
— Ah tá, beleza. — Então eu fiz o que ela pediu e fui pra casa.
Meu Deus, essa gente é estranha.
Cara, o que eu tô falando, eu tenho uma voz na minha cabeça e nem ligo pra isso...
— Verdade — disse Lilith, debochando.
Autor(a): niaa
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
LER ATÉ O FINALFaz tempo que eu não apareço aqui, não?Bom galera, eu meio que desisti dessa fic (se é que tem alguém lendo)é que rola o seguinte, eu meio que fiquei sem inspiração. Mas eu estou sem inspiração pra história da Laurie, que era a que eu estava contando aqui. Mas agora vem a boa n ...
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