Fanfic: Um estranho Divórcio

Annie concordou solenemente.

O restante do dia de Dulce foi ainda mais agitado. Correu de uma sala para outra, conferenciando com os funcionários, dando instruções a uma nova modelo, ensinando-lhe como fazer a maquiagem e arrumar os cabelos. Teve de dispensar duas modelos que pediram o pagamento adiantado, algo que nunca precisara fazer antes. Depois disso, a diretora de publicidade veio pedir-lhe um aumento e teve sorte de não ser despedida no ato, tal o humor em que Dulce se encontrava.

Eram quase quatro horas quando, finalmente, teve tempo de comer alguma coisa e, apesar de estar faminta, foi obrigada a se contentar com um copinho de iogurte que encontrou na geladeira dos funcionários. Sentada numa cadeira da pequena cozinha, foi forçada a admitir que seria impossível encontrar um apartamento naquele dia, ou no dia seguinte, ou mesmo no outro, a não ser que acontecesse algum milagre.

Esperava apenas que Christopher continuasse a ser compreensivo.

Pela segunda vez consecutiva, Christopher precisou caminhar até em casa no escuro e sob a neve, mas, pelo menos, agora estava com as grossas botas que calçara pela manhã. Novamente, hesitou em entrar e ter a perspectiva de encontrar a casa vazia. E, mais uma vez, foi surpreendido ao abrir a porta. Só que agora, em lugar de tropeçar numa mala, foi recebido com o delicioso aroma de molho de tomate temperado com alho e orégano.

— É você, Christopher? — A voz de Dulce ressoou da cozinha. Christopher deu uma olhada pela sala, antes de reponder. As caixas de papelão continuavam ali, parecendo ter criado raízes. No dia anterior, ficara irritado com aquela presença incômoda, mas agora estava apenas curioso e um tanto satisfeito por Dulce não ter tido tempo de fazer a mudança. Normalmente, quando ela punha uma coisa na cabeça, não sossegava até realizá-la.

— Sou eu — respondeu, retirando a jaqueta e as botas. Seguiu o perfume da comida, até encontrar Dulce debruçada sobre uma panela, mexendo vigorosamente com uma colher. Estava ainda vestida com as roupas elegantes de trabalho, embora os pés estivessem calçados com um par de chinelinhos de pele cor-de-rosa. — Pensei que estivesse tendo uma alucinação olfativa — brincou. — Mas você está mesmo cozinhando? O que é isso, molho de espaguete?!

— Exatamente.

Ele olhou em volta, à procura de uma lata ou vidro.

— E você sabe fazer molho de espaguete? — perguntou, atônito.

Ela nem ergueu os olhos.

— É um dos meus muitos talentos secretos.

— E há algum motivo especial para esta súbita demonstração de seus talentos domésticos? — Christopher indagou.

Dulce deu um suspiro, olhando para ele finalmente:

— De repente, tive vontade de cozinhar... Não, não é verdade. Digamos que seja um suborno.

— E tem algo a ver com o fato de suas caixas continuarem empilhadas na sala? — Christopher perguntou, dando uma espiada no forno, onde uma travessa continha um pão de alho assando. Como sempre, Dulce fazia o serviço completo.

— Por acaso, tem, sim — ela respondeu, largando a colher e encarando-o. — Christopher, estou encrencada financeiramente. Não tenho um apartamento para onde me mudar e meu depósito está bloqueado por duas semanas. A agência mal se aguenta, por isso não posso depender dos lucros que tivermos durante um bom tempo. Este jantar representa a maior parte dos últimos vinte dólares que consegui retirar dos meus cartões de crédito.

— Entendo. — Ele estava um tanto desapontado. No fundo, esperava que ela dissesse que sentira uma grande vontade de cozinhar e partilhar com ele um jantar a dois, apenas para variar.

— Mas não precisava ter todo este trabalho. Se precisa de algum dinheiro emprestado...

— Não! Eu não quero seu dinheiro.

Era óbvio que não. Quando Dulce começara a agência, não permitira qualquer ajuda financeira da parte dele, nem como presente, empréstimo ou mesmo como um investimento legítimo. Com o correr do tempo, o negócio tivera altos e baixos, mas ela sempre recusara seu auxílio, o que, como agora, o deixava desgostoso.

— Então, o que é que você quer?

— Preciso ficar por aqui por algum tempo — ela respondeu. — Não muito, só uma semana ou duas, no máximo. Até que consiga organizar minha vida novamente.

— Mas você não precisa...

— Deixe-me terminar — ela o interrompeu. — Não importa o que você diga, sei que será uma imposição, um incômodo para você. Por isso, estou preparada para fazer algo em troca.

A mente de Christopher pesou rapidamente todas as excelentes possibilidades daquela proposta.

— E o que seria? — perguntou.

— Vou fazer o jantar para você, todas as noites. Sei o quanto gosta de comida caseira, isto é, você costumava me implorar para que fôssemos à casa de minha mãe para que pudesse comer as coisas que ela faz. Bem, sou capaz de fazer quase todos os pratos, exatamente como ela, e farei o que você quiser, se pagar pelos mantimentos.

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