Fanfic: Um estranho Divórcio

CAPÍTULO IV

— Bom dia! — Annie cumprimentou alegremente, quando Dulce entrou no escritório, ainda tremendo pelo frio lá de fora. Acabara de voltar de um encontro desapontador com o gerente de seu banco, que lhe informara que não poderia mais aumentar seu crédito. — Tem um milhão de recados esperando por você — a secretária continuou. — A Gravadora TNT escolheu quatro modelos nossas para o vídeo.

— Ah, é por isso que está tão animada — Dulce falou, sentindo também que seu próprio humor melhorava, com a boa notícia.

— Também recebemos um cheque de pagamento, pelo correio.

— Annie prosseguiu, mas logo interrompeu-se para atender o telefone fornecendo as mesmas informações automáticas que costumava dar várias vezes por dia: — Suas medidas estão corretas, mas não aconselho que venha diretamente para Nova York — ela dizia. — Envie-nos algumas fotos, cinco ou seis, e ligaremos para você, se estivermos interessados.

Sempre que ouvia esse discurso, Dulce sentia o coração apertando-se de compaixão pela jovem inocente e inexperiente que, com certeza, estaria recebendo a mensagem do outro lado da linha. Quase sempre eram vencedoras de concursos de beleza de cidadezinhas do interior, ou eleitas as mais bonitas da turma de colégio, que tentavam desesperadamente conseguir uma chance no mundo da moda de Nova York.

Ela própria tivera muita sorte quando um agente vira suas fotos e a chamara para uma entrevista, abrindo-lhe as portas para que ela fugisse da situação intolerável que vivia em sua casa. Tentava se lembrar da sua experiência todas as vezes em que precisava rejeitar uma candidata.

— Tem mais alguma coisa importante? — perguntou, quando Annie desligou o telefone.

— Só uma coisa estranha. Um tal de sr. Campbell telefonou de uma imobiliária — a secretária informou, lendo o recado numa folha de papel. — Disse que seu formulário foi recusado e que não poderá ficar com o apartamento. Eu disse a ele que devia haver algum engano, mas...

Dulce gemeu, desconsolada.

— Isso é inacreditável! Tem certeza de que foi isso mesmo que ele disse?

Annie fez um ar de ofendida:

— É claro que sim! Ele falou também que vai devolver seu cheque de depósito.

Dulce praguejou alto.

— Mas o que está acontecendo, Dulce? Não me diga que você e Christopher vão se mudar daquela casa adorável!

Dulce pensou em centenas de desculpas, mas achou que era tempo de dizer a verdade. Afinal, Annie sempre fora uma amiga leal, e não era justo continuar mantendo segredo.

— Christopher e eu estamos separados — falou, tentando manter um tom neutro na voz. — Nosso divórcio foi homologado há uma semana.

Annie ficou boquiaberta:

— E por que não me contou nada? — conseguiu dizer.

— Eu sei que devia, mas... — Deixou as palavras no ar, incapaz de explicar sua relutância em se abrir para os amigos.

— E onde você está morando, agora?

— Ainda estou com Christopher. — Dulce sorriu, embaraçada. — Esta crise financeira arruinou meus planos, mas ele está sendo muito generoso e me apoiando. Mas, agora que eu havia encontrado um lugar que podia pagar, não me aceitaram como inquilina. Não estou qualificada nem para morar num bairro como aquele!

— Mas o que aconteceu? — Annie perguntou, parecendo arrasada. — Vocês dois eram tão felizes... Pelo menos eu achava que eram.

— E fomos, há algum tempo. — Os olhos de Dulce se embaçaram à lembrança do casal feliz e amoroso que um dia haviam sido. — Nem sei o que aconteceu. Acho que fomos crescendo em direções erradas, as coisas começaram a se tornar complicadas, já não conseguíamos nos comunicar. Parece uma frase feita, não acha? Annie não respondeu, os olhos cheios de lágrimas.

— Não chore, Annie, e isto é uma ordem! — Dulce falou, vendo seu estado. — Eu estou bem, Christopher está bem e, na verdade, agora que o casamento acabou, parece que estamos nos entendendo melhor. — Ela mesma já havia pensado sobre isso, sem compreender exatamente o porquê.

— Quer dizer que pintaram uma faixa no meio da casa, dividindo os espaços? — a secretária perguntou, tentando brincar com a situação.

— Ainda não chegamos a esse ponto — Dulce respondeu, sorrindo. — Mas, se eu demorar muito a encontrar um lugar para morar, é o que vai acabar acontecendo.

— Poderia morar comigo — Annie ofereceu, como Dulce sabia que ela faria. — Temos um sofá-cama na sala e tenho certeza de que Sherry, minha companheira de apartamento, não iria se incomodar. — Depois de uma pausa, ela voltou a falar. — Não, acho que você iria detestar. Fazemos fila para o banheiro, não temos armários suficientes...

Dulce tornou a sorrir, satisfeita por Annie ter compreendido, por si própria, que seria impossível partilhar um apartamento minúsculo como o dela com mais uma pessoa. Da mesma forma, ficou imensamente grata pela compreensão da amiga.

— Obrigada, Annie. Mas vou ficar com Christopher por mais algum tempo. Tenho certeza de que minha sorte vai acabar mudando.

Annie retribuiu-lhe o sorriso e voltou aos assuntos de trabalho:

— Não se esqueça de que hoje você tem aquele almoço com ela. Até ligou para confirmar: "só para ter certeza, queridinha" — imitou.

Dulce riu da imitação brincalhona de Maureen, mas logo seu sorriso desapareceu. A modelo estivera ligando quase todos os dias, à procura de Harold. Por menos que gostasse da ideia, teria de lhe contar sobre o que acontecera, pedir-lhe que mantivesse segredo e esperar pelo melhor. Aquele almoço era a melhor oportunidade que teria para falar com Maureen.