Fanfic: Um estranho Divórcio

Ao meio-dia e meia, Dulce estava parada no lado de fora do edifício de seu escritório, com Maureen tagarelando em seus ouvidos. Flocos de neve caíam, inclementes.

— Venha até aqui, queridinha, sob o meu guarda-chuva. Está querendo molhar esse lindo casaco de peles? Saiba que eu faria qualquer coisa para ter um casaco como esse, nunca vi um tão lindo!

Dulce aconchegou-se mais dentro do casaco, que comprara há algum tempo, em comemoração a um excelente negócio da agência. O fato de usá-lo a fazia sentir-se bem sucedida. Talvez por isso é que ultimamente quase não o tirava, pensou.

— Maureen, você se incomoda se não formos a esse restaurante caro, onde você fez as reservas? Poderíamos comer um sanduíche numa lanchonete aqui perto, que é ótima.

Maureen parou de repente, fazendo com que Dulce batesse a testa contra o guarda-chuva.

— Você está brincando?

— Não. Acontece que não posso pagar a conta de um restaurante. Tenho apenas nove dólares e ainda preciso pagar a passagem do metrô para casa. Vamos comer o sanduíche, que eu lhe conto toda a história.

— Mal posso esperar para ouvi-la — Maureen afirmou, com um brilho de expectativa nos olhos. — Mas vamos ao restaurante assim mesmo. Você é minha convidada. Guarde seus nove dólares para um táxi, pelo amor de Deus. Andar de metrô é horrível!

Dulce aceitou o oferecimento sem pensar se seria ou não caridade. Durante o almoço, os olhos de Maureen arregalavam-se mais e mais a cada palavra de Dulce.

— Ah, querida, que coisa terrível! Nunca imaginei que aquele Harold fosse capaz de algo assim! E pensar que permiti que ele me... Mas isso não importa. Como vai conseguir manter esse escândalo em segredo? Se algum dos seus clientes ficar sabendo, poderá arruiná-la!

— É claro que estou contando com sua discrição — ela interrompeu-a, olhando Maureen firmemente.

— É claro! Então acha que vai conseguir sobreviver, não é?

— Sim. Tenho intenção de sair desta da melhor maneira possível. — Dulce descobriu que, emitindo o pensamento em voz alta, quase podia torná-lo realidade.

— Então acredito que não esteja dispensando algum lucro extra, não é, querida? Sabe quanto consigo ganhar por semana? — Maureen perguntou, insinuante.

Dulce respirou fundo, impaciente.

— Maureen, nós já conversámos sobre isso. Eu gostaria de representá-la, mas é que... bem, seu estilo não combina com a Agência Mystique, não é compatível, entende? — Era a maneira mais gentil que encontrara para dizer "não".

— Acha que sou velha demais, não é? Mas estive conversando com meu cirurgião plástico e...

— Não, Maureen, não tem nada a ver com a sua idade. Represento três modelos que são até mais velhas do que você. É a sua... imagem. É uma boa imagem para você, mas que não...

— Ah, está bem, esqueça — Maureen interrompeu-a com um gesto rude. — Espero que saiba que, para uma pessoa que se diz pobre, você está tomando decisões muito erradas. Como esse casaco, por exemplo — indicou na direção do casaco pousado numa cadeira ao lado de Dulce. — Você deveria vendê-lo. Eu mesma lhe daria cinco mil por ele, em dinheiro.

Dulce prendeu o fôlego por um segundo e, baixinho, contou até dez. Vender seu casaco? Nunca! Preferia perder um braço!

— Não, obrigada, Maureen — falou, afinal, com toda a delicadeza.

Dulce fez picadinho de carne para o jantar, além de uma salada e pãezinhos assados na hora. Nada de muito sofisticado, mas bom o suficiente para encher o apartamento com um delicioso e convidativo aroma. Acabou por descobrir que cozinhar acalmava-lhe os nervos e, apesar de sua conversa com Maureen tê-la deixado de mau humor durante toda a tarde, quando Christopher chegou encontrou-a cantarolando.

— Você parece terrivelmente doméstica — ele comentou, experimentando

um pouco da carne da panela. — Humm, está ótimo. Igualzinho ao de sua mãe.

— É claro que sim, é a receita dela.

— Sabe que não precisa cozinhar — ele falou, cauteloso. — Já posou para as fotos, por isso estamos quites.

— Não por muito tempo. Meu negócio com o apartamento não deu certo e estou de volta à estaca zero. Quer dizer que você vai ter de continuar me aturando. Além disso, estou me divertindo: tinha esquecido como é gostoso cozinhar. Ao menos me impede de ficar pensando em problemas.

— E seus problemas são tão maus assim?

Ela deu de ombros e colocou os pãezinhos no forno. Depois, passou a mão pela nuca.

— Tive um dia difícil, mas não tão mau assim. É que a tensão me deixa com esta dor na nuca...

Christopher já percebera o quanto Dulce andava tensa e sabia por que ela se interrompera. No passado, sempre que Dulce voltava para casa com dor nas costas, ele lhe aplicava sua própria versão da massagem sueca: o tratamento significava passar um óleo perfumado pelo corpo dela, que, naturalmente, deveria estar despido por completo.

— Vou pôr a mesa — ele falou, tentando afastar a lembrança. Por que ela tocara naquele assunto? Agora iria ficar pensando, lembrando-se de como a pele dela parecia cetim, sob suas mãos, de como ela passava do total relaxamento para a excitação, durante a massagem.