Fanfic: Um estranho Divórcio

Começava a duvidar se agira certo, permitindo que Dulce continuasse a viver com ele. Era óbvio, que, se fosse necessário, tomaria a mesma decisão novamente. Porém, o fato de tê-la tão perto, vê-la todos os dias, sentindo seu perfume, era o suficiente para levar um homem à loucura. Nunca haviam passado por uma situação parecida, nem quando decidiram-se pelo divórcio. Naquela ocasião, ele fazia o possível para evitá-la, ficando no estúdio e dormindo na câmara escura.

Porém, agora, não desejava mais evitá-la. Fazia o possível para estar em casa na hora do jantar, todos os dias. Apenas estar ao lado dela, olhá-la, dava-lhe um prazer estranho, misturado com uma dor profunda e doce.

Algo havia mudado. A amargura, que um dia estivera presente entre eles, evaporara-se como por encanto. Seria por causa do divórcio? No fundo, sabia que não. Conhecia muitos casais que, divorciados, continuavam brigando como cão e gato.

— Está pronto — Dulce anunciou, levando uma sopeira de prata para a mesa da sala de jantar.

Christopher sorriu ante a incongruência de se colocar picadinho de carne num recipiente como aquele. Mas era bem típico dela fazer coisas assim.

— Está delicioso — ele elogiou, depois de esvaziar o segundo prato. — Quando aprendeu a cozinhar tão bem assim?

— Eu sempre soube. Minha mãe me forçou a aprender. Dizia que cozinhar era uma das coisas que uma mulher devia saber, se quisesse apanhar, ou segurar, o seu homem. — Ela riu, sem qualquer humor. — Como se papai pudesse deixá-la, se ela não soubesse fritar uma costeleta de porco. Ainda assim, fico pensando se eu não deveria ter sido... bem, um pouco mais doméstica. Não digo que abandonaria minha carreira, mas sei que conseguiria conciliar as duas coisas.

— Não faça isso, Dulce.

— O quê?

— Não comece a dizer "se" isso ou aquilo, a respeito do nosso casamento. Fizemos nossas escolhas e fizemos o que fizemos porque somos quem somos. Não me casei com você por suas habilidades domésticas, e nem foi por isso que nos separamos. Vai ficar maluca, se começar a pensar nisso.

— Por que você se casou comigo? — ela perguntou, de repente. Ele a fitou duramente.

— É um pouco tarde para essa pergunta, não acha?

— É que subitamente me ocorreu que ainda não sei o que foi que nos uniu, em primeiro lugar. Éramos muito jovens, então, mas será que mudamos tanto assim?

"Não mudamos", Christopher pensou. "A atração física, continua a mesma, imutável." Perturbado pelo rumo que a conversa tomava, ele falou:

— Acho que podemos mudar de assunto, Hailey. De nada adianta ficarmos discutindo essas coisas, agora.

— Ah, desculpe se o fiz sentir-se mal — ela falou, e, num gesto inconsciente, tornou a massagear a nuca.

— Por falar em se sentir mal, devia dar um jeito nas suas costas. Parece estar com muita dor.

— Vou tomar um banho quente.

— Não vai adiantar — Christopher retrucou, levantando-se da cadeira. — Será que me deixa ajudar?

Dulce fitou-o, alarmada, e ele ergueu as mãos, num gesto pacificador.

— Sem segundas intenções — juntou, acalmando-a. — Vamos ficar aqui mesmo, completamente vestidos e, no instante em que se sentir melhor, eu paro.

Dulce teve de rir. Por um breve segundo, entrara em pânico, visualizando uma cena de sedução.

— Está bem. Afinal, você é a única pessoa que consegue me tirar esta dor das costas.

Quando ele a tocou, Dulce soube que havia cometido um erro. Os dedos fortes e gentis de Christopher massageavam-lhe a nuca, seguindo acima do rosto até a testa, com movimentos lentos e circulares. Era tão bom...

— Respire devagar — ele a instruiu. — Para dentro e para fora, assim...

Ela tentou, sem muito sucesso. As mãos dele agora estavam em suas costas, tocando cada vértebra, as pontas dos dedos roçando-lhe a pele.

— Nunca lhe perguntei onde aprendeu a fazer isso — Dulce murmurou, sonolenta e relaxada. E Christopher estava apenas lhe tocando o pescoço.

— Sou descendente de suecos — ele respondeu. — Está no sangue. Incline-se para a frente.

Ela obedeceu, descansando os braços sobre a mesa e pousando a cabeça entre eles. Christopher começou a massagear-lhe os ombros, localizando e desmanchando cada nó dos nervos tensos.

— Está doendo? — perguntou.

— Não, está gostoso — ela sussurrou. — Não pare. Devagar, Christopher abriu o zíper nas costas de seu vestido, desejando sentir a textura de sua pele. Sabia que ela não faria objeção, pois estava em total relaxamento, quase adormecida. Também sabia que não devia estar se aproveitando daquele momento de complacência, mas não conseguia se controlar. Parar, agora, exigiria mais força de vontade do que ele era capaz de ter.

Por um segundo, imaginou se Dulce estaria aceitando suas carícias se soubesse que fora ele quem estragara o negócio com o aluguel do apartamento.

Alisava a pele macia, dos ombros e das costas, sabendo que deveria parar. Pressionou as mãos com mais força, fechou os olhos, tentando guardar na memória a textura do corpo dela. Então, respirou fundo e fechou o zíper.

— Dulce?

— Hummm?

— Já terminei.

Mas ela não levantou a cabeça.

— Agora que você está tranquila e relaxada, tenho algo a lhe dizer. — Christopher precisava confessar-lhe o que fizera.

— O que é?

— Eu sei por que você não conseguiu alugar o apartamento.

— Porque estou sem crédito — ela resmungou.

— Não. Foi porque eu paguei ao corretor para não alugá-lo para você.

— O quê?

Christopher pôde sentir os músculos dela tornando-se tensos novamente, sob sua mãos. E, mesmo não lhe vendo o rosto, sabia que Dulce ficara enraivecida.

— E desde quando você tem permissão para se meter nos meus assuntos? — ela perguntou, com a voz surpreendentemente calma.

— Não tenho. Mas me intrometi, e sinto muito por isso. Espero que me desculpe, mas achei que você não pertencia a um lugar como aquele.

— E não pertenço a este lugar, também! — ela explodiu, erguendo a cabeça para fitá-lo. — O que está querendo, Christopher? Que eu dependa de você? Isto o faz sentir-se másculo? — Viu o brilho de dor que surgiu nos olhos dele e arrependeu-se. — Não foi o que quis dizer, sei que está tentando me ajudar. Mas não quero sua ajuda. Sei cuidar de mim mesma e vou resolver meus próprios problemas.

Christopher emitiu um ruído, que tanto podia ser um suspiro exasperado ou uma risada irônica.

— Você sempre cuidou de si mesma, até nos seis anos em que estivemos casados, você sempre pensou em si própria. Qualquer dia destes, vai precisar de alguém e...

— Eu preciso de você, Christopher — ela falou, suavemente.