Fanfic: Um estranho Divórcio

— Eu preciso de você, Christopher — ela falou, suavemente. — Não conseguiria ir em frente, se não fosse por você.

— Você precisa é de um teto sobre a cabeça e alguma comida — ele tornou. — Qualquer um poderia ter feito isso. Não estou falando desse tipo de necessidade, e sim daquela que vem daqui.

— Tocou o próprio peito, com a mão espalmada. — Quando precisar de alguém que se importe com você, alguém que esteja a seu lado, sem perguntas ou cobranças, talvez eu não esteja mais por aqui! — Ele fez meia-volta e saiu, batendo a porta atrás de si.

Dulce ficou estática, atônita. O que diabo estava acontecendo? Christopher estragara seu negócio com o apartamento e, quando ela ficara zangada, e com razão, ele de repente se transformara num carrasco.

Levantou-se e começou a tirar a mesa, com as mãos trêmulas de raiva. Como Christopher se atrevia a se meter em sua vida? Só podia estar querendo que ela precisasse dele, era a única explicação para tal comportamento. Porém, ela não desejava precisar de ninguém! Precisar de alguém levava à dependência, e dependência levava à fraqueza. Havia presenciado essa corrente em cada dia de sua vida, durante a infância e a adolescência. Jamais se colocaria na mesma posição em que sua mãe vivera.

Guardou a louça na máquina e suspirou. Era evidente que seu relacionamento com Christopher era muito diferente do de seus pais. Christopher nunca esperara que ela fizesse o jantar todas as noites, ou que lavasse suas meias. Nunca a impedira de seguir seus planos e sonhos. Ela era mais madura e tinha mais controle sobre sua vida do que sua mãe jamais tivera.

Abriu a geladeira e encontrou uma torta que havia comprado para a sobremesa e que sabia que Christopher adorava. Como pudera se esquecer de servir a sobremesa?

Colocou um pedaço no prato e foi até o quarto onde Christopher estava. Bateu de leve na porta, decidindo que, se ele não respondesse, desistiria de tentar fazer as pazes.

— Pode entrar — ele falou, soando quase tão incerto quanto ela se sentia.

— Esqueci que tínhamos sobremesa, por isso trouxe-lhe um pedaço de torta. Sei o quanto você gosta. — Falou rapidamente, desviando os olhos ao perceber que ele estava estendido na cama, vestindo apenas o short de malha que usava para dormir.

— Obrigado — Christopher agradeceu, pegando o prato. — Está uma delícia. Foi você quem fez?

Ela sorriu:

— Não. Esta eu comprei pronta. — Fez uma pausa, um tanto embaraçada, e acrescentou: — Ouça, Christopher, quero que me desculpe por ter gritado com você.

Para sua surpresa, ele sorriu:

— Não precisa pedir desculpas, você estava certa. Fui eu quem agiu errado. Até estava esperando que você ficasse zangada.

Ela franziu a testa:

— Mas, se sabia que eu ia me zangar, por que ficou tão bravo?

— Não sei dizer. Não consegui me impedir de desabafar, mas nem espero que você compreenda. Não quer um pedaço de torta?

— Não, obrigada. Christopher?

— Sim?

— Quero lhe agradecer por ter impedido que eu me mudasse para aquele apartamento. Você tinha razão, o lugar é um ninho de ratos.

Ele a fitava, atônito.

Não era assim tão difícil, Dulce pensou. Sequer devia ter perdido o controle, afinal ele quisera apenas ajudá-la. Porém, mais uma vez, ela deixava Christopher espantado, pois jamais agira daquela maneira antes.

— Só lhe peço um favor — ela ajuntou. — Não quero que faça mais isso, está bem?

— Prometo que não, contanto que você também me faça um favor — ele respondeu.

— E o que é?

— Quero que fale comigo, quando precisar. Que peça ajuda, se estiver necessitando. Vou dormir bem mais tranquilo se souber que você não está indo à falência.

Dulce sorriu, concordando:

— Estamos combinados. Prometo que o aviso se os meus credores me levarem para a cadeia.

Ficaram olhando-se por um longo tempo, em silêncio, ambos conscientes de como fora simples resolver aquele problema sem maiores discussões. A tempestade havia passado sem deixar vítimas, o que era uma novidade em seu relacionamento.

O clima entre eles se modificara sensivelmente, e Christopher a enxergava com novos olhos, desejando-a mais do que nunca. Porém, quebrando o encanto, Dulce desviou o olhar e pegou o prato.

— Vou levar isto para a cozinha — falou, dirigindo-se à porta.

Christopher não ousou abrir a boca, pois sabia que, se o fizesse, seria para lhe pedir que ficasse ali, ao lado dele pelo resto da noite.

Mas não fez qualquer gesto para impedi-la de sair.

Quando ficou sozinho, concluiu que era mesmo um cavalheiro. Pois somente um cavalheiro teria permitido que ela saísse de seu quarto, linda e sedutora como estava, sem sequer implorar para que ficasse.