Fanfic: Um estranho Divórcio

CAPÍTULO V

Dulce estava em seu escritório, tentando decifrar algumas contas, quando o interfone tocou.

— Christopher está aqui — Annie informou. — Posso mandá-lo entrar?

Dulce endireitou-se na cadeira, surpresa. Meu Deus, estava tão desarrumada! Mas não podia deixar de recebê-lo, pois só um motivo muito sério o teria levado até ali.

— Dê-me três minutos, depois mande-o entrar — respondeu para a secretária.

Correu para o pequeno lavatório ao lado de sua sala e olhou-se no espelho: três minutos não bastariam para dar um jeito naquela aparência. Achou que mais parecia uma cama desarrumada. Rapidamente, refez a maquiagem e ajeitou os cabelos, que estavam presos num coque baixo. Porém, não foi suficiente para deixá-la satisfeita. Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, ouviu a porta da sala abrindo-se.

— Dulce?

— Espere só um minuto! — respondeu, agitada. De repente, parou e olhou-se fixamente no espelho. O que estava acontecendo com ela? Agia como se fosse encontrar-se com um homem pela primeira vez, e não com o ex-marido.

No entanto, era uma surpresa que ele estivesse ali. Durante os dois anos em que seu escritório funcionava naquele edifício, ele aparecera apenas uma vez: na noite da inauguração. E isso porque ela praticamente o arrastara até ali.

Finalmente retornou ao escritório, tentando manter um sorriso confiante.

— Que bom vê-lo aqui! — declarou, tornando a se surpreender com a maneira como ele estava vestido: calça e paletó de lã, camisa branca e gravata de seda. A última vez que o vira com aquelas roupas fora... na noite da inauguração. — O que está fazendo por estes lados?

— Sei que devia ter ligado antes, mas estava mesmo por estes lados — ele respondeu, parecendo muito à vontade. — Trouxe-lhe um presente, comprei de um vendedor na rua. — Colocou a mão no bolso do paletó e retirou um pacotinho de balas de anis.

Dulce aceitou o presente, hesitante, tocada demais pelo fato de ele ter se lembrado do quanto ela gostava daquelas guloseimas. Ao mesmo tempo, desconfiava de tanta atenção.

— E quero também mostrar-lhe uma coisa — Christopher prosseguiu, extraindo um envelope de outro bolso. — Os slides das fotos das jóias. Achei que gostaria de guardar alguns.

Dulce examinou os slides um a um, usando uma lente de aumento.

— Estão ótimos, Christopher, de verdade. Acho que são as melhores fotos que alguém já tirou de mim.

— Nem sabe como fico feliz por ouvi-la dizer isso — ele falou, hesitante.

Dulce olhou-o, desconfiada.

— Por que, Christopher?

— Bem, é que meu cliente também adorou as fotos e quer mais. Com você usando aquele vestido preto.

— Mas eu...

— Expliquei a ele que você posou para as fotos apenas como um favor — Christopher prosseguiu, antes que ela pudesse falar. — Disse-lhe que você não estaria mais disponível, mas de nada adiantou. Ele quer você como modelo e está disposto a pagar uma quantia bem generosa por seu trabalho.

Dulce estremeceu interiormente. Sabia o quanto aquele cliente era importante para Christopher e, além de tudo, ainda estava em dívida com ele. Porém, a perspectiva de estar a sós com o ex-marido naquele estúdio, mais uma vez, a lembrança da maneira como ele a olhava, quando tirava as fotos... bem, era algo que não gostaria de repetir.

Estava com a recusa na ponta da língua, quando Christopher retirou um cartão do bolso e lhe entregou.

— Se não quiser posar, apenas diga "não". Mas aqui está o valor do pagamento que o cliente está disposto a fazer. — Nas costas do cartão estava escrita uma cifra irrecusável.

— E por que ele quer pagar uma valor tão alto para o trabalho de uma modelo? — Dulce perguntou, atônita.

— Ele gostou do trabalho. Além disso, tem condições de pagar. Ela continuou a olhar para a cifra no cartão. Nada mau por algumas horas de trabalho, pensou, e, era óbvio, nem tinha como recusar tanto dinheiro. Porém, o que realmente a fez decidir-se foram as balas de anis que Christopher lhe trouxera.

— Está bem, concordo em fazer as fotos. Não estou em condições de recusar um dinheiro extra. — Fez uma pausa e acrescentou, o mais casualmente possível: — Será que Peg estará no estúdio, para nos ajudar?

— Ah, sim, claro que sim — ele respondeu, sério. — Podemos terminar bem mais rápido, se ela nos der uma mão.

— Então está combinado. Posso ir amanhã, ou na sexta-feira à noite.

— Sexta à noite está ótimo. Obrigado, Dulce. Nem sabe o quanto está me ajudando. Este cliente é muito importante.

Ela deu de ombros.

— É o mínimo que posso fazer. Que tal um frango assado para o jantar?

Ele sorriu, olhando-a de tal maneira que Dulce sentiu-se derreter.

— Excelente — respondeu. Levantou-se e caminhou para a porta e, despedindo-se rapidamente, saiu antes que ela pudesse mudar de ideia sobre as fotos.

Dulce voltou para sua mesa, pensando no que acabara de fazer. Não queria posar para Christopher. Ainda era capaz de sentir a intensa onda de desejo que perpassava entre eles, cada vez que Christopher se encontrava atrás de uma câmara, focalizando-a. Era impossível deixar de lembrar a época em que ela era uma simples modelo, quando eles se amavam sem qualquer complicação ou problema.

Nunca estiveram tão apaixonados quanto naqueles primeiros anos, quando Christopher acompanhara o desenvolvimento de sua carreira, dando-lhe constante apoio e encorajamento. Ela sempre lhe dizia que não tinha intenção de manter uma carreira longa, de ser apenas um rostinho bonito numa foto, porém ele nunca a levava a sério.

Ficara verdadeiramente chocado quando Dulce o informara sobre sua decisão de abrir a própria agência de modelos. No entanto, não dissera sequer uma palavra de desaprovação, e, depois que se acostumara com a ideia, continuara apoiando-a como sempre. Mas sua falta de confiança naquele projeto era bastante evidente, e ele começara a dar palpites sobre como ela deveria dirigir o negócio, procurando consultores comerciais, dizendo-lhe como deveria ser o estúdio fotográfico, enfim tratava-a como se fosse uma incompetente.

Dulce não desejava aquele tipo de ajuda, pois fazia-a lembrar-se de como seu pai havia "ajudado" sua mãe e iniciar um negócio, e todos os problemas decorrentes de tal ajuda. Até hoje sentia as repercussões daquele fracasso.

Talvez o mais importante para Dulce fosse que a Agência Mystique representava uma prova, para si mesma e para o mundo, de que ela não era apenas um rostinho bonito. Provava que ela era uma mulher capaz, independente e dona de si.

Olhando para a papelada espalhada por sua mesa, Dulce sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. Ela e Christopher jamais poderiam retornar àqueles tempos de simplicidade, quando se amavam com liberdade e alegria, sem compromissos. Se quisesse ir até o fim com aquela sessão de fotos, teria de manter esse pensamento sempre em mente.

Em qualquer outro dia, Dulce teria ficado tensa e nervosa com a expectativa da sessão de fotos com Christopher. No entanto, aquela sexta-feira não lhe deu a menor chance para se preocupar, tal a quantidade de trabalho que recaiu sobre ela.

Passara a maior parte da tarde em conferência com uma nova modelo, uma das mais famosas e requisitadas de Nova York, que, para alegria de Dulce, a procurara para ser representada pela agência. Por volta das quatro e meia haviam chegado a um acordo e assinado o contrato. Para celebrar, abriram uma garrafa de champanhe, que todos os funcionários da agência envolvidos com a contratação partilharam alegremente.

O ultimo de hoje sim?