Fanfic: Um estranho Divórcio

—    Não — ela respondeu, séria. — Posso lhe fazer uma pergunta?

— É claro.

— Quero saber por que evitou falar sobre o vestido, ontem à noite. E por que estava tão mal-humorado, na festa de inauguração da agência. É isso que o vestido o faz lembrar, não é?

— Epa, essa pergunta é bem difícil! — ele exclamou, sorrindo. Já se arrependia de ter prometido falar no assunto, na noite anterior.

— Está bem, então vou ajudá-lo. Sempre que me lembro daquela inauguração, sinto-me muito mal. Esperava que você compartilhasse minha alegria, comprei o vestido, me arrumei e você...

— Eu a decepcionei, não é?

— Bem, você não estava entusiasmado. Ficou de cara feia a noite toda, encostado no bar. Aquilo me magoou.

Christopher hesitou um pouco, antes de responder.

— Tive a impressão de que você não precisava de mim. Você era a grande estrela, naquela noite, posando para os repórteres, dando entrevistas, conversando com os convidados. Eu me senti... fora de lugar. Era mais um acessório do que um marido. — Fez uma pausa, olhando-a fixamente. — Mas Dulce, por que está tão interessada nisso?

— Porque pensei muitas vezes no que aconteceu na inauguração. Embora eu estivesse sorridente e animada, por dentro era forçada a admitir que algo entre nós estava tudo muito errado. E tive medo.

Christopher não soube o que dizer. Dulce, com medo? Era a primeira vez que a ouvia falar daquele jeito. Na verdade, nem sabia que sua atitude provocara tantos sentimentos negativos.

— Eu estava com ciúme — ele confessou, afinal.

— Ciúme?

— Acho que inveja é uma palavra melhor. Lá estava você, num escritório luxuoso, que poderia colocar meu estúdio no chinelo. E com todos aqueles clientes, ansiosos por falar com você... Sim, acho que foi isso.

Olhou para ela, vendo que sua expressão suavizara-se, embora permanecesse em silêncio.

— Sei que deveria ter falado nisso antes — Christopher prosseguiu. — Agora é um pouco tarde para pedir desculpas.

— Não, sou eu quem lhe deve desculpas por tê-lo feito sentir-se tão...

— Não, a culpa foi minha, por ter estragado sua festa. De qualquer forma, eu gostaria de discutir um assunto mais recente.

— Ah, sim. A noite passada — ela concordou, aliviada por mudar de assunto.

— Sim. Quero saber se está arrependida, pois tenho a impressão de que não pretende transformar isso num hábito.

— É tentador, acredite, mas...

— Mas?

— Mas pense bem, Christopher. De que adiantaria nos unirmos outra vez? Estamos bem agora, mas logo os problemas tornariam a surgir.

— E teríamos de nos separar novamente — ele acrescentou. — Então, o que você sugere?

— Por enquanto, gostaria de continuar como sua hóspede, até encontrar um apartamento. E depois... — ela deu de ombros. — Vamos ver o que acontece.

— Parece muito sábio e prudente. Mas nem um pouco divertido.

Dulce estreitou os olhos, fitando-o com um ar de aviso.

— Está bem, concordo. Mas vou discutir. — Afinal, era bem mais do que ele poderia esperar.

Depois de um fim de semana tranquilo, Dulce foi para o escritório de metrô, na segunda-feira, sentindo-se muito bem.

Não poderia dizer, honestamente, que ela e Christopher estivessem encaminhando-se para uma reconciliação, mas, no fundo, sabia que era exatamente o que desejava. Pelo menos, agora conseguiam conversar amigavelmente um com o outro, algo que há muito tempo não acontecia.

Sua autoconfiança retornava, ao perceber que Christopher a encarava com a seriedade que ela desejava.

Entrou no escritório com um sorriso nos lábios e, ao cumprimentar Annie com um sonoro "bom dia", logo viu que algo estava errado.

— Estou vendo que ainda não leu o jornal — a secretária falou, estendendo-lhe o matutino. — Aqui está, página quatro, coluna social de Cecily.

As mãos de Dulce tremiam ao virar a página, à procura da coluna de uma das mais conhecidas e badaladas fofoqueiras da cidade, já sabendo o que iria encontrar. Alguma alma vingativa certamente deixara vazar as notícias sobre as dificuldades financeiras da agência.

— Aquela bruxa! — desabafou, lendo o artigo que a descrevia como uma cabeça-de-vento que mal sabia o que fazia. — Parece que ela esqueceu, convenientemente, que tenho a agência há quatro anos. Insinua que me mantive de pé por pura sorte e que fui ingênua ao contratar Harold. Meu Deus, aquele homem tinha as melhores credenciais que eu já vi! Como poderia imaginar que era um ladrão? E fala de Christopher, também. Parece que quer relacionar meu divórcio com o problema financeiro da agência, como se eu fosse incapaz de dirigi-la, sem a presença de um marido! Isso é infame! Não há nada que possamos fazer, entrar com uma ação, ou...

— Já falei com o advogado — Annie interrompeu-a, eficiente como sempre. — Ele afirmou que não há bases para uma ação legal.

—    Muito bem — Dulce suspirou, dobrando o jornal. — Podemos rezar para que ninguém leia esta coluna hoje, mas acho que isso é esperar demais. — Quando o telefone começou a tocar, deu de ombros e olhou para Annie, desolada.

—    Pode me passar todas as chamadas desagradáveis. Tenho a impressão de que vou gastar o dia dando explicações aos meus clientes.