Fanfic: Um estranho Divórcio

— O amor nunca foi problema entre nós — Dulce respondeu. — E acho que, por isso, tudo foi tão difícil. Se não nos amássemos, não teríamos sido magoados e feridos.

— Mas, na época, não pensei que você sentisse alguma coisa por mim. Parecia tão distante — ele retrucou.

— Talvez porque eu seja uma especialista em esconder meus sentimentos — ela explicou. — Mas doeu muito, e ainda dói.

Houve um longo instante de silêncio, antes que Christopher voltasse a falar:

— Então somente o amor não é suficiente?

— Não. Acho que não. — Dulce tentou falar com firmeza, embora sentisse o Blancação gelar com o medo. Ele estaria insinuando que não conseguiriam se reconciliar, afinal? Ela ainda alimentava esperanças de que iriam superar as dificuldades.

Quando as brasas do aquecedor desapareceram, ambos levantaram-se e foram para a cama. Fizeram amor mais uma vez, devagar e com muita suavidade. Foi um ato repleto de ternura, quando trocaram palavras íntimas e doces, cheias de carinho.

Um pouco antes de adormecer, Dulce teve um pensamento totalmente fora do clima que haviam acabado de experimentar, porém, não menos importante. Se Christopher estava sem o equipamento fotográfico e ela estava sem fotógrafo, por que não poderiam se ajudar mutuamente?

Seria apenas por algum tempo, até que tudo se normalizasse para os dois e, nesse meio tempo, poderia demonstrar a ele o quanto confiava em sua capacidade.

Iria expor para ele aquela ideia logo de manhã.

Dulce levantou-se na manhã seguinte e sorriu ao ver a confusão de roupas espalhadas na sala, os pratos sujos na cozinha. Normalmente não gostava de ver a casa desarrumada, mas agora pouco se importou. As lembranças eram agradáveis demais para deixá-la contrariada.

Lembrou-se de que Christopher não comera nada na noite anterior, então resolveu preparar-lhe uma omelete. Era cedo e não estava com pressa de ir para o escritório.

Acabara de colocar os ovos na frigideira, quando sentiu um par de braços fortes agarrando-a por trás.

— Christopher!

— Como adivinhou que era eu? — ele brincou.

— Pura sorte — ela respondeu, sorrindo. Christopher afastou-se e se serviu de café.

— Pegue um prato, fiz uma omelete para você.

— Puxa, é alguma ocasião especial?

— Não, apenas imaginei que você estaria com fome. Quero que esteja bem disposto, hoje.

— Ah, foi o que pensei. Está com pena de mim — ele tornou a brincar, comendo uma garfada da omelete e lançando-lhe um olhar carinhoso, que desmentia suas palavras.

— Ontem à noite tive uma ideia que poderá facilitar nossas vidas. Quer ouvir?

— É claro.

— Gostaria de utilizar o estúdio da agência por algum tempo? — ela perguntou depressa. — Você e Peg. Até que seu equipamento seja substituído.

Ele fitou-a com um brilho estranho no olhar. Dulce não conseguiu identificar seus sentimentos. Irritação? Mágoa?

— Acho que não, Dulce. Mas obrigado da mesma forma.

— Mas Christopher... — Ela não sabia o que dizer. Como ele poderia afastar a possibilidade, sem sequer pensar um pouco?

— Ouça, Dulce, eu estava um tanto abalado, ontem à noite, mas sei que tudo vai acabar dando certo. Todo o meu equipamento estava no seguro, e daqui a alguns dias vou receber o cheque.

— Durante esses dias, você poderá trabalhar no meu estúdio — ela insistiu. — Ele está vazio, desocupado desde que David pediu demissão e...

— Não quero sua caridade — Christopher a interrompeu. Era a terceira vez que ele usava aquela expressão.

— Só estou tentando ajudá-lo — ela retrucou, um pouco impaciente.

— Acontece que eu não quero sua ajuda.

Dulce sentiu como se alguém lhe tivesse dado um soco no estômago. Em todas as brigas que tivera com Christopher, ele nunca a ferira tanto como agora. Desejava agarrá-lo pelos ombros e sacudi-lo até que mudasse de ideia. Mas nada fez. Apenas ficou ali, sentindo o nó na garganta aumentar mais e mais.

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