Fanfic: Um estranho Divórcio

— Como vai? — Harold cumprimentou-a, como se acabassem de se encontrar por acaso num elevador. — Foi bem difícil encontrá-la, não sabia que ainda estava morando aqui... Será que não podemos entrar? Está muito frio.

— Eu não acredito — Dulce murmurou, abrindo a porta. Nem deu chance de Harold entrar e foi empurrando-o até à sala, atirando-o, com um gesto brusco, sobre uma poltrona.

Não lhe passou pela cabeça ter medo dele. Harold podia ser um ladrão, fugitivo da polícia, mas não era um homem perigoso. Na verdade, naquele momento, achava que seria mais capaz de um ato violento do que ele.

Inclinou-se em sua direção, agarrando-lhe a gravata com tal força que quase o tirou da cadeira.

— Seu desgraçado! Por que fez isso comigo? Por que me roubou?!

Ele tentou formular as palavras, mas não conseguiu. Dulce o soltou, dando-lhe as costas.

— Nunca tive intenção de magoá-la, Dulce — ele falou, depois de um momento.

— Magoar?! Você quase me destruiu! Quase me levou à falência. Vou chamar a polícia — disse, dirigindo-se para o telefone.

— Eu não... — Ela não conseguiu ouvir o resto, pois ele falava muito baixo.

— O quê? — Dulce indagou, com a mão imóvel sobre o telefone.

Harold transpirava de nervosismo, a despeito do frio que fazia. Os óculos escorregavam-lhe pelo nariz.

— Eu disse que não peguei o dinheiro. Bem, confesso que tirei um pouco, aqui e ali, sem que você percebesse. Mas nunca a limparia totalmente, como ela... como ela fez.

— Ela quem?! — Dulce perguntou, embora quase temesse a resposta.

— Minha namorada — ele respondeu. — Minha ex-namorada, melhor dizendo.

Dulce encaminhou-se para o sofá e se sentou, cruzando os braços para impedir que as mãos tremessem.

— É melhor me contar tudo, desde o início — sugeriu.

— Foi o que vim fazer. Depois, você pode chamar a polícia. Resolvi me entregar.

Ele parecia tão miserável que Dulce suavizou um pouco seu tratamento.

— Estou ouvindo.

— Bem, alguns meses atrás comecei a sair com uma mulher por quem eu estava louco. — Corou, embaraçado, mas prosseguiu: — Ela era linda e glamourosa, o tipo de mulher que normalmente não me dá a mínima atenção. Acho que fiquei tão convencido que nem conseguia pensar direito quando ela me procurou, pedindo ajuda. Estava com problemas, fiz de tudo para socorrê-la. Faria tudo o que estivesse ao meu alcance por ela.

— Que tipo de problemas?

— De dinheiro. Um grande problema, aliás. Ela havia emprestado dinheiro da pessoa errada e não tinha como pagar. Estava sendo ameaçada, Dulce, e isto era algo que eu não podia suportar. Entreguei-lhe tudo o que eu tinha, mas não importava quanto eu lhe desse, ela sempre precisava de mais. — Balançou a cabeça, desolado. — Meu pior erro foi contar que, às vezes, tirava um pouco do dinheiro da agência. Talvez estivesse querendo impressioná-la, não sei.

— E o que aconteceu? — Dulce encorajou-o, vendo que ele parecia prestes a desabar.

— Ela se utilizou dessa informação e elaborou um plano. Falsificou minha assinatura e foi fazendo pequenas transferências da conta da agência para a dela, até que estivesse de posse de todo o seu dinheiro. Não foi uma loucura momentânea e sim algo planejado em detalhes, por muito tempo. Ela estava apenas me usando...

Dulce chegou a sentir pena do pobre homem.

— Por que não me procurou, Harold?

— Fiquei em pânico, quando descobri, e não sabia o que fazer. Ela ameaçou desaparecer da minha vida, se eu abrisse a boca, e acreditei que falava a sério. Fiquei escondido no apartamento dela, esperando que pudesse convencê-la a se entregar, ou pelo menos devolver o dinheiro, mas... — A voz lhe sumiu.

— Ela não tinha intenção de atendê-lo — Dulce ajudou.

— Quando li aquela notícia no jornal, falando sobre a condição financeira da agência, tive de fazer alguma coisa.Foi quando consegui roubar um pouco do dinheiro, abrindo o cofre do apartamento, onde ela o guardava.

— E o mandou para mim — Dulce concluiu, juntando dois mais dois.

— Enfim, decidi que deveria me entregar no dia em que ela apareceu usando um casaco de peles. O seu casaco.

— Então foi Maureen! — Dulce exclamou, embora já começasse a desconfiar da modelo.

— Acabei compreendendo que ela fizera tudo não somente por causa do dinheiro, mas também por vingança. Queria arruiná-la completamente, e eu não poderia permitir que fizesse isso.

— Só porque me recusei a representá-la? — Dulce perguntou, atônita.

— Isto é apenas uma parte do ressentimento de Maureen. Ela inveja você, sua beleza, sua juventude, sua vida amorosa estável. Não contei a ela sobre seu divórcio, pelo menos minha promessa eu mantive. E isso é tudo. Pode chamar a polícia, agora.

Dulce concordou e ligou para o sr. Abrams, que estava encarregado do caso. Explicou-lhe tudo o que acontecera e o envolvimento de Maureen. O investigador assegurou-lhe que mandaria um policial buscar Harold e que iria iniciar uma investigação completa sobre a modelo.

Enquanto esperavam pela polícia, Dulce serviu um refrigerante e biscoitos para Harold, e aquela cena um tanto irônica quase a fez rir.

Somente quando ficou sozinha, depois da partida de Harold, começou a pensar no que aconteceria dali em diante. Certamente seu dinheiro seria devolvido, pensou. Ou Maureen conseguiria fugir antes de ser apanhada?

Porém, no fundo, não se preocupava muito com o resultado final. Estava calma, agora, depois de ter desabafado sua raiva sobre o contador.

Ouviu o ruído da chave na porta, um sinal de que Christopher estava em casa. Suas preocupações com ele eram bem mais importantes, naquele momento.

Ele entrou ofegante, muito pálido e, ao vê-la sentada tranquilamente na poltrona, segurou-se na parede para não desabar.