ntamente com o restabelecimento da normalidade nas finanças de Dulce, veio uma nova constatação: ela não precisava mais ficar na casa de Christopher. Embora ainda não estivesse em condições de pagar um apartamento tão bom quanto aquele primeiro que havia imaginado, poderia muito bem arcar com as despesas de um lugar simples, mas em local agradável.

No entanto, não queria se mudar.

Dulce estava convencida de que ela e Christopher estavam prontos para tentar mais uma vez. Até o momento, haviam apenas unido os esforços para atravessar uma situação difícil. Mas agora, ao menos ela achava, poderiam dar o passo definitivo para a reconciliação.

O problema era que Dulce não sabia o que ia pela mente de Christopher. Nos últimos dias, não haviam passado muito tempo juntos, ambos envolvidos com os negócios; ela, ocupada com a restauração de sua agência, ele com os compromissos que adiara devido ao roubo de seu estúdio.

Tal separação não lhe agradava muito, pois, afinal, fora a dedicação extrema ao trabalho que acabara com o casamento deles. Já era tempo de ela colocar algumas responsabilidades da agência nas mãos de seus funcionários mais graduados e dedicar-se mais à sua vida pessoal.

Assim mesmo, forçou-se a ler alguns anúncios de apartamentos para alugar pois, até aviso em contrário, mais cedo ou mais tarde teria de se mudar.

Seus negócios iam de bom para melhor e, graças aos investimentos que fizera sob os conselhos da nova contadora, Dulce sabia que logo estaria ganhando bastante dinheiro. Este era outro aspecto que a preocupava. Como diria a Christopher sobre sua prosperidade? No entanto as coisas haviam mudado entre eles. Christopher fazia parte de sua vida como um todo e, certamente, não iria se ressentir por vê-la progredindo como empresária.

Suspirou, sem saber mais o que pensar. Todas aquelas dúvidas iriam permanecer no ar, até que pudesse conversar francamente com Christopher.

Com o passar dos dias, finalmente encontrou um apartamento perfeito: a vizinhança era ótima, o local, sossegado, a construção, nova e de seu agrado. Mas ela não sabia se ficava satisfeita ou infeliz com isso. Informou ao corretor que iria pensar um pouco e lhe daria a resposta no dia seguinte.

Primeiro teria de se confrontar com Christopher, de uma vez por todas.

Christopher foi para casa logo depois do almoço. Havia tomado uma decisão que não iria mais adiar: precisava conversar com Dulce e decidir o que fazer com seu futuro. Na noite anterior havia visto, por acaso, uma folha de jornal no bolso do seu casaco, o que significava que ela continuava a procurar apartamentos.

Pretendera tocar logo no assunto, mas hesitara, pois nunca fora muito bom com palavras. Sorriu, ao se lembrar daquela mesma manhã, de como fizeram amor da maneira mais louca e apaixonada. Tinha muito mais sucesso em demonstrar fisicamente seu amor por Dulce do que falando e esperava que estivesse fazendo a coisa certa.

Quando Dulce chegou, à tarde, ele já havia preparado tudo: posto uma pizza no forno e uma garrafa de vinho na geladeira. Uma grande caixa a esperava sobre a mesa da sala e... bem, esperaria para ver o que aconteceria.

Ela ficou surpresa de encontrá-lo em casa tão cedo e, ao beijar-lhe o rosto, Christopher percebeu que linhas de tensão sulcavam-lhe a testa.

— Quer um pouco de vinho? — ele perguntou.

— Adoraria — Dulce respondeu, um tanto distraída. Algo estava errado, ele pensou, mas não teria pressa em saber o que era. Tudo viria a seu tempo.

Sentaram-se lado a lado no sofá, bebendo o vinho, e Christopher passou o braço em torno de seus ombros. Dulce recostou a cabeça em seu peito, grata pelo amparo que ele lhe fornecia.

— Teve um dia difícil? — ele perguntou.

— Não muito, apenas... O que é isso? — indagou, de repente, apontando a caixa sobre a mesinha.

— É para você.

Curiosa, ela inclinou-se e desamarrou a fita que envolvia o pacote. No instante em que ergueu a tampa da caixa, vislumbrou um brilho acinzentado, que reconheceu imediatamente: o seu casaco de peles.

Olhou para Christopher, incapaz de falar, e, depois de alguns segundos, recobrou-se:

— Você não pagou por isso, não é? — perguntou, pensando que ela própria já pagara duas vezes por aquele casaco.

Obviamente não era aquela a reação que Christopher esperava.

— Não — ele respondeu. — Fui ver Maureen, hoje, e lhe pedi que devolvesse o casaco. Por incrível que pareça, consegui convencê-la de que talvez tivesse uma sentença mais branda se o devolvesse.

Dulce voltou a atenção para o casaco. Embora estivesse tocada pelo gesto de Christopher, não tinha muita certeza se realmente o queria de volta. Aquelas peles, um dia, representaram o sucesso para ela, porém, agora, tinha um conceito de sucesso bastante diferente.

Para agradá-lo, vestiu o casaco e aconchegou-se dentro dele.. — Obrigada, Christopher. Você foi muito valente, enfrentando aquele dragão por mim.

— Faria qualquer coisa por você. Ou não faria nada, se fosse o que você desejasse.

Ela fitou-o, cheia de amor. Porém, precisava ainda de algum tempo, antes que pudesse falar.

— Vou mudar de roupa — avisou, levantando-se. Tinha necessidade de estar sozinha por alguns minutos, para se recompor da enorme emoção que a invadia.

Dirigiu-se para o quarto de hóspedes, onde suas roupas estavam guardadas, mas Christopher a chamou antes que chegasse à porta.

— Dulce, não vai encontrar suas roupas aí — avisou.

Ela parou, incerta. Christopher não teria tido a coragem de mexer em seu pertences sem o seu consentimento. Porém, quando foi para o quarto principal viu que ele mudara tudo: suas roupas, perfumes, maquiagem, tudo estava arrumado nos lugares de sempre, como se ela nunca tivesse se mudado para o outro quarto. Abriu as gavetas, as portas dos armários, vendo que ele guardara todas as suas coisas exatamente como ela faria, nos devidos lugares.

Virou-se para a cama, que estava perfeitamente arrumada, e reparou que uma de suas camisolas mais sexy, de renda preta, estava dobrada em cima do travesseiro. De repente, sentiu-se transportada no tempo, para antes do divórcio, como se aquele período difícil jamais tivesse acontecido.

Como ele se atrevia?!

Saiu do quarto batendo a porta e voltou para a sala com passos duros. Christopher estava parado no centro do cômodo e, pela primeira vez, ela reparou que as caixas de papelão, que por tanto tempo atulharam a sala, haviam desaparecido como por encanto. Como ele podia ter agido sem perguntar nada a ela? A decisão de permanecer ali deveria ter sido sua e não dele! Será que não aprendera nada?

Parou à frente de Christopher, os braços cruzados, preparando-se para a luta.

Ele sorriu para ela de maneira encantadora.

— É melhor chegar mais perto — falou. — Não posso esperar mais tempo.

— Esperar o quê? — Dulce perguntou, aproximando-se cautelosamente.

— Por isto — ele falou, abraçando-a com força; erguendo-a, fez um giro, carregando-a no ar. — Parabéns, minha querida! — quase gritou. — Você conseguiu!

Qualquer raiva momentânea que ela tivesse sentido evaporou no mesmo instante. Rindo, Dulce mexeu em seus cabelos loiros, despenteando-os.

— Nós conseguimos — corrigiu, repleta de alegria e alívio.

— Posso ter ajudado um pouco, mas você conseguiu sozinha. Mal posso acreditar em como você mudou!

— É estranho mesmo — ela concordou. — Christopher, preciso dizer-lhe uma coisa: eu não quero me mudar. Amo você e quero tentar novamente. Estava um pouco receosa, pois meus negócios vão indo bem e não vou mais depender de você monetariamente, e...

— Nada disso importa — ele a interrompeu. — É a você que eu amo e não ao seu trabalho, seu dinheiro, seja lá o que for. E prometo que, de agora em diante, nunca mais vou dar qualquer palpite nos seus assuntos, vou respeitar tudo o que você quiser fazer.

Sorrindo, Dulce não pôde deixar de notar a contradição entre suas palavras e seus atos. Porém, que diferença fazia, se ele desempacotara suas coisas? Aquilo não era importante.

— Sei que ainda atravessaremos momentos difíceis — Christopher acrescentou, cauteloso.

— Ah, claro que sim — ela concordou. — Ainda temos muito o que acertar.

— Mas estaremos sempre aprendendo mais, um com o outro.

— Sim. Espero que nunca deixemos de aprender.

— Temos amor de sobra para nos manter juntos, através destas dificuldades, não acha?

Ela fez que sim, recostando a cabeça em seu ombro.

— Por isso — ele prosseguiu —, acho que devemos nos casar novamente.

Surpresa, Dulce ergueu a cabeça para encará-lo.

— Está falando sério? — perguntou. Aquela ideia não havia lhe ocorrido, talvez porque, no fundo, sempre se considerara casada com ele.

— É evidente que sim. Se vamos nos unir outra vez, temos de ir até o fim. — Segurou-lhe o queixo com a mão, fitando-a profundamente. — Case comigo, Dulce.

Ela sentia-se flutuando. Mesmo em seus sonhos mais loucos, jamais imaginara que tudo aconteceria tão depressa e estava um pouco assustada. Sua parte racional a avisava para agir com cautela.

Seu Blancação, no entanto, tinha outra opinião. Christopher acabava de oferecer-lhe tudo o que ela mais desejava no mundo e seria uma louca se não aceitasse.

— Já sei até que anel irei comprar para você — ele prosseguiu. — Tenho um cliente joalheiro, não sei se você já ouviu falar, que desenhou um anel especialmente para você. Possui uma pedra verde-água, da cor exata dos seus olhos.

— Gosto do meu anel antigo — ela retrucou, pensando na jóia de brilhante que ele lhe dera anos atrás, e que permanecia guardada.

— Precisamos de um anel novo para um novo começo. Dulce balançou a cabeça, negando-lhe as palavras.

— Não é um novo começo. Estaremos construindo algo nas bases de tudo por que passamos. Não quero me esquecer de nada, nem dos bons, nem dos maus momentos.

Christopher sorriu.

— Não vamos discutir por isso. Qualquer anel que você escolha está bem. — Seu rosto ficou sério. — Mas ainda não a ouvi dizer "sim".

Dulce enxergou o amor e o orgulho nos olhos dele, enquanto esperava pela sua resposta, e soube que ali estava o tipo de sucesso que realmente importava.

—    Sim — respondeu, num sussurro. E em seguida, beijou-o longamente.

FIM

Si, sim chicas eu sei, eu sei disse que era o penultimo e que postaria amanhã só que não aguentei a ansiedade tanto por vocês quanto por mim, e cá estou eu...

Agradeço os cometários fofos de cada uma que comentou e favoritou aquelas que acompanharam a fics até o fim porque como uma vez uma leitora disse nós postamos sem saber se vocês irão gostar ou não e esse é um desafio! Viemos aqui muitas vezes com medo das criticas e outras vezes pegando-as para crescer e melhorar, e mesmo sem saber o que vem pela a frente se vai gostar ou não ai estão vocês, e graças a vocês - leitores(as) - se sentimos de certa parte feliz.  

Infelizmente acabou, afinal essa é a Lei da Vida - tudo que começa, tem um fim - esse é o fim de "Um Estranho Divórcio", mas estaremos ai novamente em O Sonho de uma Criança (http://fanfics.com.br/fanfic/32755/o-sonho-de-uma-crianca-vondy-vondy) e mais adiante em uma fics inédita "Quase sem Querer" com os três traumas principal e também estou trabalhando em "O teu Sorriso"  que não será postado aqui e sim em outra conta. 

Enfim não ficaremos muito tempo separadas e isso é o que importa, pois vocês acabam fazendo parte de mim.

Las Amo, hasta la vista.

Ps: AnnaLuz