Fanfic: Um estranho Divórcio

Capitulo II

Na hora do almoço Dulce estava em seu escritório, luxuosamente decorado em branco, cheio de folhagens. Não perdera tempo molhando as plantas, como normalmente fazia ao voltar de uma viagem. Havia muito a fazer e, além disso, o homem da Gravadora TNT ocupara toda sua manhã.

Acabara de falar ao telefone com um certo sr. Abrams, do FBI, que lhe fizera perguntas intermináveis e tediosas a respeito de Harold Dempsey. Não havia qualquer pista do paradeiro do contador, apesar de o sr. Abrams ter examinado as listas de passageiros de todos os vôos que deixaram o país. A foto de Harold circulara entre as agências de viagens e bilheterias dos aeroportos, sem qualquer resultado.

— Se ele saiu mesmo do país, foi de maneira muito esperta — o sr. Abrams dissera.

Dulce gemera baixinho ao imaginar o gorducho Harold passeando com seu dinheiro pelas areias quentes de uma praia tropical.

— A senhora não tem nenhuma ideia de para onde ele possa ter ido? — o policial lhe perguntara.

Dulce estava perdida. Harold jamais lhe falara sobre a família ou amigos íntimos.

— Receio não ter qualquer informação para lhe dar — ela respondera. — O sr. Dempsey era um excelente funcionário, até que tudo isso aconteceu, e estritamente devotado ao trabalho. Nunca forneceu informações pessoais, e eu também nunca perguntei.

Talvez fosse por isso que ela havia contado a Harold sobre seu divórcio, pensara enquanto o sr. Abrams fazia uma pausa no interrogatório. O relacionamento com o contador fora sempre tão impessoal que, ao revelar-lhe seu segredo, era como se estivesse fazendo uma confissão a um sacerdote. Sabia que ele não diria a ninguém, pois não era do tipo fofoqueiro, e, de fato, a reação dele fora cautelosa, friamente preocupada, como se não quisesse encorajar futuras confidências.

O sr. Abrams agradecera e desligara o telefone. Antes mesmo que Dulce pudesse planejar o que faria durante a tarde, Annie a chamou pelo interfone.

—    Ela está aqui — a secretária sussurrou.

Dulce nem precisava perguntar quem era ela: Maureen Argent, uma conhecida de Harold que, por acaso, era também uma modelo famosa. Maureen tivera um atrito com seu próprio agente e desde que Harold, que tinha uma queda por ela, lhe prometera que Dulce a representaria, a mulher não lhe dava mais sossego. Dulce já decidira que jamais representaria Maureen. Não que ela não fosse uma linda mulher, a despeito de estar um pouco avançada na idade para uma modelo. Na verdade, era ainda muito requisitada. Porém era uma pessoa independente demais e sua reputação de "difícil de se lidar" poderia refletir negativamente na Agência Mystique. Se havia uma qualidade que Dulce exigia de suas modelos era o profissionalismo. E Maureen simplesmente não seguia essa regra.

— O que ela quer? — Dulce perguntou à secretária.

— Disse que tem um almoço marcado com você.

— Mas pensei que fosse para a próxima semana! — Dulce olhou em sua agenda. — E é mesmo na semana que vem. Ah, deixe estar. Diga a ela que a atendo num minuto...

Dulce desligou o telefone exasperada. Lidar com o ego delicado de Maureen era a última coisa de que precisava naquele momento. Levantou-se assim que a modelo entrou em seu escritório.

— Querida, como vai? — A mulher alta e extremamente magra cumprimentou Dulce com um abraço formal. — Achei que você não se incomodaria se eu passasse por aqui. Está pronta para o almoço? — Ela parecia mais do que pronta, vestida de acordo com a última moda, como sempre.

— Maureen, nosso encontro está marcado para a semana que vem — Dulce afirmou serenamente.

— Não me diga! — Maureen retirou da bolsa, com gestos afetados, uma agenda com capa de couro e examinou-a, mordendo o lábio. — Ora, veja, você está absolutamente certa. Que tolice a minha!

— E estou muito ocupada, agora... Dulce tentou encaminhá-la até a porta.

— Ah, não tem problema, queridinha. Posso muito bem ficar sem almoço, hoje. A balança bem que vai gostar. Aproveito para fazer algumas compras. Harold está aqui? — perguntou, erguendo a sobrancelha perfeita. — Ele prometeu dar uma espiada na minha declaração de imposto de renda há séculos. Não consegui encontrá-lo em casa, por isso pensei em falar com ele no escritório.

— Harold está... fora da cidade — Dulce improvisou, levando Maureen até o saguão.

— Entendo... — A modelo dirigiu-se para a saída. — Até à próxima semana, querida. Quero que me conte tudo sobre sua viagem! — Saiu, deixando atrás de si uma nuvem de perfume que fez Dulce espirrar.

— Ai, meu Deus, ela é tão chata! — Annie comentou, com uma careta. — Como é que você aguenta?

— Ela não é assim tão má — Dulce objetou. — Tem um estilo muito próprio, que é o que lhe vale tantas requisições. Mas acontece que não serve para nossa agência.

— O que você lhe disse sobre Harold? — Annie quis saber.

— O menos possível. Mas suponho que ela vai ser um problema. Cedo ou tarde vai acabar sabendo, embora eu prefira que seja apenas quando a agência estiver novamente nos eixos. Sabe como ela é faladora e, se a notícia se espalhar, poderemos ficar em pior situação do que já estamos.