Fanfics Brasil - Capitulo 08: Maite (Parte III) Entre o Agora e o Nunca - Herroni {Adaptada}

Fanfic: Entre o Agora e o Nunca - Herroni {Adaptada} | Tema: Herroni


Capítulo: Capitulo 08: Maite (Parte III)

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Alfonso e eu esperamos no terminal quase uma hora até que o próximo ônibus encosta na rodoviária. E, como era de se imaginar, parece que não vamos ter duas poltronas livres para cada um, desta vez. Pelo tamanho da fila de embarque, já estou vendo que talvez não tenha lugar sentado pra todo mundo. Dilema. Saco. Alfonso e eu somos amigos temporários de repente, mas não consigo pedir que ele se sente comigo.


 


Isso pode contar como uma daquelas coisas que dão a impressão errada. Portanto, enquanto a fila avança e ele vem logo atrás de mim, estou torcendo para que ele decida se sentar ao meu lado por conta própria. Antes ele do que alguma pessoa com quem nem conversei.


 


Vou para o meio do ônibus e acho duas poltronas vazias, passo a do corredor e me sento na janela.


 


Ele se senta ao meu lado e eu fico secretamente aliviada.


 


— Já que você é menina — diz, pondo a mala no chão entre os pés —, vou te deixar sentar na janelinha.


 


Ele sorri.


 


Depois que o ônibus enche e eu já consigo sentir o calor humano extra emanando de tanta gente apertada no mesmo espaço, ouço a porta ranger e o ônibus entrar em movimento. A viagem não parece tão longa e tortuosa, agora que tenho alguém para conversar. Só levou uma hora de conversa constante sobre tudo, desde as bandas de rock clássico favoritas dele até o motivo de eu gostar da Pink e o quanto acho que as músicas dela são melhores do que Boston ou Foreigner, que para mim soam iguais. Discutimos isso durante vinte minutos dessa hora — ele é muito teimoso, mas diz o mesmo de mim, então acho que a culpa é dos dois. E eu conto quem é “Dul”, mas não entro nos detalhes sanguinolentos do meu relacionamento com ela.


 


Quando anoitece, me dou conta de que não houve um só momento de silêncio constrangedor entre nós desde que subimos no ônibus e ele decidiu se sentar ao meu lado.


 


— Quanto tempo vai ficar em Idaho?


 


— Uns dias.


 


— E aí vai voltar de ônibus? — Estranhamente, o rosto de Alfonso perdeu todo o bom humor.


 


— Vou — respondo, sem querer me aprofundar muito nesse assunto porque ainda não sei as respostas.


 


Eu o ouço suspirar.


 


— Não é da minha conta — ele diz me olhando, e sinto o espaço entre nós diminuindo, porque ele está sentado tão perto —, mas você não deveria viajar sozinha assim.


 


Não olho para ele.


 


— Bom, eu meio que preciso.


 


— Por quê? — ele pergunta. — Não tô te paquerando nem nada, mas é perigoso para uma garota jovem e diabolicamente linda como você viajar sozinha pelas bibocas de rodoviárias dos Estados Unidos.


 


Sinto meu rosto se abrindo num sorriso, mas tento futilmente escondê-lo.


 


Olho para ele.


 


— Você não tá me paquerando — retruco —, mas me chama de “diabolicamente linda” e praticamente usa a velha cantada do “o que uma garota como você faz num lugar assim” na mesma frase.


 


Ele parece um pouco ofendido.


 


— Tô falando sério, Mai — ele insiste, e o meu sorriso brincalhão se dissolve. — Você pode se machucar de verdade.


 


Tentando mudar o assunto constrangedor, sorrio e digo:


 


— Não se preocupe. Confio na minha capacidade de gritar bem alto se eu for atacada.


 


Ele balança a cabeça e respira fundo, cedendo aos poucos às minhas tentativas de aliviar o clima.


 


— Então, me fala do seu pai — digo.


 


O quase sorriso desaparece do rosto de Alfonso e ele desvia o olhar. Não foi por acaso que toquei nesse assunto assim. Não sei, mas tenho a estranha sensação de que ele está escondendo alguma coisa. No Kansas, quando ele falou rapidamente que seu pai estava morrendo, exteriormente isso não pareceu afetá-lo. Mas se está indo tão longe, de ônibus, ainda por cima, para ver o pai antes que morra, então deve amá-lo. Sinto muito, mas você nunca fica indiferente quando alguém que você ama morre ou está morrendo. Isso parece estranho vindo de mim, que não consigo mais chorar.


 


— Ele é um bom homem — Alfonso diz, ainda olhando para a frente. Sinto que está imaginando o pai agora, que não está vendo nada diante de si a não ser suas lembranças.


 


Ele, então, olha para mim sorrindo, mas não é um sorriso que tenta acobertar alguma dor, mas sim motivado por uma boa lembrança.


 


— Em vez de me levar pra ver um jogo de beisebol, meu pai me levou pra ver uma luta de boxe.


 


— É mesmo? — Sinto meu sorriso se iluminando. — E como foi?


 


Ele volta a olhar para a frente, mas a ternura não deixa mais seu rosto neste momento.


 


— Papai queria que fôssemos lutadores... — Ele olha para mim. — Não lutadores de boxe ou de verdade, embora ele também não se incomodasse se a gente fosse. Mas to dizendo lutadores no geral, sabe, na vida. Metaforicamente.


 


Balanço a cabeça para mostrar que entendi.


 


— Fiquei sentado perto do ringue, com 8 anos de idade, hipnotizado por aqueles dois homens batendo um no outro, e o tempo todo ouvia meu pai falando por cima do barulho do público, ao meu lado: “Eles não têm medo de nada, filho”, ele dizia. “E todos os movimentos deles são calculados. Cada movimento que fazem pode funcionar ou não, mas eles aprendem alguma coisa a cada movimento, a cada decisão.”


 


Alfonso me olha nos olhos por um momento e seu sorriso se dissolve, deixando sua expressão neutra.


 


— Ele me contou que um lutador de verdade nunca chora, nunca deixa o peso de um golpe derrubá-lo. A não ser aquele golpe final, o inevitável, mas até nessa hora, eles sempre caem como homens.


 


Também não estou mais sorrindo. Não sei exatamente o que se passa pela cabeça de Alfonso agora, mas compartilhamos o mesmo humor sóbrio. Quero perguntar se ele está bem, porque é óbvio que não está, mas o momento não parece adequado. É esquisito, porque não o conheço o suficiente para ficar cavoucando em suas emoções.


 


Não digo nada.


 


— Você deve me achar um babaca — Alfonso comenta.


 


Eu pisco, surpresa.


 


— Não — respondo. — Por que você diz isso?


 


Ele recua imediatamente e minimiza a seriedade de sua pergunta, deixando aquele sorriso devastador afMorenar à superfície novamente.


 


— Vou ver o velho antes que ele bata as botas — Alfonso explica, e suas palavras me chocam um pouco —, porque é isso que a gente faz, certo? É um costume, como dizer “saúde” quando alguém espirra, ou perguntar pra alguém como foi seu fim de semana quando na verdade você tá pouco se fodendo.


 


Cacete, de onde está vindo tudo isso?


 


— É preciso viver no presente — ele continua, e eu fico discretamente atordoada. — Não acha? — Sua cabeça pende para o lado e ele me olha novamente.


 


Levo um momento para organizar as ideias, mas mesmo assim não sei ao certo o que dizer.


 


— Viver no presente — repito, mas ao mesmo tempo pensando na minha própria crença de amar no presente. — Acho que você tem razão. — Mas fico imaginando exatamente qual a visão dele dessa crença.


 


Endireito as costas na poltrona e levanto a cabeça um pouco para examiná-lo mais de perto. É como se de repente eu tivesse um enorme desejo de saber tudo sobre a crença dele. Saber tudo sobre ele.



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— O que viver no presente significa pra você? — pergunto.   Noto que uma das suas sobrancelhas treme por um segundo e ele muda sua expressão, surpreso com a seriedade da minha pergunta ou o nível do meu interesse.   Com as duas coisas, talvez.   Ele endireita as costas e levanta a cabeça também.   &mda ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 41



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  • Luise Sinis Postado em 31/05/2016 - 15:02:55

    Ei cade vc, fanfic perfeita, já faz muito tempo que vc nao posta, volta pfvvvvv

  • camila_ Postado em 05/04/2014 - 23:50:48

    Eu sinceramente queria comentar capítulo por capítulo, mas não vai dar, assim que der passo aqui, pink promess, rsrs, eu não te abandonei não linda, eu amo suas fics e não conseguiria ficar longe delas, mas enfim, eu vou aparecer e comentar sempre que der, Beijinhos *-*

  • juh_perroni_rodriguez Postado em 05/04/2014 - 15:43:16

    L3itor4 nov4 vou começar a ler sua fic agora vou tentar acompanhar ok?Adoro você..Bjuuss de fuego..

  • juliaesoares Postado em 31/03/2014 - 18:48:15

    eu sou fantasma </3 desculpa, hihi. POSTA SIM?

  • danielaporto Postado em 31/03/2014 - 14:22:12

    Hey, sou uma leitora fantasminha hehe, acompanho todas as suas webs, mas na hora de comentar a preguiça me consome :/ mas vou me esforçar okay ? Rsrs beijos :*

  • camila_ Postado em 29/03/2014 - 15:11:41

    Essa May é uma onda, eu to aqui pensando na Dulce, elas não vão se acertar mesmo, né? E May é meio louca, ela sai pra viajar pra um lugar que el não conhece ninguém, kkkk' e inda quase é estuprada, Oh meu Deus !

  • camila_ Postado em 29/03/2014 - 15:09:00

    Herroni *-* Eles vão vijar juntos *-*, sim isso é loucura, mas acho que vai ser boom, :)

  • camila_ Postado em 29/03/2014 - 15:04:17

    Poxa vida, eu estava muito desatualizada, ele já foi embora, voltou, salvou *--* e eu aqui lerda, Vix, Posta Mais *-*

  • camila_ Postado em 25/03/2014 - 19:32:29

    OMG', nem tenho mais tempo pra comentar, mas amanhã eu passo aqui e nas outras que ainda não comentei, Beijos *-*

  • biaherroni Postado em 24/03/2014 - 19:58:56

    Posta Mais, leitora nova, estou simplesmente amando a web


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