Fanfic: Entre o Agora e o Nunca - Herroni {Adaptada} | Tema: Herroni

Me afasto do meu pai na hora, levando Maite comigo, sem perceber que estou segurando a mão dela de novo até que os olhos de Christian descem para nossos dedos entrelaçados.

— Que bom que você chegou — Christian comenta, mas com uma pitada de desprezo na voz, sem dúvida.

Ainda está******comigo por não ter tomado um avião e chegado mais rápido. Ele vai ter que se conformar; cada um lamenta à sua maneira. Apesar disso, ele me puxa num abraço, apertando uma das mãos entre nós e batendo nas minhas costas com a outra.

— Esta é Maite — apresento, olhando para ela.

Ela sorri para os três, já da poltrona perto da parede.

— Estes são meu irmão mais velho, Christian, e sua esposa, Maite. — Aponto delicadamente para eles. — E aquele é o mais pirralho, Asher.

— Babaca — Asher responde.

— Eu sei — concordo.

Christian e Maite se sentam nas outras duas cadeiras, perto de uma mesa, e começam a distribuir os hambúrgueres e fritas que acabaram de comprar.

— O velho ainda não acordou — Christian diz, enfiando algumas batatas fritas na boca. — Detesto dizer isso, mas acho que nem vai.

Maite olha para mim. Nós dois falamos com meu pai agora há pouco e sei que ela espera que eu conte isso.

— Provavelmente não — digo, e vejo Maite apertando os olhos, confusa.

— Quanto tempo você vai ficar? — Christian pergunta.

— Não muito.

— Por que isso não me surpreende? — Ele dá uma mordida no seu hambúrguer.

— Não começa com essa merda, Chris, não tô a fim disso, e aqui não é a hora nem o lugar, porra.

— Você que sabe — Christian diz, balançando a cabeça e mastigando a comida. Ele mergulha algumas batatas fritas num montinho de ketchup que Maite fez num guardanapo no meio da mesa. — Faz o que você quiser, mas esteja aqui pro enterro.

Não há emoção no seu rosto. Ele simplesmente continua a comer.

Eu fico completamente paralisado.

— Porra, Chris — Asher diz atrás de mim. — Dá um tempo, cara! Fala sério, mano, o Poncho tem razão.

Asher sempre foi o mediador entre mim e Christian. Sempre foi o mais equilibrado. Eu e Christian pensamos melhor com os punhos. Meu irmão mais velho sempre ganhou de mim quando éramos mais novos, mas mal sabia ele que sempre que me enchia de porrada estava me treinando.

Agora estamos no mesmo nível. Evitamos as vias de fato a todo custo, mas sou o primeiro a admitir que não sei segurar minha onda tão bem quanto ele. E Christian sabe disso. Por isso está ficando na dele, agora, e usando Maite como uma distração. Ele limpa um pouco de ketchup da boca da esposa. Ela dá uma risadinha.

O olhar de Maite cruza o meu; provavelmente ela está tentando chamar minha atenção há alguns minutos, e por um momento penso que quer me avisar que é hora de ir embora, mas ela só balança a cabeça, pedindo que eu me acalme.

Obedeço na hora.

— Então — Asher diz, para aliviar a tensão no ambiente —, há quanto tempo vocês estão saindo? — Ele se apoia na parede perto do aparelho de TV, cruzando os braços no peito.

Somos quase idênticos, com o mesmo cabelo castanho e as porras das covinhas. Christian é o esquisito do trio; seu cabelo é bem mais escuro, e em vez de covinhas, ele tem uma pinta na bochecha esquerda.

— Oh, não, somos só amigos — digo.

Acho que Maite ficou vermelha, mas não tenho certeza.

— Deve ser uma boa amiga, pra vir até o Wyoming com você — Christian diz.

Por sorte, ele não está sendo babaca. Se decidisse descontar nela a raiva que sente de mim, eu ia ter que quebrar a cara dele.

— Pois é — Maite diz, e sou instantaneamente absorvido pela doçura da sua voz —, eu moro perto de Galveston; achei que alguém devia viajar com o Poncho, já que ele vinha de ônibus.

Fico surpreso por ela lembrar a cidade onde falei que morava.

Christian faz que sim com a cabeça para ela com simpatia; suas bochechas se movem enquanto ele mastiga.

— Maior gata, mano — ouço Asher cochichar atrás de mim.

Eu me viro e o silencio com o olhar. Ele sorri, mas cala a boca.

O velho se mexe quase imperceptivelmente e Asher se aproxima do lado da cama. Ele dá um soquinho amigável no nariz de papai.

— Acorda. A gente trouxe hambúrguer.

Christian levanta seu sanduíche como se nosso pai pudesse vê-lo.

— Tá bem gostoso. Melhor acordar logo, senão a gente come tudo.

Papai continua imóvel.

Ele treinou muito bem os três filhos. A gente jamais pensaria em ficar em volta da cama dele, deprimidos e essas merdas todas. E, quando ele morrer, Christian e Asher provavelmente vão pedir uma pizza e uma caixa de cerveja e ficar falando merda até amanhecer.

Eu não estarei aqui para participar disso.

Aliás, quanto mais tempo eu ficar, maior a chance de ele morrer antes que eu vá embora.