Fanfic: ∞ Quase por Acidente ∞ Terminada | Tema: Vondy

Poncho – é melhor ficar quieta, não acha? – meneei a cabeça. Ele assentiu e foi até a sala, discou o número e me entregou o telefone, que pareceu surpreendentemente pesado e gelado. Ao terceiro toque, Tia Ale atendeu.

Ale – alô?

Dulce – tia, é a Dul... O que Uncker está? – falei meio arrastado.

Ale – ah querida, vou chamar, um minuto... – ouvi ela chamando por ele, e em questão de segundos a voz forte e afobada de Ucker ao telefone.

Ucker – Dul?

Dulce – oi meu amor... – Respirei fundo, sem saber que parte do diário já tinha sido lida.

Ucker – como você ta? Alfonso disse que andava mal, aconteceu algo? – Sua voz pareceu pesarosa.

Dulce – sinto saudades... – Fechei os olhos e pude imaginar seu sorriso de fascinação. Aquele sorriso tinha um significado incalculável... Alfonso e Anahí saíram, me deixando com meu Ucker, mas logo fizeram-me despedir dele, pra consulta idiota. Por que ninguém entendia que o único que eu precisava não se tinha em farmácias, nem hospitais nem nada disso?

Enquanto tiravam minha pressão, e olhavam um monte de coisa, fiquei lembrando das nossas conversas. Ele me falava de como estava, do que tinha feito, de como pensava em mim e como eu guiava sua imaginação... O momento mais lindo foi quando cantou pra mim, a letra mais linda que já tinha ouvido em minha vida, e que me fez chorar... Ele agia como se não soubesse de nada, como se não tivesse lido meu diário... Será que ele o tinha ignorado? Não... Ucker não faria isso comigo, faria?

O médico me receitou uns reforços alimentares e disse que eu precisava ganhar peso. Repetiu a lista de proibições e o que era indicado comer. Tinha vontade de mandá-lo ao inferno, mas faria o que pudesse pelo meu filho... Meu filho... Sorri boba, e rolei da cama para o banheiro. Ainda não conseguia me imaginar mãe, era uma idéia tão utópica, mas era real ao mesmo tempo, como podia ser? Toquei minha barriga reta, de duas semanas de gestação, de que tamanho ele seria agora? Como seria depois? Menino? Menina? Parecido comigo ou com o pai?

Uma mistura de sensações sempre em envolviam cada vez que pensava em tudo. Uma gravidez na minha idade não só era arriscada, como irresponsável e antecipada demais, e... Não sei... Não chamaria meu bebê de errado, nem que me atirassem mil pedras. Eu sabia que tinha uma responsabilidade grande demais nas mãos, nenhuma formação, nenhum trabalho... Ucker tampouco... Ucker era o pai, e o que me consolava quase era capaz de me entristecer... Ele rejeitaria a mim se soubesse que fui tão imprudente? Ele me olharia com os mesmos olhos? Tantas perguntas, tantas dúvidas...

Depois de comer uma gororoba saloba que Poncho me tinha trazido, deitei outra fez, fatigada. O mundo parecia me arrastar para baixo sempre que ficava de pé. Enquanto tentava dormir, ouvi Anny e Poncho na sala. Sussurros, risinhos, declarações... Me senti enjoada. Será que aquela cobra era capaz de amar alguém? Será que meu irmão era capaz de amá-la, só por ser bonita? Ou as palavras eram apenas pra incrementar o ritual? Me senti enciumada. Era detestável que ela estivesse em todo lugar que eu estava, tentando barganhar os homens que eu amava. Meu irmão, que cuidou a vida inteira de mim, e Ucker... Meu amor incondicional, e primo dela...

Talvez fosse egoísmo com relação a meu irmão, por que ele merecia ser feliz... Mas será que ao lado dela era possível? Me lembrei do dia em que nos conhecemos, nas gravações do Romeu e Julieta, de como ela secava Ucker com o olhar, como me olhava desdenhosa, como se eu não fosse merecedora de sequer contracenar com ele. tentei manter o queixo erguido mas ela me fez sentir um inseto. Nunca entendi as pessoas que tinham prazer em menosprezar as outras... Mas que valia a opinião dela quando ele me amava como eu era? E depois, quem olharia pra Julieta quando o Romeu está de leg branca?

Meus pensamentos e minhas opiniões estavam cada vez mais confusas e contraditórias, não dava pra me decidir o que deveria pensar a respeito dela... Talvez meu santo não batesse com o dela... Ou talvez, meu santo quisesse matar o dela...