Fanfic: The girl from Ipanema | Tema: The Maine
Aviso: este cápitulo contém cenas de uso de drogas, sexo e nudez.
O despertador tocou às sete horas da manhã como de costume. A menina procurou o rádio-relógio sob o criado-mudo ainda com os olhos fechados. O som estridente finalmente parou e suas pálpebras se abriram, revelando o belo tom azul claro que sua íris possuía.
Ela sentou-se na cama. Seus pés tocavam o macio veludo do tapete branco de seu quarto. O reflexo que via a sua frente, no espelho que cobria a menor parede de seu cômodo, era de uma jovem carioca típica. A pele bronzeada pelo sol das praias da zona sul, o cabelo liso de tom escuro já ressecado pelo excesso de sal do mar e da falta de cuidado para lavá-lo, as unhas com esmalte preto descascando por preguiça de repintá-las, as olheiras por várias e várias noites sem dormir direito, as pernas cheias de hematomas originados pelas várias quedas que sofre andando de skate entorno da orla.
Ela se perguntava se sempre seria assim. Acordar ao som irritante de um relógio. Levantar-se. Tomar banho. Vestir-se. Comer alguma fruta. Escovar os dentes. Ir para a faculdade. Passar em algum boteco de esquina. Jogar conversa fora com pessoas interesseiras que se dizem seus amigos. Voltar para casa. Assistir um programa qualquer na televisão. Comer aquele macarrão instantâneo que encontrou na dispensa. Tomar banho de novo. Durante um trago e outro na janela de seu quarto, ler o capítulo que vai ser dado na próxima aula daquele professor sem noção. Dormir por alguns minutos sem se dar conta que o fez. No dia seguinte acordar em um cômodo diferente e perguntar a si mesma como chegou ali. Era a mesma solitária rotina todos os dias de semana, mas mesmo assim ela a seguia sem ao menos perceber.
Ela faria as mesmas coisas naquele dia, se não fosse pelo fato de sua faculdade estar em greve. De novo os professores tinham parado de dar aulas para lutar pelos seus direitos. Isso acontecia todos os anos em alguma parte do país. “O Brasil é uma vergonha e merece ser tratado como piada no exterior” era o que ela sempre dizia quando o assunto vinha à tona.
O ardor da revolução corria em suas veias e sua família era extremamente conservadora. Talvez esse tenha sido o motivo de Luiza ter decidido morar sozinha naquele apartamento em Ipanema enquanto seus irmãos ainda desfrutavam de todas as regalias que a rica família Spielgman tinha em sua mansão na Gávea. Luiza nunca ligou para coisas materiais e sempre se disse contra certas coisas que vieram junto com o capitalismo, como o consumismo excessivo e a pirâmide social injusta que foi imposta na sociedade, muitas vezes ignorada pelos que estão no topo. E os Spielgman estavam no topo, por mais que Luiza negasse. Ela morava em um dos metros quadrados mais caros do mundo, por mais que tenha sido forçada por sua mãe em um último esforço de manter a filha onde o status da família exige. Ela dirigia um dos carros mais caros da Nissan, por mais que tenha sido um presente de seu pai, que o considerou irrecusável.
Era quase hipocrisia. Ela quase fazia parte do topo da pirâmide. Ela era quase uma ignorante. Ela era um quase.
Naquela noite, ela havia dormido por algumas horas antes de seu despertador a interromper. Poderia ser considerado um milagre. Se ela acreditasse nisso, é claro. Ela se levantou e comeu uma maçã. O calendário em sua cozinha mostrava que o mês de abril já havia passado de sua metade e isso significava que o show de sua banda favorita estava próximo o bastante para que um sentimento de ansiedade surgisse, mas Luiza nunca havia sentido nada assim e não foi daquela vez que sentiu.
Ela foi até o banheiro de sua suíte, se despiu, colocou seu celular no iHome, apertou o play do aparelho e entrou no chuveiro. O barulho das gotas de água ao tocar o chão não podia ser ouvido porque era abafado pelo choro da guitarra de Slash em Welcome to the Jungle.
A água que saía da ducha passeava por seu corpo. Passava por cada centímetro. Os seios um pouco volumosos, a cintura fina e as coxas proporcionais ao tamanho de suas nádegas avantajadas. Não era o mais belo corpo, mas era bonito o bastante. Era natural como Luiza.
Depois de desligar o chuveiro, se enrolou numa toalha e abriu a porta. A janela estava aberta e um vento frio a fez se arrepiar. Ela correu para fechar a janela e, no meio do caminho, a toalha caiu. Algumas pessoas que passavam na rua poderiam tê-la visto nua, mas ela não se importaria. Luiza conseguiu fechar a janela e se agachou para pegar a toalha caída no chão.
- Ah, se eu pudesse ter essa visão todos os dias. – uma voz que masculina veio da porta de seu quarto.
Ela não precisou se virar para que soubesse quem era.
- Como conseguiu entrar aqui, Pedro?
- Você devia tomar mais cuidado com onde deixa as suas chaves, sabia? Alguém pode pegá-las quando você não as vê, tirar uma cópia e aparecer no seu quarto de surpresa enquanto está saindo do banho e... – ele estava tão perto que ela se arrepiou quando ele expirou o ar tão próximo ao seu pescoço.
- E...? – ela disse, querendo ser a mesma garota dura de sempre.
- E instigá-la a fazer o que quer.
Ela estava em pé, nua e seu ex-namorado, que invadiu seu apartamento, com as mãos em sua cintura.
- Não sou menina que se instigue e você sabe disso melhor do que qualquer um, Albuquerque. – ela disse, retirando a mão dele de sua cintura e terminando de se secar.
- Eu acho tão sexy quando me chama de Albuquerque, já te disse? - ele andava devagar pelo quarto, com um olhar clínico sob as coisas de Luiza - Você parece tão intelectual me chamando pelo sobrenome do meu pai.
- Você odeia seu pai, Pedro.
- E você odeia o seu.
- Estamos falando de você e não de mim.
- Estamos falando de nós, Luiza.
- Nós? – Luiza o encarava, com os olhos cerrados, analisando o que ele queria. – Não existe mais ‘nós’, Pedro.
- Nada deixa de existir, tudo se transforma. Por acaso faltou às aulas de filosofia no ensino médio, meu doce? – ele disse, irônico.
- Você é tão estúpido querendo se dar de inteligente. – respondeu com um tom de extrema impaciência.
Ela foi ao banheiro, desligou a música, separou as roupas sujas para levá-las à lavanderia e colocou a toalha no suporte. Quando voltou, a gaveta de sua cômoda estava aberta e Pedro estava sentado na cama com uma fotografia na mão.
- Nós éramos tão felizes juntos, não é mesmo? – ele disse, sem tirar o olho da foto.
- Éramos, do verbo ‘nunca mais vamos ser’.
- E como fala isso com tanta convicção, senhora da verdade? – ele disse se levantando e indo até a direção de Luiza.
A foto estava em ci ma da cama e os olhos castanhos de Pedro estavam a centímetros dos de Luiza. Os dois podiam ouvir os batimentos cardíacos um do outro e o ar que saía do nariz dela podia ser sentido por ele.
- Eu não te amo como te amava antes, Pedro. Sinto muito.
- Eu também não, Luiza. – ele colocou a mão no rosto dela, acariciando-a. – Eu te amo ainda mais.
- Não quero mais nada entre nós, cara.
- Engraçado, desde que cheguei você não se deu o trabalho de vestir-se.
Antes de Luiza conseguir pensar em algo para retrucar, Pedro a beijou. Um beijo lento e doce. Como se fosse o primeiro. A mão que tocava seu rosto descia lentamente sob as costas de Luiza até sua cintura. Luiza retribuía o beijo e se entregava as mãos dele assim como costumava fazer quando ainda o namorava. Com o tique-taque do relógio eles aumentavam ainda mais o elo que ressurgiu a partir do momento em que seus lábios se tocaram naquele quarto.
Pedro a pegou no colo e a jogou na cama. Ele estava acima dela e agora beijava seu pescoço. Ela sentia o calor subir ligeiramente e cada parte de seu corpo estava arrepiada. Ele arrancou a camisa e voltou a beijá-la. Ela estava entregue e não cabia mais excitação nele. Ela observava o abdômen de Pedro, completamente trabalhado, e ele já tirava as calças, mostrando o volume que guardava em sua roupa de baixo. Ele chupou seus peitos e depois a excitou ainda mais com seu sexo oral. Ela o fez deitar e o fez delirar com a boca em seu pênis. Logo depois, ele penetrou nela, primeiro lentamente e depois com mais força. Luiza gemia alto e Pedro a assistia subir e descer, em uma dança sensual e prazerosa. Depois ele a viu de quatro, gritando para que ele metesse com mais força. Ela gozou e ele também. Os dois dormiram depois disso. Um junto ao outro de novo. Mão com mão. Pele com pele. Lado a lado.
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Luiza acordou com o sol batendo em sua face. Isso significava que já era de tarde. Ela havia dormido por várias horas e agora se sentia regenerada. Ela se virou no intuito de ver Pedro deitado ao seu lado. Mas não havia ninguém junto dela naquela cama. Nem ao menos o calor de Pedro se encontrava onde ele estava deitado. A única coisa que ela conseguiu ver foi a foto que ele tinha em suas mãos antes de beijá-la.
Ela se lembrava daquele dia. Eles estavam tão apaixonados e eram tão felizes e diferentes do que são hoje. Na foto, eles estavam em um show do Barão Vermelho. Ela usava uma camisa cinza com o símbolo dos Stark e os dizeres: ‘The winter is coming’, uma calça jeans, um allstar branco e um casaco de couro preto. Ele usava uma camiseta branca com uma foto de Kurt Cobain estampada, um coturno preto e uma calça jeans surrada. Ele tem um drink em sua mão esquerda e a abraça com o braço pertencente a essa mesma mão. Os dois estavam gargalhando quando a foto foi tirada e ele a olhava com imensa paixão. Algumas pessoas que estavam envolta os observavam com admiração e alguns, talvez, até inveja de tamanha alegria.
Ela havia se esquecido de quem tirou essa foto e não se preocupava tanto em se esforçar para lembrar-se disso. Ela percebeu que nem ao menos se lembrava da data do show, por isso virou a fotografia para ver se, por acaso, alguém não teria escrito o dia que o concerto aconteceu. Mas ao invés de apenas números indicando o que queria se lembrar, encontrou alguns belos garranchos.
“Je t’aime, Louise.
Cependant, il faut faire qqch.
Excusez-moi! Je vous ai fat mal?
J’y vais. Tu vais aimer ça.
Au revoir.”
- Pedro
Ela conhecia aquela letra. Ele tinha paixão por escrever em outras línguas porque achava que aquilo o fazia parecer uma pessoa mais culta. Ele havia a abandonado de novo. Lágrimas escorriam em sua face e em sua cabeça só se passavam ideias sobre o egocentrismo e a falta de caráter que a fizeram passar a odiar Pedro depois que eles terminaram o namoro. Ela não entendia como foi se deixar envolver tão depressa nas mãos dele novamente e se sentia estúpida por ter feito sexo com ele mesmo depois de tantas mágoas que ele a causou no passado. Não sabia o que fazer e nem sabia o que pensar. O que sabia era que ele não era bem-vindo ali. Não mais.
Continua...
Autor(a): leticiaviana
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