Fanfic: Planos de sedução AyA (Adaptada) | Tema: AyA

— Não! — gritou Anahi Portilla, apavorada. — Oh, não!

Erguendo-se para uma posição sentada na cama, ela piscou os olhos algumas vezes até desanuviá-los das lá­grimas e respirou fundo, tentando se acalmar. O peito ainda arfava enquanto se esforçava para afastar as im­pressões do vívido pesadelo que acabara de ter... um pe­sadelo baseado na realidade. Revivera todo o horror mais uma vez... a lâmina afiada e reluzente, a terrível sensação de impotência.

— Está tudo bem — sussurrou para si mesma, o som assustado da voz penetrando no silêncio da cabana vazia. — Você está a salvo agora.

Trémula, virou-se para a mesinha-de-cabeceira e verifi­cou o relógio digital. Eram quatro horas. A luminosidade que se esgueirava pelo vão nas cortinas dizia-lhe que era de tarde. Estivera tão cansada depois de ter dirigido por quatorze horas seguidas, desde Chicago até a Carolina do Norte, que acabara adormecendo ainda vestida.

Na certa, teria sido mais sensato pernoitar no caminho, mas uma vez tomada a decisão de ir até a cabana de Christopher, o irmão mais velho, situada na região monta­nhosa de Blue Ridge, não quisera parar antes de chegar ao reconfortante e seguro refúgio. Esperara deixar os pe­sadelos para trás.

— Não tive tanta sorte — murmurou, levantando-se da cama e plantando os pés com firmeza no assoalho de madeira. O estômago manifestou-se, lembrando-a de que havia adormecido sem comer.

Quando acabou de fazer um sanduíche de salame com parte dos suprimentos que levara consigo, algo atraiu sua atenção. Viu, na bancada da cozinha, a caixa de pa­pelão que Christopher e a esposa, Dulce, haviam-lhe dado um pouco antes de ela ter deixado a festa de casamento de ambos em Chicago, na noite anterior.

Segurando o sanduíche acima da caixa, carregou tudo para a varanda da frente e sentou-se numa grande cadeira de balanço que havia lá. Posicionada numa parte ensola­rada da varanda coberta, a cadeira de estilo antigo parecia implorar para que alguém a ocupasse. Era o tipo de cadeira em que se poderia esquecer da vida por horas a fio, pensou Anahi com um pequeno sorriso. Deixou de lado, no colo, a misteriosa caixa de seu irmão e provou o sanduíche.

A primavera chegava mais cedo no sul do país. Em sua cidade, as árvores ainda estavam desfolhadas, mas ali as novas folhas brotavam nos galhos, criando com suas rami-, ficações verdejantes um exuberante contraste com o límpido azul do céu. Olhou para a tranquilidade dos bosques ao redor, e lágrimas inesperadas anuviaram-lhe os olhos. Como gostaria que toda aquela serenidade pudesse se refletir totalmente em seu íntimo. Mas o fato era que estava assustada... apavorada como nunca em sua vida, tanto que a primeira coisa que fizera fora fugir...

Ao menos ali, longe de tudo e de todos, sentia-se um pouco mais segura.

Soltando um profundo suspiro, afastou as lágrimas com a ponta dos dedos e terminou o sanduíche devagar. Olhou distraidamente para a caixa de papelão em seu colo. Lem­brou-se de que, ao passá-la às suas mãos, o irmão lhe dissera que continha "umas coisinhas do velho país para lhe dar sorte".

Christopher nunca fora do tipo que acreditara em sorte antes, a pesar de que ambos eram de descendência cigana. O pai deles, porém, um cigano da Hungria, era uma outra história. Henrique Portilla ensinara a ela sobre muitos amuletos da sorte e simpatias ao longo dos anos. Até insistira que levasse consigo o pé de coelho especial dele naquela viagem.

O pai não tinha como saber que não havia proteção contra o pavor que consumia Anahi por dentro. Não contara aos pais o que realmente lhe acontecera no mês anterior. Apenas dissera que precisava de umas férias, de novos ares. Uma vez que eles nunca haviam aprovado que a filha lecionasse numa área tão violenta de Chicago, tinham ficado aliviados demais com sua decisão para se­quer lhe perguntarem as razões para partir.

Apesar do sol quente, ela estremeceu enquanto as ima­gens teimaram em povoar-lhe a mente, as mesmas que haviam aparecido em seu pesadelo... a lâmina, o terror, o fato de tudo ter acontecido tão subitamente. Não tivera nenhum aviso do perigo, nenhuma premonição do que estivera por vir.

Certamente, tinham acontecido problemas na escola antes, mas ela sempre fora conhecida por sua determi­nação e pulso firme. Nunca deixara que nada de mal lhe acontecesse. Era respeitada pelos alunos, gostavam dela. Ainda assim, nunca fora tola, nem ingênua. Tivera cons­ciência do perigo e tomara as precauções para evitar pro­blemas. Até aquele dia...