Fanfic: Planos de sedução AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Permanecera até bem depois do horário de saída da escola e, sem se dar conta, acabara ficando sozinha na­quela tarde. Quando, enfim, deixara a sala onde lecionava para a quarta série, absorta no planejamento do show de talentos da escola, sentira um par de braços agarran­do-a bruscamente por trás, no corredor deserto. Logo, ficara ciente da lâmina afiada da faca que fora encostada em sua garganta. Não houvera chance de gritar, nem de se proteger. Sentira-se impotente, indefesa. E não fora uma sensação que já tivesse realmente experimentado antes. Sempre havia sido a destemida da família.

Seu agressor não tivera muito mais do que o metro e sessenta e cinco de altura dela. Mas mostrara-se incri­velmente forte, sem dúvida por causa das drogas que usara... drogas que o haviam deixado perigoso, imprevi­sível, que haviam transformado um garoto de quatorze anos num estranho com poder letal.

Ele quisera dinheiro e, sem hesitar, ela lhe entregara o pouco que tivera consigo. As mãos do garoto tinham tremido e também a lâmina longa e reluzente, ferindo-lhe a pele sensível, provocando leve sangramento. Anahi levou a mão à garganta, tocando a cicatriz quase imper­ceptível que ficara, enquanto lembrava do desespero alu­cinado das palavras dele.

E, então, o assalto terminara tão subitamente quanto havia começado. O garoto a jogara de encontro à fileira dos armários dos estudantes e desaparecera. Por um breve momento, porém, pudera ver o rosto dele. Reconhecera-o logo como Duane Washington, um ex-aluno seu  de cinco anos atrás, um dos mais promissores. No pas­sado, tivera grandes esperanças em relação ao garoto. Esperanças que se tinham desvanecido agora; assim como a vida dele.

Vinte e quatro horas depois de ter sido assaltada sob a ameaça de faca, Anahi ligara a tevê no noticiário das cinco, como de hábito, e um novo horror a esperara. Havia deparado com um cenário de absoluta desolação na tela, a câmera focalizando o sangue abundante na rua de Chi­cago, a voz do apresentador anunciando a fatalidade:

— O suspeito, Duane Washington, era procurado pela polícia por assalto. Estava fugindo dos policiais, resistindo à ordem de prisão, quando correu na frente de um ônibus veloz. Testemunhas dizem que ele morreu instantaneamen­te. — Houvera outro close, daquela vez de um corpo coberto sendo retirado do local, o corpo de Duane...

Essas imagens ainda a assombravam na forma de pe­sadelos, ou mesmo em meros pensamentos. A faca. O sangue na rua. O corpo coberto de Duane.

Embora a agressão tivesse acontecido quase um mês atras, ela sentia que não estava se recobrando do episódio traumático como já deveria. Ainda se encontrava à mercê de suas emoções... principalmente culpa e medo. Talvez houvesse tomado a decisão errada ao ter chamado a po­lícia e identificado Duane como seu agressor. Se não ti­vesse agido assim, o garoto não teria passado por aquilo, não teria corrido da polícia, nem cruzado o caminho da­quele ônibus...

Aliás, se tivesse sido melhor professora, talvez pudesse ter visto muito mais cedo os sinais de que Duane estivera se metendo em encrencas e, assinl, conseguido interferir antes que o pior houvesse acontecido.

Não havia, contudo, como mudar o passado. O resul­tado era que, agora, Anahi, que nunca temera viajar pelo mundo sozinha, estava com medo de fechar os olhos na própria cama à noite. Sentia-se paralisada pelo medo... medo de ter agido da maneira errada; de que tivesse uma parcela de responsabilidade na morte de Duane; de ser, no fundo, vulnerável e tão fácil de atacar.... medo de ser atacada novamente.

O psicanalista com quem se consultara dissera-lhe que estava sofrendo de um estresse pós-traumático. Ela es­perara que fosse apenas uma fase, que aquilo passasse, como uma gripe ou algo assim. Os sintomas, porém, per­sistiam. Achando-se incapaz de lecionar como antes, ela partira, tirara uma licença... até que estivesse se sentindo "nova em folha" outra vez, como o diretor da escola jo­vialmente colocara.

Uma inevitável tremedeira percorria seu corpo a cada vez que pensava muito sobre o que acontecera. A cadeira de balanço moveu-se para a frente, e a caixa de papelão quase deslizou de seu colo. Segurando-a, puxou-a mais para junto de si.

— Está a salvo agora — sussurrou, como vinha fazendo a cada dia desde o ataque. Ainda tinha que aprender como acreditar nisso.