Fanfic: Planos de sedução AyA (Adaptada) | Tema: AyA

— Puxa, você termina com essa comi­da para gato bem depressa — no­tou Floyd, enquanto Anahi colocava quatro caixas de ração no balcão. — Quantos gatos planeja alimentar lá na montanha, afinal?

—  São gatinhos em fase de crescimento.

— Sim, e do jeito que estão comendo vão acabar virando tigres — comentou o velho, bem-humorado.

Bessie interveio prontamente:

—  Ora, homem, nosso Boone adorava gatos quando criança e, se bem me lembro, todos tinham um apetite voraz. — Notando o olhar confuso de Anahi, a mulher explicou: — Boone é o nosso neto. Os pais morreram quando era um garotinho e nós o criamos.

— Ele é um gênio com qualquer coisa mecânica — acres­centou Floyd, orgulhoso. — Trabalha na oficina anexa aqui ao nosso pequeno posto de gasolina. As pessoas trazem seus carros do condado inteiro para que Boone os conserte. Vivo lhe dizendo que tem que cobrar mais por seus serviços. Estou me preparando para deixar tudo para ele quando eu e Bessie nos aposentarmos, mas primeiro preciso saber se o rapaz tem tino comercial. Por enquanto, tudo o que vejo é que é teimoso feito uma mula.

—  Ele herdou isso do seu lado da família — disse Bessie ao marido.

— Digam-me — começou Anahi casualmente, quan­do os Twitty pararam para respirar. — Há algo mais acontecendo pela cidade? — Em vez de fazer as compras depressa e se pôr a caminho, como de costume, dessa vez deteve-se deliberadamente para jogar conversa fora. Com certeza, Floyd e Bessie se achavam a par de tudo o que acontecia em Lonesome Gap. E ela estava curiosa para saber o que Alfonso estivera falando na noite an­terior, quando mencionara que algumas pessoas da cidadezinha tinham desejado lhe perguntar algo.

Para sua decepção, o que os Twitty começaram a co­mentar foi o acidente envolvendo o caminhão que tombara na rodovia, espalhando a carga de fertilizante, algumas semanas atrás, e o tiro que Charlie Carberry acertara no próprio pé.

Concluindo que acabaria por ficar ali o dia inteiro a ouvi-los sem que necessariamente comentassem algo so­bre o que Alfonso estivera lhe falando, Anahi resolveu dizer até logo.

— Ah, só mais uma coisa — pediu à solícita Bessie. — Poderia me recomendar um bom lugar na cidade para almoçar? — Estava ficando cansada de sua própria co­mida trivial e achou que enquanto estivesse conhecendo um pouco da cidadezinha e tentando descobrir o que que­ria, poderia aproveitar para saborear algo diferente.

—  Oh, claro. Siga pela Rua Principal até o Café Lo­nesome e comerá o melhor peixe assado que já provou.

— O restaurante fica logo ao lado do HazeFs Place — acrescentou Floyd. — Bem, na verdade, ambos ficam no mesmo prédio, se analisarmos tecnicamente.  

— O que não é preciso — declarou a esposa, num tom severo. — Não há necessidade de entrarmos em detalhes sobre a desavença entre os Montgomery e os Rue, nem de mencionarmos o fato de que, só por pirraça, Hazel Rue abriu seu restaurante no mesmo prédio em que fica o Café Lonesome, que é da querida Lillie Montgomery.

— Céus, esta cidade teria sido muito melhor sem aqueles encrenqueiros Rue!

Anahi já havia decidido não perguntar à queima-roupa o que queria saber, mas acabou não se contendo:

—  Por acaso, essa desavença teria algo a ver com o que o pessoal da cidade queria me falar?

—  Oh, não, a guerra entre as duas famílias é coisa muito antiga — explicou Bessie, surpresa com a pergunta. — Mas quanto a esse outro assunto... bem, não temos permissão para falar a respeito. Pelos céus, Alfonso ja­mais me perdoaria se eu contasse algo a você — acres­centou, num tom baixo e confidencial.

— Que "outro assunto"? — perguntou Anahi, cada vez mais intrigada.

— Não posso mesmo dizer nada. Mas não se preocupe. Não quis assustá-la com essa história de guerras e rixas.

— Bem, e o que causou a tal rixa?

—  Curioso, mas agora que me perguntou, tenho que admitir que não sei bem ao certo.

— Eu sei — declarou Floyd, triunfante. — Tudo começou quando Caleb Montgomery denunciou o vizinho, Paul Rue, às autoridades por fabricação clandestina de uísque. E se­gundo se conta, a família Rue tratou logo de revidar, atra­palhando um negociação qualquer de terras dos Montgo­mery. Desde então, nunca fizeram as pazes.

— E quando começou essa desavença?

— Creio que foi em 1927.

— Céus, há quase setenta anos?

—  Sim, mas isso passa num piscar de olhos nestas montanhas.

—  Eu imagino — assentiu Anahi com um sorriso e, finalmente, despediu-se dos simpáticos Twitty. Dete-ve-se um momento junto à porta para afagar a cabeça de Bo Regard, e o perdigueiro espreguiçou-se, esparra­mando-se ainda mais no chão.

Lonesome Gap era pequena o bastante para ser atravessada de uma extremidade a outra em questão de mi­nutos. O dia estava límpido e ensolarado, as montanhas provendo um verdejante pano de fundo. A vista a partir do vale para o alto das montanhas era tão esplendorosa quanto a que tivera do topo, quando Hunter a levara para contemplar a majestosa cadeia de picos azulados.

Situada entre o rio e a rodovia, a cidadezinha contava com um número reduzido de construções, distribuídas por uma meia dúzia de ruas tranquilas. Entre os esta­belecimentos comerciais, concentrados em sua maioria na Rua Principal, havia uma farmácia, uma imobiliária combinada com uma locadora de vídeo, a pousada Blue Moon, algo chamado de Galeria dos Presentes, além de algumas lojas vazias com placas de "aluga-se". Durante a caminhada, ela avistara também uma igreja, erguida no alto de uma pequena colina.

Parecia que a exuberância da primavera se evidenciava ainda mais ali embaixo do que na montanha onde ficava a cabana do seu irmão. Havia jardins bem-cuidados na frente de várias casas, com uma profusão de flores por todos os lados. Entre as construções, viam-se grandes espaços abertos e gramados.

O escritório do xerife ficava no início da Rua Principal, logo depois da entrada da cidadezinha pela rodovia.

Anahi o avistara do outro lado da rua, antes de rumar para o prédio que abrigava o Café Lonesome e o Hazel`s Place. Logo que entrou no primeiro restaurante e escolheu uma mesa junto à janela, uma garçonete ruiva saudou-a com um sorriso amplo. O movimento ali até que era razoável para cidade tão pequena. Seguindo a sugestão que Bessie lhe dera, acabou pedindo peixe assado com os acompanha­mentos do menu e um suco de frutas gelado.