Fanfic: Planos de sedução AyA (Adaptada) | Tema: AyA

— Tire as mãos da minha filha!  — ordenou o homem que  seguira Floyd ao interior da biblioteca. Apesar de conhecê-lo ape­nas de vista, Anahi sabia tratar-se de Otis Rue, o pai de Stella.

— Está claro como água que é a sua filha quem está com as mãos grudadas no meu neto! — gritou Floyd para Otis.

Uma discussão acalorada iniciou-se.

Colocando dois dedos na boca, Anahi soltou um as­sobio alto e longo que aperfeiçoara com o passar dos anos. Sempre funcionara para aquietar uma classe repleta até dos mais alvoroçados alunos da quarta série no primeiro dia de aula. O efeito foi o mesmo nos dois homens, um súbito silêncio pairou no ar.

—  Agora, acalmem-se todos e me digam do que se trata esta confusão — exigiu ela.

— É apenas mais um sinal de que esses Rue encren­queiros estão aprontando mais alguma — declarou Floyd.

—  São os Montgomery que não passam de uns en­crenqueiros — insistiu Otis, furioso.

— Ah, então essa é uma questão de rixa pessoal, hein?

Os dois homens viraram-se para fitá-la em estupefação. Ela sustentou-lhes os olhares.

— Ouçam, vocês dois, detesto ser eu a ter que informá-los, mas estamos nos aproximando rapidamente do século vinte e um, sabem?

— E o que isso tem a ver com a nossa discussão, afinal? — retrucou Floyd.

Anahi não tinha muita certeza a respeito, mas ao menos sua interrupção servira para que os dois homens parassem de berrar um com o outro.

— Tem muito a ver, sim — disse ela, num tom grave, ganhando um pouco de tempo para reunir argumentos mais razoáveis e convincentes. — Já chegou o momento de que essa desavença ridícula 

termine.

— Está chamando nossa rivalidade de ridícula? — re­vidou Otis, a raiva agora estendendo-se a ela também.

Floyd encarava-a com idêntica irritação.

— Nossa guerra de honra não é ridícula, não!

— Está certo, foi uma escolha infeliz de palavras — concedeu Anahi, apaziguadora. — Mas seja como for que a descrevam, o fato é que essa desavença entre as duas famílias tem que parar.

— E por quê?

— Porque está afetando as exatas pessoas a quem vocês afirmam que estão tentando proteger: Stella e Boone.

— Você só está na cidade há pouco tempo e agora vem se achando no direito de julgar o que é melhor para o meu neto? — disse Floyd, indignado. — Imagine só!

— Não se trata necessariamente disso — declarou ela, adquirindo seu melhor tom enérgico de professora. — O que importa no momento é que nem Stella, nem Boone fizeram nada de errado.

— Não a seus olhos talvez...

— Vocês dois querem se arriscar a perder a próxima geração? — perguntou Anahi à queima-roupa. — É o que querem que aconteça aqui? Porque acontecerá. Boone e Stella podem partir de Lonesome Gap, como muitos jovens já fizeram antes. Podem se mudar para Ashville, ou qualquer outra cidade, e começar vida nova lá. E o que realmente querem? Não acham que gente o bas­tante já deixou esta região? Já não seria tempo de ten­tarem fazer com que mais pessoas ficassem em vez de as afugentar?

Floyd e Otis começaram a olhar para a ponta dos pés, torcendo as mãos em certo nervosismo, e ela soube que começava a dobrá-los.

— Ouçam, eu entendo muito bem sobre desavenças. Acreditem, quase ninguém sabe manter uma rixa melhor do que um cigano. No caso da minha família, eles são da Hungria. Um pouco antes de vocês dois terem aden­trado aqui feito furacões, eu até havia lido algumas fá­bulas ciganas para as crianças. Aliás, acabo de me lem­brar de uma história que vem bem a calhar, se me per­mitem. Minha família a conta e é sobre uma desavença entre duas tribos rivais ciganas e uma caixa mágica que fez com que um rapaz e uma jovem, cada um membro de uma das tribos oponentes, se apaixonassem. Com o casamento de ambos, a desavença terminou.

—  Está querendo dizer que Boone e Stella pensam em se casar? — bradaram ambos os homens em uníssono.

—  Sim! — respondeu o casal de jovens em questão, falando pela primeira vez.

Floyd e Otis ficaram tão surpresos que os encararam de queixo caído.

— Agora, como Anahi mencionou, nós podemos tanto ficar aqui na cidade e partilhar de nossas vidas com vocês, ou partir e começar vida nova em algum outro lugar. O que preferem? — indagou Boone, seu tom de ultimato, a coragem renovada.

— Bem... eu... — disse Otis, hesitante.

— Ora... vocês... — balbuciou Floyd.

— Meus cumprimentos, cavalheiros! — exclamou Anahi, abraçando os dois homens que haviam perdido a fala de repente. — Tomaram a decisão certa. Pude ver que eram dois senhores sábios tão logo os conheci. — Trocou um aperto de mão efusivo com cada um. —Apenas homens sábios seriam corajosos o bastante para deixar rusgas do passado de lado e tomar suas próprias decisões.

— Do que diabos ela está falando? — perguntou Otis a Floyd.

— Não faço a menor ideia. Você sabe como esse pessoal da cidade grande é.

—  O que, afinal, está acontecendo aqui? — indagou Alfonso da porta de entrada. — Recebi um chamado di­zendo que havia uma confusão qualquer na biblioteca.

—  Não uma confusão, mas um noivado — anunciou Anahi.

— Sim, Alfonso— confirmou Floyd, dando-lhe um tapinha nas costas. — Nos dê os parabéns. Parece que acabamos de encerrar a antiga rixa.

Somente depois que eles saíram, Floyd e Otis acom­panhados de Boone e Stella, rumo ao Hazel`s Place e ao Café Lonesome com as boas novas, foi que Anahi se deu conta da importância pessoal do que acontecera. Ape­sar de todo o berreiro e raiva, ela não entrara em pânico. Sustentara a argumentação com firmeza, retrucando à altura, como nos velhos tempos. Sentia-se tão orgulhosa de si mesma que mal podia se conter de alegria!

—  Gostaria de me explicar o que, afinal, aconteceu aqui? — perguntou Alfonso, admirado.

— Magia.

— É uma boa maneira de descrever a situação. Nunca pensei que chegaria o dia em que eu iria ver aqueles dois no mesmo lugar juntos sem uma discussão acalorada.

— Oh, mas houve uma, sim — confirmou Anahi. — Apenas me certifiquei de vencê-la.

— E como conseguiu esse feito?

— Já se esqueceu? Estou acostumada a lidar com crian­ças rebeldes e problemáticas.

— É como descreve Floyd e Otis?

— Se a carapuça servir...

Para sua surpresa, Alfonso inclinou a cabeça e beijou-a nos lábios. Cada um dos beijos dele era especial, e aquele não foi exceção. Exprimiu com veemência todo o seu or­gulho e paixão.

—  E pelo que foi isso? — perguntou ela, quase sem fôlego.

—  Por você ser como é.