Fanfic: Planos de sedução AyA (Adaptada) | Tema: AyA

— Droga, garota — resmungou para si mesma entre dentes.

— O que disse?

— Nada. Só estava pensando em voz alta.

— É o que acontece quando se passa tempo demais sozinho.

— Não, você não entende. Vim para esta cabana para fazer exatamente isso. Ficar sozinha. É o que preciso no momento.

Poncho observou-a correndo os dedos pelos cabelos lisos com certo nervosismo. Anahi nunca fora do tipo asseguro, nem mesmo quando criança. Sempre fora confiante, voluntariosa, destemida. Puxa, ainda se lembrava da ocasião em que ela invadira a casa que ele e Christopher haviam construído na única árvore no quintal dos fundos da casa dos Portilla. Fora apenas uma menina de uns nove anos na época, um mero bebé em comparação com a sua "avançada" idade de quatorze anos. Mas ela subira te­nazmente pela corda que fornecia o único meio de acesso a casa da árvore. Acabara ficando com as mãos cheias do sangue por causa do atrito da pele com a corda. Sabia que ainda tinha a cicatriz entre o polegar e o indicador... sua marca de coragem, como ela gostara de aclamar nos velhos tempos.

Anahi havia mudado muito desde aquela época. De algum modo, a imagem que sempre guardara dela em sua mente fora a de uma adolescente travessa, uma ale­gre moleca. Agora, estava diante de uma mulher... uma bastante atraente, por sinal. Tinha uma estranha sen­sação quando a fitava...

— Por que está me encarando desse jeito? — perguntou Anahi, inquieta.

—  Eu só estava pensando naquela vez em que você "se convidou" a subir na nossa casa secreta na árvore. Lembra-se?

— Sim. — Ela olhou para a pequena cicatriz na mão, para sua "marca de coragem". Ainda estava lá, zombando de-seu medo atual. Agora, havia outra cicatriz em contrapartida, a quase imperceptível na base de sua gar­ganta, causada pela faca, além de uma bem mais pro­funda e invisível que lhe marcava a alma.

Perdera bem mais do que os treze dólares que tivera na carteira naquele dia em que fora atacada. Perdera sua coragem...

Não acontecera imediatamente. Na ocasião, uma de suas maiores preocupações fora a de certificar-se que nin­guém na polícia comentasse o ocorrido com seu irmão, que ainda mantinha alguns contatos dos tempos da aca­demia. Na volta da delegacia para casa naquela noite, depois do ataque, bloqueara aquilo tudo de sua mente com determinação. A princípio, pensara ter conseguido.

Mas então, vira o fatídico noticiário no dia seguinte. O horror sufocara-lhe a garganta, e as lágrimas tinham começado. Cerrara os dentes e voltara ao trabalho na outra manhã, porém fora tomada por um gélido terror assim que entrara na sala de aula. Não fora capaz de falar, nem/de se mover. Pela primeira vez em sua vida, experimentara os paralisantes efeitos do medo.

Alheio aos pensamentos dela, Poncho dizia:

— Você não temia nada naqueles tempos. — Seu tom de aprovação era claro.

Anahi sabia que ali estava um homem que valori­zava a coragem. Apenas gostaria de não ter perdido a sua... De qualquer modo, continuava com seu orgulho intacto. Não iria deixá-lo saber sobre o quanto estava apavorada; não queria a simpatia, nem da piedade dele. Precisava fazê-lo ir embora.

— Eu adoraria conversar sobre os velhos tempos com você, mas estava planejando começar a preparar o jantar e...

— Otimo. Ainda não jantei.

— Não tenho comida suficiente para dois.

— Então, podemos ir até a minha cabana. Tenho mais do que o bastante lá.

Ela sacudiu a cabeça com veemência.

— Não quero sair.

—Tudo bem. Trarei a comida aqui. Não a vejo há muitos anos. Será agradável colocarmos as novidades em dia.

Agradável seria beijá-lo... Mal o pensamento rebelde surgiu na mente de Anahi, tratou de afastá-lo de imediato. o que diabos estava lhe acontecendo? Já não tinha pro­blemas o suficiente com os seus pesadelos e temores? Ainda precisava ficar toda desconcertada por causa de um homem por quem nutrira uma paixão adolescente? Um homem que sempre a tratara como uma irmã mais nova.

— Faço um molho de espaguete irresistível — declarou Poncho, o charmoso sotaque sulista soando sedutor aos ou vidos dela.

— Não duvido, mas...

— Volto daqui a pouco com todos 0s ingredientes.

Ele se fora antes que Anahi pudesse protestar. Ao menos Poncho saíra antes que bancasse a tola.

Mas estaria de volta logo e, portanto, seria melhor estar preparada para enfrentá-lo. Ela duvidava, porém, que houvesse algum meio de se preparar emocionalmente para lidar com um homem que representava um perigo ainda maior para sua já abalada paz de espírito.

Poncho planejara apenas passar rapidamente pela ca­bana para ver como Anahi estava e nada mais. Não sabia o que o fizera insistir para jantarem juntos. Talvez tivesse sido por causa das sombras que vira naqueles grandes olhos castanhos... olhos que sempre haviam es­tado repletos de vivacidade, segundo se lembrava. Claro, muito tempo havia se passado desde então.

Anahi devia estar com... trinta anos agora. Sim, pois ele próprio acabara de completar trinta e cinco. Puxa, nem se dera conta de como o tempo se fora tão depressa. Planejara manter sempre contato com Christopher em Chi­cago, mas tudo que tivera chance de fazer fora mandar um cartão de Natal na maioria dos anos, ou vê-lo nas raras vezes que podia aparecer ali. Lamentava, de fato, não ter conseguido ir ao casamento do amigo.

Também lamentava ter manifestado sua preocupação de maneira tão desajeitada, dizendo a Anahi que es­tava péssima. Não era do seu feitio. Não a culpava por ter ficado tão zangada. Vira, porém, a dor velada naqueles olhos e quisera ajudar.

O que poderia ter causado aquela mudança em Anahi? Por que teria saído da festa de casamento do irmão, na noite anterior, diretamente para uma cabana isolada nas montanhas? Christopher, absorto demais pela atual fe­licidade, não tivera nenhuma resposta. Mas Poncho pla­nejava obtê-las, porque não poderia ajudá-la até que sou­besse o que andara acontecendo.

E presumo que o fato de ela ser uma mulher atraente não tem nada a ver com sua vontade de bancar o bom samaritano, disse-lhe uma voz zombeteira em sua mente.

— Ela não era assim tão atraente — murmurou, en­trando na própria cabana.

Ora, e agora você está "pensando em voz alta", exatamente como ela fez. E se a mulher não fosse assim tão atraente, então por que você sentiria um impacto quase físico quando a olha?

—  Isso era fome — resmungou, enquanto reunia os mantimentos necessários na sua cozinha.

Anahi era apenas a irmã de um velho amigo, e seus motivos para querer certificar-se de que ela estava bem eram meramente humanitários. Essa era a sua história, e a manteria até o fim, como ele e Christopher costumavam dizer.