Fanfic: Planos de sedução AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Anahi passou os primeiros dez minutos depois que Poncho saíra tratando de ficar mais apresentável. Uma rápida chuveirada e a troca de roupas ajudou bastante. Não houve tempo para lavar os cabelos, mas bastou es­cová-los vigorosamente para que ficassem brilhantes. Como fossem de textura fina e muito lisos, usava-os num corte simples, num comprimento semilongo, com uma franja falsa desfiada. Era um estilo prático e versátil.

Duas gotinhas de perfume depois, tornou a se colocar diante do espelho e aplicou uma maquiagem suave. Você é uma boa atriz — disse para seu reflexo.

Assim, trate de desempenhar um papel impecável nesta noite.

Tinha que reconhecer que fora capaz de se esquivar das perguntas de Poncho por enquanto, porém algo lhe de o que ele não desistiria tão facilmente de lhe arrancar alguma informação da próxima vez. Com sua típica determinação, na certa a cercaria de todos os lados até descobrir o que estava errado. Era bem parecido com Christopher nesse aspecto.

Para sua sorte, o irmão estivera distraído demais pelos acontecimentos na própria vida na época em que ela fora atacada. Estivera empenhado para manter a custódia de Hope, a criança pequena que fora abandonada e deixada com Dulce antes que ambos se casassem. Sim, Christopher andara muito ocupado e essa fora a única razão de não ter lhe feito um interrogatório até lhe arrancar o verdadeiro motivo de querer ficar isolada na cabana, assim repentinamente. Em vez disso, apenas a deixara agir conforme sua vontade.

Poncho, por sua vez, já não seria tão fácil de convencer. Portanto, seria melhor estar com uma história plausível na ponta da língua quando ele voltasse, pois ali estava um homem que podia farejar um mistério a quilómetros de distância.

— Está bem, eu admito, você faz mesmo um molho de espaguete irresistível — declarou Anahi, passando a ponta da língua pelo lábio.

Poncho estudava-a com um olhar que lembrava o de um falcão atento no alto de uma ravina. Ela notara a maneira como a estivera observando desde que voltara à cabana, mas era impossível adivinhar-lhe o rumo dos pensamentos. De sua parte, mantivera-se deliberadamente jovial, contando-lhe sobre algumas das pessoas da antiga vizinhança de ambos em Chicago.

— Puxa, é difícil de acreditar que Joey del Greco seja padre agora — comentou Poncho, sacudindo a cabeça. — Da última vez que o vi, ele ainda roubava maçãs da árvores dos Jablonskis.

— A árvore não existe mais, e os Jablonskis se mu­daram há muito.

— É engraçado como imaginamos as coisas e as pessoas da maneira como eram quando as vimos pela última vez. Como você. Ainda a vejo com aquele boné branco de beisebol.

— Ainda o uso quando os cabelos estão num dia ruim —  retrucou ela, secamente. — E quanto a seus pais? Como têm passado?

— Bem. Eles se aposentaram e vivem na Flórida agora. Têm um belo apartamento num condomínio fechado em Sarasota.

—  Seu pai ainda é um fã inveterado dos Cubs, imagino eu.

—  Pode apostar que sim. E os seus pais, como vão? Seu pai ainda faz aquelas previsões do tempo ciganas que impressionavam todo mundo na vizinhança?

— Sem dúvida. E continua mais certeiro do que qual­quer previsão na tevê.

— Lembro-me bem das ocasiões em que ele levava Christopher e eu para pescar, dos churrascos no fundo do quintal, das nossas confraternizações no Natal e tantas outras coi­sas. Tivemos todos bons tempos juntos, não foi?

— Sim, tivemos — concordou ela, com um sorriso sau­doso. Quando criança, o mundo parecera-lhe ao alcance da mão. Fora a única menina na família, tendo um irmão mais velho e outro mais novo. A presença protetora deles a ajudara a enfrentar os percalços normais da vida. Mas somente até agora. A situação atual era um dos obstáculos que teria que vencer sozinha. Não queria deixá-los saber quando estava frágil e confusa, não iria desapontá-los. Se Poncho percebesse o quanto ainda estava abalada, em dúvida contaria a Christopher.

Encontrando os perscrutadores olhos verdes que a fitavam mais uma vez, desviou os pensamentos e optou por um assunto neutro.

— Sabe, estava para lhe perguntar antes, mas acabei esquecendo. Conhece alguém que talvez tenha perdido uma gata cinzenta com dois filhotes? Apareceram aqui hoje de tarde e lhes dei comida.

— Não, não ouvi falar de ninguém que tivesse perdido algum gato nesta área. Não devem ter dono.

— Precisam de alguém que cuide deles.

É você também, pensou Poncho, estudando-a com um olhar intenso. Anahi estivera mais revirando o espa­guete no prato do que realmente comendo. Será que pen­sava que ele não notaria? Acharia que o estava convencendo com aquela alegria forçada?