Fanfics Brasil - 01 Laços de Vingança [Adaptado] -FINALIZADA-

Fanfic: Laços de Vingança [Adaptado] -FINALIZADA- | Tema: Portiñon


Capítulo: 01

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Anahí estava junto da janela de vidro, imóvel como uma estátua. Seus grandes olhos verdes ardiam, e todos os músculos do corpo acusavam a tensão acumulada por doze horas. Somente a disciplina rígida com que fora educada possibilitava o controle da exaustão. Havia sido uma longa noite e um amanhecer devastador. E cada minuto de agonia havia sido gravado para sempre em sua alma. A enfermeira que a acompanhava agora debruçou-se sobre o berço de seu sobrinho recém nascido e mostrou-o com um sorriso amplo.
Provavelmente não sabia, Anahí pensou entorpecida, olhando para a moça com o rosto inexpressivo, os músculos congelados numa máscara. Então, ela deixou de sorrir, mas Anahí não notou. Sua atenção era toda para o sobrinho, um bebê de cabelos negros e olhos muito escuros.
Não havia nada de Samantha nele. Era moreno como os habitantes do Mediterrâneo, a ascendência estrangeira claramente estampada nos traços. E estava chorando. Parecia tão infeliz! Anahí imaginou-se, de alguma forma estranha e inexplicável, ele sabia que a mãe estava morta. Morta. Ela encolheu-se involuntariamente ao pensar na palavra e começou a caminhar muito devagar pelo corredor, já quase sem forças para sustentá-la.
Nos dias de hoje as mulheres já não morriam de parto. Pelo menos era o que ela imaginava. E Samantha ainda não era sequer uma mulher na opinião da irmã. Aos dezoito anos, ainda estava tentando atravessar a fronteira entre a infância e a idade adulta. Uma menina de ouro, bela, inteligente e tudo mais que uma jovem pode desejar... Até Alex Terzakis entrar em sua vida e destruí-la. Uma imensa amargura a invadiu. Era uma emoção tão intensa que chegava a amedrontá-la.

- Srta. Hartwell...


O som daquela voz a fez parar. O sotaque carregado era como um peso sobre seu peito. Devagar, Anahí ergueu a cabeça e a viu parada a alguns passos de distância. Uma mulher impossível de se ignorar. Devia ter mais de um metro e oitenta, e o blazer bem cortado emoldurava músculos definidos e ombros largos. O tecido falava de riqueza. Ela possuía a graça natural e perigosa de um animal selvagem e a autoridade ameaçadora de uma mulher nascida para comandar.
Incrédula, Anahí a viu estender a mão morena.

- Por favor, permita-me oferecer minhas mais sinceras condolências pela morte trágica de sua irmã.

Anahí retrocedeu um passo, enojada pela ameaça de qualquer espécie de contato físico.

- O que está fazendo aqui? - perguntou com voz trêmula.
- Você deixou um recado urgente com minha secretária.
- Samantha me fez telefonar, mas eu não pedi que viesse, Srta. Terzakis. Pedi a presença de seu irmão.
- Alex está na Grécia. - Dulce a encarava com olhos negros e frios como uma noite de
inverno. - Já o informei sobre a morte de sua irmã, e ele está profundamente consternado.

Um riso histérico brotou da garganta de Anahí.

- É mesmo? - ela perguntou entre a ironia e a incredulidade.
- Gostaria de ver meu sobrinho - Dulce respondeu, ignorando a demonstração de hostilidade.
- Não! - Anahí reagiu com violência. Odiava Dulce Terzakis como jamais odiara outro ser humano, e seu ódio havia sido nutrido durante vários meses. Agora o sentimento era como um câncer a devorá-la, consumindo todas as outras emoções.
- Você não tem mais direitos que eu...
- Direitos? - ela repetiu ultrajada. - Ainda se atreve a falar de direitos depois do que fez a Samantha? Você não tem nenhum direito sobre o filho de minha irmã!
- Você está perturbada - Dulce constatou com tom calmo, apesar da tensão evidente.


Anahí sabia que as pessoas não falavam com Dulce Terzakis dessa maneira. Era uma mulher fabulosamente rica e poderosa. Sua família fazia apenas aquilo que ela determinava, e sua palavra era lei. Não esperava oposição. A mídia sempre publicava histórias terríveis sobre os tolos que ousavam desafiá-la nos negócios. Mas Anahí não tinha medo. Daria vinte anos de sua vida para ter o poder de ferir Dulce Terzakis como ela havia ferido sua irmã.

- Você a matou... Assassinou-a friamente. Espero que agora esteja satisfeita! - Anahí a acusou.
- Srta. Hartwell - Dulce chamou, segurando-a pelo pulso ao perceber que ela pretendia dar-lhe as costas.
- Tire a mão de mim, sua porca!
- Não fosse por seu evidente estado de desequilíbrio e pela dor que a dilacera, eu exigiria um pedido de desculpas. Componha-se, antes que eu perca a paciência!

Furiosa, abalada com o contato físico e com o olhar penetrante da grega, Anahí a esbofeteou sem pensar nas conseqüências de sua atitude. Dulce a soltou e emitiu uma exclamação incrédula enquanto levava uma das mãos ao rosto.

- Nunca mais se aproxime de mim! - ela disparou, assustada com a própria violência. Jamais havia agredido alguém antes!

Sem esperar para saber qual seria a reação de Terzakis, ela atravessou o corredor e deixou o hospital.
Estava tão profundamente chocada que não sabia sequer para onde ir. Samantha estava morta.
Ainda não conseguira aceitar tão dura realidade. Seus pais haviam morrido num acidente automobilístico quando Anahí tinha dezessete anos. Não tinham nenhum dinheiro, e Samantha era apenas uma menina de onze anos.

- Cuide de Samantha - sua mãe havia repetido várias vezes antes de morrer. Mary Hartwell ainda repetia o nome da filha caçula quando fora interrompida pelo último suspiro.


Anahí deixara a escola, desistira de qualquer tipo de investimento no próprio futuro e passara a preocupar-se com as necessidades da irmã. Convencera a prima de seu pai a aceitá-las em sua casa e, com Gina por perto, as autoridades do serviço social desistiram de levar Samantha. Anahí havia trabalhado como garçonete. Todos os dias, quando voltava para casa, ainda tinha de cozinhar, lavar, passar e cuidar de todas as tarefas domésticas de Gina, que a tratava como uma empregada barata e, como se não bastasse, ainda ficava com quase todo o dinheiro que Anahí ganhava servindo as mesas de um bar.
Assim que completara dezoito anos, Anahí havia encontrado outras acomodações. Fizera o possível para dar à irmã um lar repleto de amor e segurança, transformando-a em sua prioridade absoluta. E Samantha aproveitara. Loira, dona de pernas longas e bem torneadas, ela lembrava a beleza das garotas da Califórnia. E Anahí não podia deixar de sentir orgulho. Não fora fácil fazer a irmã extrovertida e cheia de vida concentrar-se na necessidade de estudar e trabalhar para progredir num mundo tão competitivo.
Mas Anahí havia conseguido. Samantha concluíra o colégio com notas excelentes e fora para a universidade estudar idiomas. Anahí sentira o orgulho que qualquer mãe teria experimentado, e conseguira outro emprego no horário noturno para impedir que a irmã passasse qualquer tipo de privação. Tudo havia sido perfeito antes de Alex Terzakis aparecer.

- Conheci um grego fabuloso! - Samantha anunciara ao telefone. - Ele é lindo, rico e louco por mim...
- Parece bom demais para ser verdade - Anahí murmurara hesitante, desconcertada com o entusiasmo da irmã. Seus namorados costumavam aparecer e desaparecer em seguida sem que ela fizesse qualquer comentário sobre eles. Linda desde o início da adolescência, Samantha conquistara dezenas de rapazes.
- Vou levá-lo para conhecê-la em breve - Samantha havia prometido.


 


Mas semanas se passaram antes que Anahí finalmente pudesse conhecer Alex, um jovem de vinte e cinco anos, de uma beleza quase infantil e de um charme descuidado. Seus olhos castanhos e brilhantes acompanhavam cada movimento de Samantha, e ele falara com Anahí como se estivesse diante da mãe da namorada, e não da irmã mais velha.
Alex não poupara esforços para convencê-la de suas boas intenções. Segurando a mão de Samantha, ele dissera:

- Amo sua irmã, e quero me casar com ela. - Apesar do sorriso gentil, Anahí sentira-se assustada.

Samantha era jovem demais para assumir um compromisso tão sério! Temera que a irmã abandonasse os estudos, ou que permitisse que o romance prejudicasse seu rendimento na universidade. Mas, com a sensatez que sempre guiara seus passos, não havia demonstrado suas preocupações. Ao menor sinal de oposição, Samantha certamente rebelaria-se. Conhecia a teimosia da irmã, e aprendera desde cedo a convencê-la através do tato e da diplomacia.

- É claro que só pretendemos nos casar no futuro - Alex acrescentara.
- Uma decisão de bom senso - Anahí sorrira aliviada. – Vocês têm todo o tempo do mundo.
- Não me venha com essa história de futuro! - Samantha irritara-se.
- Mas nós já discutimos esse assunto, Samantha mou - Alex protestara, antes de dirigir-se novamente a Anahí. – Nosso amor terá de resistir ao teste do tempo, ou não terei o consentimento da minha irmã.
- Da sua irmã? - Anahí surpreendera-se.
- Famílias gregas funcionam como hierarquias rígidas - Samantha explicara. – No topo da pirâmide há sempre o mais sábio. O pai de Alex morreu, e sua irmã Dulce é a grande cacique da tribo Terzakis.

Alex encarou-a com ar de reprovação, o rosto tingido por um rubor intenso.


- Acho que não devia fazer piadas com a família de Alex - Anahí a repreendera enquanto preparavam o jantar na pequena cozinha. - Ele ficou ofendido.
- Bobagem! Ele é um homem adulto, tem um emprego e responsabilidades, mas quando fala sobre a irmã, é como se voltasse a ser um garoto. Ele nunca pára de falar sobre ela. Dulce
isso, Dulce aquilo... E como se Dulce fosse Deus na vida dele.

- Alex é grego. Sua cultura, sua formação e sua criação devem ser muito diferentes daquilo que conhecemos. Se realmente o ama, Samantha, vai ter de aceitar tudo isso.

Anahí retornou do passado e descobriu-se num banco do parque próximo ao hospital. E pensar que chegara a sentir-se aliviada ao ouvir Alex mencionar a necessidade de obter o consentimento da irmã para se casar!
Os sinais de alarme só ecoaram em sua mente no dia em que vira o nome Terzakis no noticiário noturno e vira uma mulher de beleza impressionante cercada por executivos e câmeras, recusando-se a comentar a aquisição de uma certa companhia em Nova York. No dia seguinte comprara um jornal e lera tudo sobre Dulce Terzakis com crescente apreensão. Naquela noite havia telefonado para Samantha solicitando sua presença em casa.

- Você disse que Alex estava administrando o hotel da família em Oxford – Anahí recordara. - Mas não disse que os Terzakis eram bilionários!
- Dulce é bilionária. - Samantha corrigira. - Alex só tem o que leva no bolso.
- Pensei que Alex pertencesse a uma família de hoteleiros...
- Anahí, pelo amor de Deus! Não lê as colunas comerciais? A família de Alex possui uma linha de navegação, uma cadeia internacional de hotéis, fábricas, corretoras financeiras... Eles estão em todos os ramos que puder imaginar.


Anahí ficara perturbada. Não havia percebido que o namorado da irmã fazia parte de uma família tão rica. Alex parecera tão simples! Naquela noite, quando os três conversaram em sua sala de estar, Samantha mencionara seu emprego de secretária e abandonara o assunto rapidamente.
Na verdade, Anahí era apenas auxiliar de arquivo num grande escritório, e não conseguira progredir porque, dividida entre dois empregos, não havia tido tempo para freqüentar cursos noturnos e aprimorar seus conhecimentos. Passara quase todas as noites dos últimos sete anos servindo mesas ou fazendo faxina para conseguir algum dinheiro extra.
Naquela noite em que conhecera Alex, tentara não sentir-se magoada ao ouvir a irmã pedindo que não revelasse essas últimas fontes de renda. Samantha ficava embaraçada com os subempregos da irmã mais velha, e Anahí a compreendia. Samantha sempre quisera ser alguém, e sua segurança fora despertada quando, na universidade, passara a conviver com jovens provenientes de lares mais confortáveis e estáveis que os dela. Sempre havia escondido que a origem de suas roupas, modernas, porém baratas, eram as faxinas que a irmã mais velha costumava fazer em prédios comerciais depois do horário de expediente.


E agora Samantha se fora. Anahí levou as mãos trêmulas ao rosto como se o gesto pudesse conter a angústia que a devorava por dentro. Não conseguia imaginar a vida sem Samantha. Samantha e sua energia exuberante, sua alegria envolvente e seu temperamento explosivo. Era seis anos mais velha que a irmã. Criança quieta e solitária, Anahí encantara os pais com sua generosidade, não demonstrando qualquer sinal de ciúmes com a chegada da irmã. Fascinada com a pequena, lera incontáveis histórias, levantara-a de muitos tombos, ensinara canções infantis antes que ela fosse para a escola e mais tarde, a ajudara com as lições. Os pais trabalhavam fora, e Anahí preenchera sua vida com a irmã.

- Srta. Hartwell.

Anahí ergueu a cabeça e, incrédula, reconheceu Dulce Terzakis.

- Permita que eu a leve para casa - ela pediu com tom neutro.


Anahí explodiu num ataque de riso histérico e cobriu o rosto com as mãos. Que tipo de bárbara era ela? Não tinha sequer o discernimento para deixá-la em paz com sua dor? Apenas algumas horas haviam se passado desde que fora arrancada da cabeceira de sua irmã para que os médicos tentassem reanimá-la. Fora tudo muito rápido, mas a eficiência da equipe não conseguiu evitar que Samantha perdesse a batalha para um infarto dias antes de completar dezenove anos. Devastada, Anahí ouvira a explicação da obstetra com crescente espanto.
No início da gravidez, Samantha fora prevenida sobre sua condição cardíaca. Exames de rotina revelaram o que ninguém jamais imaginara, mas ela recusara-se a se submeter ao aborto aconselhado pela médica. Também não comentara o assunto com a irmã. Anahí havia estranhado a freqüência das consultas durante o pré-natal, mas não imaginara que pudesse haver algum problema tão sério.

- Samantha estava absolutamente decidida a ter o bebe - a obstetra dissera. - Foi uma decisão pessoal, e é provável que ela tenha preferido esconder a verdade para não ter de ouvir seus conselhos.

- Srta. Hartwell - Dulce insistiu com impaciência. Por que ela não ia embora? Por que não a deixava em paz com seu sofrimento? - Não posso deixá-la aqui nessas condições - ela prosseguiu, como se lesse seus pensamentos. - Quero deixá-la em casa, e depois irei tomar todas as providências com relação ao funeral e...
- Sua... Selvagem! Não permitiu que ela se casasse com seu irmão, mas mal pode esperar para enterrá-la!


- Não pretendo ficar aqui ouvindo insultos num local público.
- Então já sabe o que deve fazer, não? Desapareça!
- Se não fosse uma mulher... - ela ameaçou, avançando alguns passos em sua direção.
- Você já estaria morta. Se eu fosse um homem, teria feito você pagar pelo que fez com Samantha em seu escritório há cinco meses.
- Só estava tentando oferecer apoio num momento difícil para todos nós - ela encolheu os ombros, virando-se para partir.

Só então Anahí foi atingida pelo impacto da realidade. Samantha havia partido para sempre, e ela ainda não derrubara uma única lágrima. Seus olhos haviam queimado como brasas, mas permaneceram secos. E agora as lágrimas corriam numa torrente silenciosa, varrendo seu rosto e provocando uma mistura de alívio e tristeza. Felizmente não havia chorado diante dela.

- Aposto que não adivinha quem acabou de chegar - Gina, com o rosto gorducho iluminado pela curiosidade, cutucou Anahí pouco depois da cerimônia religiosa ter começado. - São eles... Aposto que sim. Quem mais poderia ser?
- Psiu - Anahí a censurou de cabeça baixa, tentando acompanhar a primeira oração.

Dulce e Alex Terzakis. A visão dos dois atingiu-a como um soco no estômago. Pálida e ultrajada, Anahí considerou a presença dos irmãos uma ofensa à memória de Samantha. Como atreviam-se a chorar a morte de sua irmã, se haviam transformado seus últimos meses de vida num inferno?
Alex olhava para o chão. Estava mais magro, e parecia mais velho do que se lembrava.

- Uma atitude decente da parte deles - Gina cochichou. Uma mulher de mais de quarenta anos e bastante robusta, ela sempre falava demais.


Terminado o serviço, as pessoas começaram a partir, e todos aproximavam-se para cumprimentar Anahí. Eram todos jovens, amigos de Samantha da época de colégio. Ninguém da universidade. Samantha abandonara os estudos meses antes, sem conservar uma única amizade. Sem aviso prévio, Gina afastou-se de Anahí e aproximou-se dos irmãos Terzakis. Furiosa, Anahí acompanhou o pastor e despediu-se dele ao lado do carro de Gina.
Com asco notou a limusine de vidros escuros e o motorista que aguardava do lado de fora. Não pudera pagar sequer um carro funerário. Mas coisas desse tipo não tinham importância, ela recordou com tristeza. Agora tinha de conservar cada centavo de seu dinheiro para o sobrinho.

- Vou chamá-lo de Nikos, o mesmo nome do pai de Alex - Samantha anunciara meses antes, depois de descobrir o sexo do bebê através de uma ultra-sonografia. - Alex não será capaz de manter-se afastado - ela previra, a mão sobre o ventre arredondado. - Quando souber que nosso filho é um menino...

Anahí surpreendera-se com a ingenuidade da irmã, capaz de ainda acreditar num homem que a abandonara com um filho no ventre. Depois de tudo que havia acontecido, não pudera compreender como Samantha ainda alimentava esperanças, e temera o momento em que, com o filho nos braços, sua irmã tivesse de enfrentar a dura realidade. Alex era um fraco dominado pela irmã mais velha, e a ameaça de ser deserdado e esquecido pela família fora o bastante para que ele desistisse do grande amor que dissera sentir por Samantha.
Gina aproximou-se com um sorriso luminoso no rosto redondo e abriu o carro.


- Por que foi falar com eles? - Anahí perguntou em voz baixa.
- Porque você está sendo absolutamente estúpida! Se quer conservar aquele bebê, seja prática. Morda a língua e deixe que eles sustentem vocês dois...
- Prefiro a morte!
- Ele é o pai do pequeno Nicky, não é? Por que não deveria sustentar a criança? Aposto que eles pagariam uma fortuna para manter toda essa história longe dos jornais.
- Gina...
- Precisa ser realista, querida. Você quer o pequeno Nicky. Pessoalmente acho que isso é loucura, mas você sempre foi o tipo maternal, mesmo quando ainda era pouco mais que uma criança. Portanto, fique com ele, eduque-o, e faça esses dois pagarem caro por isso.
- Não quero nada deles!
- Se não aceitar o dinheiro dessa família, vai ter de viver de caridade. O serviço social irá atrás de Alex.
- Na Grécia?
- Eles não teriam nenhuma dificuldade para encontrá-lo, teriam?
- Não aceitarei nada deles. Nunca!
- Samantha teria gostado de dar o melhor ao filho. E acho que é hora de admitir que Samantha sabia o que estava fazendo quando engravidou.
- O que disse? - Anahí perguntou com um misto de choque e reprovação.
- Não acredito que tenha sido acidental. Samantha não era descuidada. Ela queria o rapaz, e quando as coisas começaram a escapar de seu controle, ela engravidou. As mulheres usam esse mesmo truque há séculos, querida. Adolescentes são especialmente atraídas pelo método. Infelizmente sua irmã cometeu um erro de cálculo.
- Não concordo - Anahí respondeu, lutando para aparentar uma calma que estava longe de sentir. - Samantha não usou nenhum truque. Alex já havia feito o pedido de casamento, e até comprara um anel de noivado.


- Falar é fácil! Mas onde ele estava quando o navio começou a afundar? Partiu para a Grécia e Samantha nunca mais voltou a vê-lo. Ele sequer respondeu as cartas. O canalha! Enterraria esses dois no meu quintal com o maior prazer, não fosse pelo pequeno Nicky. E pela beleza da Terzakis mais velha, é claro.

Uma vizinha havia ficado com Nicky para que as duas pudessem ir ao funeral, e Anahí subiu a escada correndo para ir vê-lo. O bebê dormia tranqüilo no berço. Trouxera-o do hospital no dia anterior, e já sentia um profundo amor pela criança. Enquanto o fitava com os olhos cheios de lágrimas, Anahí sentiu vontade de tomá-lo nos braços. Mesmo nas horas mais dolorosas, aprendera a agradecer a Deus pela bênção que era o filho de Samantha. Sentia-se necessária mais uma vez, e isso a fortalecia.
Gina estava do lado do fora quando ela saiu do quarto.

- Se ficar com essa criança, nunca mais terá vida própria. Não acha que já sacrificou o bastante por Samantha?
- Do que está falando?
- Você tem apenas vinte e quatro anos e já parece uma tia solteirona. - Gina olhou para os cabelos dourados presos numa severa trança, o rosto desprovido de maquiagem e a roupa escura que já havia conhecido dias melhores. - Nunca quis ter um homem em sua vida?

Anahí riu. Odiava quando Gina falava dos homens como se eles fossem o início, o meio e o fim da vida de uma mulher. Durante a adolescência, fora tímida e retraída, e depois de adulta nunca tivera tempo ou oportunidade para aproximar-se do sexo oposto. Saíra com alguns colegas de trabalho, mas logo descobrira que eles não estavam interessados em sua companhia. Só queriam sexo.


Ainda lembrava a experiência dolorosa e humilhante com o único rapaz por quem apaixonara-se, aos dezesseis anos. Ele a convidara para ir a um baile e ela aceitara imediatamente, mas sua felicidade terminara no banheiro feminino da escola, onde ouvira algumas garotas comentando sobre uma certa aposta... As palavras ainda permaneciam gravadas em sua memória.


- Anahí...


Anahí voltou ao presente com um sobressalto. Gina pousou a mão em seu braço com ar sério.


- Convidei Dulce e Alex Terzakis para uma visita.


- Você o quê?!


- Bem, alguém tinha de fazer isso. Você agiu como se eles não estivessem lá!


- Se eles entrarem, eu saio - Anahí prometeu veemente.


- Anahí, o que deu em você nesses últimos meses? Parece possuída por um estranho...


- Não há nada errado comigo - ela respondeu enquanto descia a escada.


- Você costumava ser bondosa, gentil, mas vem mudando desde que Samantha revelou que estava grávida. Sei o quanto a amava, e posso entender o que está sentindo...


- Não pode.


- O rapaz deve querer ver o filho.


- Se Alex quiser ver Nicky, ele que providencie uma ordem judicial. Lutarei contra eles com todas as armas possíveis.


- Mas eles virão até aqui!


- Pois que venham!


A campainha tocou um minuto depois, e Gina encarou-a com ar de súplica antes de ir para a cozinha. Anahí ergueu os ombros e foi abrir a porta. Dulce Terzakis estava parada na soleira, sozinha.


- Não a convidei para vir aqui. Você não é bem-vinda - Anahí disparou.


Uma poderosa mão a impediu de fechar a porta, e a violência do gesto a surpreendeu.


Aproveitando a hesitação momentânea, Dulce entrou e fechou a porta.


- Agora vamos conversar - ela anunciou.


Como não era fisicamente capaz de expulsá-la da casa, Anahí preferiu dirigir-se à sala de estar antes que ela tomasse a iniciativa.


- Francamente, Srta. Terzakis, não temos nada a discutir. Onde está o pequeno canalha?


- Pequeno canalha?


- O irmão caçula, o fantoche.


- Você é a mulher mais venenosa que já conheci. Não sabe como gostaria de cortar essa sua língua ferina.


Anahí riu pela primeira vez em dias. Alex sempre havia dito que a irmã era um bloco de gelo, mas agora era como se estivesse diante de um vulcão prestes a entrar em erupção.


- Meu Deus! - Dulce exclamou. - No dia do funeral! Não tem nenhum sentimento decente?


- Os mesmos que você teve quando chamou minha irmã de prostituta barata há cinco meses.


- Não empreguei esse vocabulário ofensivo.


- Você disse que ela estava interessada no dinheiro de seu irmão e que dormia com todos os homens que conhecia. Qual é a diferença?


- Não acreditei que ela estivesse grávida.


- Quero que saia daqui imediatamente. Você não tem nada a fazer nesta casa.


- Meu irmão está muito envergonhado para encará-la...


Anahí estava começando a divertir-se. As duas últimas admissões pareciam ter sido arrancadas de Dulce a ferro, tal a angústia estampada em seu rosto. O caçula era um fracote, um canalha desonesto, e isso a ofendia infinitamente. Dulce estava sendo obrigada a lidar com uma mulher que desprezava numa situação sobre a qual não tinha controle, e isso a fazia sentir-se muito mais segura.


Ela estava em sua casa para comprar silêncio.


Para comprar o silêncio dela. Talvez tivesse medo de que ela fosse aos jornais para contar a história suja protagonizada por Samantha e Alex. Uma jovem adolescente pobre e ingênua enganada pelo milionário grego que a abandona assim que consegue o que quer. E como se não bastasse, a jovem é ameaçada por advogados poderosos que lhe oferecem dinheiro para desaparecer e esquecer que um dia conheceu alguém chamado Terzakis!


Anahí sentiu-se enojada. Era uma história terrível, que transformava-se em tragédia quando se descobria o quanto Samantha amara esse rapaz. Até o fim... Lágrimas queimavam seus olhos, mas ela conseguiu contê-las.


- Se Alex pudesse trazê-la de volta à vida, sem dúvida ele a traria - Dulce comentou com tom neutro, recuperando a postura com rapidez espantadora. - Mas isso é impossível. A única coisa que meu irmão pode fazer é cuidar de seu filho e dar a ele a vida a que ele tem direito.


- Dar a ele... - Anahí gaguejou incrédula. - O que está dizendo?


- Naturalmente, Alex quer criar o filho em sua casa, onde é o lugar dele.



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Autor(a): MahSmith

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Anahí precisou de alguns segundos para vencer a incredulidade. Os Terzakis queriam Nicky! Queriam o filho de Samantha! Dulce interpretou o silêncio como encorajamento. - Alex adora crianças. Nikos será muito amado. - Francamente... Não acredito no que estou ouvindo - Anahí confessou tremula. – Não permitiu que seu irm ...



Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 9



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  • tammyuckermann Postado em 06/09/2015 - 01:56:15

    Plmds vc tem q continuar com essa fanfic, escreve mais capítulos e uma segunda temporada com mais de 10 capítulos pffff ameeeii sua fanfic *-*

  • vverg Postado em 30/03/2014 - 21:41:15

    Gostei..pena que foi curtinho.. =)

  • juhdul7 Postado em 29/03/2014 - 13:53:35

    Estou adorando!! Louca pra saber o q vai acontecer!!

  • vverg Postado em 27/03/2014 - 12:13:02

    Estou adorando sua adaptação Mah.. Envolvente esta estória =)

  • vverg Postado em 25/03/2014 - 09:04:05

    Ei Mah essa adaptação está legal hein, eu li parte do livro..rsrsrs

  • beyonceyrihanna Postado em 23/03/2014 - 22:36:29

    Ameeeeei, posta mais :)

  • vverg Postado em 23/03/2014 - 22:12:46

    Estou adorando a fic.. Poste +++ =)

  • du1c3_m4r14 Postado em 23/03/2014 - 16:58:27

    ta muito bom, continua ....

  • night Postado em 23/03/2014 - 10:40:40

    leitora nova posta mas vai ta muito bom mesmo posta mas hoje


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