Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Ucker narrando.

Não há como preparar alguém para certos tipos de coisas. Uma delas é a despedida. Você não pode olhar nos olhos de alguém que ama, de alguém que te ama e dizer que vai morrer dali a algumas horas. Seria horrível lidar com isso sozinho, mas o meu plano era enfrentar mesmo assim.

- Ok, você tá estranho. – Murmurou Dul, enfiando um morango na boca. Ela estava sentada na mesa, com minha camiseta, balançando as pernas nuas no ar enquanto me encarava.

- Tá tudo beleza, amor.

- Eu até engoli esse papo de Poncho ligando às sete da manhã pra andar de skate, mas dizer que tá tudo beleza, isso eu não engulo. – Dul suspirou. – Se abre comigo, amor. Eu conheço você. Melhor do que ninguém. Não tenta esconder as coisas de mim. 

Me aproximei da ruiva, lhe olhando nos olhos. Parei a sua frente, pousando uma mão em sua coxa e outra em seu cabelo. Ela também me encarava, esperando minha resposta.

- Não quero esconder nada de você. – Murmurei.

- Então me conta. O que tá acontecendo?

Engoli em seco e não respondi, o que fez ela prosseguir.

- Você anda distraído, calado, muito áereo. E tá sempre com essa ruga de preocupação no meio da testa. – Dul acariciou minha testa franzida.

Apertei os lábios e mantive o silêncio.

- Vai me fazer perguntar ao Christian? – Insistiu minha ruiva. – Ou obrigar Poncho a me contar? Posso extorquir informações de muita gente, Ucker. Vai ser mais difícil e bem mais cansativo, mas eu vou descobrir.

- Ninguém vai te contar nada. – Toquei seus lábios com o polegar. – É segredo, linda.

- Segredo? – Dul uniu as sobrancelhas. – Pensei que não houvessem segredos entre nós.

Suspirei e passei os dedos pelos cabelos. Eu estava atolado na mer/da. Não podia contar para Dulce que minhas horas estavam contadas, nem dizer que ia morrer e quebrar minha promessa de ficarmos juntos pra sempre. Também não podia fugir e fazê-la ir comigo, largando tudo que tinha aqui, a faculdade, o trampo... Eu não podia ser tão má influência nem interferir dessa forma na vida dela.

Só havia uma opção. A pior de todas.

Podia viver, mas não com ela. Se eu fugisse, não levaria Dul comigo. Não ia colocá-la em perigo dessa forma. Então, tudo na minha mente se encaixou.

- Dul, eu vou embora. – Suspirei, fechando os olhos.

Sim, eu ia. Ia fugir de Compton até que um novo líder dos Blues fosse coroado e esquecessem aquela história de ter minha cabeça em uma bandeja. Eu ia dar uma de covarde, uma de Fernando Saviñon e sumir no mapa até que a poeira abaixasse. Ia ir mais além, ia fazer a vontade de meu pai me unindo a uma gangue de Nova York, me tornando finalmente, o verdadeiro líder dos Hunters. Pelo menos até a paz desse lugar ser reustaurada.

Depois disso, depois que esse caos todo acabasse, eu voltaria para meu lugar, para onde pertencia e rastejaria no chão para que Dul me aceitasse de volta. Talvez ela aceitasse, talvez não. Era um risco que eu iria correr. Um risco que eu precisava correr.

Manteria-me a salvo, Dulce a salvo, e poderia ter uma vida ao lado dela como merecemos. Ia adiar nosso "felizes para sempre", mas teríamos um. Nossa história não terminaria daqui a três dias.

Era a única opção que eu podia escolher naquele momento

- Vai embora pra onde? – Perguntou ela, depois de um longo tempo perdida em pensamentos assim como eu.

- Só vou embora. – Melhor não dizer.

- Por que disse "eu" e não "nós"? Não importa pra onde você vá ou porquê... – Sussurrou ela, com a voz embargada.

- Dul, me escuta. – Segurei firme seu rosto entre minhas mãos. – Há coisas que te prendem aqui. Quanto a mim, não há nada que me impeça de ir embora.

Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela me empurrou, furiosa.

- Como assim não há nada que te impeça de ir embora? – Gritou. – E quanto a mim? Eu não seguro você aqui, Ucker?

Engoli em seco e mantive o olhar tranquilo.

- Para de gritar.

- Ah, agora é a minha vez de acordar o Compton inteiro! – Dul abriu os braços, revoltada. Em seguida, secou as lágrimas que caíram na face.

- Dul, não dificulta as coisas. – Suspirei, tomando coragem. – Vamos tornar tudo mais simples, ok? Vai embora. Por favor.

- Mais simples? – Ela riu ironicamente. – Ok, eu entendi, mais simples. Só se for pra você, Ucker.

Depois, virou as costas pra mim e sumiu, subindo a escada as pressas. Engoli o choro, sabendo que estava fazendo a coisa certa. Era doloroso mentir, fingir que ela não era a coisa mais importante da minha vida. Mas era por uma ótima causa.

Dulce desceu a escada, já vestida e me lançou um olhar, banhado em lágrimas. Era como se me perguntasse "tem certeza do que está fazendo?".

Eu assenti e ela se foi. Com uma enorme parte do meu coração. Provavelmente, a melhor parte.

Não me matem, se acalmem, apenas comentem, amorecos <3