Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Dulce narrando.

Acordei ainda tendo pesadelos com as perguntas de Henry no caminho todo de volta pra casa, era uma merda ter que aturar aquela crise sem fim de ciúmes do meu irmão.

 A claridade do sol invadia meu quarto pela enorme janela, fazendo minha vista doer antes mesmo que eu abrisse os olhos. Me mexi, vendo as cortinas azuis abertas e sabia que minha mãe estava em casa, era um sinal óbvio da presença de dona Blanca. É claro que ela queria que eu acordasse, já devia ser mais de duas horas da tarde.

- Bom dia, mãe. – Murmurei, animada, assim que passei pela porta que ligava a sala e a cozinha, prendendo o cabelo num alto coque.

- Boa tarde né, senhorita? – Ela me encarou por cima do ombro, estava lavando a louça da pia, seu cabelo negro preso num rabo de cavalo baixo e seu corpo pequeno envolvido num casaco de algodão branco.

- Está com frio? – Perguntei, beijando seu rosto. Ela assentiu com a cabeça e fechou a torneira, virando-se pra mim. – Cadê o Henry?

- Acabou de sair, foi pra casa de um amigo. – Mamãe cruzou os braços e me encarou séria. Desviei o olhar, pegando uma maçã vermelhinha na cesta de frutas do centro da mesa, mas assim que a envolvi com a mão, senti um tapa de leve em meu braço. – Largue isso, vai almoçar. A comida já deve estar esfriando.

- Por que não foi trabalhar hoje? – Soltei a maçã e me direcionei ao fogão. Além de ser escravizada de segunda a sexta no mercado do bairro vizinho, minha mãe arrumava bicos de doméstica aos fins de semana. Ela dizia que era diarista, eu dizia que era trabalho servil.

- A mulher cancelou a faxina mais cedo. – Disse, dando de ombros. – Precisamos conversar, Dulce.

- Estamos conversando. – Rebati, rindo e revirando os olhos.

- Filha, que história é essa de você estar se envolvendo com um vagabundo da rua de trás? – Perguntou mamãe, bem direta. Seu tom era preocupado, mas eu sabia que ela estava tentando me dar uma bronca.

- Nossa, como o Henry é dedo duro. – Resmunguei, entredentes.

- Ele veio me alertar, querida. Seu irmão quer o seu bem.

- Relaxa, mãe. Eu juro pra você que não tem nada demais, Henry vê maldade em tudo. Era apenas... um amigo da Annie. E estava se apresentando. Só. – Engoli em seco ao mentir pra ela, odiava isso. Eu e minha mãe não precisávamos esconder as coisas uma das outras.

- Dulce, nós ja conversamos.

- Eu sei, você, o papai, o Henry... Todos já falaram a mesma coisa pra mim desde que eu tinha, sei lá, dois anos de idade? – Cruzei os braços, encarando a afeição cansada e preocupada dela. – Eu já entendi.

Peguei a maçã dentro do cesto e saí, caminhando até a porta. Tinha perdido completamente a fome, aquele alerta de não me envolver com certos tipos de gente era antigo, acho que mais do que eu. Eu só me lembrava disso a vida inteira sendo dito pra mim, parecia uma bela de uma maldição.

Caminhei em passos rápidos de volta pro meu quarto e me joguei na cama bagunçada, pegando o celular embaixo do travesseiro. Olhei e não acreditei. Tive que desbloquear a tela pra ter certeza que Annie tinha mesmo me ligado sete vezes e me mandando nove mensagens. Quanta afobação pra dizer que me esperava duas horas na casa dela.

Opa, acho que estava atrasada. Olhei para o relógio e antes de saltar da cama, dei uma olhada na última mensagem recebida, que dizia exatamente assim: “Se a vida te der algo azedo como um limão, você tem que chupar. Mas e se ela decide te dar algo doce como Christopher, o que você deve fazer com ele? Bom, pelo menos enquanto chupa, não fará careta”.

Não contive a gargalhada alta enquanto corria para o banheiro me arrumar. Essa loira realmente não prestava. Annie sabia que no ditado certo, quando a vida te da um limão, você tem que fazer uma limonada? Bom, acho que ela não sabia. Mas eu gostei de sua lógica.