Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Ucker narrando.

Não conseguia parar de pensar em Dulce nem por um segundo. A expressão dela quando a mandei ir embora vinha a minha mente a todos os instantes. Eu me sentia magoado, culpado, estraçalhado. Me sentia o pior cara do mundo por não ser forte o suficiente para abrir o jogo com minha garota.

Mas isso tudo, era porque eu conhecia minha garota. Conhecia o suficiente pra saber que ela largaria tudo aqui por causa de mim, a faculdade, o trabalho, a família... Eu não queria isso, eu não deixaria isso acontecer. Em hipótese nenhuma.

- Terra chamando Ucker. – Ouvi a voz de Jennifer imitando um chiado de rádio ao fundo da minha mente. – Câmbio, Terra chamando Ucker. Responda, Ucker.

Balancei a cabeça e virei para lhe encarar.

- Em que mundo cê tá, cabeção?

- Não sei. – Suspirei. – Tá vendo isso aqui? Ela já usou isso aqui, cara. – Mostrei uma camiseta minha, me lembrando como ficava mil vezes melhor no corpo de Dul. Ficava perfeito.

- Eu disse pra você...

- Não, Jay, cê não entende. – Franzi a testa, interrompendo sua fala decorada. – Ela não vai se atrapalhar toda por causa de mim, eu não quero ser atraso na vida dela.

- Ela merece saber, Ucker. – Jenny estalou a boca em desaprovação.

- E eu mereço ser feliz com ela e ter um pouco de paz, mas olha! – Rebati, ironicamente. – Parece que a questão não é merecimento.

- Ok, não está mais aqui quem falou, docinho. – Diz, erguendo as mãos em rendição.

Continuamos no quarto, arrumando uma mala com minhas coisas mais importantes. Era difícil ir embora. Na verdade, era aquele tipo de dor que você tenta sufocar mas não consegue, simplesmente não dá. Sente o gosto amargo na boca e o bolo se formando na garganta. E permanecemos ali, em silêncio absoluto, até que...

- Você não vai entrar aí, garota! – Ouvi a voz grossa de meu pai falando com alguém fora do meu quarto. – Não seja mal educada, Dulce!

Quando ouvimos aquele nome, eu e Jennifer olhamos para a porta assustados. Passos firmes batiam rápidos contra o chão de madeira e num segundo, a porta se escancarou.

- Dul! – Exclamei, vendo a ruiva parada na porta com o rosto vermelho. Ela nos olhava atônita e completamente paralisada, com a mão ainda na maçaneta.

- Essa garota é maluca, igualzinha a você, Ucker! – Meu pai parou atrás dela, ofegante, como se tivesse tomado vários dribles de Dul. – Eu tentei dizer a ela que você estava ocupado, mas ela...

- Beleza, deixa que eu resolvo isso. – Sussurrei, sem olhar para meu pai. Ele assentiu e sumiu de nossas vistas.

Caminhei rapidamente até a frente de Dulce e ela ergueu o olhar em choque para mim.

- Você vai mesmo embora. – Disse, alongando as palavras como se as processasse. Como se repetisse pra si mesmo, para se convencer daquilo.

Olhei para trás, vendo Jenny junto as malas e depois olhei para Dulce.

- É, eu vou. – Engoli o choro.

- Não vai. – Ela sussurrou baixinho, quase inaudível. – Eu tô implorando, fica comigo. O que quer que eu tenha feito de errado, vamos resolver, amor...

Senti meu coração se apertar ao ver as lágrimas descerem pelo rosto dela.

- Eu preciso ir.

- Vai doer, Ucker. – Dul soluçou.

- Já está doendo. – Fechei os olhos e a puxei pelos ombros, trazendo-a até meu peito e abraçando com força.

As lágrimas de Dulce molharam minha camisa. Ela chorou por alguns poucos minutos, antes de se afastar e olhar em meus olhos.

- Pelo menos, me da um motivo. – Pediu. – Eu mereço isso. Mereço uma explicação, não mereço?

Respirei profundamente antes de olhar para trás. Ela merecia, eu lia isso no rosto de Jenny. Só que Dul entendeu aquele olhar de uma forma totalmente errada e equivocada.

- Acho que já entendi. – Disse, se soltando de mim. – Na verdade, acho que já entendi tudo. – Ela olhou para Jennifer, depois para mim. – Agora, as coisas estão bem claras.

As lágrimas caíram e ela sorriu, sem humor.

- Só mais uma ferida dentre várias que já tenho. – Deu de ombros, secando as lágrimas. – E sinceramente, eu não desejo esse dor pra ninguém, nem pro meu pior inimigo.

Dulce acenou, como se desse tchau, como se dissesse adeus. E virou de costas, indo embora tão repentinamente quanto chegou. Eu quis ir atrás, eu juro que quis.

Mas não podia. Então, ficamos eu e os cacos quebrados do meu coração. Ficamos eu e minha vontade sufocante de pegar a arma na gaveta e acabar com tudo isso.

Ficamos eu e a pior parte de mim. Porque a melhor, a melhor acabou de descer a escada e bater a porta da minha casa. A melhor parte de mim foi embora.