Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Ucker narrando.

O gosto era amargo. Me levava diretamente pra minha infância, nas noites em que meu pai me fazia tomar um remédio fedorento antes de dormir. Ele dizia que eu comia muito doce e por isso, tinha verme. Falando em verme...

Esse cara. O que esse cara quer? O que ele tem de tão especial? O que ele tem que eu não tenho? Olha só pra esse cara, com essa calça apertadinha que deve ser mais cara que o salário da Dul. Olha bem pra esse cara com o cabelo paradinho de gel e a barba feitinha, com cara de neném. Vê bem se esse cara é melhor que eu...

Mas é ele quem está com o braço envolvido nela, é ele que acabou de dar um beijo no cantinho da boca dela. E sou eu quem tá aqui, olhando de longe como um babaca, invejando até o último fio de cabelo com gel dele.

O que ele tem que eu não tenho?

"Ele nunca abandonou ela", disse aquela vozinha cruel e realista da minha mente. Tentei silenciá-la, mas já era tarde. Lá estava minha resposta.

- Oi, gato. – Ouvi alguém falar mais alto que a música.

Quando olhei pra baixo, olhos grandes e azuis dentro do corte de uma máscara me encaravam com malícia. A garota, baixinha e de cabelo escuro e liso se oferecia como uma prostituta de esquina implorando por cliente.

- Quer dançar? – Ela passou a língua nos lábios, como se a pergunta real fosse "quer que eu chupe você?".

Olha só que ironia, com centenas de caras dentro dessa boate, ela veio até mim.

- Quero. – Assenti.

Imediatamente, ela sorriu espaçosamente. Segurou na minha mão, mas eu puxei de volta.

- Mas não com você. – Acrescentei, virando de costas.

A garota deve ter xingado até minha última geração de palavrões que eu provavelmente desconheço, e agora deve estar bolando um plano mental onde ela e as melhores amigas ferram comigo antes da noite acabar, mas beleza. Eu já tô indo embora mesmo.

Uma paradinha no bar não faz mal, não é? Desviei o caminho e sentei num banco vazio, pedindo uma dose de whisky. Ao meu lado, três garotas conversavam animadamente sobre os caras mais gatos da balada, me fazendo rir internamente. Mal sabiam esse tipo de mina que elas não são o tipo de garota que conquista. Olhei pelo canto do olho a que estava de pé de frente para as outras e percebi que ela me encarava, fazendo sinal para as amigas.

- Uau. – Sussurrou a loira, me olhando sem disfarçar.

Dei uma risadinha, apoiando meu copo sobre o balcão.

- Será que teria alguma coisa de maracujá? – Ouvi uma voz familiar bem ao meu lado perguntar para o barman, quando me virei e vi aquele cabelo liso e loiro, já sabia quem era.

- Temos alguns drinks, gostaria de experimentar?

- É, eu acho uma boa jogar no rabo dessas vadias pra ver se acalma. – Anahí sorriu para o cara e fez sinal para as garotas.

Soltei uma risada e nem o barman se controlou. As garotas, envergonhadas e ofendidas, não disseram nada antes de sair.

- Faz tempo que eu não sei o que é uma pessoa sentir ciúmes de mim.

- Primeiramente, você é uma babaca. – Annie sentou ao meu lado e eu ri pelo nariz, concordando mentalmente. – Mas eu não consigo deixar de gostar de você, por mais que você não mereça esse sentimento.

- Tu se amarra na minha que eu sei, loira. – Empurrei ela de leve pelo ombro, que revirou os olhos e me deu um tapinha.

- Posso te contar um segredo?

- Claro. – Uni as sobrancelhas.

Anahí inclinou-se de forma a chegar bem perto do meu ouvido.

- Gostava mais quando ela tava com você. – Sussurrou.

Depois se afastou, rindo e cobrindo a boca como se estivesse arrependida. Eu dei um sorriso meio fraco, suspirando.

- Esse cara pelo menos é legal? – Perguntei, indicando com as sobrancelhas.

- Posso te garantir, ele é bem maneiro, super gente boa. Mas sei lá, certinho demais, sabe? Futuro doutor.

Me senti inferior ao descobrir que o playboy era daqueles caras de faculdade, que fazem Medicina pra agradar o papaizinho com grana. Querendo ou não, era um passo na minha frente, um passo bem largo.

- Pelo que eu percebi, a sua torcida agora é pra ele. – Comentei acidamente.

- Não, seu idiota. Eu só não quero ter que lidar com a minha melhor amiga naquele estado de novo. Só eu sei o que vi. – Annie suspirou, me encarando séria. – Ela tava mal, muito mal. A gente chegou a pensar em interná-la.

Arregalei os olhos e a culpa me invadiu. Disso eu não sabia.

- E sabe, quando eu soube que você tinha voltado, só conseguia pensar em proteger ela e não deixá-la passar por isso novamente. Achei que era meu papel, então...

Era totalmente compreensível.

- Mas eu curto muito vocês dois juntos. – Annie sorriu de leve. – Mas sejamos realistas, você é um cretino e eu fico com medo de você chegar, mandar teu papo, ter lindas noites de amor com a Dul e depois decidir ir embora de novo. Ela não vai aguentar passar por aquilo tudo outra vez.

- Eu nunca quis ir, Annie. O que eu mais queria era ficar com a minha ruiva. – Bebi o restinho do whisky no fundo do copo, batendo com o mesmo no balcão depois. – Eu fui porque...

Me calei ao perceber o que estava fazendo. Ia contar a verdade para Annie? Dizer o motivo real de ter fugido pra Nova York com Jennifer? Ah, eu ia. Foda-se meu pai e o Fernando e todo aquele papo de "é pra nossa proteção".

- Preciso te contar uma coisa. – Murmurei.

- Sou toda ouvidos.