Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Ucker narrando.

Névoa. Névoa e mais névoa. Tudo que eu vejo pela frente é névoa, como se hoje, Compton fosse um cenário de filme de terror. Balanço os braços em desespero enquanto corro em direção aonde sei que foi o tiro. Minha rua. Minha casa. 

Torço baixinho para estar errado.

- Ucker! – Escuto alguém gritar e por um momento penso ser Dul.

Mais aí olho para trás e percebo que Annie vem correndo atrás de mim, com passos incertos. Seus olhos estão arregalados, temerosos e assim como eu, ela escutou o barulho. O barulho que me arrepiou inteiro.

- Você está bem? – Quando Anahí me alcança, suas mãos tocam meu peito e ela começa uma busca frenética por alguma ferida, correndo as mãos desesperadas pelo meu tronco.

- Annie, Annie, eu tô bem. – Murmurei. – Eu não tomei um tiro. Annie!

Segurei suas mãos pelos pulsos e ela finalmente olhou em meus olhos.

- Eu não tô baleado. Mas eu preciso ver o que aconteceu. – Seguro as mãos em seu rosto. – Então volta para lá e cuida da Dul pra mim.

- Não, você não vai sozinho.

- Volta agora pra lá.

- O Henry vai cuidar dela. Eu vou com você. – Sussurrou, mas eu neguei com a cabeça.

- De jeito nenhum. – Continuei.

- Vamos ficar nesse impasse quando alguém levou um tiro? – Annie saiu correndo na minha frente e eu não tive opção a não ser segui-la, segurando minha arma.

Viramos juntos a esquina da minha rua e quando vi o carro do meu pai ali, meu coração apertou. Victor não podia estar em casa, hoje não, merda!

Corri os olhos por toda a rua, até sair em disparada para casa. Não larguei a arma nem mesmo para pegar a chave de casa, e quando a coloquei na fechadura, constatei com desespero que a porta estava aberta.

Entrei em casa e a primeira coisa que vi foi meu pai sentado de forma jogada no penúltimo degrau da escada, a mão suja de sangue pressionando um ferimento abaixo do peito. Um ferimento de tiro.

- Ai, meu Deus! – Annie levou as mãos até a boca e paralisou na porta, enquanto fui correndo na direção do meu pai.

- Christopher... – Ele tossiu e eu vi sua camisa encharcada de sangue.

- Shii, não fala! Vamos pro médico! – Gritei para ele, levantando-o da escada.

Ele assentiu, passando o outro braço pelo meu ombro enquando mantinha a mão pressionada.

- Você não devia... Não devia ter tirado ele do lugar... – Anahí gaguejou, com os olhos apavorados. – Devíamos chamar uma ambulância e...

- Você acha que vai demorar quanto tempo para uma ambulância aparecer no Compton em noite de ano novo? – Rebati, atravessando a sala e apoiando Victor.

Assim que passei pela porta, Annie a trancou com a minha chave e me seguiu até o carro. Papai me deu as chaves e eu o coloquei deitado no banco de trás, tirando o casaco e o colocando sobre o ferimento, para estancar o sangue. Annie sentou no carona e mal tinha fechado a porta quando eu arranquei com o carro em completo pânico.

- Sr. Uckermann, não feche os olhos... – Ouvi Annie murmurar, pressionado as mãos em cima das dele.

- Pai, tá me escutando?

Ele confirmou com a garganta, tentando manter seus olhos abertos.

- Pai, fica comigo, ouviu? – Gritei, pisando no acelerador.

- Eu atirei nele. – Murmurou meu pai, com os olhos pesados. – Mas pegou de raspão no filho da pu/ta.

Atravessei um sinal amarelo, sentindo o vento gelado contra meu rosto. Ouvi uma buzina alta quando um carro freou bruscamente ao meu lado, no momento em que passei em alta velocidade por um cruzamento sem respeitar o sinal vermelho. Minha cabeça parecia que ia explodir.

Quando cheguei no hospital, gritei palavras emboladas para os enfermeiros, como se aquilo tudo fosse culpa deles. Eles levaram meu pai para dentro numa maca e mesmo sendo carregado, ele pediu que eu ligasse para Fernando.

Virei e vi Anahí me encarando, com seus olhos de criança indefesa e as mãos sujas de sangue. Vi sua vulnerabilidade ali. Corri até ela e a abracei, querendo que o calor da minha amiga me trouxesse a certeza que tudo iria ficar bem.

- Ele não vai morrer, Ucker... – Sussurrou baixinho, se afastando para me olhar.

Assenti, mesmo sem esperanças. Um tiro quase no peito. Um tiro de alguém que não tinha a mira tão boa. Algum filho da pu/ta que entrou na calada da noite na minha casa e quis matar meu pai.

Peguei o celular no bolso da calça, procurando o nome de Fernando na minha agenda. Liguei, andando pelo saguão do hospital enquando Annie conversava com a recepcionista e escrevia numa ficha de papel.

- Christopher? – Disse, com a voz nervosa.

Eu nunca tinha ligado para esse cara na minha vida, então ele sabia.

- O que aconteceu? O QUE HOUVE COM A MINHA FILHA?

- A Dulce tá bem, Fernando. – Murmurei, seco. – Mas meu pai não. Ele levou um tiro.

- O QUE? MAS ELE SAIU DAQUI FAZ POUCO TEMPO! – Eu quase fiquei surdo com seus gritos. – Como isso aconteceu?

- Entraram lá em casa. Ele disse que atirou no cara, mas pegou de raspão.

- FILHO DA PU/TA! – Xingou Fernando. – Em que hospital você está?

Passei o endereço para Fernando e ouvi o barulho dele batendo a porta de um carro enquanto Blanca lhe enchia de perguntas.

- E fique sabendo que isso é culpa sua, seu delinquentezinho de merda!

E desligou na minha cara.