Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Sentei numa das cadeiras que haviam ali, completamente fora de mim. Queria quebrar alguma coisa.

Por que minha culpa? O que eu tinha feito de errado dessa vez?

Coloquei os cotovelos nas coxas e apoiei o rosto nas mãos, fechando os olhos e lembrando do sangue de meu pai, que ainda estava na minha camisa. Quis tirá-la.

Annie sentou do meu lado, acariciando minhas costas, vivendo um daqueles momentos em que não temos o que dizer.

- Por que você parece tão culpado? – Murmurou, baixinho.

- Eu não sei. – Respondi, depois de alguns segundos, enfiando os dedos entre o cabelo. – Eu só não quero que ele morra.

- Eu já te disse que isso não vai acontecer. – Ela me fez olhar em seus olhos. – Acredite em mim, ele vai sair dessa.

- Ele nunca disse que me amava, Annie. Nem mesmo quando eu era pequeno. – Sussurrei. – Ele sempre me criou dessa forma dura, bem do jeito que ele era. Quando eu tinha idade para entender, pensei que fosse pela minha mãe, que de alguma forma ele me culpava pela morte dela, ou lembrava dela quando me olhava. Então, eu também não tinha coragem de dizer o quanto amava ele. Eu nunca disse.

Annie deixou uma lágrima escorrer e segurou na minha mão.

- Mas eu e ele sabíamos. A gente só não precisava dizer um pro outro. – Continuei. – Sabe quando você olha para uma pessoa e sabe que ela mataria e morreria por você? Quando você tem certeza que é a coisa mais importante na vida de uma pessoa? Que é o ponto fraco e o ponto forte dela? Pois é.

Limpei as lágrimas e respirei.

- É por isso, Annie. – Murmurei, baixinho. – Por isso que eu entrei nessa vida. Por causa dele, porque no fundo eu quis ser o filho que enche o pai de orgulho. Por muito tempo eu quis, só que agora... Agora eu só quero sair dessa merda toda. Pela Dul, ela merece isso.

- E você também. – Afirmou a loira.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, vidrados em pontos distintos, pensando. Vi pelo canto do olho quando Fernando atravessou a porta do hospital com Blanca atrás dele, me lançando aquele olhar que não teria me afetado tanto se não fosse hoje.

- Christopher, lá fora! – Exigiu para mim em tom alto. – Vamos conversar!

Assenti levantando da cadeira e quando passei por Blanca, ela segurou minhas mãos e me olhou de forma carinhosa.

- Como ele está?

- Eu não sei. – Suspirei. – Levaram ele lá pra dentro e até agora nada.

- Vai ficar tudo bem, Christopher. – Ela deu um pequeno sorriso, acariciando meu rosto.

Os olhos de Dulce bem ali na minha frente. Tão parecidas.

- Tomara. – Assenti, me afastando e seguindo Fernando, que já tinha saído pela porta.

Quando cheguei lá fora, Fernando estava do outro lado da rua, andando na calçada de um lado para o outro com um cigarro na boca.

- Você não vai mais casar com a minha filha! – Gritou, apontando o dedo para mim.

- Que? Por que?

- Porque eu não quero enterrar a Dulce, por/ra! – Fernando gritou ainda mais alto, chamando os olhares das pessoas na rua. – Eu sabia que essa por/ra dessa tua teimosia ia te matar! E o pior, levar gente contigo!

- O que tá acontecendo?

- Você, Christopher, não vai chegar nem aos trinta anos. – Disse, frio. – Essa tua carinha bonita de filho da pu/ta vai comer mato pela raiz, a sete palmos do chão! E quer saber de uma coisa? Você merece!

Depois de despejar toda aquela fúria em cima de mim, ele despencou, sentando no meio fio e escondendo o rosto nas mãos.

- Quer me xingar depois de contar o que eu fiz de errado dessa vez? – Pedi, puxando um cigarro do bolso.

- Você devia ter esperado mais tempo. Devia ter ficado em Nova York, por/ra. – Fernando me encarou. – Os caras que queriam sua cabeça numa bandeja... Parece que eu e seu pai não limpamos todos.

Eu sabia que essa história ia voltar para mim um dia. Os Blues, unidos aos Wolves, com certeza iam querer vingança.

- É como uma infestação de baratas. São difíceis de matar e vão causando destruição por onde passam. – Fernando murmurou, levantando. – Você pode tentar se livrar delas, mas se deixar uma que seja escapar...

- A infestação se inicia de novo. – Concluí.

- O problema é que a nossa barata líder tá escondidinha. – Ele me encarou. – Nós não sabemos quem é o líder dessa operação, Christopher. Mas sabemos que é uma operação para matar você e todo mundo a sua volta.

Fechei os olhos, sentindo meu coração parar por alguns segundos. Ainda bem que eu estava na frente de um hospital. Se eu tivesse um ataque aqui, beleza.

- O líder do Blues a gente sabe quem é... – Fernando me encarou. – Mas o líder dessa operação... É impossível descobrir o nome desse filho da pu/ta. E ele parece ter um problema pessoal com o seu pai e contigo, então... Sabe o que precisamos fazer, Christopher.

- Eu prometi pra sua filha que ia sair dessa merda toda...

- O que tá acontecendo é culpa sua. Não sei se você percebeu, mas a gente tá vivendo uma guerra agora. Alguém entrou na sua casa e atirou no seu pai.

Ele se virou para mim, me olhando nos olhos.

- Então eu vou te ensinar o que o Victor não te ensinou... É a selva de pedra, garoto. É assim que funcionam as coisas. Eles estendem uma faca pra você, você estende um revólver. Eles mandam um dos seus pro hospital, você manda um deles pro necrotério. Simples assim. – Fernando então cruzou os braços. – Seu pai tá lá dentro com uma bala alojada dentro do corpo. Ele pode morrer, muitas pessoas podem morrer por causa disso. Enquanto você não tomar sua posição de líder nessa merda, as coisas não vão melhorar, Christopher. A tendência é só piorar. Então vê se para de agir como se isso fosse uma brincadeirinha, seu moleque, porque até onde eu sei, a Dulce só vai se casar com um homem de verdade.

Ele jogou o cigarro no chão e pisou em cima, virando de costas e me deixando para trás. Fernando atravessou a rua e entrou no hospital e eu amaldiçoei meu nome baixinho umas três vezes, antes de finamente seguí-lo.