Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Ucker narrando.

Sinto meus olhos arderem enquanto ainda encaro a tela do celular, quase quinze minutos depois da ligação, tentando absorver tudo o que Jennifer me disse. Não consigo acreditar que ela realmente sabe. Como ela pode saber uma coisa dessas?

- Eu... – Levanto da cadeira do hospital, meio desnorteado. – Eu preciso ir.

- Aonde você vai? – Dul levanta junto, soltando-se dos braços de Henry.

- Eu preciso resolver uma coisa. – Olho em seus olhos rapidamente.

Ainda bem que Fernando está lá dentro, resolvendo toda a situação com a polícia, que sempre é chamada quando alguém da entrada num hospital com ferimento de arma de fogo. Ainda bem, ou ele estaria falando na minha cabeça. Espero que os fardados engulam a mentira. Assalto.

- Ucker, aonde você vai? – Dul me puxou pela mão, querendo que eu lhe encarasse.

- Confia em mim? – Perguntei.

Ela me olhou nos olhos antes de confirmar com a cabeça e soltar minhas mãos. Caminhei em passos apressados para fora do hospital e achei o carro de meu pai em meio a diversos outros.

Por que Jennifer só queria me contar pessoalmente?

Vou dirigindo perdido em milhares de pensamentos e tenho sorte de mal ser sete da manhã do primeiro dia do ano, o que significa que não tem trânsito e que as pessoas estão de ressaca. Eu também estaria, provavelmente. Talvez eu nem tivesse acordado ainda e agora, dividisse a minha cama com Dulce e seus cabelos vermelhos. Talvez, se a minha vida não fosse essa merda toda.

Quando chego na parte de trás de uma rua deserta do Compton, estaciono na esquina de um beco e desço para esperar Jenny. Espero que ela não demore.

Encosto no capô do carro e sinto meu celular vibrar no bolso da calça. Vejo o nome de Chris na tela e atendo rapidamente, ouvindo sua voz grossa do outro lado.

- Ucker? Por que você não me contou, seu filho da mãe? – Meu melhor amigo parece preocupado. – Cara/lho, acabei de falar com a Annie, não tô acreditando que tiveram coragem de fazer isso dentro da sua casa, cara.

- Pois é. – Suspirei. – Provavelmente alguém que sabia que os Hunters estavam comigo.

- Um filho da pu/ta covarde, isso sim! Fica tranquilo que a gente vai caçar esse desgraçado até o inferno e fazer ele pagar bem caro pelo que fez. – Garantiu-me com o tom da voz alto.

Assenti com a garganta e vi na hora exata que Jennifer virou a esquina, seus olhos se encontrando com os meus.

- Força aí com toda essa parada do teu pai, Ucker. O coroa é fo/da, tu sabe que ele vai sair dessa de boa. – Chris abaixou a voz e disse daquela forma que me fazia lembrar porque éramos irmãos. – Tu sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa, né?

- Claro que sei, meu mano. – Confirmei. – Valeu por tudo, eu não sei como estaria me virando sem o apoio de vocês... Preciso desligar agora, depois nos falamos.

Nos despedimos e logo que encerrei a chamada, guardei o celular dentro do bolso. Jennifer vinha caminhando em minha direção, olhando seus próprios pés no tênis surrado.

Ela parecia estar com medo, vestida com um casaco preto de capuz na cabeça e calça jeans.

- Oi, Christopher. – Disse, mantendo-se a quase dez passos de distância.

- Oi, Jay-Jay. – Dei um sorriso de canto.

Mesmo no meio daquela merda toda, eu estava feliz em vê-la, até porque na última vez foi bem ruim. Eu sentia muita falta de Jenny, do nosso apoio mútuo, da nossa camaradagem.

- Quanto tempo.

- Não abre esse sorriso como se tivesse sentido minha falta. – Ela disse brincando, mas eu a conhecia tão bem que percebi sua mágoa.

- E senti. – Suspirei. – Ainda sinto.

Ela abaixou o rosto, claramente triste com toda aquela situação. Parecia cansada, extremamente cansada.

Foi quando eu vi. Seu olho manchado de uma maquiagem que não conseguiu esconder a coloração roxa. Uma marca de um soco que atingiu o meu estômago e meu coração.

- Quem bateu em você? – Aumentei o tom da voz, caminhando apressado até Jennifer.

Ela arregalou os olhos para mim, mas eu já tinha segurado-a pelos ombros, encarando seu rosto. De perto estava ainda pior. Puxei o capuz de sua cabeça e segurei seu rosto com as mãos, sentindo a agonia de ver que alguém teve a coragem de encostar na minha melhor amiga.

- Jennifer, quem fez isso com você? – Perguntei, sentindo o sangue ferver nas veias. – Jennifer! – Gritei ao perceber que ela não me respondia.

A loira então me olhou nos olhos, quase chorando e respirou fundo.

- Meu irmão, Ucker.

- Irmão? – Senti o choque. – Você não tem irmão, você é filha única.

- Isso foi o que eu te disse. – Murmurou baixinho. – Eu tenho um irmão. Gêmeo.

Engoli em seco. A história que eu sabia era diferente. Ela era filha única de um cara que morava numa das ruas perdidas do Compton e vinha passar as férias ali.

- Eu menti pra você, Ucker. – Sussurrou. – Desde o início. E agora tá na hora de você saber da verdade. Pra ser sincera, já passou da hora.