Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Dulce narrando.

Engoli a vontade repentina de chorar. Por que quanto mais errada a pessoa é pra gente, mais a gente quer ela? Era assim que eu me sentia em relação a Ucker. Eu queria, verdadeiramente, que as coisas fossem mais simples... Não queria fechar os olhos e lembrar do que dissera a meu pai, nem das minhas inúmeras promessas na infância. Mas nada é como a gente quer. E não adianta tentar mudar o passado.

- Ei, seu largado tá aí, anã. – Anunciou Henry, batendo na parede do banheiro. Desliguei o secador, passando os dedos pelos fios secos e leves e assenti. Meu irmão foi na frente e quando entrou na sala, jogou-se no sofá.

Percebi que Ucker estava sentado na poltrona que havia ali e um homem estava de pé ao seu lado, me encarando com os olhos chocados e os braços cruzados. Seus traços, apesar de cansados pelo tempo, eram bem joviais e bonitos e ele era exatamente como eu pensava que Ucker seria dali a vinte anos.

- Já pode começar, pai. – Murmurou ele, olhando para o homem rapidamente.

Aquele era o pai de Ucker? Senti um arrepio correr minha espinha e uma estranha sensação de familiaridade com aquele sujeito, como se já o tivesse visto antes em algum lugar.

- Christopher pediu que eu viesse aqui esclarecer essa história para vocês... – O homem disse, raspando a garganta de leve e olhando para Henry, que mantinha  atenção nele. – Eu não acho que deveriam saber dessas coisas por mim, mas não há ninguém melhor pra contar essa história do que eu.

- Você conhecia meu pai? – Perguntei, sentando no braço do sofá e senti o rápido olhar de Ucker ao ouvir minha voz.

- Conhecia, Dulce. – Ele disse meu nome como se fosse algo bem comum, como se o dissesse todos os dias, algo como intimidade. – Eu sou Victor, é um prazer ver você.

- Pula essa parte, vamos para o que interessa. – Resmungou Ucker, revirando os olhos.

- De onde conhecia nosso pai? – Meu irmão perguntou.

- Eu e seu pai nos conhecemos na primeira série. – Victor suspirou e navegou o olhar por todos nós da sala, esperando reações. Apenas foquei em soltar o ar pelo nariz e manter meus ouvidos atentos. – Ele sempre foi um ótimo cara, totalmente ao contrário de mim. Mas era exatamente por isso que nos dávamos tão bem, tínhamos um equilíbro perfeito, como se ele fosse yang e eu yin. Melhores amigos a via toda.

Ainda bem que eu estava sentada, porque era quase impossível assimilar que meu pai e o pai de Ucker tinham sido melhores amigos sem cair no chão. Era uma imagem que não se encaixava, porque eu não me lembro de ter visto esse homem na minha casa sequer uma vez quando era criança.

- Fui eu que apresentei Blanca pra ele, ela e Alexandra estudavam juntas... – Um sorriso passou rapidamente pela expressão fria de Victor, enquanto ele continuava a detalhar. – Com seis meses de namoro, ele veio desesperado me contar que Blanca estava grávida. Aí, Fernando era tão certinho que casou-se no mês seguinte... Quando você nasceu, ele tinha um sorriso que eu nunca tinha visto na minha vida. – Ele olhou para meu irmão, que abaixou a cabeça e sorriu, emocionado.

Todos nós estávamos silenciosos, ouvindo a história que Victor contava.

- Quando Ucker nasceu, nós dois prometemos que nunca deixaríamos nossos filhos se envolverem com a gangue, que os Hunters não estariam no sangue de vocês. Isso acabaria em nós dois, assim como começou em nós dois. – Ele passou a mão no queixo e me encarou.

“Começou em nós dois”? O que aquela frase significava? Que eles eram melhores amigos e tinham criado a gangue, que...

- Exatamente. – Disse 0 pai de Ucker, como se interrompesse até meus pensamentos. – Eu e seu pai fundamos a gangue de Compton. Ele inventou o símbolo e o nome e disse que isso seria apenas uma forma de mudarmos de vida. Literalmente, ele não estava errado.

- Mas já haviam gangues por aqui, certo? – Perguntou Henry, enquanto eu ainda não conseguia dizer uma palavra no meu total choque.

- Por isso, a repercussão toda. – Assentiu Victor. – Em um mês éramos a gangue mais conhecida do Sul de Los Angeles, depois, a cidade inteira sabia do nosso nome, como permanece até hoje. Não que tenha sido fácil, muito sangue caiu por causa disso. E Fernando não queria que isso acontecesse.

Engoli em seco. Meu pai era líder da gangue, era o fundador.

- Quando você nasceu... – Murmurou Victor, olhando pra mim. – A primeira coisa que ele disse ao te segurar no colo foi: “ela nunca vai ter o nome envolvido com os Hunters. Eu vou proteger minha menina desse mundo”.

Senti as lágrimas caírem e funguei o nariz, abaixando o rosto.

- E ele dizia que você e Christopher casariam, que nossos netos teriam nossos sobrenomes juntos. – Ao ouvir isso do pai, vi um pequeno sorriso brotar no canto da boca de Ucker. – Mas quando Alexandra morreu e depois, ele morreu, eu não tive opção a não ser colocar meu filho nessa comigo.

E o sorriso de Ucker sumiu, fazendo ele apertar as mãos, encarando o tapete no chão.