Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Dulce narrando.

Dois compromidos de Aspirina, uma caneca de chocolate, meias, cobertor no sofá e o colo de Henry não estavam fazendo o efeito esperado. Isso costumava resolver toda dor que eu tinha e agora, eu ainda me sentia horrível, mesmo sentindo os dedos carinhosos de meu irmão mais velho em meu cabelo. Eu mal fechava os olhos e assistia novamente a cena horrível de uma vida se esvaindo debaixo dos meus olhos. E eu estava lá, parada e não fiz simplesmente nada. E pensar que talvez eu tivesse sido colocada naquele lugar exatamente pra isso, pra salvá-lo.

Ao ter esse pensamento, comecei a soluçar e mais uma dose boa de lágrimas chegou. A camiseta de Henry nem tinha chego a secar e lá estava eu a molhando novamente.

- Shii, maninha. Não chora, meu amor. – Sussurrou ele, calmamente, acariciando meu cabelo com leveza. Tentei atender seu pedido, mas estava quase impossível reagir bem aquele acontecido.

- Eu... eu não consigo. – Murmurei, a voz rouca de tanto chorar. Minha cabeça doía tanto que eu mal conseguia abrir os olhos. – Eu não consigo lidar bem com isso.

- Mas é claro. Você nem deve. – Henry pegou meu rosto em suas mãos e me encarou. – Ele é um assassino. Não tem como lidar bem com esse tipo de coisa.

Ao sentir aquelas palavras entrarem em contato comigo, voltei a chorar como uma criancinha indefesa e Henry puxou meu rosto para seu peito.

- Oh, merda. – Suspirou ele. – Eu tô te fazendo se sentir pior.

- Eu não quero perdê-lo, Henry. – Assumi, soluçando descontroladamente. – Eu não quero. Por favor, não me deixe perder o Ucker.

- Dul, eu sinto muito, mas você precisa. Uckermann é perigoso. Você não pode continuar com ele. – Henry disse, soando bem sério.

Fechei os olhos com força e me recusei a aceitar aquilo. Não queria ouvir tamanha loucura. Eu não ia me afastar de Ucker. Porém, seria impossível lidar com aquela cena todas as vezes que estivesse com ele. Seria assim? Será que seria assim pra sempre?

- Você não entende, Henry. – Sussurrei com a voz abafada contra sua camisa. – Eu não posso me afastar. Você devia saber como é, você tem Gabriele. Você não sente o mesmo por ela, como se não fosse capaz ou forte o suficiente pra ficar longe dela? Não sofre só de pensar?

- Dulce, você está apenas obcecada por essa idealização de amor. Eu não sei como lhe explicar, mas é exatamente como nos filmes, como se estivesse assistindo muito Crepúsculo ou lendo muito Nicholas Sparks... – Ele puxou meu rosto para me encarar com seus olhos claros mais uma vez. – Pode parecer o fim do mundo, mas não é. A gente acha que não é forte pra lidar com certos tipos de coisas, mas somos. Você também não pensava ser forte para lidar com a morte de papai e olha você, aqui, hoje. Achamos que não vamos viver, mas vivemos.

Engoli o choro, secando as lágrimas e assentindo.

- Está me dizendo pra... Está me dizendo pra esquecê-lo e aceitar? Aceitar a perda como tive que aceitar a de papai?

Henry assentiu.

- Por mais que doa, às vezes é preciso aceitar perder as pessoas. – Meu irmão acariciou meu rosto. – Você aprendeu a lidar com a dor de perder o papai e soube exatamente...

- Eu não tive opção em relação a ele, Henry. Mas com o Ucker... Com ele, eu tenho opção.

- E isso não torna as coisas mais fáceis? – Ele ergueu as sobrancelhas. – Ele vai estar bem, você vai saber que ele está bem.

- Não. Não fica mais fácil. – Apertei os olhos, permitindo que mais lágrimas caíssem. – Não é como perdê-lo, é abrir mão dele.

Henry assentiu e me deu um beijo na testa.

- Você é forte, maninha. E se não for, eu estou aqui, do seu lado. – Seus braços envolveram meu tronco em seguida enquanto eu me deixava cair em lágrimas novamente. Parecia uma criança, desesperada, com os olhos e rosto inchados e vermelhos.

 Ainda que doa, ainda que pareça o fim do mundo, temos mesmo saber lidar com certos tipos de perdas. Porque nada é eterno. E eu sabia disso desde o começo, só não queria aceitar. Quando Ucker dançou com o dedo no gatilho daquela arma e decidiu atirar, não era como se atirasse naquele garoto e tirasse sua vida. Era como se atirasse em mim, em nós, no nosso amor. Era como se desse fim a todo o encanto que eu tinha construído a nossa volta. Aquele tiro não parou somente o coração do garoto. Parou o meu por alguns segundos e esses segundos foram o suficiente para causar uma grande sequela no amor que eu sentia por Ucker. E eu não sabia se ele seria capaz de sobreviver depois disso.