Fanfic: O príncipe vagabundo (Vondy) | Tema: Hot + Romance

Dulce narrando.

A última vez que tinha estado em um enterro, foi pra chorar a morte do meu pai. Desde então, nunca mais coloquei os pés em um cemitério pra me despedir de ninguém. E agradecia a Deus todos os dias por isso, porque não há coisa mais difícil na vida do que enterrar alguém que amamos.

Eu nunca tinha conversado com Jeremy, sequer o visto pelo Compton. O único minuto que tinha olhado para aquele garoto foi em seu último minuto de vida. Mas fui extremamente compreensível ao ver Adam chorar a morte do primo no meu colo e pedir que eu o acompanhasse no enterro. Fui prestar minhas últimas homenagens ao garoto que tentei salvar e um aperto no meu peito não me largou em nenhum momento, principalmente ao ver a família do jovem chorar sobre seu caixão. Todos pareciam saber que ele era de uma gangue. E talvez por isso, eu via a culpa na face de cada um de seus amigos e familiares. A mãe de Jeremy dava pena. Ainda não sou mãe, mas se tenho certeza de algumas poucas coisas da vida, uma delas é que não há dor maior para uma mãe do que ver seu filho metido em coisas erradas e depois ter que enterrá-lo. A senhora de cabelos claros e rosto abatido pela vida dura comprovou meus pensamentos, quando se ajoelhou sobre a terra fofa, nos últimos minutos que teve com o corpo do filho, e gritou entre soluços:

- Fica aqui com a mamãe, Jeremy. Tá doendo muito, filho! Você prometeu que não me deixaria! – Ela olhou para os céus. – O que eu fiz pra merecer isso, Senhor? É culpa minha, meu Deus? O Senhor levou meu filho pra longe de mim como um castigo?

Aquela cena simplesmente acabou comigo. Todas as lágrimas que eu estava controlando durante a cerimônia, caíram sobre minhas bochechas, enquanto eu apertava o braço de Adam.

Fechei os olhos sem conseguir deixar de lembrar do tiro dado em Jeremy. Ao final do enterro, deixei a rosa sobre a terra recém colocada, e quase todos imitaram meu gesto. Eu e Adam fomos nos despedir de todos, enquanto desejávamos os mais sinceros sentimentos a quem tinha perdido parte importante de si.

Quando, por último, abracei a mãe de Jeremy, que eu acabara de descobrir que se chamava Heloisa, ela me encarou com seus olhos azuis e inchados e deu um leve sorriso pra mim, o primeiro que esboçava no dia.

- Cuida do meu sobrinho. – Pediu num sussurrou fraco e eu assenti. – Só temos ele agora.

Eu e Adam nos afastamos tranquilamente, dei uma última olhada para trás pra ter certeza se tudo aquilo tinha sido real e foi decepcionante saber que não era só mais um de meus pesadelos. Foi quando senti os dedos compridos e gelados de Adam entrelaçarem os meus, segurando minha mão. De imediato me assustei, olhando para nossas mãos dadas e depois para seu rosto. Ele olhava sério para frente, então eu não disse nada e deixei.

- Minha tia confundiu você? – Perguntou ele, me olhando de lado. Sem receber nenhuma resposta minha, continuou. – Ela pensa que... hum, estamos juntos. Assim como o resto da família.

Fui pega de surpresa com aquilo. Não imaginava que estivessem pensando que eu e Adam éramos namorados.

- Por que eles pensam isso? – Perguntei.

- Porque digamos que, eu ando falando muito de você. – Explicou ele, naturalmente.

Preferi ficar calada, porém Adam não estava disposto a deixar aquele assunto morrer.

- Será que estou...

- Adam. – Interrompi seu pensamento antes que ele soltasse alguma besteira. – Você sabe que...

- Eu sei. Ucker. – Ele bufou e revirou os olhos.

- Pois bem, eu não quero parecer insensível ou indelicada, mas... Independente do que estamos passando, eu e ele, bom, eu não posso deixar de sentir o que sinto. É ele e ponto final, isso não tem... – Procurei pela palavra certa. – Negociação.

Não sabia se tinha aplicado corretamente, nem usado as melhores e mais cuidadosas palavras para lhe dizer isso, mas era rigorosamente necessário colocar todos os pingos nos is, para que ficasse bem claro para Adam.

- Tudo bem. – Adam suspirou. – Eu já imaginava isso e não estava disposto a trapacear. Só não espere desistência da minha parte.

Apertei os olhos e puxei minha mão da dele, soltando nossos dedos.

- Eu preciso ir. – Murmurei, coçando a testa. – Ligo quando chegar em casa.

- Dul, se eu falei algo que...

- Shii, Adam, por favor. – Pedi. – Estou cansada e muito abalada. Me deixa em paz, ok?

Depois de seu olhar navegar por mim, ele assentiu com a cabeça. Sem dizer mais nada, virei as costas e segui o caminho até em casa abraçando meu próprio corpo e me protegendo do vento.