Fanfics Brasil - 1 A vidente O Anjo do Apocalipse

Fanfic: O Anjo do Apocalipse | Tema: Apocalipse, Destruição, Romance, Anti-herói, Vidente, Médium


Capítulo: 1 A vidente

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                                          “Vi, então, um novo céu e uma nova terra.


                                           O primeiro céu e a primeira terra        


                                               passaram, e o mar já não existe”.  


                                                                          Apocalipse 21, 1.


 


Hoje acordei com a sensação de que algo horrível iria acontecer, mas claro, algo horrível sempre acontece comigo. Talvez seja a notícia que está passando na TV: dez aviões Boeing simplesmente desapareceram no ar esta madrugada, em diferentes partes do mundo.


Minha mãe está preocupada, trocando de canais como se a notícia fosse simplesmente mudar. Trocamos olhares por poucos segundos e nesse momento, eu tenho a sensação de que eu nunca mais irei vê-la.


Tem essa coisa sobre mim que ninguém mais sabe: sou uma espécie de médium, de sensitiva. Não, não escuto fantasmas, nem nada demais. São apenas sensações, como quando meu irmão morreu num acidente. Eu havia dito a ele para ir de ônibus naquele dia, mas estava chovendo e na época eu era uma menina de 7 anos. O que meninas de 7 anos sabem? Ainda hoje eu penso naquele dia e no que poderia ter feito para impedi-lo. É por isso que agora olho para a minha mãe enquanto ela assiste a TV, imaginando se há algo que eu possa fazer para impedir o futuro.


Eu tenho a certeza absoluta de que não irei ver minha mãe novamente, mas isso não quer dizer que ela irá morrer, como o meu irmão. Outra coisa pode acontecer para nos afastar: talvez hoje seja o dia em que eu irei tomar a coragem para finalmente fugir.


Talvez seja ela a fugir. No fundo, eu acho que a mãe deseja isso tanto quanto eu. Eu mantenho esse pensamento, enquanto coloco a mochila nos ombros. Não dou um abraço na mãe, nem um beijo, apenas me demoro a contemplá-la por um segundo a mais, antes de dizer:


- Tchau, Romilda! Até mais tarde...


Há anos que eu não a chamo de mãe. E não irá começar hoje.


Arrasto-me para a escola até estar adiante de seus portões. E adoro estudar. O problema é que a escola é também o lugar do meu suplício diário.


Não atravesso a rua para entrar na escola pois diviso o grupinho de adolescentes que se aproxima. São todos lindos, perfeitos, populares... perfeitos idiotas. Entre eles está Susana Telles, a criatura mais vil do universo. E, ligado às suas mãos sebosas, está ele: Lucas Madrigal.


Se eu não cruzar o caminho deles, eles não me importunam, por isso, finjo ser um poste enquanto eles entram ruidosos na escola, incomodando outros alunos como eu.


Mantendo uma certa distância, sigo atrás deles e entro na escola. Diviso Miguel a alguns metros e apresso os passos para alcança-lo. Miguel é meu melhor amigo e é tudo o que eu tenho no mundo.


- Oie, miga! – diz ele, com um rebolado que o faz impopular. Miguel é homossexual. Tem um namorado que trabalha num barzinho perto da escola, mas ninguém além de mim sabe disso. O pai dele é militar. Será um problema e tanto quando ele souber, embora eu ache que o pai dele já saiba e finge não saber.


Miguel é um artista. Ele desenha como ninguém. Ele já fez alguns desenhos do meu rosto que ele diz ser fotogênico. Por conta dos desenhos, as pessoas acham que ele é meu namorado. Deixamos assim. É melhor pra ele e também pra mim. Assim podemos estar sempre juntos.


Eu nunca tive um namorado. Nem sequer beijei um. Acho que não sou do tipo ‘namorável’.


- Vamos a Biblioteca? – eu convido. Eu amo a Biblioteca. Há bons livros para uma escola pública.


- Claro... – concordou Miguel.


Quando nos encaminhávamos para a Biblioteca, quase fomos atropelados por Lucas e sua trupe de populares bobos. Miguel começou a xingar porque um dos meninos o derrubou e ele caiu sentado. Eu o ajudaria, mas havia dado um encontrão em Lucas. Minha bochecha bateu no seu peito e ele me segurou quando me desequilibrei.


- Opa! – disse ele, sorrindo, enquanto seus braços tatuados me seguravam.


Eu me odeio as vezes. Lucas é o estereótipo de badboy que só incomoda os professores, faz gracinhas e é admirado por todos. Um bobo com pouca inteligência que eu deveria odiar. O problema é que sou apaixonada por ele, desde a primeira série. Ele estava na quarta-série naquela época. Agora estamos no mesmo ano: segundo do ensino médio. Eu tenho 16 anos e ele 19.


Eu fico completamente transformada na presença dele: fico como uma das idiotas que o acompanham. Eu não consigo falar nada. Quero dizer, saem alguns sons esquisitos da minha boca, mas nada inteligível.


- Te machuquei, Jo?


Ele me chama de Jo. Maldição. É o único que me chama de Jo. E eu odeio que me chamem de Jo.


Quando nego com a cabeça, ele sai em disparada em seguida.


- É a porcaria do torneio de futebol. Havia esquecido disso – falou Miguel, levantando-se.


De fato, era o dia do torneio, por isso todos estavam se encaminhando para o Ginásio.


Não era um bom dia para estar naquele ginásio hoje. Havia uma sensação ruim, mas talvez fosse o fato de que eu odeio futebol e que se eu for ao torneio, terei que ver uma animada Susana se jogando nos braços de um Lucas todo suado, assim que o torneio acabar


Como quase sempre, a Biblioteca está vazia. Eu estou indecisa entre levar um livro de Vitor Hugo ou um de Edgar Alan Poe. Tenho estado mais dark ultimamente. Tomo o livro de Poe na mão, quando tenho a pior dor de cabeça que alguém poderia ter. Foi tão forte que meus joelhos se dobraram e eu caí. Sentindo-me embaraçada, olho ao redor, mas a Bibliotecária e Miguel estavam conversando um pouco afastados.


Acho que o pior já passou, quando uma nova onda de dor me atinge e pela primeira vez eu vejo um rosto.


O rosto.


E nunca mais em toda minha vida poderei esquecê-lo.


O rosto não é humano, é de uma criatura como jamais vi antes. Ele tem os cabelos negros, do mais negro céu, das entranhas mais profundas do mar que deslizam pelos seus ombros como uma cascata de breu. A pele é alva demais em contraste com os olhos de um brilhante verde e o manto negro que lhe caía até os pés. Entretanto, o que era mais absurdo era o que havia atrás dele, saindo de algum ponto de suas costas, duas asas negras se abriam e se agitavam ao vento. É a criatura mais linda que eu já vira e, contudo, sei que não é um anjo. É um demônio, não um demônio qualquer, é o próprio diabo e por algum motivo, ele sabe quem sou e sabe onde me encontrar. Não consigo romper a ligação que há entre nós dois. Eu tento me afastar, tento apagar essa imagem à minha frente, mas ele não deixa. Ele tem poder, muito maior do que qualquer dom que eu tenha. Ele sorri. Revela seus dentes alvos num sorriso alinhado e estende sua mão na minha direção como se quisesse me alcançar e eu tenho medo. Não sei o que está acontecendo e não consigo controlar nada do que acontece. Tento abrir minha boca, tento gritar, tento afastá-lo, pois sei que ele se aproxima como uma imagem holográfica, feita de nevoa. Tento desvanecer a nevoa, mas minhas mãos passam por ele como se não pudesse afetá-lo.


- O que é você? – escuto a voz da criatura na minha mente. Seus lábios não se moveram e, entretanto, posso ouvir sua voz. É um timbre estranho. Suave demais, baixa demais, reverberando demais em minha mente. E, de repente, tudo acaba. Onde a criatura estava, Miguel agora me contempla com as sobrancelhas arqueadas.


- Viu o fantasma da Biblioteca, é? – Miguel disse no seu habitual tom brincalhão, mas eu não estava para brincadeira.


 Eu me levanto rapidamente, mas como sinto falta de ar, corro para fora e me afasto alguns metros do pavilhão da Biblioteca.


O pavilhão da Biblioteca fica de frente para o pátio externo. Por isso, é possível ver o Ginásio ao longe. Mas olho mais longe ainda, para os pinheiros na colina atrás da escola, onde o sol colore o céu com uma tonalidade diferente.


De repente, lembro que o sol não deveria estar ali.


- Mas... o que? – falo sozinha, tentando entender o que estou vendo. Imagino por um momento que tudo aquilo é uma visão. Talvez como a que tive na Biblioteca. Talvez uma visão do futuro. Nunca tive nada como aquilo, mas sempre há um momento para iniciar as coisas. Principalmente para pessoas como eu. Maldita médium! “O que é você?”, disse aquela criatura. Eu estou tentando entender, meu chapa, digo pra mim mesma enquanto contemplo o céu mudar de cor.


O sol não é o sol, mas uma bola de fogo que está cruzando o céu rapidamente, ficando maior a cada segundo. Parece estar vindo diretamente na minha direção.


Tento me mover, mas não consigo. Tendo gritar, mas as palavras me faltam. Deus, o que é aquilo?


A bola faz uma curva e eu sei que não irá me atingir. Sei que esse é o único lugar para se estar nesse momento e petrifico enquanto assisto a bola atingir o ginásio bem em cheio.


Explosão. Fogo. Gritos. E chuva de pedaços de gente. Lembro de todos os alunos assistindo o torneio em que Lucas estava jogando. Eu deveria ter previsto que não o veria novamente. Porque não previ isso? Não havia como ele ter sobrevivido.


A essa altura, Miguel e a Bibliotecária, a dona Lurdes, aparecem no batente da porta da Biblioteca.


- Meu Jesus! – ela grita em desespero, sem entender o que está acontecendo e corre para dentro da Biblioteca. A explosão criou outras mini explosões, por que pedaços do ginásio voavam para todo o lado, atingindo outros pavilhões da escola, atingindo os carros dos professores no estacionamento e muitos destroços caem ao meu lado e a minha frente.  Nem uma fagulha me atinge. Estou no lugar certo e é nesse lugar que eu preciso estar.


Então, uma nova bola de fogo, acompanhada por outras, surgiu no horizonte. Elas fazem diferentes curvas no ceu, aproximam-se de diferentes pontos. As explosões são gigantescas. O mundo está acabando e parece que sou a testemunha final. De repente, olho para trás, para onde Miguel está e grito para que ele venha até a mim, mas ele está tão assustado que congelou no lugar como eu. Berro mais alto ainda. Eu gostaria também que a Dona Lurdes pudesse me ouvir, mas se Miguel que está a poucos metros de mim mal consegue escutar meus gritos desesperados, como poderei salvá-la também?


Num instante, Miguel parece ter retornado a si e dá poucos passos na minha direção. Quando ele estende a mão, eu o puxo com força e o envolvo em meus braços.


- Feche os olhos, Miguel! – eu digo em seu ouvido e ele me obedece, enquanto as lágrimas escorrem pelo seu rosto macio.


Uma bola de fogo atinge o pavilhão da Biblioteca e os outros pavilhões da escola. Há fogo em toda a parte. As pessoas tentam correr desesperadas, mas são atingidas pelo fogo, por destroços ou são engolidas pelas crateras que se formam.


Eu não me atrevo a fechar os olhos. Eu preciso ver isso.


O chão rachou ao meio, muito perto de mim. Por um momento eu pensei que a terra nos consumiria, mas eu sei que isso não irá acontecer. Aquele é o lugar certo. É o único lugar certo.


O tempo avança. Miguel chora copiosamente em meus braços, mas não se atreve a abrir os olhos ou se afastar de onde eu estou. Eu nunca disse a Miguel que eu tenho um dom. Que consigo prever certas coisas, mas naquele momento, meu amigo acreditou na única pessoa amiga e permaneceu quieto onde estava, como se eu pudesse protege-lo do inferno que se desdobrava ao nosso redor.


O calor era insuportável. Do chão, vapor e labaredas saiam, consumindo qualquer outra coisa vivente. Aves davam seus últimos rasantes antes de alcançarem o chão, consumidas pelas chamas. Somente um pequeno círculo ao meu redor permanecia intocável e não consigo explicar como isso acontece, embora saiba que isso acontecia por minha causa. Estou fazendo isso? Sou imune ao que está acontecendo? Ou o dia do julgamento final chegou e eu não recebi nenhum convite? Havia muitas perguntas e poucas explicações, mas eu sabia de alguma forma que tudo estava ligado a estranha criatura. Tudo estava ligado a ele. E de alguma forma, ele agora estava ligado a mim.


 



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Autor(a): angelblack

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- Acabou? – perguntou Miguel. Tudo estava calmo há algum tempo, mas Miguel ainda estava agarrado a mim com toda a sua força, os cílios apertados como se ele nunca mais pudesse voltar a ver. De qualquer forma, não havia muito para ver. Havia focos de fogo e fumaça por todo o lugar, mas as explosões já haviam acabado h&a ...



Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 3



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  • halcacifer Postado em 09/05/2014 - 11:41:47

    Mt legal a fic. lol

  • LeoRilque Postado em 15/04/2014 - 23:41:13

    Finalmente encontrei alguma historia descente por aqui.. olha quando co mecei a ler o primeiro cap não botei muita fé não, mas quando estava chegando no fim, cara realmente percebi q é uma historia bem promissora, está muito boa, continue assim q eu continuo acompanhando :)

  • jacbellio Postado em 28/03/2014 - 18:07:02

    isso ae continua a escrever .Finalmente alem de mim alguem tem criatividade para escrever historias alem de RBD


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