Fanfic: O Anjo do Apocalipse | Tema: Apocalipse, Destruição, Romance, Anti-herói, Vidente, Médium
Nós já havíamos atingido a autoestrada quando a criança entre mim e Lucas começou a se acalmar. Ela até parecia estar se divertindo, sentindo o vento bater no rosto.
Eu, ainda abismada por ter ganhado aquela carona salvadora de Lucas, mantenho-me calada, agarrada na cintura dele. Ele me oferecera o capacete, mas como ele ia na frente, eu disse que era justo que ele o usasse, pois talvez houvesse fumaça na estrada. Afinal, ele era a minha tábua de salvação. Depois de alguns segundos teimando, ele concordou em usar o capacete. Agora seguia sério, pelo meio da pista, desviando dos carros parados.
O transito era caótico, todos queriam chegar a algum lugar, sumir da cidade como se aquilo pudesse afastar o que havia acontecido. E o que havia acontecido mesmo?
Os únicos fragmentos de informação vieram de Miguel. Ah, Miguel... Eu já sentia saudades dele agora. Não consegui resistir e suspirei, fazendo Lucas olhar para trás.
- Tudo bem? – ele perguntou, embora o vento distorcesse um pouco o som de sua voz.
- Sim... – falei quase gritando para que ele escutasse. – Está tudo bem!
Mais um pouco e ele parou no acostamento. Tirou o capacete e olhou para mim.
- Você perdeu alguém, Jo? – perguntou ele, preocupado, segurando meu braço como se quisesse me consolar.
- Por que você parou pra me ajudar? – perguntei. Nunca ninguém me ajuda. Fora Miguel, nunca ninguém se aproxima de mim. Por que justo ele? Por que justo Lucas? Por que justo agora?
- Eu estava sozinho e te vi, então... achei que era melhor uma companhia conhecida do que pegar algum maluco na estrada. E você estava com essa menina aí... sei lá... achei que precisava da minha ajuda – disse ele, dando de ombros. – Mas você não respondeu: você perdeu alguém no... sei lá... no que aconteceu?
Aquele “sei lá” deixaria qualquer um maluco, eu pensei. Lucas não era o tipo de garoto pensador, que refletia antes de emitir alguma palavra. Ele era o tipo engraçado, aquele que qualquer um gostaria de ter ao lado para uma festa, mas se o assunto fosse outro, uma prova de Línguas, por exemplo, era melhor mantê-lo à distancia.
- Não. Minha mãe e meu padrasto se mandaram e acharam que eu estava morta. E você? Como é que você sobreviveu? O ginásio foi destruído.
- Pois é... não sei se foi sorte ou azar. Eu briguei no meio do jogo e o juiz me expulsou. Eu estava no portão do ginásio quando aconteceu a primeira explosão. Como o muro da escola simplesmente desabou, eu corri como um louco daquela destruição toda. Eu fui um covarde, sabe. Penso em todos os meus amigos, na Suzana. Eles não tiveram tanta sorte como eu. E não foi só aqui, Jo. Assim que as coisas acalmaram, eu liguei pra minha mãe e pro meu irmão que estão na praia. Eles disseram que todos os países sofreram ataques em diversas cidades, pelo menos, as maiores cidades do mundo. A nossa cidade é grande, mas não é nem a maior do estado, não sei porque fomos atacados...
Eu sabia. Mas é claro que eu não iria dizer. Como poderia dizer que o motivo de nossa cidade ter sido atacada era porque uma das criaturas havia criado uma conexão mística comigo e havia falado em meus pensamentos?
- Você está indo encontrar a sua mãe e o seu irmão? – perguntei.
Lembrei então que não tenho nenhum dinheiro. Mesmo que eu procurasse melhor em casa, sei que não acharia. Mas se vamos para outro lugar, seria bom ter algum dinheiro. Afinal, como iria pagar pela minha estadia?
- Na verdade, não. Minha mãe está saindo da praia. Ela vai pro campo, para a casa do meu avô. Eu vou encontra-los lá. Meu avô está construindo um abrigo antibombas. Na verdade, é um buraco no chão mas ele acha que vai poder nos proteger. Entre isso e nada, acho que não tenho outra solução. Você pode ficar conosco, Jo. Eu sei que não tem problema. Você e... quem é essa menina mesmo?
- Eu a encontrei na rua. – respondi, com toda a sinceridade do mundo, embora aquilo parecesse surpreendente - A mãe foi esmagada e as pessoas estavam correndo sem percebê-la. Eu vou entregar a menina pra policia, assim que encontrar algum policial.
- Achei que fosse sua irmã, mas eu sei que você não tem irmãos, então...
Ele sabe que eu não tenho irmãos? Como ele sabe? Até hoje, nunca imaginei que Lucas pudesse ter qualquer conhecimento sobre mim e minha família. Mas então eu lembro. Eu e minha família somos verdadeiros palhaços de circo para a nossa comunidade.
- Acho que você tomou a atitude certa. A cidade está se autodestruindo. Os que ficarem, vão pilhar e acabar destruindo tudo. Ambrosia já era. Se a menina ficasse para trás, seria morta, não tenho dúvida.
- Acho que sim. Só espero que não haja um pai desesperado procurando por ela.
- Você tem um bom coração. – Lucas disse, afagando meu braço, o que fez com que eu ruborizasse um pouco. A sensação era estranha: estar ali, na moto de Lucas, deixando que ele me levasse para um abrigo. No meio de tanto caos, parecia que eu havia encontrado meu porto seguro. Eu sorri. Nunca sorrio. Mas sorri. Senti minhas bochechas se abrirem pouco a pouco enquanto abaixava os olhos para desviar do olhar de Lucas. Foi quando fui atingida pela dor de cabeça.
Foi tão violenta, que caí para trás da moto, batendo com as costas no chão. Não consegui me controlar e comecei a convulsionar.
Vi Lucas saindo da moto, colocando a menina no chão de gramado, fora do acostamento e depois ele voltou para mim, segurando minha cabeça para trás, pensando que estou tendo um ataque epilético. Então, tudo sai de foco, e eu vejo novamente a criatura. Bela, etérea, suas asas batendo levemente, apenas o suficiente para mantê-lo pairando sobre meu corpo. Ele está novamente envolvo em nevoa e sei que é só uma imagem. Ele não está ali de verdade, mas não consigo vencer o terror.
Um carro para um pouco antes de passar por cima de mim. Ele vinha cortando caminho pelo acostamento, mas viu que não poderia avançar pois eu estava ali. Lucas acenou com a mão para que ele parasse, e com medo de que ele desse a volta pelo espaço onde havia colocado a criança, afastou-se de mim, correndo para a menina.
Foi a deixa para que a criatura se aproximasse ainda mais de mim.
- O que é você? – disse ele, com aquela voz grave e suave, ao mesmo tempo, retumbando em minha mente.
- Por que está fazendo isso? – eu falo, tentando me comunicar com a criatura. Quem sabe pudesse despertar um pouco de empatia nele?
- Isso o que, Jô? – Lucas pensa que eu estou falando com ele, mas eu não consigo desviar o olhar da criatura que sorri.
- Por que sou o que sou. E sei o que sou! – respondeu a criatura, balançando suas asas negras sobre mim – Mas não sei quem você é? Nem mesmo você o sabe. Você é o mistério que não julguei encontrar nesse lugar...
- Pare, por favor! – suplico quando sinto-o invadindo minha mente, vasculhando cada lembrança, cada informação sobre mim que ele pudesse encontrar.
Gritei. Gritei alto. Gritei de dor ou desespero, sem que eu pudesse distinguir o que era pior.
Então faço algo. Algo com a minha mão. Sinto a energia vibrando em meu ser, sinto-a deslizando-a pelo meu corpo, concentrando-se na minha mão. Eu disparo um raio invisível. Ninguém a não ser eu mesma e a criatura diante de mim poderia ver o que saiu de minha mão. Mas eu vejo. O raio distorce a realidade, como se fosse agua em ebulição. O raio disparado atinge a criatura em cheio e a névoa se desvanecesse. A conexão entre nós está cortada e eu finalmente posso respirar.
- Meu Deus, Jo! Você está bem? O que foi que aconteceu? – meu salvador pergunta, preocupado comigo e com a garotinha que ele havia colocado fora do acostamento.
- Precisamos sair da estrada agora! – eu gritei com toda a certeza desse mundo. Era difícil ter certeza no meio do caos e qualquer um riria de mim em algum outro momento, mas talvez pelo que havia acontecido ou talvez pelo meu olhar afetado e visivelmente assustado, Lucas acreditou em mim no mesmo instante. E não foi só ele: o motorista do carro que estava vindo pelo acostamento, escutando minha profecia, saiu do carro, gritando para a mulher e os dois filhos saírem imediatamente do carro.
Enquanto Lucas correu para a menina, eu juntei minha mochila, joguei-a nos ombros e comecei a me afastar. Quando já estava há três metros do acostamento para dentro da floresta, olhei adiante e me assustei. Parecia um enxame de gafanhotos ao longe, mas eu sabia que aquelas coisas voando ao longe na autoestrada não eram meros insetos.
Nós sete nos abrigamos em baixo da copa das arvores, mas assim mesmo, achamos um amontoado de arbustos para ficarmos invisíveis aos olhos das criaturas que avançavam rapidamente. Elas traziam alguma coisa nas mãos. Parecia um cetro, mas na ponta, havia um cristal branco. Com aquele cristal, elas emitiam pequenas bolas de fogo que explodiam os carros e incineravam pessoas imediatamente. Algumas pessoas deixaram seus carros e tentaram correr para a floresta, como nós, mas já era tarde demais. As bolas de fogo consumiam um corpo humano em poucos segundos. Muito perto de nós, as criaturas sobrevoavam como se estivessem à busca de algo. Eu sabia que eles estavam a minha procura.
- Meu Deus!- disse Lucas, sem conseguir tirar os olhos das asas das criaturas.
Eu não respondi. Estava ocupada tentando identificar quais daquelas criaturas havia criado aquela estranha conexão comigo. As outras criaturas eram semelhantes a ele, mas nenhum era tão amedrontador como ele.
Depois de minutos, as criaturas partiram, deixando um rastro de fogo e morte na auto estrada.
Autor(a): angelblack
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Comentários da Fanfic 3
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halcacifer Postado em 09/05/2014 - 11:41:47
Mt legal a fic. lol
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LeoRilque Postado em 15/04/2014 - 23:41:13
Finalmente encontrei alguma historia descente por aqui.. olha quando co mecei a ler o primeiro cap não botei muita fé não, mas quando estava chegando no fim, cara realmente percebi q é uma historia bem promissora, está muito boa, continue assim q eu continuo acompanhando :)
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jacbellio Postado em 28/03/2014 - 18:07:02
isso ae continua a escrever .Finalmente alem de mim alguem tem criatividade para escrever historias alem de RBD