Fanfic: Cilada!!!!! | Tema: web novela

Na quinta pela manhã Peter e Roger decidiram ir acampar em uma praia a trinta minutos dali. Como Sara conseguiu cobertura de seu pai para viajar com Peter, os garotos conseguiram convencer Rick a ir para se distrair. O garoto estava extremamente irritado há dois dias, desde a briga com Barbara. Ronald decidiu não ir junto, pois aquilo parecia mais um acampamento de casais e ele não arriscaria segurar vela em toda a viagem mesmo que fossem apenas três dias, pois voltariam no sábado pela parte da tarde. Já Melissa decidiu que iria junto e a muito custo convenceu seus pais e a Ronald que ela não faria nada demais, mas o irmão sabia que o motivo pelo o qual ela estava indo era Ricardo sozinho na viagem. 

Roger estacionou seu carro no largo campo próximo da areia, onde outros carros estavam estacionados. Ele e Michele desceram e caminharam até colocarem os pés sobre a areia fofa da praia que tinha inúmeras barracas espalhadas por todos os lados. Ricardo, que estava dirigindo o carro do pai de Peter, estacionou ao lado do carro do primo e logo Melissa e Peter desceram indo até Roger e Michele. Sara desceu por último, segurando no braço de Rick, que abria o bagageiro para pegar água mineral no isopor.
–– você sabe que eu to furiosa contigo, né? –– Sara cerrou os olhos para ele.
–– hum? –– ele murmurou com a boca cheia d’água –– o que eu fiz? –– perguntou ao engolir.
–– não era pra essa nojenta ter vindo –– ela indicou Melissa que fazia uma dança animada com Michele enquanto iam para o mar.
–– eu não podia proibi-la, Sara –– ele rolou os olhos e amoleceu os ombros.
–– mas que dissesse que não tinha lugar! Ou sei lá –– a loira resmungou emburrada –– olha, Ricardo, se eu te pegar ficando com ela, vou contar tudo pra Barbara e fazer ela nunca mais olhar na tua cara! –– disse irritada e passou por ele indo até a praia, onde Peter esperava-lhe olhando-os confuso.
–– preferia quando ela e a Barbara se odiavam –– ele resmungou para si mesmo, tirando as bolsas do porta-malas.

Durante o resto da manhã os garotos tiraram as barracas e as armaram próximas aos seus carros. Michele e Melissa caíram logo na água e ficaram até quase metade da tarde brincando de bola e mergulhando. Algumas vezes Roger ia lá ficar com a namorada, mas Rick se quer se aproximou da água. Ele e Peter estavam mais ocupados organizando as coisas enquanto Sara, depois de ajudar um pouco os meninos, se deitou sobre sua canga e se bronzeou pelo restante do tempo, já que se recusava a interagir com Michele ou Melissa. Aqueles três dias seriam difíceis. 

Durante a noite algumas pessoas que também acampavam ali, fizeram uma grande fogueira e a maioria das pessoas se juntou em torno dela. Peter trocava beijos carinhosos com Sara, deitados próximos à beira do mar enquanto Roger e Michele estavam sentados, abraçados, perto de todos, ouvindo as músicas que um garoto tocava acompanhado de um violão. Rick, que estava ao lado de Roger há pouco, levantou-se com sua bebida em mãos e saiu caminhando rumo ao mar. Ele andou pela extensão da praia, com os pés dentro d’água, fazendo sua tristeza se elevar por estar sozinho no dia e local em que tanto planejou estar com Barbara. Seus pensamentos foram entrecortados por uma mão pequena em seu ombro. Melissa o seguiu com o olhar até quase perdê-lo de vista, mas quase que discretamente saiu do lado de sua prima e alcançou Ricardo.
–– ei, tudo bem? –– ela perguntou quando ele virou para verificar de quem se tratava.
–– hurum –– ele murmurou sem mover a boca e tornou a caminhar, mas agora com ela ao seu lado, com um sorriso largo e os cabelos um tanto bagunçados pelo vento.
–– odeio te ver assim –– a loira tirou o sorriso do rosto e falou com a voz fraca e os lábios tortos.

–– eu também não curto muito estar assim –– Rick respondeu sem animação enquanto fitava seus pés emergidos na água.
–– não parece muito –– ela sorriu rolando os olhos e o viu virar o rosto para lhe olhar. Ele a notou aparentemente alcoolizada, só pelo sorriso que não sumia da face.
–– o que você quer dizer? –– ele arqueou a sobrancelha e parou de andar.
–– que você é tão teimoso quanto eu –– Melissa sorriu fraco e continuou a andar –– você sabe que sempre vai sofrer por ela e ainda assim insiste –– ela disse um tom de voz mais alto, já que estava a frente e ele atrás parado –– acho que eu não era teimosa, aprendi a ser com você... 
–– comigo? –– ele perguntou indignado, porém ria. A loira se virou de frente a ele e mesmo em uma distancia relativamente longa, eles se encararam.
–– se eu fosse teimosa antes, eu teria continuado com meu namorado de lá quando vim morar aqui –– ela respondeu com desdém –– e estaria cheia de chifres. Então eu fui racional e achei melhor terminar. 
–– e o que mudou quando me conheceu? –– ele franziu a testa e voltou a andar próximo a ela.
–– eu evitei levar chifres do namorado de lá, pra arrumar dois que me trocariam por outras aqui –– a loira respondeu cheia de ironias, não deixando de rir da situação, mas ele não riu.
–– eu nunca te trai enquanto ficamos juntos –– ele respondeu com a voz impaciente –– só que você sempre soube do meu amor pela Bah. Eu te falei desde o primeiro dia em que ficamos...
–– e eu me apaixonei por você mesmo assim –– ela o interrompeu –– e fiquei com você mesmo assim. E continuei sendo tua amiga mesmo gostando de você e te vendo com ela –– disse em um tom mais alto, obviamente irritada, porém ria.

–– eu gosto de você. Gosto da tua amizade –– Rick disse com a voz baixa, para que ela se acalmasse –– mas achei mesmo que você já estava em outra... 
–– e você ta certo –– ela sorriu e deu de ombros, dando uns passos para se aproximar de Ricardo –– deixei de sofrer por você, pra sofrer pelo Artur –– ela pegou a garrafa de cerveja das mãos dele e deu um longo gole, surpreendendo Rick –– pelo menos você me trocou só por uma, ele me troca por várias e qualquer uma –– ela riu novamente, fazendo-o lembrar-se que estava levemente bêbada.
–– quanto você já bebeu hoje? –– ele rolou os olhos.
–– algumas coisas em uma quantidade que eu não me lembro –– Melissa piscou pra ele e após um riso, virou-se e se pôs a andar seguida por Rick.
–– não bebe mais hoje, ta? –– Rick pediu com a voz entediada.
–– porque você não se envolve com outra menina? –– a loira praticamente gritou devido a distancia novamente, enquanto andava dando leves saltos.
–– pra que? –– ele deu um riso e correu até ela, parando ao seu lado –– fazer outra sofrer por não esquecer a Bah? –– perguntou irônico.
–– sei lá... Vai que você encontra uma que faz melhor que ela e assim você a esquece –– ela disse presunçosa e Rick deu um riso.
–– como se fosse fácil –– ele murmurou e cerrou os olhos para ela –– e porque VOCÊ –– disse enfaticamente –– não faz isso?

–– porque eu sou idiota o suficiente pra ir ali naquele meio –– ela apontou para as pessoas na fogueira –– e escolher alguém pra ficar sem compromisso, coisa que eu não suporto fazer e nunca fiz, e no final das contas me apaixonar por ele –– ela disse fazendo uma careta de nojo –– você sabe como eu sou iludida.
–– não fala assim de você, Mel –– ele estalou os lábios.
–– é só a verdade Ricardo –– a loira ergueu os braços e passou a rodopiar na areia enquanto ria feito boba.

Rick suspirou forte e bebeu o resto de cerveja que havia na garrafa, colocando a garrafa em seu bolso da bermuda. Ele se aproximou de Melissa assim que ela caiu sentada na areia, tonta de tanto rodopiar. A loira ria desembestada por conseqüência da bebida e se deixou ser pega no colo pelo garoto.
–– obrigada –– ela falou com um sorriso largo no rosto, passando os braços em volta do pescoço dele.
–– tudo bem –– ele murmurou sério enquanto andava pelo resto da praia até as suas barracas –– vou pegar água. Fica aí –– disse a colocando sentada no chão.

Logo ele voltou com uma água mineral e se sentou ao lado da loira, que bebeu em silencio. Após alguns minutos naquela posição, ela virou a cabeça para o lado e o fitou.
–– desculpa –– ela disse sem graça.
–– sem problemas –– ele deu de ombros, fitando a areia.
–– eu só estou chateada e achei que se eu bebesse poderia me divertir mais e... –– Melissa se calou e bufou –– esquece.
–– pelo menos você não vomitou –– Rick virou o rosto para o lado e a encarou, sem sorrir.
–– sorte sua ou minha? –– a loira franziu o nariz em uma careta.
–– sua, porque eu não ia te dar banho não –– ele deu de ombros.
–– iria me deixar suja? –– ela fingiu surpresa e abriu a boca.
–– ia te jogar no mar e te pegar só de manhã –– ele disse tentando ficar sério, mas após dois segundos os dois caíram na risada.
–– você não teria coragem –– Melissa disse cheia de si e tentou se pôr de pé, mas ainda se sentia tonta.

–– teria sim –– ele brincou se levantando também –– acho melhor você deitar.
–– melhor mesmo –– ela resmungou e deu um suspiro antes de entrar na barraca –– você vem? –– perguntou a ele quando se sentou no colchonete, segurando a “porta” da barraca.
–– daqui a pouco –– ele sorriu fraco enquanto tinha o corpo curvado em frente a porta –– boa noite.
–– boa noite –– Melissa abriu um sorriso fraco e se deitou.

Ricardo andou até a fogueira, sentando na areia ao lado de Sara, que estava fitando o fogo enquanto Peter conversava com um garoto. Ela virou o rosto quando ele se sentou dobrando as pernas e apoiando a cabeça nos joelhos, com uma bufada no final.
–– diz –– ela falou rolando os olhos.

–– você acha que ela vai ficar com ele? –– Rick perguntou sem nem olhá-la.
–– se você esta se referindo a Barbara, não. Eu não acho que ela vá ficar com o Rômulo –– Sara respondeu séria –– e também não. Você não vai com a Melissa por achar que a Bah ficou com Rômulo...
–– porque você cismou que eu vou ficar com a Melissa? –– Rick resmungou, estalando os lábios.
–– porque você mesmo me disse que ela é bonita e gostosa e se você não estivesse com a Bah... –– a loira falou com a voz entediada.
–– mas eu não vou ficar com ela, Sara –– ele suspirou.
–– certo –– Sara arqueou as sobrancelhas e deu de ombros.
–– você não acredita? –– ele perguntou cerrando os olhos para ela.
–– vocês vão dormir na mesma barraca –– ela manteve as sobrancelhas arqueadas e seu tom de voz era sugestivo.
–– mas ela ta bêbada –– ele estalou os lábios –– para de pensar besteira.
–– ela é doida por você! –– Sara aumentou o tom de voz e logo suspirou se acalmando –– ok, Rick. Ok! –– resmungou –– quer pegar o docinho de Mel, vai lá e pega, mas não venha chorar comigo depois... –– disse irritada e se levantou indo até Peter.
–– meu deus... –– Rick riu incrédulo –– TPM? –– perguntou a si mesmo rindo.

[...]

Sexta feira, em torno das cinco horas da tarde Barbara estava entediada de ficar trancada dentro de casa. Seu pai e Tereza não estavam e ela já não tinha mais o que fazer. Michele e Sara estavam com telefones indisponíveis e nem alguém pra conversar ela tinha. De repente teve a idéia de ir até a cachoeira. Pegou seu celular e ligou para o de Rômulo, torcendo para que ele estivesse usando o mesmo chip que usava na cidade. Minutos depois ela havia vestido um biquíni, um short jeans curto e uma blusa de alcinhas, esperando por ele no portão de casa. Não demorou muito para que os dois estivessem lá. Barbara largou suas coisas sobre a pedra mais próxima e jogou seu corpo na água em um mergulho de cabeça. Rômulo se sentou sobre a pedra e ficou apenas a observando nadar por mais de quarenta minutos. Os dois ainda estavam em silêncio quando a morena se aproximou da borda, encostando-se na pedra. Seu olhar havia um tanto de tristeza, deixando Rômulo intrigado.
–– o que ta acontecendo? –– ele questionou se sentando próximo a borda da pedra, para ficar ao seu lado.

–– hã, nada –– Bah disse ao despertar.
–– claro que ta. Você ta estranha –– ele rolou os olhos e riu –– me fala.
–– coisa minha, Rômulo –– ela deu de ombros e deu impulso, subindo sobre a pedra e se sentando ao seu lado.
–– e desde quando você não confia em mim? –– Rômulo arqueou as sobrancelhas enquanto ela torcia o cabelo, retirando o excesso de água.
–– não sabia que éramos melhores amigos agora –– a morena disse com desdém e ele bufou, virando a cabeça para o outro lado.
–– não sei que merda ta acontecendo contigo, mas você ta insuportável esses dias, sabia? –– ele falou de forma grosseira e apoiou as mãos no chão para se levantar, mas Bah segurou em seu braço.
–– desculpa –– ela suspirou forte e passou os olhos por toda a cachoeira, enquanto ele se sentava novamente.
–– tudo bem –– ele murmurou –– já entendi que você não quer falar. Então eu vou te esperar no carro, quando você quiser ir...
–– foi ali –– ela o interrompeu, indicando com o queixo uma pedra mais afastada.

–– o que? –– ele perguntou confuso.
–– que o Rick se declarou pra mim pela primeira vez –– ela falou com a voz baixa e apertou os lábios em um sorriso fraco.

Rômulo, que fitava a tal pedra, virou o rosto e lhe encarou. Ela matinha aquele olhar triste de minutos atrás.
–– preferia que ele nunca tivesse dito nada –– ela voltou a falar ainda o encarando –– se eu soubesse que seria tudo tão difícil, eu não quereria que nenhum sentimento tivesse acontecido entre a gente. Nós sempre dissemos que nos amávamos desde criança, mas naquele dia foi diferente...
–– era outro tipo de amor –– ele concluiu e ela assentiu.
–– eu não quis enxergar, fingi que não sabia de nada, que não tinha percebido nada, mas depois ele se declarou e... –– Bah suspirou forte e abaixou a cabeça, fitando suas pernas.
–– e não teve como fugir –– Rômulo completou e frase, mas a viu negar com a cabeça.

–– pelo contrário. Eu fugi –– ela deu um riso fraco e ergueu a cabeça –– fugi por dias, semanas, meses, sei lá... –– deu de ombros –– até perceber que eu também o amava daquela forma.
–– você acha que um dia vocês vão dar certo? –– ele perguntou e ela permaneceu calada, fitando a água –– quer dizer –– se endireitou e a viu deitar sobre pedra. Rômulo analisou o corpo da garota trajando apenas um biquíni e se calou por vários segundos.
–– quer dizer o que? –– ela virou o rosto e lhe olhou, mas ele encarava seus seios –– ei! –– ela estalou os dedos em sua frente.
–– cara, você é gostosa demais... –– Rômulo deu um riso e desviou o olhar para água, dando as costas para a morena –– e você fica andando com pouca roupa. Que droga, hein?! –– estalou os lábios.
–– não estou com pouca roupa –– ela disse indignada –– você que é tarado.
–– você que adora ficar se exibindo pra mim, sabendo que eu nunca vou poder te ter –– ele disse manhoso, como uma criança mimada e Bah riu.
–– existem mais gostosas que eu, Rômulo. Não exagera –– ela respondeu diante o riso.

–– mas eu quero você, oras... –– Rômulo disse arqueando as sobrancelhas e virando o rosto para ela –– dá pra respeitar pelo menos as minhas vontades?
–– quer pra que? –– Bah perguntou indignada –– pra me pegar uma ou duas vezes no máximo e me descartar?
–– você quer que eu me apaixone por você? –– perguntou presunçoso –– eu faço um esforço –– falou rindo.
–– não! –– Bah exclamou convicta –– sem essa, vai... –– rolou os olhos.
–– então –– ele deu de ombros e se deitou ao lado dela, apoiando a cabeça sobre o cotovelo.
–– então o que? –– ela perguntou confusa, de olhos fechados e a cabeça em direção ao céu.
–– me dá uma chance... –– o garoto pediu, levando um dedo até os lábios dela e contornando lentamente –– eu prometo que você vai se divertir e no dia seguinte ainda vai amar o Ricardo... –– disse com dengo, fazendo-a respirar forte, tentando controlar a respiração que ficara ofegante.
–– não, Rômulo... –– ela falou séria, abrindo os olhos e se sentando –– vou me vestir –– disse se pondo de pé.

–– fala sério, Barbara! –– Rômulo bufou e deixou seu corpo cair sobre a pedra, de barriga pra cima.
–– vai pra água se acalmar, vai –– ela disse com desdém enquanto ia até sua bolsa.

Rômulo se levantou em um impulso, correu rapidamente até ela, lhe pegando no colo e pulando na cachoeira enquanto a garota gritava.
–– ah, seu infeliz! –– ela disse brava.
–– vai dizer que você não queria entrar –– ele riu, enquanto sua mão esquerda rodeava a cintura dela e a direita enxugava o rosto.
–– não queria mais me molhar Rômulo. Eu já estava seca –– Bah resmungou, mantendo seus braços colados ao lado do próprio corpo, já que Rômulo lhe envolvia, agora com os dois braços.
–– você não estava seca, mentirosa –– ele cerrou os olhos e ela rolou os seus.
–– tanto faz, agora me larga –– ela pediu entediada, colocando as mãos no tórax dele e empurrando de leve.
–– tem certeza? –– ele fez bico e colocou uma mão sobre a dela.
–– certeza absoluta, Rômulo... –– ela choramingou.

–– sabe, poderíamos aproveitar que estamos a sós e... –– disse descendo a mão dela pelo seu tórax até a barriga.
–– não –– Bah puxou sua mão do corpo dele.
–– você quer Barbara –– ele disse rindo presunçoso.
–– isso não vem ao caso –– ela deu de ombros e afundou na água, saindo dos braços dele.

O garoto sorriu fraco e a viu nadar até outra borda da pedra, onde era mais raso. Ela apoiou os braços na pedra, ficando de costas para ele que nadou até lá e emergiu na água atrás dela. Quando se pôs de pé, ele segurou em seu quadril e a virou.
–– ta chateada? –– ele perguntou preocupado.
–– não –– ela deu um riso cansado –– to acostumada com você pegando pesado assim –– disse sustentando o sorriso.
–– bom, desculpa então se eu to pegando muito pesado –– Rômulo apertou os lábios em um lamento –– quer ir embora? –– arqueou a sobrancelha.
–– hurum –– ela assentiu com um murmúrio –– quero ir antes de anoitecer, pra arrumar minhas coisas. Meu ônibus sai cedo amanhã...
–– ah Bah –– ele estalou os lábios –– porque você não vai domingo comigo? –– perguntou chateado.
–– definitivamente não –– ela disse indignada –– não to legal aqui, Rômulo –– resmungou e se afastou dele.
–– bom, você faz o que se sentir melhor –– ele lamentou com um sorriso fraco enquanto ela mergulhava até a outra borda e subia na pedra.

Ele a seguiu e fora até o carro se vestir. Durante o caminho de volta para casa de Emerson, Bah estava pensativa. Rômulo a observava de canto de olho e quase no final do trajeto arranhou a garganta, chamando a atenção dela.
–– preciso perguntar algo –– ele disse e ela assentiu –– foi impressão minha ou você ficou chateada pelo fato de eu me mudar?

–– bom, isso... –– ela também arranhou a garganta e se endireitou no banco –– sabe... Eu fiquei triste sim –– Bah fez bico e olhou para ele que tinha as sobrancelhas arqueadas –– porque desde quando meus pais se separaram, quando minha mãe saia pra trabalhar, eu sempre ficava com o Ricardo. Ou ele na minha casa ou na casa dele. Quando éramos pequenos tínhamos babá. Ou seja, ou era a babá ou era ele e Larinha.
–– eu servi como companhia quando você brigava com ele –– Rômulo balançou as sobrancelhas, surpreso.
–– não é isso –– ela rolou os olhos –– você é um amigo, Rômulo. Você sabe disso...
–– sei sim –– o garoto concordou sem tirar os olhos da pista –– e não quero ser mais que isso. Um amigo com benefícios seria o suficiente pra mim.
–– lá vem você com isso... –– Bah resmungou entediada e ele deu um riso.
–– desculpa –– ele pediu rindo –– mas pensa só, eu vou estar no andar de cima do teu. Quando quiser, é só você ir lá –– deu de ombros.

–– claro que sim –– ela disse irônica –– você nem vai está transando com cinco garotas ao mesmo tempo, né? –– cerrou os olhos.
–– e eu sou burro de levar garotas pro meu apto? m,9 0Pra elas saberem meu endereço? –– Rômulo perguntou incrédulo e ela riu surpresa.
–– meu deus! –– disse negando com a cabeça, mas ainda rindo –– esqueço o tipo de vocês...
–– as únicas que eu levaria pra lá seriam vocês –– ele deu de ombros.
–– vocês quem? –– Bah arqueou a sobrancelha.
–– você, a Michele, a Sara e a Melissa –– disse ele com um sorriso largo –– pegaria fácil qualquer umas das três, mas você... –– ele fez cara de dor –– você é quase um desejo proibido, entende?
–– eu não mereço isso –– ela abaixou o rosto e o escondeu entre as mãos, ouvindo a risada de Rômulo, sabendo que aquilo era só provocação.
–– bom, está entregue –– ele disse ao frear em sua casa. 
–– obrigada –– ela sibilou antes de descer.

[...]

No dia seguinte, ao acordar, Barbara já tinha sua mala pronta, na sala da casa de seu pai. O clima não estava muito bom entre eles, mas mesmo assim Tereza havia ido até o cômodo se despedir da menina antes de sair para as compras de supermercado. Um abraço falso depois, Emerson levou a morena até a rodoviária e em menos de vinte minutos ela sentava dentro do ônibus de volta para sua casa. Quando desceu na plataforma da rodoviária da cidade, Lidia esperava a filha com aflição. A cara da garota ao partir não era nada boa e pelo o que pôde perceber enquanto a filha andava até ela, era que tinha voltado pior ainda. Bah deu um abraço forte na mãe e seguiu calada até o carro no estacionamento. Após chegar em casa, ela contou para Lidia sobre a idéia de seu pai e Tereza de terem um filho e como aquilo a chateava. 

[...]

Naquela noite em que Melissa havia bebido, Rick voltou para a barraca que iria dividir com ela e deitou-se ao seu lado, evitando encostar-se nela, mas aquilo não fora suficiente. Durante a noite que se seguiu, a loira passou o braço por volta do corpo de Rick, tentando abraçá-lo. Com o intuito de se afastar para não criar nenhuma expectativa a ela, Ricardo tentou se manter frio diante a situação e desencostou seus corpos por inúmeras vezes. Porem ao acordar logo cedo da manhã, Melissa percebeu que matinha as pernas enroladas às dele e o braço em sua cintura, enquanto ele se quer lhe tocava. Envergonhada, ela pediu inúmeras desculpas a ele e alegou ser por conta da bebida. Pediu desculpas inclusive pelas besteiras que falou quando Rick comentou o que ela havia dito sobre os dois. Ele fingiu acreditar que aquilo tudo era por ela estar “bêbada” e seguiu seu dia normal, mas as palavras de Sara, de que Melissa o queria, não parava de ecoar em sua cabeça. Da mesma forma que o fato de Barbara estar sozinha com Rômulo na casa de seu pai. E se ele insistisse tanto que ela não pudesse resistir? Não havia impedimento ali. Ninguém sabia sobre seu romance com ele, além dela e de Rômulo, então qualquer beijo que acontecesse, o segredo morreria entre eles.

Por alguns minutos, Ricardo se sentiu um idiota por ter brigado com Bah antes da viagem. Era obvio que se ele tivesse aceitado tudo, até que fosse contra a vontade, a morena viajaria um tanto mais animada, não corria o risco de ficar com Rômulo, já que não estaria chateada com ele e quando voltasse se jogaria nos braços de Rick novamente. A saudade da morena apertou em seu peito e uma vontade imensa de socar algo para dissipar a raiva veio à tona. “Idiota”. Foi a palavra que ele murmurou para si mesmo quando se levantou da barraca, onde tomava café sozinho e se jogou no mar. Passou pelo menos algumas horas ali na água, sem falar com ninguém. Peter estava ocupado demais namorando Sara e Roger fazia amizade com os garotos, já que Melissa e Michele se bronzeavam na beira da praia.

À noite daquele dia o grupo de adolescentes que acampavam ali, fizeram outra festa, idêntica a da noite passada. Fogueira, música e bebida. Pelo visto seria daquele jeito a noite de sábado também. Ricardo pegou uma lata de cerveja do isopor dos amigos e se sentou na areia, próximo às suas barracas. O restante do pessoal estava espalhado com seus pares por aí, namorando e se divertindo. A exceção à Melissa, que sentava em uma cadeira perto da fogueira e conversava com um garoto que estava no chão e em sua frente. Os dois conversavam e riam enquanto ela segurava uma latinha de refrigerante em sua mão e ele uma cerveja. Por longos minutos Ricardo fixou seu olhar neles e sustentou até que duas garotas chamassem sua atenção.
–– sozinho? –– uma delas perguntou sorrindo, a outra deu um risinho.
–– pois é –– ele apertou os lábios e abriu mais os olhos.
–– vem conosco –– a outra disse dando de ombros e recebeu um cutucão da amiga.
–– pra onde? –– Rick arqueou a sobrancelha e elas se entreolharam e riram.

–– se divertir –– uma delas piscou e Rick deu um riso, abaixando a cabeça e balançando-a para os lados.
–– valeu, mas to bem aqui –– ele disse mantendo o sorriso.
–– uma pena –– a loira apertou os lábios, lamentando enquanto a outra fazia um bico.
–– sério mesmo que não quer dá uma volta por aí? –– a garota manteve o bico nos lábios e Rick entortou os lábios.
–– eu meio que tenho namorada, não é nada contra vocês... –– ele explicou, como se lamentasse.
–– ah, tudo bem –– ela se deu por vencida –– mas se quiser, estamos nas barracas rosas. Bem ali –– ela indicou com o dedo uma par de barracas femininas mais a frente.

Ele assentiu com um sorriso e deu um gole na bebida enquanto elas se afastavam com os braços entrelaçados. O garoto balançou a cabeça negativamente, pensando que se isso acontecesse há uns meses atrás, ele teria ficado com as duas. Ou melhor, transado com as duas. Juntas. Ele riu do próprio pensamento e quando Barbara veio em sua mente, o sorriso sumiu.
–– não sei se to mais pra babaca ou pra idiota –– ele murmurou para si –– ou os dois.

Levantando-se assim que a cerveja acabou, Rick deu mais uma olhada para Melissa que ainda conversava com o garoto e algo incomodou a ele naquela situação. E assim, antes da meia noite, ele adentrou a barraca e caiu sobre o colchonete, pegando no sono quase que imediatamente, não vendo nem a hora em que Melissa entrou e deitou ao seu lado.

No dia seguinte, Rick tomou café com seus amigos, mas não trocou nenhuma palavra com Melissa. Os dois apenas se olhavam desconfiados. Mais tarde ele resolveu fazer amizade com os outros garotos que jogavam futebol ali mesmo na praia. Quando o jogo terminou, ele mais quatro garotos se sentaram na areia e beberam algumas cervejas. Peter estava na água com Sara, trocando beijos enquanto Roger tirava um cochilo na barraca. Quando Michele e Melissa saíram apenas de biquínis de suas barracas e andaram calmamente até o mar, todos olharam para as duas, mesmo com tantas garotas de maiôs e biquínis espalhados pela água e terra.
–– essa loira é muito gostosa –– um deles comentou.
–– a ruiva também... –– outro comentou.
–– é namorada do meu primo –– Rick falou dando de ombros –– o de piercing na orelha.
–– ela é sem graça –– o primeiro voltou a falar, fazendo uma careta –– tem a bunda boa, mas de rosto é bem fraquinha.

–– é sem sal, mas gosto do cabelo dela –– o moreno disse piscando.
–– cabelo? –– o outro riu –– que porra eu vou fazer com o cabelo dela, cara? Olha a bunda dela...

Ricardo revirou os olhos, ignorando o comentário dos garotos, já que sempre foi amigo de Michele e nunca havia visto-a com esses olhos. Talvez por Roger sempre ter ficado com ela ou por ele sempre ter olhos apenas para Bah.
–– e a loira? –– outro deles perguntou a Ricardo, tirando-os de seus pensamentos.
–– o que tem ela? –– ele arqueou a sobrancelha e depois olhou para o mar, onde elas gritavam e davam pulinhos por conta das ondas geladas.
–– tem namorado? –– o garoto perguntou como se fosse obvio.
–– não exatamente –– Rick deu um gole na cerveja e desviou o olhar para o chão.
–– te vi se afastando da fogueira com ela na quinta –– o moreno disse cheio de malicia.
–– somos amigos –– Rick deu de ombros –– ela bebeu demais e a levei pra barraca.
–– vocês dormem na mesma barraca? –– ele perguntou surpreso e Rick assentiu, rindo.

–– tipo, eu meio que fico com uma garota há uns anos e ela –– ele indicou Melissa com o queixo –– ta de rolo com outro cara.
–– e cadê essa garota? –– outro perguntou com desdém, não acreditando muito.
–– foi visitar o pai. Ele mora na serra –– Rick explicou.
–– enquanto isso você dorme com a amiguinha na mesma barraca? –– ele perguntou cheio de ironia e os demais garotos riram –– ela é bem legal, hein?!
–– não rola nada entre a gente, pô –– Ricardo deu um riso sem graça –– já rolou, mas não mais...
–– como já rolou? –– o moreno perguntou surpreso.
–– já ficamos um tempo –– ele deu de ombros e bebeu o restante da cerveja.
–– e o flash back? –– perguntou malicioso.
–– sem chances –– Rick sorriu sem graça e rolou os olhos.
–– então vou lá –– ele se pôs de pé –– ainda tenho uma noite pra isso... –– piscou e jogou a lata nos demais amigos, que resmungavam coisas insanas para ele.

Sentindo novamente uma sensação estranha, Rick fixou seus olhos no moreno se aproximando da loira dentro d’água e passou a observá-los pelo resto do tempo que eles ficaram ali. Quando todos eles resolveram entrar na água, ele se afastou e foi até onde Sara estava com Peter, na areia, engatando um papo sobre um assunto aleatório. Pelo menos por um tempo ele iria evitar qualquer coisa que envolvia “Bah”, “Rômulo” e “Mel”. Sua cabeça girava e tudo estava ficando confuso. 

[...]