Fanfic: Cilada!!!!! | Tema: web novela

 [Três semanas depois...]

Era sexta feira. Exatamente trinta e sete dias após o término de qualquer tipo de relacionamento que Ricardo e Barbara haviam tido. Depois que as coisas acalmaram com ele, sua mãe lhe chamou para conversar. Não precisou de muitas explicações, já que era óbvio. Eles se gostavam desde criança, ficaram juntos quando cresceram, mas agora não dava certo. Rick não explicou exatamente o porquê de não estarem juntos, mas o alívio para Alda fora tão grande quando ele afirmou que não estavam brigados, que ainda eram amigos e estavam bem resolvidos quanto a isso. Assim a amizade entre as famílias continuavam da mesma forma como estava há anos. Pelo menos era o que Alda e Lidia pensavam quando continuavam a se reunir em alguns finais de semana para almoçar juntas. Elas e seus respectivos filhos se encontravam cada vez na casa de uma com mais freqüência, já que os plantões agora tinham intervalos maiores entre eles. Nem sempre Ricardo estava junto, alegando que iria sair com Roger ou Pepinho ou simplesmente saia de casa, mas na verdade a única coisa que ele não queria era estar perto de Barbara e fingir que está tudo bem, assim como ela fingia. Só que ele não sabia. Ninguém sabia. 

Com o passar dos dias Barbara passou estar cada vez mais com Rômulo, Sara e Michele. Ou quando suas amigas ia para sua casa ou quando combinavam de ir para o apto de Rômulo, fazer qualquer bagunça. Sara já tinha criado uma intimidade com o garoto e o tratava como amigo tanto quanto tratava Ricardo e Roger. Pepinho não se importava tanto, já que também se dava com garoto. Já Roger não ia com a cara e o quanto pudesse implicar com Michele por estar enfiada com Bah no apto de Rômulo, ele implicava. Cada vez mais a ruiva conseguia fazer com que Barbara voltasse a andar com o grupo de amigos e por algumas vezes, ela fingiu não estar incomodada e saiu na presença de Rick e Melissa, juntos, mesmo que apenas como amigos. Do mesmo jeito que a amizade de Rômulo e Bah estava mais forte, Ricardo e Melissa eram inseparáveis. Tuti ainda procurava pela garota, mas ela ainda continuava fugindo. Por umas duas vezes ele lhe roubou um beijo quando estava em alguma balada, que deixava a garota cada vez mais balançada por ele. Ricardo não sabia disso, já que ele não aprovava muito a relação dos dois, Melissa decidiu esconder e fingir que não estava mais interessada. Quem também parecia não mais interessado era Rick. Há mais de quarenta e cinco dias que ele não ficava com garota nenhuma e qualquer pessoa que fosse não era interessante para ele. Não que estivesse mais seletivo ou mais criterioso, ele apenas não conseguia se interessar por nenhuma que fosse, já que Bah continuava a rondar seus pensamentos.

[...]

Era sexta feira, Rick havia acabado de chegar do seu trabalho na academia, onde viu Bah entrar e sair pela parte da tarde, lhe dando apenas um “oi” e um leve aceno de mão. Apesar das coisas estarem mais calmas agora entre eles, ela jurava não pensar na possibilidade de voltar com o garoto. Já ele estava cada vez ficando mais desesperado. Não a tinha há meses em sua cama e nem conseguia ficar com mais ninguém. O amor de Bah estava quase sendo ultrapassado pela carência que ele sentia naquele momento. Ouviu seu celular tocando assim que saiu do banho e pelo toque ele sabia que era Roger. E provavelmente lhe chamando para alguma balada. Mas naquela noite ele não estava a fim. Estava cansado, queria apenas comer uma pizza, ver um filme e dormir. Deixou que a ligação fosse pra caixa postal, mas o primo insistiu mais uma vez. Alguns minutos depois fora a vez de Melissa ligar. Rick já estava deitado em sua cama, apenas de bermuda, trocando os canais da televisão aleatoriamente quando decidiu retornar a ligação da loira.

–– seu filho da puta! –– gritou Roger do outro lado.
–– fala... –– Rick disse sem animo.
–– beleza, ok? –– o primo resmungou –– pra mim você não retorna, mas pra Melissa...
–– eu tava tomando banho, cara –– ele estalou os lábios –– sai agora e vi a ligação. O que foi?
–– vem aqui pro Ronald, estamos bebendo umas cervejas e depois vamos pra uma balada –– Roger falou animado enquanto Ricardo rolava os olhos.
–– to a fim não –– respondeu com um suspiro.
–– espera aí –– o primo disse, passando o aparelho para Melissa.
–– oi –– a loira disse do jeito manhoso que sempre falara.
–– oi Mel –– Rick deu um sorriso fraco.
–– vem pra cá Rick, por favor –– ela pediu com a mesma manha –– vamos pedir pizza, os meninos estão bebendo cerveja e mais tarde vão pra alguma balada e eu vou ficar presa em casa, sozinha –– resmungou.
–– cadê tua mãe, Melissa? –– Rick perguntou rindo do drama da garota.
–– foi visitar meu pai na nossa cidade –– Melissa respondeu.

–– hum... –– ele murmurou –– olha... Droga, cara –– estalou os lábios –– to morto de cansado, eu já ia dormir.
–– não, vem pra cá –– ela pediu novamente –– a gente come pizza e vê filme, daí quando eu dormir, você vai pra casa. Só não quero ficar sozinha.
–– tudo bem –– Rick soltou o ar de uma vez e se pôs de pé –– já chego aí.

[...]

Depois de estacionar na moto na garagem de Ronald, Rick entrou na sala do garoto onde seus amigos riam alto de alguma coisa. Três caixas de pizzas estavam dispostas sobre a mesa, alegando que deviam ter acabado de chegar ali, enquanto algumas latinhas de cervejas e garrafinhas de ice se espalhavam pelo local. Tanto Sara quanto Michele estavam devidamente arrumadas, de calças jeans e blusa mais de noite, assim como Roger e Peter que tinham um look de balada. Ronald vestia regata e uma bermuda de tactel e Melissa trajava um vestido florido de alças finas e comprimento curto. Ricardo estava de bermuda jeans e uma blusa de mangas devido o frio da noite e por ter ido de moto. Ele se juntou ao grupo e entrou na conversa que durou até próximo à meia noite. Sem beber por estar dirigindo, ele comeu apenas pizza e refrigerante assim como Peter, que também não estava bebendo. Em torno das onze e trinta da noite os garotos começaram a se preparar para uma boate. O garoto já havia deixado avisado que não iria com eles, mesmo sobre seus protestos. Antes de sair, Sara olhou para Rick, com um sorriso fraco e balançou a cabeça negativamente quando se deu conta que ele ficaria ali apenas com Melissa, já que Ronald os encontraria mais tarde na boate.

[...]

Depois de seu irmão ir para o quarto, Melissa e Rick deram uma rápida arrumada na sala, levando as louças sujas para a cozinha. Enquanto ela as lavava, ele estava sentado no balcão da pia ao seu lado, lhe observando.
–– o que foi? –– ela perguntou sorrindo, notando que ele lhe encara.
–– você não têm amigas na escola? –– Rick perguntou curioso –– quer dizer, nunca te vi saindo com “amigas” –– ele enfatiza a última palavra.
–– ah –– Melissa murmura sem jeito –– tenho algumas colegas. Umas meninas que ando por lá e faço trabalhos de sala de aula, mas nenhuma tão intima –– deu de ombros –– porque ta perguntando?
–– por nada... –– ele balançou a cabeça rapidamente –– é que você sempre ta sozinha. Quer dizer... 
–– é, estou sempre te alugando, né? –– a loira lhe interrompeu, entortando os lábios enquanto enxaguava alguns copos. 
–– não quis dizer isso –– Rick deu um riso nervoso.

–– mas pensou, aposto –– ela falou com ironia e desligou a torneira, indo até a mesa pegar um pano –– se quiser ir, tudo bem. Eu vou ver um filme até pegar no sono –– disse fitando a mesa, estando de costas para Rick.
–– ah Melissa, para com isso... –– Ricardo deu uma risada e desceu do balcão em um impulso, indo até ela –– ei, você sabe que eu não quis falar com essa intenção –– ele pôs as mãos nos ombros dela e a viu e frente.

A loira tinha os olhos marejados e os lábios apertados. Rick entortou os lábios em uma careta, se martirizando mentalmente por ter falado o que falou.
–– desculpa –– ela murmurou.
–– desculpa pelo o que, Mel? –– ele perguntou rindo e a puxou contra seu corpo, lhe abraçando –– eu quem deveria está pedindo desculpas.
–– não, você tem razão –– a loira fungou enquanto mantinha o rosto apertando contra o peitoral dele e os braços em volta de sua cintura –– eu juro que tento me enturmar, me dar bem com as pessoas da minha sala, mas não dá. A maioria me trata como criança, me ignoram, tiram sarro por eu ser do interior...

–– fala sério que você liga pra isso? –– Rick estalou os lábios e afastou–se um pouco para olhá–la. Agora escorria uma lágrima na face dela, que ele limpou com o dedão.
–– eu só tenho uma amiga na escola –– disse chorosa –– e é muito difícil que ela saia comigo por causa da mãe dela. Uma vez algumas garotas me chamaram pra sair, vieram aqui em casa se arrumar, mas depois descobri que era por causa do Ronald.
–– ta falando sério? –– Rick perguntou surpreso e deu um riso enquanto ela assentia –– você não precisa disso Mel, você é melhor do que elas todas. Ok?
–– se você diz –– ela apertou os lábios para reprimir um sorriso ao mesmo tempo em que ele permanecia a lhe olhar.
–– é a verdade. Você sabe que é incrível –– ele disse dando–lhe um sorriso enquanto ainda passava o dedão sobre sua face, acarinhando. 

Ela não respondeu, apenas sorria, lhe encarando. O coração da loira estava acelerado e suas mãos tremiam enquanto agarravam–se ao corpo dele. Os olhos desceram até os lábios do garoto e entreabriu os seus quando notou que ele se aproximava. Ricardo não sabia se aquilo era o certo a se fazer, mas achou prudente naquele momento. Talvez fosse realmente hora de esquecer Barbara e pensou porque não poderia ser com alguém que sempre estava ao seu lado, como Melissa. Os lábios se encontraram suavemente, se contorcendo em um beijo enquanto ele lentamente fora invadindo–a com sua língua. A mão dele em torno do rosto deslizou para a nuca da loira, quando ele lhe puxou para mais perto, aprofundando o beijo.

A mão dele em torno do rosto deslizou para a nuca da loira, quando ele lhe puxou para mais perto, aprofundando o beijo. Mas nesse exato momento a única coisa que conseguira pensar era em Barbara. Afastando–se abruptamente após uns vinte segundos de beijo, Rick tomou consciência do que fazia, se sentindo mal por estar enganando Melissa.
–– desculpa –– ele murmurou –– me desculpa Mel, não queria fazer isso... Mas, quer dizer... Não tinha essa intenção. Só que aconteceu e... –– ele falava quase desesperado enquanto ela lhe olhava, segurando uma mão em frente aos seus lábios.
–– tudo bem –– ele murmurou ofegante.
–– olha, eu preciso ir embora –– disse enquanto arrastava sua mão pelos cabelos e nuca, bagunçando–os totalmente –– você vai ficar bem sozinha?
–– claro –– ela fingiu não se importar, dando de ombros.
–– então, hã, boa noite –– ele disse suspirando pesado, ainda atordoado.

Ele apenas deu um beijo no rosto dela e caminhou rapidamente para fora da casa, subindo em sua moto e pegando o rumo de sua casa. Melissa, que fingia se quer se importar com aquilo, agora estava em seu quarto, deitada na cama, com os olhos mais marejados que antes. Ver Ricardo afasta–se daquela forma, com tanta rapidez e um pedido de desculpas cujo afirmava não ter querido aquele beijo, lhe doía. As palavras de Sara não saiam de sua cabeça, martelando pela noite a dentro. Ela sabia que ele nunca iria lhe amar como amava Barbara, mas no fundo tinha uma pequena esperança que pudesse ficar com ele, mesmo diante seu sentimento por Artur. 

[...]

Sexta e sábado Rick não havia saído de casa. Enfurnado em seu quarto o final de semana inteiro, ele fora obrigado a sair no domingo, quando Lidia apareceria ali para almoçar. O que significava que Bah estaria junto e novamente, assim como todos os finais de semana do mês que seguiu, eles teriam que fingir ainda serem amigos, mesmo não estando nem se falando. Já com Melissa, ele não havia ligado ou mandando qualquer mensagem que fosse após o beijo de sexta feira. Era em torno de onze da manhã quando Alda bateu na porta do seu quarto.
–– preciso que você vá ao supermercado pra mim –– ela pediu escorando-se no portal.
–– hum. Ok –– ele falou se levantando e sentando na beirada da cama –– comprar o que? –– perguntou sério.
–– uns refrigerantes e uma sobremesa –– Alda cruzou os braços e falou enquanto analisava o filho se levantar.
–– certo –– Rick assentiu e fora até o guarda roupas, pegando uma blusa e vestindo. Quando se virou, a mãe ainda estava ali –– mais alguma coisa? –– ele arqueou a sobrancelha.
–– o que ta acontecendo contigo, meu filho? –– ela perguntou estalando os lábios e seu tom era de preocupação.
–– acontecendo onde? –– ele arqueou as sobrancelhas.
–– com você, claro, né Ricardo?! –– ela esbravejou –– já não bastasse você ter ficado de cara feia o mês todo, agora vai ficar enfurnado nesse quarto também?

–– que mês todo mãe? –– ele franziu a testa e a questionou indignado –– se eu saio a sra reclama, se eu fico em casa também. E agora? To ficando confuso...
–– não seja irônico comigo –– ela balançou a cabeça negativamente e fez uma carranca –– desde quando você voltou daquela viagem da praia que você ta assim... 
–– não tem nada a ver com a praia mãe –– Rick resmungou emburrado enquanto ia até a cômoda pegar sua carteira e chaves.
–– claro que não tem, porque eu tenho certeza que tem a ver com a Bah –– Alda disse autoritária e viu o filho dar um riso, um tanto irônico –– Ricardo! –– ela rosnou.
–– mãe, eu só não to legal, ok? –– ele disse em tom de voz mediano, quando se virou de frente a ela –– dá pra respeitar isso?
–– meu filho... –– ela estalou os lábios e soltou os braços ao longo do corpo –– ta vendo o porquê de nem eu e nem a Lidia querermos que você e a Bah se envolvesse?
–– o que a Bah tem a vê com isso? –– ele perguntou impaciente.
–– você sabe –– ela riu.
–– olha mãe, eu fiquei chateado porque terminamos sim, mas já passou –– ele se calou e respirou fundo –– eu já parti pra outra... –– murmurou –– e também, se não fosse pela Barbara, seria por outra menina. Tanto faz então quem seja...
–– ok, Ricardo. Ok –– Alda bufou –– vá logo lá comprar porque daqui a pouco elas duas chegam e hoje vem outra visita.

Ricardo apenas rolou os olhos e saiu do quarto sem mais perguntas. Em meia hora ele voltou para casa trazendo consigo alguns refrigerantes, dois potes de sorvete e uma torta de chocolate. Assim que entrou com o carro na garagem, já pôde avistar o carro de Lidia em frente à sua casa. Suspirou forte e fechou os olhos, batendo com a cabeça contra o volante. Estava sendo difíceis os dias na escola, algumas tardes na academia e ainda os almoços em família. Por um lado isso iria melhorar, já que Ricardo sairia da academia para começar um cursinho preparatório para o vestibular, mas com certeza Bah também iria fazê-lo e se dependesse de suas mães, os colocariam para fazer juntos. Ele desceu do carro e se dirigiu até a porta de entrada, mas assim que a abriu, seu pior pesadelo se formou bem na sua frente. Além de Alda e Lidia, que colocavam as comidas sobre a mesa, Barbara, Lara e Rômulo sentavam no sofá, rindo de alguma coisa e sua irmã estava completamente maquiada. Os olhos de Rick foram logo de encontro com os do garoto e em seguida quando os ergueu, encontrou com os de Bah. Ambos engoliram a seco a situação e Alda fora até o filho para pegar as sacolas com refrigerantes.
–– demorou, meu amor –– ela disse com um sorriso, mas ele ainda fixava os olhos nos dois sentados lado a lado.

–– desculpa mãe, eu não achei torta no primeiro supermercado –– ele falou com a voz fraca.
–– oi Ricardo –– Lidia acenou de longe, o fazendo despertar.
–– hã, oi tia –– ele disse ainda sério e deu alguns passos em direção a ela, parando em seu breve abraço.
–– oi Rick –– Bah ergueu a cabeça para trás do sofá, onde o garoto estava e falou sem sorrir.
–– oi Barbara. Oi Rômulo –– Rick respondeu quase com um sussurro.
–– bom, o refrigerante chegou, então vamos comer –– Alda disse animada –– hoje temos strogonoffe.
–– eu vou morrer de comer! –– Bah disse se pondo de pé, tentando parecer o mais animada possível.
–– hã... –– Rick suspirou forte enquanto apoiava uma mão em seu quadril e a outra mão em sua testa, pensativo –– o que esse garoto ta fazendo aqui?
–– Ricardo! –– Alda disse surpresa –– Rômulo é nosso convidado.
–– meu não –– ele disse quase rindo de indignação –– com certeza que não. 

–– mas é convidado da Lidia –– a mãe continuou a explicar enquanto todos se sentavam ali –– então se sente e...
–– não vou almoçar –– Rick murmurou emburrado –– perdi a fome –– disse se virando para ir em direção ao seu quarto.
–– Ricardo... –– sua mãe lhe chamou, mas ele não parou bateu a porta atrás de si.
–– desculpa, eu não... –– Alda disse sem graça –– com licença –– disse indo até o quarto do filho.
–– eu disse que era melhor não ter vindo –– Rômulo murmurou para Lidia.
–– to sem entender... Mas eu perdi alguma coisa? –– Lidia fitou Bah, arqueando as sobrancelhas.
–– eles, hã... –– a morena começou a explicar, mas não sabia muito bem o que falar.
–– a gente só não se dá bem, dona Lidia –– Rômulo interrompeu Barbara e respondeu enquanto sustentava o olhar na garota ao seu lado –– mas nunca pensei que ele reagiria assim.
–– nem eu –– Bah disse com sinceridade.
–– ultimamente meu irmão ta sendo um idiota –– Lara rolou os olhos.
–– melhor eu ir, né? –– Rômulo entortou os lábios e encarou Lidia e Lara do outro lado da mesa.
–– nada disso –– Lara disse chocada –– prefiro você a ele aqui!

[...]

Alda fechou a porta atrás de si e deparou–se com o filho deitado na cama, com um caderno e um livro. Ele manteve o livro aberto, cobrindo o seu rosto enquanto a mãe se dirigiu até a ponta da cama.
–– o que significou aquilo, Ricardo? –– ela perguntou irritada.
–– to sem fome, com dor de cabeça e tenho muito exercício pra fazer –– ele respondeu sem humor.
–– tome um remédio e faça suas atividades depois –– a mãe ordenou –– agora volte pra lá e seja civilizado.
–– não com aquele garoto a mesa –– Ricardo respondeu sorrindo ironicamente.
–– qual teu problema com ele? –– Alda perguntou ainda confusa.
–– ele ter vindo pra essa maldita cidade –– rosnou por trás do livro.
–– como? –– ela riu, sem entender nada –– Achei que vocês eram amigos, já que a Lidia sempre fala que a Barbara, a Sara e os teus amigos estão com ele.
–– mas não somos amigos, mãe –– ele abaixou o livro e revirou os olhos para ela –– nós não nos damos bem. Desde quando eu fui com a Bah pra serra e o conheci.

–– ok... –– ela disse quase compreendendo –– e isso tem a ver com a Bah? –– cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas.
–– não –– Rick mentiu e deu de ombros –– tem a ver com ele ser idiota.
–– meu deus... –– Alda suspirou forte e levou uma mão até o rosto, esfregando os olhos –– você me dá mais trabalho do que a Lara, viu?
–– já disse pra não se preocupar comigo –– ele disse emburrado e cobriu seu rosto com o livro novamente.
–– fecha esse livro, levanta daí e vamos almoçar –– ela falou calma, virando as costas para ir até a porta.
–– não to a fim, mãe –– ele murmurou.
–– e eu não to a fim de repetir isso de novo, Ricardo –– Alda respondeu totalmente irritada –– não estou pedindo, estou mandando. E agora!

Rick abaixou o livro e encarou a mãe que estava visivelmente irritada. Ele fechou o livro e se sentou na cama, fitando o chão.
–– você não é mais criança, Ricardo –– prosseguiu ela –– ultimamente tuas atitudes estão dignas de uma infantilidade tremenda. Ate a Lara é mais madura e me dá menos trabalho do que você, que tem agido feito um... 
–– desculpa –– ele bufou se pôs de pé –– só estou em uma fase difícil. 

–– se quiser conversar, eu estou aqui –– a mãe amoleceu os ombros –– você tem aos teus amigos também, mas pelo menos pensa um pouco antes de agir, porque o que você fez agora na sala foi totalmente ridículo.
–– certo –– ele assentiu –– eu vou sentar naquela mesa e almoçar quieto, mas a sra não me peça pra fingir estar feliz por aquele idiota estar na minha casa, junto com minha família. Ta? –– Rick engoliu a seco e passou pela mãe, indo ate a mesa.

Quando chegou à sala de jantar, Bah estava sentada ao lado de Rômulo e de frente para Lidia e Lara. Ele se quer olhou para a cara do garoto, apenas se sentou na cabeceira, de frente para o lugar da mãe e encarou Lidia.
–– desculpa tia –– murmurou.
–– tudo bem, querido –– Lidia deu um sorriso fraco e logo Alda também se sentou à mesa.
–– acho que podemos começar, né? –– a mãe de Rick disse sorrindo para todos –– me desculpe Rômulo.
–– eu que devo pedir desculpas dona Alda –– Rômulo disse sem graça –– não queria causar nenhum constrangimento em sua casa –– ele fala quase cordialmente, enquanto Rick sorriu cheio de ironia.

Bah lhe olhou e suspirou, encarando-o com desprezo enquanto ele balançava a cabeça negativamente, abaixando-a em seguida, fitando o prato. O clima não estava nada bom, mas Barbara se quer havia pensando que seria daquela forma quando Lidia cismou que Rômulo estava muito sozinho no apto e o convidou para almoçar ali. No último final de semana, Rick não havia participado, pois teria ido para a casa do primo. Apesar do almoço ter sido na casa de Lidia, como fora no sábado, Rômulo esteve no curso o dia todo e também não havia estado lá para almoçar. Depois de falar um pouco sobre assuntos aleatórios, Alda focou seu olhar em Rômulo.
–– então Rômulo, o que você ta achando do curso? –– ela perguntou educadamente.
–– eu to adorando, dona Alda –– ele sorriu para ela –– era exatamente o que eu queria.
–– que bom –– ela assentiu –– soube do teu estagio também.
–– pois é –– ele sorriu mais largo ainda –– quando eu terminar o curso, se me dedicar o suficiente, talvez já seja efetivado. E isso seria ótimo.
–– você pretende morar aqui na cidade mesmo? –– Lidia perguntou entre uma garfada e outra.

–– se eu consegui um emprego bom –– ele deu de ombros –– vou ficar exatamente onde estou. Aquele apto é ótimo...
–– aposto que sim –– Rick deixou escapar com um sorriso sarcástico, tendo a atenção de Rômulo em Bah.
–– a localização é boa, é perto do meu estagio e do curso... –– Rômulo voltou a falar, ignorando Rick –– espaçoso, tranquilo, o valor do aluguel é bom.
–– a vizinhança também, né? –– Ricardo sibilou mais uma vez, notando que sua mãe lhe cerrou os olhos.
–– sem duvida nenhuma! –– Rômulo abriu um sorriso maior e encarou o outro que logo ficou sério.
–– deve ser ruim morar sozinho em uma cidade onde não se tem família, né? –– Lara falou a fim de entrar na conversa.
–– sozinho é que ele menos fica –– Lidia disse divertida –– a Barbara não sai do apto dele, to com medo de um dia chegar em casa e ela ter levado uma mala pra lá –– ela finalizou fazendo todos rirem, menos Ricardo.
–– não exagera, mãe –– Bah disse fingindo estar chocada e rapidamente passou os olhos por Rick, preocupada e notou que ele não estava muito satisfeito com aquelas informações.

–– é sim –– Lidia rolou os olhos –– você, a Sara, a Michele, o Peter –– disse recordando-se –– todos vocês ficam mais tempo no apto do Rômulo do que no nosso.
–– é que lá temos mais liberdade –– Bah deu de ombros.
–– como se lá em casa não tivesse, né Barbara? –– a mãe cerrou os olhos enquanto Bah fez uma careta para ela.
–– eu quero ir visitar também –– Lara disse animada.
–– qualquer final de semana vamos fazer uma sessão de filmes e eu venho te buscar, ta? –– Rômulo piscou para Lara, que abriu o mais largo sorriso que pôde.
–– claro –– ela assentiu contente –– mas nem precisa vir, eu posso ir com o Rick –– ela fitou o irmão que ergueu a cabeça confuso.
–– acho melhor não... –– ele respondeu sério e a abaixou novamente.
–– de qualquer forma, a gente vem te buscar –– Bah falou com intuito de calar Lara.
–– você não tem namorada, Rômulo? –– Lara perguntou após um gole de refrigerante –– ela não fica com ciúmes das meninas lá?

–– ah não... –– ele sorriu sem graça –– quero dizer, não tenho namorada. Como sou novo por aqui, não deu tempo ainda de conhecer alguém legal...
–– ei, eu sou legal –– Bah disse indignada, arrancando risos dos demais, menos de Rick, que ergueu a cabeça e lhe olhou surpreso –– tipo, hã –– ela murmurou atrapalhada –– não que eu queira ser tua namorada, só disse que... Ah vocês entenderam –– bufou.
–– acho que entendemos –– Alda disse ainda sorrindo –– você só quis dizer que seria uma opção.
–– não, tia –– Bah falou surpresa –– não quero ser uma opção do Rômulo –– ela cerrou os olhos para o garoto ao seu lado, que tinha um ar de superioridade devido o comentário mal colocado.
–– quando eu digo que não conheci nenhuma menina legal, é porque você realmente não é legal –– Rômulo falou divertido –– você é chata demais! –– disse prendendo o riso.
–– mimada –– Lidia completou, apertando os lábios.
–– e fresca, dona Lidia –– ele continuou, caindo na risada pela cara de raiva que Bah fazia.
–– idiota –– Barbara resmungou ––– fala como se você quisesse algo sério com alguém, né? –– falou revirando os olhos e sentiu ele lhe beliscar na cintura –– ai caramba! –– ela riu.

–– para de me difamar, garota –– ele disse incrédulo.
–– eu não acho a Bah chata –– Lara deu de ombros –– somos amigas há muitos anos e ela sempre foi legal comigo –– deu de ombros –– e olha que a gente se conhece desde que eu nasci, né Bah?
–– claro Lara –– Bah concordou enquanto suas mães ainda riam.
–– mas então Rômulo, deve ta cheio de meninas atrás de você, né? –– Alda perguntou entrando na diversão deles.
–– acho que não sou tão interessante assim, dona Alda –– ele franziu o nariz em uma careta.
–– humilde demais –– Alda rolou os olhos enquanto mastigava algo.
–– vocês nunca ficaram? –– Lara disparou a perguntou fitando o casal a frente.
–– hã, não... –– Barbara murmurou sem graça e Rômulo permaneceu calado, sem saber o que dizer.

Rick deu um riso irônico, balançando as sobrancelhas diante a negação, fazendo Bah lhe olhar e engoli seco.
–– nós somos apenas amigos –– Rômulo falou para que Alda e Lidia não percebessem a ironia de Rick.
–– ah, mas ela e meu irmão eram sempre amigos e eles ficaram juntos um tempão –– Lara deu de ombros.
–– Lara... –– Bah gemeu enquanto Rick lhe lançava um olhar de repreensão.

–– o que foi? –– a garota perguntou indignada –– a mamãe e a tia Lidia já sabem, ué. Não tem mais segredo.
–– até você sabia? –– Alda perguntou chocada e a filha assentiu –– fui a ultima, a saber, mesmo...
–– literalmente –– Lidia encolheu os ombros, lamentando –– quando descobri, fiquei com receio de falar com você...
–– porque mesmo vocês terminaram? –– Lara franziu a testa e encarou um e depois outro –– gosto tanto de vocês junto...
–– tua amiga não confia mais em mim –– Rick disse sorrindo falso enquanto olhou para a irmã.
–– não foi isso –– Bah revirou os olhos –– eu só não posso confiar em alguém que me traiu –– disse suspirando.
–– eu não te traí, Barbara! –– ele disse rindo indignado –– para com isso.
–– você dormiu com a Melissa, Rick! –– ela disse também indignada –– se isso não é traição, eu não sei mais...
–– meu deus, eu não dormi com ela –– ele pôs as duas mãos sobre a cabeça, atordoado –– cara, temos mesmo que falar sobre isso? –– ele fitou a garota com angustia –– acho que chega, né?
–– acho melhor mesmo –– Bah murmurou e abaixou a cabeça, enchendo seu garfo com comida e pondo na boca.
–– com licença –– Rick empurrou a cadeira para trás e se levantou levando seu prato para a cozinha.
–– achei que estivesse tudo bem já –– Alda murmurou encarando Barbara que lhe sorriu fraco.
–– eu também –– ela mentiu dando de ombros.

[...]

Um tanto mais tarde, após o almoço, Rômulo, Barbara e Lara estavam em seu quarto, vendo algum filme sem graça, enquanto o garoto estava quase para dormir. Lara notou a desanimação de ambos e desligou a TV.
–– vocês querem jogar vídeo game? –– ela perguntou.
–– opa, eu topo –– ele disse animado.
–– acho que teu irmão não vai emprestar... –– Bah apertou os lábios.
–– não to nem ai pra ele –– a pequena deu de ombros e puxou Rômulo pela mão –– vem.

Ele deixou ser puxado até o quarto a frente enquanto Bah vinha atrás, já imaginando a confusão que aquilo daria. A garota deu duas batidas na porta e adentrou o quarto de Rick.
–– mano, vamos jogar –– ela informou e já fora ligando os aparelhos.
–– estou estudando Lara. Saí –– Rick disse com a cara por trás do livro.
–– não vou fazer barulho e nem te atrapalhar –– Lara disse manhosa.
–– NÃO! –– ele falou autoritário e enfático, abaixando o livro e encarando Bah encostada à porta e Rômulo em sua frente –– vocês podem me dar licença?

–– deixa Lara, eu não sei jogar mesmo –– Bah falou em tom baixo e sem graça.

Rick lhe encarou, lembrando–se das vezes em que jogava com ela e seus amigos e sempre tinha que lhe ajudar no jogo, aproveitando para roubar–lhe uns beijos depois.
–– mas eu te ensino, bobinha –– Rômulo disse sorrindo e apertou o nariz dela.
–– não, tudo bem. Não quero jogar –– Bah disse apertando os lábios.
–– mas eu quero –– Lara protestou –– então vamos levar o vídeo game pra sala –– ela deu de ombros.
–– o vídeo game é meu, Lara –– Rick bufou e se sentou na cama, colocando o livro sobre seu colo –– eu decido...
–– acho que a mamãe que vai decidir isso, se eu for falar com ela –– a garota saiu batendo o pé fora do quarto enquanto o irmão bufou e passou a mão pelos cabelos.
–– você deveria deixá-la jogar um pouco –– Rômulo disse meio sem jeito, colocando as mãos nos bolsos da bermuda –– ela é criança, cara...
–– e você não deveria nem ter vindo aqui –– Ricardo respondeu com a cara fechada enquanto Bah ainda estava parada na porta, apreensiva.
–– Rômulo, melhor esperar na sala... –– Bah murmurou, mordiscando o próprio lábio inferior.
–– é, vamos lá –– ele assentiu e saiu segurando Bah com uma mão em suas costas.

Bah virou apenas o rosto para trás enquanto seguia para sala, mantendo o seu olhar no de Ricardo. Assim que seus olhos sumiram de sua visão, ele suspirou forte e apertou os lábios enquanto abaixava a cabeça entre suas mãos. Não demorou muito para que Lara chegasse ali totalmente cheia de si, dizendo que sua mãe havia lhe deixado colocar o aparelho na sala e deixasse Rick estudar em paz. A garota saiu toda contente com o vídeo game em suas mãos e o irmão voltou a se deitar, colocando o livro na cara, mas ele não conseguia se concentrar. As risadas de Lara e os gritos de Rômulo estavam lhe incomodando, porém não incomodava o barulho, pois não eram tão alto assim. O fato de que ela estaria ali, se divertindo com Rômulo, era o que estava lhe machucando. Em torno de uns vinte minutos se torturando em seu quarto, Rick decidiu sair. Ele encostou-se na parede da sala, atrás do sofá onde os outros estavam sentados e cruzou os braços sobre o peito, apenas os olhando. Bah fazia tudo errado, deixando Rômulo louco e Lara mais animada ainda, já que os dois perdiam para ela. Rick balançou a cabeça negativamente e deu um riso no final de mais uma competição de corrida.

–– você ta ensinando errado –– ele falou assustando aos três.
–– vem jogar, Rick –– Lara o chamou animada –– vem, que eu também quero te vencer –– ela se levantou e fez uma dancinha.
–– ta se achando! –– Bah a acusou dando uma risada, mas cessou o riso quando sentiu a voz de Rick próximo de si.
–– vamos ver quem vai ganhar agora? –– Rick murmurou de forma maléfica, fazendo Bah apertar os lábios em um riso quando percebeu que ele estava parado atrás dela, com as mãos sobre as costas do sofá.
–– eu não to ensinando errado, ela que é muito ruim –– Rômulo falou rolando os olhos.
–– comigo ela não perde –– Rick respondeu e ergueu uma sobrancelha –– nem de você e nem da Lara.
–– eu nunca joguei esse jogo, é só falta de costume –– o outro deu de ombros.
–– me deixa ensiná-la –– Ricardo falou estalando os lábios e encarou Bah, que fitava a TV, estática.

–– acho que a decisão vai ser dela e não sua, né? –– Rômulo sorriu de lado e a encarou também.
–– hã... –– Barbara falou atordoada e se virou para trás, encarando Rick e depois Rômulo.

Lara sorria largo, apreensiva pela situação, mas achando aquilo um máximo. “Dois garotos brigando pelo amor de sua melhor amiga, era super legal”. Pensou ela animada. 
–– ta, tudo bem –– Bah soltou o ar e encarou Rômulo que se levantou e fora para o lado de Lara.

Rick sentou sobre as costas do sofá e deslizou seu corpo para trás do corpo de Bah, colocando os braços em volta de sua cintura e a boca no seu ouvido.
–– vamos dá uma lavada neles –– Rick sussurrou no seu ouvido.
–– Ricardo, por favor –– ela apertou os olhos e engoliu seco.
–– não vou me encostar em você –– ele respondeu com a voz séria.
–– ok –– assentiu ela.

Não se sabia exatamente o tempo que eles ficaram ali. Deve ter sido por uma hora ou mais, pois só pararam quando Lidia os chamou. Bah continuou ali, sendo envolvida pelos braços de Ricardo e ouvindo suas orientações sendo sussurradas em seu ouvido. Apesar de toda a raiva que sentia, ela não queria que ele saísse dali tão cedo. Ouvir sua voz, sentir o calor do corpo e seu cheiro, era algo que ela havia sentido falta. Rick também tivera a mesma sensação. Era apenas por isso que ele havia proposto ajudá-la no jogo. Ele só queria ficar mais perto dela possível, sem que eles pudessem brigar. Porem na hora de ir embora, ela se quer se despediu dele. Nem um aceno de longe a garota deu, apenas correu para fora após um beijo em Alda e Lara. Era como se ele nem existisse ali. E aquilo, machucou-o mais um vez. 

[...]